Com a crise econômica mundial, muito tem se falado sobre a variação dos preços em geral. E no contexto do agronegócio não tem sido diferente. Com a globalização e a maior integração dos mercados, os preços domésticos são mais influenciados por variáveis e fatores externos como crises, choques econômicos, oscilações da oferta mundial, etc.
No caso do mercado lácteo, a volatilidade dos preços ganhou destaque principalmente com a onda de protestos por parte dos produtores da União Européia. Segundo uma pesquisa feita em 2009 pela Canadian Dairy Comission em 25 países membros da International Dairy Federation (IDF), os preços do leite tem se mostrado mais voláteis do que os preços dos alimentos em geral. O estudo também indica que esta variabilidade no preço parece estar correlacionada com a variação nos preços da alimentação animal, dos combustíveis e dos fertilizantes. Além disso, estudos indicam que o leite é uma das commodities mais voláteis, perdendo apenas para o trigo, conforme mostra a Figura 1.
Nos Estados Unidos, Novakovic (2009) encontrou que a volatilidade para produtos lácteos é maior no meio da cadeia produtiva, variando muito entre os derivados. Os leites Class I (destinados ao consumo direto) e Class III (destinados à produção de queijo) são os mais voláteis. Por outro lado, o leite Class IV (destinado à fabricação de manteiga e leite em pó desnatado) é menos volátil. Além disso, o autor mostrou que há diferenças regionais na volatilidade do preço do leite: na Florida onde há maior concentração de leite Class I, os preços são mais voláteis, enquanto que em New York, onde há maior diversificação dos tipos de leite, os preços tendem a ser menos voláteis.
No Brasil, os preços de leite e derivados também têm apresentado altas volatilidades. A volatilidade anual calculada do preço médio nacional do leite cru para o período de 2007 a 2009 foi de 64,4%, valor muito superior ao das commodities negociadas na BM&F. Dentre os derivados lácteos, os menores valores de volatilidade foram encontrados para a manteiga (52,6%) e para o leite pasteurizado (53%). O leite UHT, no entanto, se destacou com o maior valor de volatilidade no segmento lácteo: 107,6%.
Apesar dos altos valores de volatilidade encontrados para os produtos lácteos no Brasil, os agentes do agronegócio do leite devem entender que esta é uma característica inerente da cadeia e que outros países enfrentam esta mesma situação. Portanto, a questão agora não é como reduzir a volatilidade dos lácteos e sim como gerenciar este risco de preço na atividade produtiva.
Os Estados Unidos utilizam os contratos futuros para lidar com a volatilidade na cadeia produtiva do leite. No entanto, a existência de vários tipos de contratos devido ao diferente sistema de classificação e precificação do leite no país, impediu o sucesso desse mercado. A União Européia também tem estudado a viabilidade de se implantar o mercado futuro de leite na região.
No entanto, existem outros mecanismos de gerenciamento de risco de preço, como os contratos a termo, contratos de opções e os contratos formais de compra e venda. Porém, nenhum deles é muito utilizado no Brasil, o que evidencia a fragilidade dos agentes da cadeia produtiva do leite na administração da atividade leiteira.
Referências Bibliográficas
Novakovic, A.M.; Nicholson, C.; Stephenson, M. Price volatility in US Dairy Market. In: IDF World Dairy Summit. 2009. Disponível em: www.wds2009.com
***O trabalho foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILeite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite