Desde a introdução de reformas no mercado econômico em 1978, a China tornou-se um dos países de mais rápido crescimento econômico do mundo. É o segundo maior exportador e o terceiro maior importador do mundo. Entre as reformas realizadas está a privatização das fazendas, o que reduziu a agricultura coletiva. Em 1997, a China abandonou de vez o socialismo de mercado para o capitalismo convencional e investiu maciçamente nas privatizações. Estima-se que mais de 70% da economia da China seja privada. O grande crescimento econômico combinado com as reservas em moedas estrangeiras e enorme mercado interno torna a China um dos melhores locais do mundo para investimentos.
O arroz é o produto agropecuário mais importante da China, seguido pelos vegetais frescos, ovos de galinha, trigo e algodão, como demonstrado na Figura 1. O leite de vaca aparece em sétimo lugar, considerando o valor bruto da produção. Assim como na economia de forma geral, a produção de leite também tem apresentado um grande crescimento. Em 1998, o volume produzido foi de 6,9 bilhões de litros, em 2003, passou para 17,8 bilhões e em 2008 tornou-se o terceiro maior produtor de leite do mundo com 35,8 bilhões de litros anuais (Figuras 2 e 3). Na Figura 2 observa-se o comportamento da produção de leite na Europa, Ásia, América do Sul, África, Oceania, Brasil e China. Na Europa a quantidade de leite matém-se praticamente constante com pequena redução a partir de 1998. A Oceania apresentou crescimento no período, porém nos últimos anos manteve constante o volume produzido. Todos os outros continentes tiveram crescimento, porém na China, e consequentemente, na Ásia, o crescimento da produção foi maior.
A produção de leite chinesa é oriunda de aproximadamente 2,8 milhões de produtores com as seguintes características: pequenos produtores e pequena escala, produtores especializados e produtores comerciais. O tamanho do rebanho por propriedade pode ser estratificado em: 40% delas têm de 1 a 5 vacas, 30% têm de 6 a 20 vacas; 13% têm de 21 a 100 vacas, 5% com 101 a 200 vacas; 5% com 201 a 500 vacas; 4% com 501 a 1.000 vacas e 3% dos produtores com mais de 1.000 vacas no rebanho produtivo. Estima-se que 80% do volume de leite produzido venha das pequenas propriedades, 15% de propriedades privadas com escala de produção e 5% de propriedades estatais. A estimativa é de que 65% do leite seja obtido com ordenha manual, porém o objetivo do governo é de que nos próximos anos a situação seja revertida e 70% do leite chinês seja obtido por ordenha mecanizada.
O crescimento da produção de leite se deu principalmente pelo aumento da produtividade animal. Na Figura 3 se observa o volume produzido e o número de vacas ordenhadas. O rebanho produtivo cresceu, porém não na mesma proporção da produção de leite. Em 1998 a produção por vaca foi de 1.470 litros/ano e em 2008 praticamente dobrou a média chinesa, chegando a 2.834 litros/vaca/ano.
Em abril de 2006, o premier chinês, expressou seu desejo de que todo chinês, em particular as crianças, deveria consumir diariamente 500g de leite. Para cumprir o ambicioso sonho, o governo fez planos quinquenais e um deles especificou que a produção de leite no país, em 2010, deveria atingir 38 bilhões de litros de leite. Se o país mantiver o ritmo de crescimento que vem apresentando, não será difícil cumprir a meta até o final do ano, principalmente considerando os atuais planos do governo central, que são: subsidiar a distribuição de sêmen e embriões, melhorar a qualidade de vida dos produtores, demonstrar novas tecnologias e incentivar sua adoção e medidas de proteção do meio-ambiente.
Em 1998 a China produzia o equivalente a 5,6 litros de leite por habitante/ano. Em cinco anos, a produção por habitante mais que dobrou: o país produziu 13,7 litros. Em mais cinco anos, 2008, a disponibilidade de leite voltou a dobrar, ou seja, a China produziu 26,7 litros de leite por habitante. Se considerarmos um terço da população (403 milhões de pessoas) e uma disponibilidade de 500g/dia, a produção de leite deveria ser da ordem de 73,5 bilhões de litros. Mesmo com um crescimento inacreditável, segundo estudos da FAO, a China terá sérios problemas de água e solo para conseguir atingir esse volume. Esse fato pode representar uma grande oportunidade para o Brasil exportar produtos lácteos.
**O artigo foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILEite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite.