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Importância do período seco para a prevenção da mastite

Publicado: 31 de agosto de 2009
Por: Maria Aparecida V. P. Brito (Pesquisadora Embrapa Gado de Leite)
O período seco é definido como o período de descanso, no qual as vacas em lactação deixam de ser ordenhadas antes de uma nova parição. De acordo com as alterações fisiológicas, bioquímicas e imunológicas que ocorrem na glândula nesse período, ele pode ser dividido em três fases. Destas, a primeira e a terceira são as mais importantes do ponto de vista de controle e prevenção da mastite.
A primeira fase corresponde às primeiras três semanas após a interrupção da ordenha. Nesse período ocorre a involução da glândula, ou seja, o estabelecimento das condições para cessar a produção de leite. Há acúmulo de leite no úbere, aumento da pressão na glândula e decréscimo da atividade secretória. As alterações bioquímicas, o aumento da pressão intramamária, que pode levar ao escape de leite pelos tetos, e o tempo requerido para alcançar o estado de completa involução da glândula, tornam essa fase muito susceptível às infecções.
A terceira fase é também de grande susceptibilidade às novas infecções, e corresponde ao período imediatamente antes do parto, quando o úbere se prepara para a síntese do leite. Nessa, que é também chamada de colostrogênese, ocorrem fenômenos opostos à involução. Há aumento de tecido mamário e da atividade secretória. O úbere acumula grande volume de secreções, aumentando a pressão na glândula, que pode levar ao escape de colostro pelos tetos.
A fase intermediária (segunda) entre a involução e a colostrogênese é considerada de grande resistência a novas infecções intramamárias.
Porque controlar mastite no período seco: O objetivo do controle de mastite durante o período seco é ter o menor número possível de quartos mamários infectados na próxima lactação. Espera-se, assim, que o úbere livre de infecção após o parto esteja apto para produzir a máxima quantidade de leite, com baixa contagem de células somáticas (CCS). Na ausência de medidas de prevenção e controle efetivas, mais quartos mamários estarão infectados após o parto do que no início da secagem. De maneira semelhante ao controle da mastite em geral, as estratégias para fortalecer a saúde do úbere durante o período seco devem ser direcionadas para a eliminação das infecções presentes e prevenção de novas infecções.
Causas de novas infecções no período seco: Os principais fatores que contribuem para o aumento das novas infecções intramamárias no período seco são:
Interrupção da ordenha, que além do leite, retira bactérias que penetram pelo canal do teto;
Interrupção da desinfecção dos tetos após a ordenha;
Aumento da pressão intramamária, que pode levar ao escape de leite, no início, ou de colostro, no final do período seco; Não formação, ou formação incompleta do tampão de queratina.
O tampão de queratina é um importante elemento protetor do úbere nesse período. Esse tampão vai se formar no canal do teto após a secagem do animal, e constitui uma barreira natural à penetração de bactérias na glândula. Os canais dos tetos protegidos pelo tampão de queratina têm 1,8 vezes menos probabilidade de desenvolver nova infecção intramamária no período seco.
Controle da mastite no período seco: a importância do controle da mastite durante o período seco foi reconhecida há mais de 30 anos atrás. Nessa ocasião, uma série de estudos mostrou que a taxa de novas infecções intramamárias era seis vezes maior nas primeiras três semanas após a secagem da vaca.
A exposição aos microrganismos do ambiente pode ocorrer durante todo o período seco. O risco de novas infecções por patógenos ambientais (coliformes e estreptococos do ambiente) pode ser até 10 vezes maior do que durante a lactação, com a maioria das infecções ocorrendo na fase inicial (de involução) ou na final (colostrogênese).
Em geral, a maioria das infecções intramamárias presentes no momento do parto são infecções novas, adquiridas durante o período seco. Raramente essas infecções causam mastite clínica no período seco, mas podem causar casos clínicos na próxima lactação ou persistir como infecções subclínicas, com aumento da contagem de células somáticas. Trabalho de pesquisa realizado no Reino Unido demonstrou que cerca de 50% de todos os casos clínicos de mastite que ocorrem no início da lactação (primeiros 100 dias no leite), causados por patógenos ambientais, resultaram de infecções adquiridas durante o período seco.
A recomendação de tratamento com antibiótico de todos os quartos mamários de todas as vacas após a última ordenha (terapia da vaca seca, TVS) é uma das medidas efetivas para eliminar as infecções subclínicas existentes no rebanho e prevenir novas infecções no início do período seco. O uso de um produto efetivo contribui para eliminar de 70% a 90% das infecções existentes no rebanho. A eliminação das infecções causadas por Staphylococcus aureus tem menor sucesso. O tratamento à secagem também reduz a incidência de novas infecções em cerca de 80%. Preparações de antibióticos que duram por longos períodos no úbere foram formuladas para essa finalidade.
É recomendado também, que o ambiente das vacas deve ser o mais limpo e seco quanto possível. Esse aspecto é importante para reduzir ao máximo a exposição aos patógenos do ambiente, em especial nas fases de maior susceptibilidade da glândula. Alguns autores também destacam a importância de uma alimentação balanceada nesse período para reforçar a resistência da vaca e melhorar a saúde de úbere. Por exemplo, níveis adequados de vitamina E e selênio parecem contribuir para potencializar os mecanismos de resistência às infecções no momento da parição e início da lactação. Em alguns países, a prevenção da entrada de microrganismos pelo canal do teto tem sido tentada com selantes de tetos, de uso interno ou externo.
 
Conclusão
A aplicação do conhecimento da fisiologia da lactação durante o período seco e os resultados de pesquisas realizadas, indicam que esforços devem ser direcionados para o controle da mastite neste período, mais especificamente, para na prevenção de novas infecções, pois estas podem causar problemas na próxima lactação da vaca.
***O trabalho foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILeite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite
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Autores:
Maria Aparecida Vasconcelos Paiva Brito
Embrapa Gado de Leite
Embrapa Gado de Leite
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