Foi divulgado esta semana o relatório OECD/FAO Agricultural Outlook 2010-2019 onde são apresentadas projeções para os mercados agrícolas para os próximos 10 anos. Neste documento o Brasil figura junto com China, Rússia, Índia e Ucrânia entre os maiores produtores agrícolas da próxima década. Porém, enquanto para o Brasil é previsto um crescimento de mais de 40% na produção agrícola até 2019, para os demais é estimado um aumento de 20%.
Tanto na produção quanto no consumo, as maiores taxas de crescimento ocorrerão nos produtos de origem animal. O setor lácteo deve ter um dos maiores crescimentos dentre as commodities analisadas com o incremento da popularidade dos derivados lácteos entre os consumidores dos países em desenvolvimento e a expansão da demanda com o aumento da riqueza. A retomada do crescimento econômico global e o aumento da população devem impulsionar o comércio internacional de produtos lácteos e os preços durante o período analisado.
A produção mundial de leite deve crescer 2,2% ao ano até 2019, sendo grande parte deste aumento devido a países não pertencentes à OECD. A previsão de crescimento da produção de derivados lácteos até 2019 é de: 31% para leite em pó integral, 28% para manteiga, 20% para queijo e 9% para leite em pó desnatado.
Os países da OECD devem continuar sendo os maiores consumidores de queijo (representando ¾ deste mercado). No entanto, a maior expansão do consumo de lácteos ocorre principalmente para o leite em pó e manteiga (38%) e é liderada pelos países de fora da OECD.
Embora as exportações de lácteos devam crescer rapidamente, os países que não integram a OECD ainda devem permanecer como grandes importadores no período. No caso das exportações de lácteos, em 2019, os países da OECD continuarão a dominar as vendas externas de manteiga (80%), queijo (63%), leite em pó integral (66%) e leite em pó desnatado (74%).
O relatório também indica que os preços dos produtos lácteos estão abaixo dos seus recordes de pico de 2007-2008. Mas é pouco provável que caiam mais, aos níveis médios da última década. Estima-se que os preços médios dos lácteos, em termos reais, sejam 16-45%mais elevados em 2010-2019 comparativamente a 1997-2006, com os preços da manteiga registrando os maiores ganhos, devido aos preços da energia e óleos vegetais mais elevados. O crescimento sustentável dos mercados emergentes é um fator determinante do crescimento da demanda e dos preços. A expectativa, portanto, é que os preços dos derivados lácteos cresçam cerca de 2-3% ao ano em média, a partir de 2012, impulsionado pela crescente demanda.
Com relação à volatilidade dos preços, o relatório afirma que embora a volatilidade no curto prazo esteja elevada, ainda não se pode concluir se isso mudará no longo prazo, pois a extensão com que as variações no preço mundial são transmitidas aos mercados domésticos depende do grau de integração do país com o mercado internacional, da sua infraestrutura, da sua participação no comércio internacional e suas políticas agrícolas. Diante disso, o relatório ressalta a importância dos mercados futuros como mecanismos de gerenciamento de risco na atividade agropecuária. Este tipo de ferramenta já tem facilitado a comercialização agrícola em países desenvolvidos e sua expansão para os países em desenvolvimento será benéfica para estes mercados.
Para concluir, o relatório prevê que mudanças estruturais serão necessárias para o setor lácteo de um modo geral. Produtores e laticínios terão que ser mais proativos para se adaptar às mudanças nos mercados de insumos, condições de demanda, flutuações dos preços e a crescente pressão por segurança, qualidade e rastreabilidade de seus produtos.
**O artigo foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILEite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite.