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Atividade sanitária em rebanhos leiteiros de agricultura familiar da região Noroeste do Estado de São Paulo

Publicado: 4 de janeiro de 2013
Por: Vera Cláudia Lorenzetti, Dra. Pesquisadora da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Araçatuba - Pólo Regional Extremo Oeste - APTA
A agricultura familiar, constituída por pequenos e médios produtores, representa a magnitude de produtores rurais no Brasil. Dentre esses produtores, dados oficiais registraram entre 1995 e 2006, mais de 900 mil famílias de trabalhadores rurais assentadas no Brasil (INCRA, 2009). A região Noroeste do Estado de São Paulo, próximo à divisa com o Estado do Mato Grosso do Sul, possui um considerável número de assentamentos, vivendo e produzindo em imóvel rural desapropriado ou adquirido com apoio do governo, com o objetivo de cumprir a legislação relativa à reforma agrária (ALBUQUERQUE et al., 2004). No período de 1979 a 2007 foram criados 224 assentamentos no Estado de São Paulo, que significou moradia à 15.338 famílias num total de 408.226 hectares (DATALUTA, 2008).
O sistema de produção predominante é a pecuária de leite, associada à horticultura e culturas de autoconsumo, como o milho, o feijão, o quiabo e a mandioca, cuja produção, em pequena escala, além de garantir fonte de alimento próprio, é comercializada e garante a sustentabilidade econômica destas propriedades. O leite produzido é comercializado pela venda direta a laticínios ou pelas cooperativas, além da sua utilização para autoconsumo. Mais da metade (50,9%) dos produtores destina alguns produtos de origem animal e vegetal para o autoconsumo (SANT'ANA et al., 2007).
Estudos realizados em assentamentos da região revelaram que parte das famílias pesquisadas também adota formas diferenciadas de comercialização, como a venda direta ao consumidor e/ou varejo. A produção inclui produtos in natura ou processados artesanalmente, com base no conhecimento adquirido no meio familiar ou na comunidade. As limitações estão relacionadas à capacidade de produção e de manter a regularidade da oferta, além das dificuldades de se conseguir o selo de qualidade dos produtos.
Em função das características do sistema de produção familiar, o contato homem-animal é relativamente estreito e as famílias consomem os produtos de origem animal produzidos na propriedade (HOMEM et al., 2001). Este tipo de criação e contato sugere cuidados com doenças veiculadas por água e alimentos, doenças naturalmente transmissíveis entre o homem e os animais (zoonoses) e problemas de produção pertinentes à espécie animal que se cria. Dentro deste contexto leva-se em conta o controle de doenças como, brucelose, tuberculose, leptospirose entre outras.
Um dos principais fatores que interferem nos índices produtivos e reprodutivos de um rebanho é a sanidade, principalmente relacionada às infecções que afetam direta ou indiretamente o trato reprodutivo do animal. Dentre essas doenças, a leptospirose é uma importante infecção, responsável por inúmeras perdas produtivas, reprodutivas e econômicas, causando sérios prejuízos como abortamentos, infertilidade, ocorrência de natimortos e retenção placentária. Além da importância na área de saúde animal, a leptospirose assume papel relevante do ponto de vista de Saúde Pública, uma vez que o contato com animais infectados é uma forma de transmissão para o homem.
A leptospirose em seres humanos apresenta grande importância social e econômica pelo alto custo hospitalar em seu tratamento, por perda de dias de trabalho e pela sua letalidade, que pode chegar a 40% nas evoluções mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infra-estrutura sanitária, reflexo da baixa condição socioeconômica observada em nosso país (BRASIL, 2005). Também é caracterizada como uma doença ocupacional podendo ocorrer com maior freqüência em veterinários, trabalhadores de abatedouro e tratadores de animais (ACHA e SZYFRES, 1986).
Diante da importância do tema, a UPD de Araçatuba está desenvolvendo um projeto de pesquisa e transferência em parceria que é um estudo etiológico e soroepidemiológico da leptospirose nos bovinos, em rebanhos leiteiros da Agricultura Familiarb. Diante das informações colhidas, medidas higiênico-sanitárias estão sendo estabelecidas por meio de um processo de conscientização da comunidade-alvo e ações como tratamento e vacinação em todos os animais dos rebanhos com foco da doença.
 
Resultados esperados
• Perfil sócio econômico (74 famílias) e identificação de possíveis fatores de risco. Este será o primeiro trabalho dirigido à pesquisa de leptospirose na região, originando dados técnicos e servindo de modelo para as atividades nos outros assentamentos. De extrema importância para a pecuária leiteira regional, o estudo pretende estender o projeto a outras comunidades, visando à melhoria da produtividade e do desenvolvimento sustentável dos assentamentos da região.
• Conscientização e capacitação dos produtores. Em suas ações de educação sanitária, serão transferidas informações sobre as principais medidas higiênico-sanitárias por meio de um processo de conscientização da comunidade-alvo, a respeito de prevenção de doenças zoonóticas, melhorando assim a qualidade de vida dos agricultores.
• Aumento da produtividade com a transformação do status sanitário do rebanho. Com a identificação do problema, por meio das análises etiológicas e sorológicas, medidas de tratamento e prevenção serão realizadas promovendo a saúde do rebanho e o aumento da produtividade.
• O projeto é interinstitucional e o estabelecimento destas parcerias é de suma importância para o desenvolvimento de projetos conjuntos, abrindo novas linhas de pesquisa semelhantes nas comunidades.
• Na área científica os resultados esperados disponibilizarão o conhecimento da ocorrência de enfermidades infecciosas em rebanhos leiteiros da região Noroeste do Estado de São Paulo e permitirá a realização de trabalhos conjuntos com institutos de pesquisas e universidades, aumentando a transferência de informação.
 
Bibliografia
ACHA, P.N.; SZYFRES, B. Zoonoses y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales, 2. ed. Washington: OPS/OMS, 1986. 989 p.
ALBUQUERQUE, F.J.B.; VASCONCELOS, T.C.; COELHO, J.A.P.M. As políticas públicas e os projetos de assentamento. Estudos de Psicologia, v.9, n.1, p. 81-88, 2004.
BRASIL. Ministério da Saúde. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância epidemiológica. 6 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. p.502-520.
DATALUTA. Banco de Dados da Luta pela Terra: Relatório 2007. NERA - Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária - FCT/UNESP. Presidente Prudente, São Paulo. 2008, 44p.
HOMEM, V.S.F.; HEINEMANN, M.B.; MORAES, Z.M.; VASCONCELLOS, S.A.; FERREIRA, F.; FERREIRA NETO, J.S. Estudo epidemiológico da leptospirose bovina e humana na Amazônia oriental brasileira. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.34, n.2, p. 173 - 180, 2001.
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA. Boletim da reforma agrária. Disponível em: www.incra.gov.br. Acesso em; 19 maio 2009.
SANT'ANA, A.L.; TARSITANO, M.A.A.; ARAUJO, C.A.M.; BERNARDES, E.M.; COSTA, S.M.A.L. Estratégias de Produção e Comercialização dos Assentados da Região de Andradina, Estado de São Paulo. Informações Econômicas, SP, v.37, n. 5, p. 29-41, 2007.

*** O trabalho foi originalmente publicado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. 
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Autores:
Vera Cláudia Lorenzetti Magalhães Curci
APTA
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