Este mês, a Conjuntura do Mercado Lácteo vem apresentar uma análise dos números oficiais mais recentes das relações de troca na atividade leiteira, o índice de custo de produção de leite, bem como os preços do leite e derivados no Brasil e no mundo. Com isso, pretende-se fornecer aos agentes envolvidos na cadeia do leite, subsídios para a tomada de decisão com maior eficiência. Na Tabela 1 é apresentada a relação de troca na pecuária leiteira e o índice de custo de produção de leite em Minas Gerais.
De acordo com a Tabela 1, a relação de troca do leite com o milho, ou seja, a quantidade de leite vendido necessário para aquisição de 60 Kg de milho apresentou variações mensais negativas nos meses de setembro e outubro de 2012. No caso do farelo de soja, a relação apresentou um aumento muito forte de janeiro a agosto de 2012, fato que pode ser explicado pelo aumento nos preços da soja e pela incerteza sobre a disponibilidade do produto no mercado interno. No entanto, em setembro, e em maior proporção em outubro, houve queda da relação de troca. A mistura seguiu basicamente a mesma tendência do farelo de soja, apresentando aumento na relação de troca em praticamente todos os meses de 2012. O pico da relação de troca com a mistura foi atingido em agosto desse ano, chegando ao patamar de 51,27 litros de leite para cada 60 kg de mistura. Nos últimos dois meses, a relação de troca do leite vem diminuindo em relação a esses insumos, puxado pela queda nos preços internacionais das commodities, o que é uma boa notícia para o produtor.
Com relação ao mesmo período do ano anterior, a relação de troca com o milho encontra-se em um patamar superior desde julho de 2012, ou seja, entre julho e outubro de 2011, com a mesma quantidade de leite empenhado, o produtor de leite conseguia comprar mais milho do que nos últimos 4 meses desse ano. Para a soja, isso ocorre desde abril de 2012. Nos meses de julho, agosto e setembro a variação anual ultrapassou os 100%, fazendo com que fosse necessário que o produtor vendesse mais que o dobro da quantidade de leite para adquirir a mesma quantidade de farelo do ano anterior. Desse modo, apesar da melhoria na relação nos últimos dois meses, a relação de troca do leite com a mistura está superior aos valores do ano passado, desde maio de 2012.
Analisando o ICPLeite, índice de custo de produção do leite que a Embrapa Gado de Leite calcula para Minas Gerais, pode-se observar tendência de crescimento dos custos, principalmente se comparado com o ano anterior. Na Figura 1 é mostrado com maior clareza a evolução do ICPLeite nos últimos anos.
Tabela 1. Quantidade de leite necessária para a aquisição de ração e ICPLeite/Embrapa
Figura 1. Evolução do ICPLeite/Embrapa nos últimos anos
Pela Figura 1 pode-se observar que em 2009 e 2010, os custos de produção de leite estavam praticamente no mesmo nível. No entanto, em 2011, estes custos subiram para um novo patamar e, em 2012, eles alcançaram um patamar ainda mais elevado. Desde abril de 2011, o ICPLeite tem crescido continuamente, com exceção dos meses de novembro em 2011 e setembro de 2012. Entre um mês e outro as variações têm sido pequenas. Mas, na comparação anual, a variação do ICPLeite alcança valores mais expressivos. Por exemplo, em agosto de 2012, o ICPLeite estava 27,26% acima do patamar de agosto de 2011, o que representou a maior variação anual da série e coincide com o mês de pico na relação de troca da mistura. No entanto, é importante lembrar que ICPLeite é influenciado por diversos outros fatores, como mão de obra, transporte, etc., que também vêm apresentando aumentos.
Preço do leite no mercado doméstico
Apesar do aumento dos custos de produção verificados ao longo deste ano, o lucro na atividade leiteira depende também do preço pago pelo leite. Na Tabela 2 são apresentados os preços pagos pelo leite nos principais estados produtores e na média nacional, sem impostos.
Pela Tabela 2 observa-se que o estado onde o leite foi mais bem remunerado no último mês é Goiás. Em outubro de 2012, os produtores de leite de Goiás receberam, em média, pelo litro do leite R$ 0,924. Outro estado que também se destaca com os maiores preços pago pelo leite é São Paulo. Em outubro, os produtores paulistas receberam, em média, R$ 0,914/litro de leite. No outro extremo, o estado analisado que apresentou a menor remuneração para o leite em outubro de 2012 foi o Rio Grande do Sul, onde foi pago R$ 0,821 pelo litro.
Em outubro de 2012, todos os estados apresentaram variação positiva mensal no preço do leite. As maiores variações foram registradas em Goiás (3,32%) e Pará (1,99%). Já em Minas, os preços do leite variaram apenas 0,72%. No geral, os movimentos de preços têm seguido a mesma tendência entre os estados, com quedas pequenas no primeiro mês do ano (em alguns estados as quedas se prolongaram a fevereiro e março) e também em junho e julho. Apenas o estado da Bahia parece apresentar um atraso nas quedas do meio do ano, que só foram ocorrer em agosto e setembro.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, pode-se observar que, em outubro de 2012, na maioria dos estados os preços estão em um patamar inferior. A exceção e ênfase deve ser dada para o estado da Bahia, onde os preços vêm apresentando acréscimo mensal superior a 10% nos últimos 12 meses quando comparados ao ano anterior.
Na média nacional, durante o ano de 2012, as variações mensais dos preços foram pequenas. Na comparação anual, até maio de 2012 os preços do Brasil se encontravam num patamar superior ao verificado no ano anterior. Porém, a partir de junho, os preços médios do País se encontram num patamar abaixo do registrado em 2011. A Figura 2 mostra a evolução da média nacional dos preços pagos aos produtores.
Tabela 2. Preço do leite pago ao produtor (R$/L) - valor sem imposto
Figura 2. Média nacional dos preços pagos pelo leite
Preços de derivados lácteos
Para os consumidores, os preços dos derivados lácteos são mais relevantes que os preços do leite. Por isso, a seguir na Tabela 3 serão apresentados os preços de alguns produtos derivados do leite no atacado.
Tabela 3. Preço interno de derivados do leite no atacado
Segundo a Tabela 3, todos os derivados lácteos analisados apresentaram aumento de preço em setembro de 2012. O maior aumento percentual foi verificado para o leite cru (2,33%), seguido pelo leite UHT (1,20%). O leite pasteurizado apresentou ligeiro aumento de preços em outubro, após dois meses de estabilidade. Já o queijo prato aumentou R$ 0,12 após dois meses seguidos de queda. Apenas a muçarela e o leite UHT têm três meses seguidos de alta de preços.
Para acompanhar o movimento dos preços dos derivados lácteos, um indicador interessante é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é apresentado na Tabela 4 a seguir. O IPCA mede a variação média nos preços de uma cesta de produtos no comércio para o público final, ou seja, no varejo. Em seu cálculo estão presentes alguns itens relacionados ao setor lácteo.
Tabela 4. IPCA - Percentual no mês
Os dados da Tabela 4 mostram que, no varejo, a manteiga vem apresentando queda de preços por 4 meses consecutivos. Em outubro, apenas a manteiga e o creme de leite tiveram queda de preços. Os demais produtos contribuíram para o aumento da inflação. A maior elevação de preços foi verificada para o leite UHT e leite em pó. No entanto, na comparação com o ano anterior, o leite UHT é o único produto que está num patamar inferior. Por outro lado, o leite em pó se destaca por apresentar a maior diferença positiva em relação ao preço de outubro de 2012.
No acumulado do ano, ou seja, entre janeiro e outubro de 2012, todos os produtos tiveram aumento de preços. A manteiga teve a maior variação, de 12,42%, seguida pelo leite em pó (9,53%) e o queijo (8,98%). A menor variação acumulada é do leite UHT (1,12%). A Figura 3 mostra a evolução do IPCA agregado do setor lácteo no período de 2009 a 2012.
Figura 3. Evolução do IPCA – agregado de leite e derivados
No agregado de leite e derivados, observa-se pela Figura 3, que o ano de 2009 foi o que apresentou a maior variação de preços, com um pico que foi superior ao de 2010 e semelhante ao de 2011. A variação de preços em 2009 foi em torno de 30 pontos percentuais. Já em 2011, esta variação foi inferior a 20 pontos percentuais. Em 2012, os preços de leite e derivados estão em um patamar superior ao dos anos anteriores, mas a curva de preços parece apresentar um comportamento bem mais suave do que a curva de 2011.
Além dos preços do mercado interno, num ambiente globalizado torna-se importante analisar o comportamento dos preços internacionais de leite e derivados, os quais são apresentados na Tabela 5.
Tabela 5. Preços internacionais de leite e derivados.
Uma informação importante da Tabela 5 é que na Oceania, União Europeia e EUA, os preços de todos os derivados lácteos apresentam variação positiva significativa no mês de setembro, apesar da queda na comparação anual de grande parte dos produtos. Isso indica que o mercado vem mostrando sinais de recuperação.
Destaque deve ser dado para os significativos aumentos de preços verificados na União Europeia, ou seja, todos superiores a 10%. Já na Argentina, a estabilidade de preços foi predominante em setembro. No entanto, na comparação com o mesmo período do ano passado, os preços dos lácteos da Argentina estão todos em um patamar inferior, ao contrário do verificado para a maioria dos países.
Portanto, os dados indicam que o produtor de leite se encontra em uma situação mais complicada este ano do que no ano passado, pois os custos de produção cresceram mais do que o preço do leite. Do lado do consumidor, a situação também é complicada, pois todos os derivados lácteos estão com preços mais elevados do que os verificados no ano passado. Além disso, os preços dos maiores fornecedores de lácteos para o Brasil (Argentina e Uruguai) também estão mais altos.
**O artigo foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILeite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite.