Quando se fala do setor de laticínios, os preços pagos ao produtor sempre são motivo de debate, seja no Brasil, Estados Unidos ou União Europeia. Com a crise econômica mundial, estes debates se tornaram mais frequentes devido à queda vertiginosa nos preços do leite em todo o mundo. Na União Europeia, por exemplo, os produtores de leite organizaram protestos para chamar a atenção das autoridades para este problema, visto que os preços recebidos por eles não cobriam seus custos de produção. Na Figura 1 pode-se observar o comportamento dos preços do leite em países da União Europeia.
Apesar da leve recuperação dos preços do leite no final de 2009, a volatilidade inerente nesta atividade leva os agentes da cadeia a se perguntarem sobre como o preço do leite é formado. Embora muitas variáveis estejam envolvidas neste processo de formação do preço, um ponto que tem sido muito discutido no meio acadêmico e que pode levar a um melhor entendimento do comportamento dos preços é a integração entre os vários mercados.
Segundo Faminon e Benson (1990) mercados integrados são aqueles nos quais os preços são determinados de maneira interdependente, de modo que alterações de preços em um mercado são transmitidas aos preços de outros. Portanto, a integração espacial dos mercados refere-se à influência que um mercado exerce sobre outro, direta ou indiretamente, de tal forma que oferta e demanda em um mercado afetam o preço e, ou volume de transações no outro, ao longo do tempo (Fackler e Goodwin, 2000).
Diante da importância dos países da União Europeia na produção e comércio de lácteos, achou-se oportuno estudar a integração espacial dentro deste mercado. Utilizando-se dados mensais de preços do leite pago ao produtor de janeiro de 2001 a agosto de 2009, realizou-se testes de cointegração com a finalidade de identificar se Alemanha, Bélgica, França e Holanda são integrados. Ou seja, objetivou-se identificar as relações de preços entre alguns países membros da União Europeia como forma de determinar se eles pertencem ao mesmo mercado ou se a formação de preços ocorre de forma independente em cada mercado.
Em análises de integração espacial de mercados há evidências de que quanto maior o número de características em comum entre os países ou regiões estudados, maior a probabilidade de existência de relações de preços entre as localidades. Os países membros da União Europeia escolhidos para a análise destacam-se em várias atividades do setor lácteo. A Tabela 1 apresenta algumas características importantes do setor lácteo destes países.
Os testes realizados no software JMulti indicaram que os quatro países estudados não são integrados, isto é, não apresentam a mesma tendência no comportamento dos preços do leite no longo prazo. Neste caso, os movimentos de longo prazo dos preços do leite nestes países são governados por mais de um tendência. Embora seja um resultado preliminar de uma série de estudos de integração espacial no comércio internacional de lácteos que a Embrapa Gado de Leite está desenvolvendo, este é significante. Ele indica que, apesar de Alemanha, Bélgica, França e Holanda fazerem parte de uma união aduaneira, as características individuais de cada país se sobressaem e variáveis diversas afetam os preços domésticos do leite em cada um destes países. Portanto, neste caso, políticas de incentivo ao preço do leite na União Europeia devem levar em consideração as diferenças regionais.
Bibliografia
DAIRYCO. EU milk prices Lto. Disponível em: . Acesso em: 19 set. 2009.
FACKLER, P.L.; GOODWIN, B.K. Spatial price analysis. Handbook of Agricultural Economics. North-Holland. 1-59 , 2000.
FAMINON, M.D.; BENSON, B.L. Spatial market integration. American Agricultural Economics. v. 72, n. 1, p.49-62, fev. 1990.
LEITE, J.L.B; SIQUEIRA, K.B.; CARVALHO, G.R. Comércio Internacional de Lácteos. Segunda edição revista e ampliada. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2009. 350 p.
***O trabalho foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILeite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite