Introdução
O milho e o farelo de soja são os principais ingredientes utilizados nas rações dos suínos. Contudo, devido às oscilações em seus preços, se faz necessária a constante busca por ingredientes alternativos (COSTA e MOREIRA, 2014). Neste contexto, destacam-se os subprodutos e coprodutos agrícolas, por apresentarem grande disponibilidade e baixo custo. O Brasil ocupa posição de destaque no cenário mundial quanto à produção de frutos de acerola (Malpighia punicifolia L.), com cerca de 30 toneladas por ano (JUNQUEIRA et al., 2011). Após o processamento destes frutos, o resíduo gerado, composto por sementes, cascas e frações de polpa da fruta é conhecido como farelo de acerola. Este resíduo caracteriza-se pelo alto teor de fibras, porém não possui padronização quanto a sua composição química e digestibilidade. Conhecer a real composição química e digestibilidade dos ingredientes que compõem as rações dos suínos permite a utilização mais eficiente dos nutrientes e o menor impacto ambiental (FERREIRA et al., 2015). Desta forma, este trabalho teve como objetivo caracterizar o farelo de acerola quanto à sua composição química, digestibilidade, além dos nutrientes e energia digestíveis.
Material e Métodos
Foram utilizados 16 machos castrados com peso inicial de 77,43 ± 2,23 kg e, aproximadamente, 119 dias de idade, alocados, por peso, num delineamento experimental em blocos casualizados, com dois tratamentos (Dieta basal -DB; Dieta teste -DT, composta por 70% da dieta basal e 30% de farelo de acerola). O ensaio durou 14 dias, sendo os oito primeiros para adaptação dos animais às baias e dietas, recebendo duas refeições diárias, às 8h e às 17h, e água ad libitum. Os três días seguintes foram destinados à regulação do fluxo do indicador e os três dias finais para a colheita das fezes, pelo método da coleta parcial. Determinou-se, inicialmente, o consumo médio de ração dos animais, em duas refeições diárias, de modo que, no período de colheita, os animais consumissem toda ração fornecida. Após o período de adaptação e determinação do consumo, iniciou-se o fornecimento de ração controlada, com adição de 1% de cinza ácido insolúvel (CAI) como indicador externo na ração, de modo a estabilizar o fluxo do mesmo no trato digestório. Nos três dias finais, foram colhidas amostras de fezes diretamente do reto dos animais, duas vezes ao dia, após o fornecimento das refeições. Em seguida à colheita, estas amostras foram colocadas em sacos plásticos, devidamente identificados sendo, então, armazenados em freezer a -8 °C, até o momento das análises. As fezes foram descongeladas e homogeneizadas, para obtenção de uma amostra composta de cada animal. Em seguida, as fezes foram submetidas à pré-secagem em estufa com ventilação forçada a 55 °C por um período de 72 horas sendo, posteriormente moídas em moinho estacionário tipo Thomas-Wiley, modelo 4, dotado de peneira com crivos de 1 mm. A análise das dietas e fezes foi realizada de acordo com a Association of Official Analytical Chemists (AOAC), sendo determinadas a matéria seca (MS; processo 4.1.06, AOAC, 2000) e matéria mineral (MM; procedimento 4.1.10, AOAC, 2000). A matéria orgânica (MO) foi obtida pela diferença entre a MS e a MM. O teor de proteína bruta (PB) foi estimado por meio de um analisador de combustão. Os teores de fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido (FDN e FDA; proceso 4.6.03; AOAC, 2000). Os teores de FDN foram corrigidos para proteína e cinzas. A análise de celulose (CEL) foi realizada por gravimetria, de acordo com Detmann et al. (2012). A energia bruta (EB) foi determinada por meio de um calorímetro de bomba adiabática. A partir das análises químicas, calcularam-se os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, MO, PB, FDA, FDN, EB, CEL, e o coeficiente de disponibilidade da MM, bem como os teores dos nutrientes e energia digestíveis do farelo de acerola e das dietas, utilizando-se as equações descritas por Sakomura e Rostagno (2007). As determinações de CAI nas dietas e nas fezes foram efetuadas por meio de determinação gravimétrica, conforme método adaptado de Van Keulen e Young (1977).
Resultados e Discussão
Os elevados teores de FDN, FDA e celulose contribuíram para os baixos coeficientes de digestibilidade / disponibilidade do farelo de acerola (Figura 1). A composição química do farelo de acerola, no presente experimento não foi semelhante à apresentada por Lousada Jr et al. (2006), que observaram 71,9% de FDN, 54,7% de FDA, 35,1% de celulose. Recentemente, Diógenes et al. (2014) obtiveram valores inferiores para os teores de MS, MM, PB, FDN, FDA e EB do farelo de acerola, sendo 53,75%; 2,74%; 8,25%; 63,05%; 54,11% e 1,00 Mcal EB/kg do produto, respectivamente. Já Zanetti et al. (2014) obtiveram 90,15%; 4,72%; 8,11%; 50,86% e 41,33% para MS, MM, PB, FDN e FDA, respectivamente.
Figura 1 – Composições química (C.Q.), valores médios dos coeficientes de digestibilidade / disponibilidade (C.D.), nutrientes e energia digestíveis (N.E.Dig.) do farelo de acerola.
Os menores coeficientes de digestibilidade foram observados para o FDN, FDA e CEL. Situação já esperada, considerando que a fibra influencia, negativamente, na digestibilidade dos nutrientes.
Conclusões
O farelo de acerola pode ser utilizado em dietas para suínos em terminação, porém é importante ressaltar que a digestibilidade de seus nutrientes é prejudicada pelo seu elevado teor de fibras.
Agradecimentos
À FAPESP pelo financiamento da pesquisa, PROCESSO 2011/22906-6, e pela bolsa de doutorado, PROCESSO 2011/22563-1. E à NUTRA - Nutrição Animal pela doação do Farelo de Acerola.
Referências Bibliográficas
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***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.