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Características de carcaças de bovinos Nelore comercial inteiros e castrados, criados em pastagens e abatidos em duas idades diferentes

Publicado: 30 de novembro de 2006
Por: André Camargo, Victor Cruz Rodrigues, Bruno Fillipe de Souza Lima e Silva e Gustavo Rios Poletto, Departamento de Reprodução e Avaliação Animal, Instituto de Zootecnia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), RJ.
Sumário

As características de carcaça de bovinos Nelore comercial, inteiros e castrados, com maturidade fisiológica de quatro e seis dentes, aproximadamente 30 e 36 meses de idade, respectivamente, foram estudadas. Dados de trinta e dois animais, criados a pasto, foram utilizados. Não houve interação entre condição sexual e idade para todas as variáveis estudadas. Para o comprimento da perna, os animais castrados foram superiores aos inteiros (93,8 vs 89,6cm), enquanto para espessura do coxão, os animais que apresentavam quatro dentes, aproximadamente 30 meses de idade, foram superiores aos animais com seis dentes que possuíam em torno de 36 meses de idade (24,6 vs 21,6cm). Não foram observadas diferenças para as outras medidas de desenvolvimento da carcaça. Os animais Nelore comercial inteiros avaliados, não são identificados como animais de melhor musculosidade e animais mais jovens são mais eficientes no depósito de musculatura no traseiro, observada pela espessura do coxão.

Palavras-chave: comprimento da carcaça, comprimento da perna, conformação, espessura de coxão, peso da carcaça.

 

INTRODUÇÃO
O Nelore é a raça mais utilizada no país por apresentar rusticidade e bons rendimentos de carcaça mesmo quando criados à pasto. Seu uso em cruzamentos com raças européias é constante.
PORTO et al. (2000) afirma que com o constante aumento da demanda por carne de origem bovina, faz com que os produtores comecem a adotar técnicas que visam o aumento da eficiência em seus sistemas de produção. RESTLE e VAZ (1997) ressaltam que a concorrência da carne originária dos países do Mercosul tem levado à busca de melhoria da qualidade e índices de produtividade da pecuária de corte nacional, uma vez que grande parte da carne que chega ao consumidor é proveniente de sistemas de produção extensivos. Ambos os autores relatam que a idade de abate dos animais é um dos fatores que mais influenciam a produtividade de um sistema de produção e a qualidade do produto final.
Segundo RESTLE et al. (2000), com a redução da idade de abate dos machos para dois anos ou menos de idade, abre-se nova perspectiva em nosso meio para produzir carne a partir de machos inteiros. O mesmo autor ainda afirma que esta prática é adotada há muito tempo em vários países europeus, nos quais a grande parte da carne consumida é proveniente de bovinos inteiros abatidos com idade inferior a dois anos.
A produção de carne a partir de bovinos de corte não-castrados, no Brasil, ainda é baixa, já que a maioria dos frigoríficos discrimina os animais inteiros pagando preços mais baixos devido ao tipo dos animais que são comercializados para o abate. Estes animais, em sua maioria touros de descarte, apresentam carne de coloração escura, além do grande desenvolvimento do quarto anterior, em detrimento do quarto posterior, no qual se localizam os cortes mais nobres da carcaça (RESTLE et al. 2000).
A preferência da indústria frigorífica é pelas carca ças de animais castrados, por sua maior cobertura de gordura e melhor conservação em câmara fria (FREITAS et al., 2005).
A castração é descrita por DOMINGUES (1968) como sendo a supressão dos testículos, a qual acarreta a regressão dos caracteres secundários ou uma paralisa ção no seu desenvolvimento. De acordo com LUCHIARI FILHO (2000), a castração exerce uma influ- ência negativa no desenvolvimento do animal deprimindo o desenvolvimento do tecido muscular e uma influência positiva no desenvolvimento do tecido adiposo. Os animais inteiros apresentam um crescimento relativamente maior para a musculatura do dianteiro, assim como a quantidade e a distribui ção da gordura na carcaça fica alterada. O mesmo autor relata que os animais inteiros apresentam ganhos superiores, maior rendimento de carca ça e maior porcentagem de traseiro e dianteiro. Segundo PEREIRA et al. (1977), a castração de bovinos ainda apresenta dúvidas, principalmente quando a idade ou a época de realizá-la. As idades preconizadas variam desde logo após o nascimento dos bezerros até poucos meses antes do abate.
A castração dos machos foi um manejo tradicionalmente usado pelos produtores de bovinos de corte, visando evitar o efeito dos hormônios androgênicos sobre as características de carcaça e da carne (RESTLE et al., 1999). Porém, vários trabalhos têm demonstrado que esses mesmos hormônios são responsáveis por maior velocidade de crescimento e melhor conversão alimentar dos animais inteiros em relação aos castrados (RESTLE et al., 1996; RESTLE et al., 1997a).
Algumas conseqüências negativas da castração como custo da mão-de-obra, hemorragia, bicheira e perda são descritas por MARCANTONIO (1998).
Segundo RESTLE et al. (1994), a castração é uma prática rotineira que é realizada com o intuito de facilitar o manejo, pois torna os animais mais dó- ceis, bem como produzir carcaças de melhor qualidade e aceitação no mercado. Sabe-se, no entanto, que bovinos inteiros apresentam maior ganho de peso por unidade de tempo e são mais eficientes em transformar alimentos em ganho de peso (FIELD, 1971; SEIDEMAN et al., 1982; CASACCIA, 1993 e MORAIS et al., 1993)
Trabalhos de vários autores como RESTLE et al., (1994), FEIJÓ e EUCLIDES FILHO (1998) e FEIJÓ et al., (1998), mostram que é possível abater animais inteiros com carcaças de qualidade.
Ao analisar as carcaças de animais inteiros e castrados, os resultados demonstram que as carcaças dos animais inteiros são mais pesadas, de melhor conformação e com maior proporção de músculo (FIELD, 1971; MULLER e RESTLE, 1983; CROUSE et al., 1985).
As diferenças sexuais observadas na composi- ção da carcaça são similares entre raças, já que as diferenças mais importantes são o tamanho e a musculosidade. Os machos inteiros crescem mais rapidamente e depositam menos gordura que os machos castrados, que pode ser considerado um fator positivo na medida em que esses animais podem produzir carne com menor quantidade de gordura. Entre animais abatidos com a mesma idade, o inteiro produz uma carcaça mais pesada que o castrado, mas o conteúdo de gordura é menor no inteiro e maior no castrado (SAINZ, 1996).
Objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito da castração e da idade dos animais sobre as caracter ísticas da carcaça, e na qualidade da carcaça de bovinos anelorados, criados a pasto.
 
MATERIAL E MÉTODOS
A coleta de dados foi realizada no Abatedouro Municipal de Juiz de Fora, Minas Gerais, no mês de maio de 2004. Foram utilizados 32 animais anelorados, com maturidade fisiológica de quatro e seis dentes que, segundo LUCHIARI FILHO (2000), correspondem a 30 e 36 meses de idade, aproximadamente. Os animais eram provenientes das fazendas Criciúma e Sertão, localizadas na região de Juiz de Fora, Minas Gerais, criados a pasto, e representavam a raça e a tipologia dos animais abatidos nessa região (Nelore comercial). Os animais foram mantidos em pastagens com predominância de Brachiaria decumbens e Melinis minutiflora, vulgarmente conhecido como capim-gordura, onde recebiam sal mineral comercial à vontade. Após o desmame, entre sete e nove meses de idade, os animais foram submetidos à castração pelo método cirúrgico. Os animais não receberam suplementação no período da seca e foram abatidos com peso geral médio de 517kg. O método de escolha dos animais aconteceu de acordo com a maturidade fisiológica pela dentição e semelhan ça de peso.
No processo de abate, após jejum de 18 horas, os animais foram atordoados com pistola pneumática e logo em seguida, foi feita a sangria através do corte da jugular. O animal foi esfolado, eviscerado e teve sua carcaça dividida em duas meia-carcaças. As meia-carcaças foram divididas em três cortes principais (serrote, dianteiro e costilhar) de acordo com OLIVEIRA (2000). Foram obtidas quatro medidas da carcaça de acordo com MULLER (1980), que apresentam correlação positiva com a porção comest ível: comprimento da carcaça que é a mensuração obtida com uma fita métrica, desde o bordo anterior do osso púbis até a articulação da última vértebra cervical com a primeira torácica; comprimento da perna que é a medida obtida com um compasso metálico de leitura direta com uma ponta colocada no bordo anterior do osso púbis e a outra no ponto médio dos ossos da articulação do tarso; espessura do coxão que corresponde à mensuração obtida com um compasso metálico de leitura direta com as pontas colocadas horizontalmente acima do osso púbis e a conformação que foi obtida por uma determina- ção subjetiva do grau de conformação (Tabela 1) realizada por três pessoas devidamente treinadas que atribuíram pontuações aos animais de acordo com o modelo proposto por MÜLLER (1980). Para aná- lise de conformação, os dados foram transformados pela raiz quadrada.
 
Tabela 1. Grau de conformação
Características de carcaças de bovinos Nelore comercial inteiros e castrados, criados em pastagens e abatidos em duas idades diferentes - Image 1
 
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 x 2 (duas condições sexuais e duas dentições). Animais castrados e inteiros foram as duas condições sexuais, enquanto que animais de quatro e seis dentes foram as duas dentições, cujas idades aproximadas segundo LUCHIARI FILHO (2000) eram, respectivamente, de 30 e 36 meses, aproximadamente. A análise das informações foi feita utilizando-se os procedimentos disponíveis no pacote estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000) com teste Tukey para comparação entre as médias.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das características da carcaça de bovinos Nelore, criados à pasto, estão apresentados na Tabela 2. Não houve interação para as variáveis estudadas. O fator condição sexual não sofreu influ ência do fator idade observada pela dentição.
Pela análise das características da carcaça dos animais inteiros e castrados, não houve diferença significativa (P>0,05) para as características conforma ção, espessura de coxão, comprimento de carca- ça e peso de carcaça quente. Os animais castrados apresentaram maiores comprimentos de perna quando comparados aos inteiros (93,8 vs 89,6cm).
 
Tabela 2. Medidas de conformação, peso da carcaça quente, comprimento da carcaça e da perna e espessura de coxão de inteiros de castrados e por idade
Características de carcaças de bovinos Nelore comercial inteiros e castrados, criados em pastagens e abatidos em duas idades diferentes - Image 2
 
Os animais se enquadraram na classificação de regular a boa de acordo com MÜLLER (1980). RESTLE et al. (2000a), ARTHAUD et al. (1977), MULLER e RESTLE (1983), CHAMPAGNE et al. (1969), RESTLE et al. (1996) e RESTLE e VAZ (1997) encontraram resultados diferentes ao presente estudo, onde os animais inteiros apresentaram melhor conformação. Segundo SEIDEMAN et al. (1982) e GALBRAITH et al. (1978), a melhor conformação dos animais inteiros e o maior desenvolvimento da musculatura corporal apresentado por esses animais, é resultado de uma maior deposição de tecido muscular, acentuado pelo efeito anabolizante dos hormônios testiculares ou testosterona.
Quando a característica espessura de coxão foi analisada, verificou-se que não houve diferença estat ística (P>0,05) para os animais das duas categorias. RESTLE et al. (2000a), MULLER e RESTLE (1983) e RESTLE et al. (1994), também não verificaram diferen ça entre inteiros e castrados. RESTLE et al. (1996), diferentemente do presente estudo, verificaram maiores valores de espessura de coxão nos animais inteiros, indicando que a superioridade desses, seria devido à maior musculosidade em relação aos castrados.
RESTLE et al. (2000a), RESTLE et al. (1994) e MULLER e RESTLE (1983), contrariando os resultados encontrados no presente trabalho onde os animais castrados apresentaram maiores comprimentos de perna em relação aos animais inteiros (P<0,05), não verificaram diferenças entre as duas categorias para a caracter ística em questão.
Os valores de comprimento de carcaça, não foram influenciados significativamente (P>0,05) pela condição sexual. Apresentando resultados semelhantes aos encontrados no presente estudo, autores como RESTLE et al. (2000), MULLER e RESTLE (1983) e RESTLE e VAZ (1997), mostraram que o estado sexual dos animais, não influenciou essa característica. Contrariando os resultados encontrados neste trabalho, RESTLE et al. (1994), encontraram maiores valores de comprimento de carcaça para os animais inteiros, quando comparados aos animais castrados em diferentes idades. De acordo com PAGANO et al. (1998), o comprimento de carcaça está relacionado com a quantidade de carne de primeira qualidade da carcaça, ou seja, quanto maior, maior a quantidade de carne deste tipo que será depositada na carcaça.
Contrariando os valores encontrados no presente experimento, em que a condição castrado e não castrado não resultou em influência significativa (P>0,05) no peso da carcaça quente, RESTLE et al. (2000a). VAZ et al. (2001), RESTLE et al. (1994), ARTHAUD et al. (1977), GERRARD et al. (1987), RESTLE e VAZ (1997), MORGAN et al. (1993) e PORTO et al. (2000), em seus respectivos estudos, relatam maiores pesos de carca ça quente dos animais inteiros quando comparados a animais castrados.
Ao analisar a influência da idade dos animais nas características da carcaça, verifica-se que não há diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos para a conformação, comprimento de perna, comprimento de carcaça e peso da carcaça. Os animais mais novos apresentaram maior espessura do coxão (P<0,05) quando comparados aos castrados (24,6 vs 21,6cm).
COSTA et al. (2005), estudando bovinos Nelore e F1 Nelore x Sindi aos 36 e 48 meses de idade, não encontraram diferença para conformação dos animais, concordando com os resultados obtidos no presente experimento. SOUSA et al. (2004), em seus estudos, também não observaram diferença significante para o comprimento de perna e comprimento de carcaça entre animais aos 36 e 48 meses de idade.
A espessura do coxão foi maior (P<0,05) nos animais mais novos (4 dentes) apresentando maior musculosidade no traseiro que animais mais velhos (6 dentes) (24,6 vs 21,6 cm). Discordando com os valores encontrados no presente estudo, COSTA et al. (2005) e SOUSA et al. (2004) não encontraram diferen- ça para espessura de coxão quando compararam animais em duas idades diferentes.
 
CONCLUSÕES
Dentre os animais Nelore comercial avaliados neste experimento, inteiros não são identificados como animais de melhor musculosidade e animais mais jovens são mais eficientes no depósito de musculatura no traseiro, observada pela espessura do coxão.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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***O trabalho foi originalmente publicado no Boletim da Indústria Animal (BIA), do Instituto Zootecnia (IZ/APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, Brasil.
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