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Determinantes do preço do boi gordo no Estado de São Paulo

Publicado: 28 de outubro de 2011
Por: CLEITON LUIZ TONELLO, TIAGO JUNIOR PASQUETTI, ORLANDO RUS BARBOSA, LEONIR BUENO, RIBEIRO, CARLA FRANCIELE HÖRING
RESUMO -
O presente trabalho foi proposto para analisar e determinar o comportamento e as relações direta e indireta existentes entre o valor da arroba do boi gordo e os principais componentes da suplementação. O banco de dados foi obtido por meio de consulta a fontes secundárias, sendo estes submetidos á análise de trilha para o estudo do desdobramento do coeficiente de correlação (variáveis dependente x independentes), em efeitos diretos e indiretos. . O período de análise foi de janeiro de 1999 a dezembro de 2008. O milho apresentou correlação total de 0,5080 indicando grande contribuição para o aumento do valor da carne bovina. O valor da saca de trigo teve efeito direto de 0,4897 e efeito indireto por meio da soja (0,5601), assim, os principais componentes da suplementação concentrada (soja, milho e trigo) apresentaram elevada correlação com o valor da arroba do boi gordo no estado de São Paulo.
ABSTRACT -
The current paper was proposed to analyze and determine the behavior and the direct and indirect relation between the sign of live cattle value and the main components of supplementation. The database was obtained by consulting secondary sources, which underwent path analysis to study the unfolding of the correlation coefficient (dependent variable x independent) in direct and indirect effects. The analysis period was from January 1999 to December in 2008. The corn presented a total correlation of 0.5080 indicating a substantial contribution for the increasing of beef value. The value of wheat bag had a direct effect of 0.4897 and an indirect effect through the soybean (0.5601), like this, the main components of concentrate supplementation (soybean, corn and wheat) showed high correlation with the sign of live cattle value in the state of Sao Paulo.
INTRODUÇÃO
A produção de commodities agrícolas, por depender de fatores considerados instáveis como da comercialização, da oferta e da demanda interna e externa, exerce grande influência na variabilidade do nível de preços que, por sua vez, impõe dificuldades no planejamento da produção e no abastecimento de mercados (TWEETEN, 1979).
De acordo com a Agroanalysis (2006), dentre os produtos que mais contribuíram para o crescimento das exportações as carnes ficaram em terceiro lugar (31%), atrás apenas do açúcar e álcool (49%) e do café (42%). A expansão agrícola brasileira, principalmente o desenvolvimento da pecuária de corte, contribuiu para elevar o número efetivo de bovinos, segundo IBGE (2008), de 107 milhões de cabeças em 1977 para 205,8 milhões de cabeças em 2006. No ano de 2008 o efetivo de bovinos foi de 202,3 milhões de cabeças, um aumento de 2,5 milhões em comparação ao ano de 2007. Esse aumento na produção de carnes no Brasil deve-se em grande parte às tecnologias avançadas nas áreas de genética, nutrição, sanidade e manejo.
Isso tem contribuído para o aumento nos custos de produção da carne bovina, que também são influenciados pelos preços do milho, soja e trigo, os quais são componentes básicos na fabricação de concentrados das rações.
De acordo com Viana et al. (2009) os preços do quilograma de boi vivo nos últimos anos se mantiveram constantes e os preços dos insumos apresentaram elevação. O produtor está inserido em um mercado altamente especializado e não possui capacidade de formular os preços finais de seu produto (MONTOYA; PARRÉ, 2000).
O agronegócio da pecuária é visto como a cadeia produtiva que envolve desde a fabricação de insumos, passando pela produção nos estabelecimentos agropecuários e pela transformação do produto até o consumo (GASQUES, 2004).
A interação entre o produto, neste caso a carne bovina, e seus insumos deve ser o objetivo de estudos, a fim de quantificar as relações existentes. As correlações de causa e efeito não são medidas e a interpretação direta das suas magnitudes pode resultar em equívocos na estratégia de seleção dos componentes, pois correlação alta entre dois caracteres podem ser resultados do efeito, sobre estes, de um terceiro caráter ou de um grupo de caracteres (DUNTEMAN, 1984), sendo necessário o emprego de metodologias específicas, como as correlações parciais, correlações canônicas e análise de trilha (FALCONER, 1987; CRUZ; REGAZZI, 1997). Essas correlações permitem conhecer de maneira mais detalhada as inter-relações entre os vários caracteres em estudo (TAVARES et al., 1999). A análise de trilha, desenvolvida por WRIGHT (1921, 1923), permite desdobrar os coeficientes de correlação nos efeitos diretos e indiretos sobre uma variável básica, cujas estimativas são obtidas por meio de equações de regressão, em que as variáveis são previamente padronizadas, conforme apresentado por Cruz (2001). Como descrito por Lúcio et al. (2007), a análise de trilha também pode ser aplicada como método de identificação das variáveis menos explicativas do comportamento da variável dependente principal e, assim, eliminá-la do estudo.
A análise de trilha e das correlações permitirá visualizar o efeito direto dos insumos sobre o preço da arroba do boi, assim como os efeitos indiretos dos outros caracteres relacionados. Assim, o presente trabalho analisa e determina o comportamento e a relação direta e indireta existente entre o valor da arroba do boi gordo e os principais componentes da suplementação.
MATERIAL E MÉTODOS
O banco de dados foi composto das séries de cotações históricas da arroba do boi gordo em reais e dólar, índice geral de preços – disponibilidade interna (IGP-DI), taxa de câmbio (Câmbio), valor da saca de milho em reais (Rmilho), valor da saca de soja em reais (Rsoja) e valor da saca de trigo em reais (Rtrigo) para o estado de São Paulo. Os dados foram obtidos por meio de consulta a base de dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Departamento de Economia Rural (Deral), Cooperativas Agroindustriais e Frigoríficos do estado de São Paulo. O período de análise foi de janeiro de 1999 a dezembro de 2009.
A análise estatística dos dados foi feita pela análise de trilha através do estudo do desdobramento do coeficiente de correlação entre variável dependente, (cotação da arroba do boi em reais) e variáveis independentes (índice geral de preços – Disponibilidade Interna, taxa de câmbio, valor da saca de soja em reais, valor da saca de milho em reais e valor da saca de trigo em reais), em efeitos diretos e indiretos. Os resultados da análise de trilha foram interpretados conforme indicado por Vencovsky e Barriga (1992), em que, basicamente, i) coeficientes de correlação e efeitos diretos (coeficientes de trilha) altos indicam que estas variáveis independentes explicam grande parte da variação da variável básica e que ii) coeficientes de correlação positivos (ou negativos), mas o efeito direto é de sinal diferente ou neglingenciável, variáveis com maiores efeitos indiretos devem ser consideradas simultaneamente para explicarem a variação da variável básica. Assim, a correlação ente os caracteres estudados é considerada alta quando estiver próxima de 1 ou -1.
A análise estatística dos dados envolveu também a análise de variância das médias, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, utilizandose o programa computacional SAEG 9.1 (UFV, 2007).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A série de cotações no estado paulista possui um comportamento irregular ascendente atingindo seu nível máximo no mês de julho de 2008, em que o preço da arroba do boi gordo atingiu o valor de R$ 92,79 (Figura 1). A partir dessa data, a série teve um movimento de queda irregular fechando o ano com cotação de R$ 82,20 registrando queda de 11,41% no valor da arroba no ano de 2008. Embora não havendo muita variação, essa queda no valor da arroba em R$ é visível também em 2009, a qual pode ser explicada por uma desvalorização na moeda nacional, já que o valor da arroba em dólar, para o mesmo período, apresenta-se ascendente. Neste período de 2008 outros fatores influenciaram nesta queda, originados na crise mundial.
A pesquisa “Indicadores Pecuários”, da ENA e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/ USP), constatou que entre janeiro e agosto de 2005 o preço do boi gordo caiu 14,94% (ORICOLLI, 2005).
A redução da oferta de animais para abate no mercado interno no ano de 2005, em decorrência do foco de Febre Aftosa refletiu no preço da carne por dois anos, ocorrendo elevação dos custos de produção. Em 2004 e 2005 os gastos cresceram 25% enquanto o preço do boi caiu 20% (ANUARIO SCVCF, 2005).
O saldo da balança comercial paulista do agronegócio atingiu US$ 1,02 bilhão no primeiro bimestre de 2006, um aumento de 4,7% sobre o mesmo período de 2005. O superávit foi resultado de exportações no valor de US$ 1,61 bilhão (acréscimo de 3,2%) e de importações de US$ 590 milhões (mais 1,7%) (MARTIN, 2006).
Este recorde histórico do valor pago aos produtores pela arroba do boi gordo, no início de 2008, foi provavelmente devido à estiagem que atingiu o estado paulista no período de 2007/2008, reduzindo a oferta de animais terminados para os abatedouros em decorrência dos elevados índices de abate de fêmeas ocorridos nos anos anteriores. Com a oferta abaixo do normal o preço do boi gordo em julho de 2008 sofreu uma elevação de 38,14% em comparação ao mesmo período de 2007. Analisando a distribuição histórica da série de cotações, pode-se inferir visualmente que a série não é normalmente distribuída.
Para a variável, valor pago pela arroba do boi gordo em reais (Tabela 1), observou-se que o maior valor histórico no estado paulista foi no ano de 2008 com média de R$ 84,16 e o menor valor foi observado em 1999 com valor médio de R$ 33,68. Esta elevação da remuneração no ano de 2008 foi causada pela baixa oferta de animais terminados no estado paulista. De forma semelhante, o valor do produto cotado na moeda americana foi significativamente maior (P<0,05) no ano de 2008 com valor médio de U$ 46,70. Entretanto, de 2008 para 2009 observa-se uma redução significativa no valor do preço da arroba do boi para ambas as moedas, sendo respectivamente de R$78,78 e U$39,83.
Determinantes do preço do boi gordo no Estado de São Paulo - Image 1
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O índice geral de preços – Disponibilidade interna (IGP-DI) foi significativamente maior (P<0,05) nos anos de 2007, 2008 e 2009 com valores de 0,73 em 2007 e 2008 e 0,75 para o ano de 2009, com coeficiente de variação de 7,23%. Esta elevação no IGP-DI pode ter influenciado juntamente com a estiagem para a elevação da remuneração pela arroba do boi gordo no estado. O aumento da demanda internacional por proteína animal e dos custos das commodities pressionaram os preços médios das carnes brasileiras destinadas à exportação, afetando assim, o mercado interno.
Realizando a análise mensal das cotações históricas da arroba do boi gordo em reais (Tabela 2), observase que no mês de novembro ocorreu significativamente (P<0,05) a maior remuneração com valor médio de R$ 59,59 e o menor valor observado foi para o mês de maio, ficando evidenciada assim a sazonalidade da remuneração, e, portanto da produção. Esta variação mensal na remuneração da arroba do boi gordo em reais pode ser explicada pela menor oferta de animais no mês de novembro devido à menor produção forrageira que ocorre durante a estação da seca, reduzindo o número de animais terminados. Os menores valores coincidem com a estação das águas onde a produção de forragens é elevada, o que aumenta a disponibilidade de animais terminados aos abatedouros e conseqüentemente reduzindo o valor do produto. Além da menor e maior estacionalidade observada nos meses de maio e novembro, respectivamente, é evidente também uma sazonalidade semestral, onde a diferença percentual entre o mês de maio e junho é de 3,12%, enquanto que para o mês de junho e novembro esta diferença é de 8,81%. O índice geral de preços que atua como um marcador da inflação nacional apresentou diferenças significativas (P<0,05) no estado de São Paulo com valor médio geral de 0,66. Foi observada sazonalidade no IGP-DI, sendo significativamente maior nos meses de junho, julho e agosto com valores de 72,45, 73,91 e 73,64, respectivamente. Os menores valores de IGP-DI foram observados nos meses de janeiro (60,54) e fevereiro (60,45), apresentando variação de 11,66% entre maio e novembro. O produto cotado em dólar não apresentou diferenças significativas (P<0,05) para as médias mensais no estado com valor médio de U$ 25,42.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na Tabela 3 observa-se que o efeito direto do índice geral de preço (IGP-DI) no valor da arroba bovina no estado de São Paulo foi baixo, com valor de 0,0548 porém, o total de efeitos diretos e indiretos do IGP-DI no preço da arroba foi maior com valor de 0,3116. Este maior efeito total foi devido ao efeito indireto do IGP-DI através do Rtrigo, assim o índice apresenta um maior efeito indireto do que direto no valor da arroba bovina. Este fato pode ser atribuído à alta no valor do trigo devido à redução no volume do produto no mercado.
A taxa de câmbio apresentou correlação direta negativa de (-0,3769) com o preço da carne bovina no estado paulista, comportando-se de maneira inversamente proporcional ao valor do produto em reais. O principal efeito indireto da taxa de câmbio foi por meio do preço da saca de soja (Rsoja) com valor de 0,3194. O total de efeitos diretos e indiretos da taxa de câmbio para o valor da arroba bovina foi de 0,0838. Desta forma, mesmo apresentando uma correlação direta negativa, a taxa de câmbio tem maior influencia indireta no valor do produto.
O total de efeitos diretos e indiretos da Rsoja foi de 0,8287, este fato é coerente, pois a soja é um dos principais componentes de suplementos concentrados para a pecuária de corte e tem participação efetiva no valor da arroba do boi gordo. O efeito direto no estado paulista foi de 0,6592 e a principal correlação indireta foi com a variável Rtrigo com valor de 0,4161. Ocorre correlação indireta negativa com a taxa de câmbio e Rmilho. Porém, assim mesmo observam-se altas correlações positivas diretas e indiretas ocasionando uma correlação total positiva.
O total de efeitos direto e indiretos da variável Rmilho no valor da arroba do boi gordo é de 0,5080, indicando que o valor da saca de milho tem correlação com o valor da arroba bovina, pois juntamente com a soja formam a base da suplementação concentrada utilizada na pecuária de corte. O efeito direto do Rmilho foi de -0,1569 e os principais efeitos indiretos ocorreram por meio dos valores da saca de soja e trigo. Desta forma, os principais efeitos na arroba do boi gordo no estado paulista são de característica indireta.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O valor da saca de trigo (Rtrigo) teve um elevado efeito direto de 0,4897 no valor da arroba bovina. Houve elevada correlação indireta positiva da variável Rtrigo por meio da Rsoja, com valor de 0,5601. A correlação total dos efeitos diretos e indiretos foi positiva com valor de 0,8903, sendo assim a maior correlação com o valor do produto entre as variáveis analisadas. Esta maior correlação pode ser em decorrência da redução do produto no mercado acarretando em uma elevação do valor da saca de trigo.
O coeficiente de determinação do modelo da análise de trilha (R2) apresentou-se elevado com valor de 0,8881. Portanto, as variáveis independentes explicativas IGP-DI, Câmbio, Rsoja, Rmilho e Rtrigo, explicaram grande parte da variação da arroba do boi gordo no estado de São Paulo.
CONCLUSÃO
Os principais componentes da suplementação concentrada (soja, milho e trigo) apresentam elevada correlação com o valor da arroba do boi gordo, o que influencia o valor do produto.
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Autores:
Cleiton Luiz Tonello
Universidade Estadual de Maringá UEM
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