Em geral, as carcaças dos bovinos abatido no oeste da Bahia não apresentaram problemas de acabamento, considerando o processo de resfriamento em câmaras frigoríficas, sendo 39% com cobertura de gordura mediana (3 a 6 mm) e 16% uniforme (6 a 10mm). Contudo, 41% apresentaram gordura escassa, ou seja, de 1 a 3 mm de espessura (Figura 2 – a), o que pode aumentar o índice de quebra ao resfriamento, pelo encurtamento das fibras, com menor temperatura durante o resfriamento, ocorrendo menor ação glicosídica muscular, maior pH e pouca ação da calpaína, enzima responsável pela maciez da carne, antagonicamente a calpastatina (SILVEIRA et al., 2001).
Dentre os fatores relacionados à qualidade, os fatores raça, sexo, alimentação e idade dos animais ao abate interferem na deposição de gordura de cobertura na carcaça. A indústria frigorífica tem como baliza a compra de animais com pelo menos 3mm de gordura subcutânea, para proteger a superfície muscular durante o processo de resfriamento e de conservação das carcaças (JUNQUEIRA e ALLEONI, 1998).
Figura 2 – Cobertura de gordura (a) e conformação (b) de carcaças bovinas abatidas na região oeste da Bahia
A conformação de grande parte das carcaças (47%) foi retilínea. As carcaças sub-convexas e convexas representaram juntas 44% do total (Figura 2 – b). A conformação é uma avaliação subjetiva da expressão muscular, levando em conta principalmente a cobertura muscular do traseiro, onde estão localizados os cortes de maior valor comercial. Carcaças com melhor conformação (convexa, subconvexa) tendem a ser preferidas pelos açougues e supermercados, pois produzem cortes com melhor aparência, apresentam menor proporção de osso e maior porção comestível (ABRAHÃO et al. 2005).
O peso das carcaças determina o valor comercial pago pelo Frigorífico ao produtor. A maioria das carcaças avaliadas neste trabalho (77%) pesou menos de 16@, peso recomendado pelo Frigorífico. Acima de 16@, pesaram apenas 23% das carcaças (Figura 3 – a). Segundo EUCLIDES FILHO (2001), a média brasileira é de 14@. Segundo esse autor, a intensificação do sistema de produção, com investimento em pastagens, suplementação e confinamento, aumentaria o peso das carcaças para 16@. O mercado nacional normalmente penaliza carcaças com menos de 15@, reduzindo até R$ 1,00/@ (SORIA, 2005).
Figura 3 – Peso (a) e tipificação (b) de carcaças bovinas abatidas na região oeste da Bahia
Após a avaliação do sexo e maturidade dos animais, do grau de acabamento, conformação e peso das carcaças, os dados foram colocados em planilha para tipificação, conforme o sistema B-R-A-S-I-L. Cerca de 65% das carcaças foram tipificadas pela letra “I”, ou seja, penúltima na escala qualitativa do sistema oficial (Figura 3 – b). Entretanto, cerca de 15% das carcaças atingiu padrão de qualidade que atendem ao novilho precoce. Dessas, 73% enquadrou-se na Quota Hilton.
IV - ConclusõesOs bovinos abatidos na região oeste resultaram, em grande parte, em carcaças com reduzido padrão de qualidade, em virtude, principalmente, do elevado grau de maturidade, do acabamento inadequado e do baixo peso das carcaças. Fazem-se necessárias melhorias no sistema de criação de gado de corte, visando produção de novilhos precoces e de carcaças com alto padrão comercial.
A tipificação de carcaças é uma ferramenta importante para todos os segmentos da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil (insumos-produtor-abate e processamento –distribuição – atacado – varejo – consumidor), auxiliando na definição do direcionamento dos produtos aos diferentes mercados, proporcionando um aumento da receita e direcionando o sistema de produção para obtenção dos produtos desejados.
V - AgradecimentosAo FRIBARREIRAS – Frigorífico Regional de Barreiras, pelo apoio fundamental à realização deste trabalho, permitindo o uso das instalações frigoríficas para as avaliações.
VI - Referências bibliográficasABRAHÃO, J.J.S. et al. Características de carcaça de novilhas mestiças confinadas, submetidas a dietas com milho ou resíduo seco de fecularia de mandioca. Acta Scientiarum, Animal Science, Maringá, v. 27, n. 4, p. 459-468, 2005.
BRASIL, Portaria nº. 612, de 5 de Outubro de 1989. Sistema Nacional de Tipificação de Carcaças Bovinas. Ministério da Agricultura, Brasília, 1989. Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/servlet/Visualizaranexo?id=123 Acesso em: 01 Jun. 2006.
EUCLIDES FILHO, K. Interação genótipo-ambiente-mercado na produção de carne bovina nos trópicos. In: SIMCORTE: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE. Universidade Federal de Viçosa. Anais... Viçosa: UFV. p. 93-116. 2001.
FELÍCIO, P.E. Classificação e tipificação de carcaças bovinas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE NUTRIÇÃO ANIMAL, Goiânia, 2005. Anais... SNBA:Goiânia, 2005.
JUNQUEIRA, J.O.; ALLEONI, G.O. O ponto de vista da área de ensino e pesquisa. In: WORKSHOP EM QUALIDADE DA CARNE E MELHORAMENTO GENÉTICO DE BOVINOS DE CORTE. São Carlos, 1998. Anais... São Carlos: EMBRAPA Pecuária Sudoeste, p. 69-75. 1998.
SILVEIRA, A.C. et al. Produção de novilho superprecoce. In: SIMCORTE – SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE. Universidade Federal de Viçosa. Anais... Viçosa: UFV, 2001, p.37-54.
SORIA, R.F. Características de carcaças bovinas obtidas por frigoríficos na região central do Brasil, um retrato espacial e temporal. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, 2005 60p. : il. Dissertação (Mestrado).