Quero pedir desculpas públicas ao Dr.Egberto Bastos e ao Dr.Ivan Luz Ledic pelo atraso em comentar. Viajo muito pois tenho família, que me enche de alegrias, e um governo, que me enche de tristezas e às vezes de desesperança, para sustentar. Só hoje um e-mail de alerta do Engormix fez com que eu fosse ao forum verificar ditos comentários. Aceitem por favor essas desculpas.
Maravilhoso comentário, com riqueza de dados, que se lança num momento em que tenho refletido muito sobre o segmento de leite. Por que o Brasil, candidato por suas condições de recursos naturais a potência pecuária não decolou no leite como o fez na carne? Por que ao visitar supermercados vemos produtos importados em abundância concorrendo com os produtos brasileiros? Por favor não me interpretem mal. Sou inteiramente favor do livre comércio e acho que protecionismos são o melhor estímulo à ineficiência e marasmo. Mas me indago porque nosso setor de lácteos quando faz produtos diferenciados, como queijos finos, coloca-os a níveis de preço até superiores aos de marcas consagradas internacionais e provenientes de países que firmaram tradição na produção de queijos, como França e Holanda. Vamos dos queijos tipo brie e camembert brasileiros vendidos no varejo de São Paulo a preços de R$ 69,00 o kg, valor idêntico aos dos importados da Normandie francesa, região berço? Porque vamos dos queijos de valores tais para o mar de mesmices de queijos tipo mozarela e lanche a preços comoditizados de R$ 12,00 p. kg? Porque as empresas do segmento lácteo lutam para melhorar EBITDA que quando alcançam 14% são celebrados? Porque ainda raciocinamos em termos de litro por animal, quando o mundo raciocina em termos de matérias primas lácteas por animal (proteína, gordura, sólidos, etc)? Há muito porque e devo confessar que na vida só fiz duas conferências sobre leite, colocando o quem é quem do mercado internacional. E confesso que na última de que participei saí desestimulado, já que apresentei a um público produtor da cadeia perguntas para as quais não tenho resposta sobre nossa baixa competitividade. No melhor estilo do Mestre Falconi buscava um "toró de idéias" que nos permitisse começar a identificar causas e não efeitos. Mui lamentavelmente eram épocas de eleições e havia pessoas presentes cujo objetivo era de horizonte eleitoreiro e que preferiram trocar a buscar de causas por slogans do tipo "função social" e acusações aos "grandes grupos que exploram o produtor". Quando se tem no horizonte como objetivo maior a próxima eleição não se progride. Recolhi-me à minha insignificância e prometi-me nunca mais colocar os pés naquele evento, ainda que realizado no meu torrão natal, o Rio Grande do Sul. Registro com satisfação e orgulho a ponderação do colega investigador. Vou repensar minha posição e voltar a estudar com maior profundidade o leite, pois julgo inevitável que venhamos a ter papel maior no abastecimento internacional de lácteos. O leite merece que pensemos para além dos objetivos da próxima eleição. Somos potência em produtos pecuários. Não podemos ser uma potência manca. Obrigado ao colega pela ponderação.
Prezado Dr.Egberto,
Uma das teorias seria de que houve um plano estratégico onde se fundamentou que o Brasil só se tornaria potência se tivesse projeção na política internacional (daí os esforços por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU; vários insucessos na tentativa de comandar organismos internacionais; presença em missões de paz internacionais sob mandato da ONU; aumento da participação no FMI; etc), alguma projeção militar (restrita a missões de paz e reaparelhamento das forças armadas, primariamente focado em meio de defesa a recursos na plataforma continental) e finalmente se tivesse atores no segmento econômico com projeção internacional. O Brasil é uma potência do agronegócio e esse seria um segmento natural para receber apoio e incentivo do Estado na formação de grupos de ação global ou, como prefiro dizer, de ação glocal. Ao apoiar empresas do segmento de proteínas animais evitar-se-ia que se repetisse com as carnes, principalmente (em lácteos ainda temos uma longa estrada por percorrer), o que se passou com os grãos, onde somos a segunda potência produtora e exportadora e onde os atores são Cargill, ADM, Bunge, L.Dreyfuss e outras empresas glocais de capital estrangeiro. Com as carnes visava-se que o Brasil fosse sujeito da frase e não simples adjunto adverbial de lugar. Esta é uma mera teoria.
Além disso, sabemos bem por inúmeros exemplos que boas teses e intenções acabam sendo usadas para fitos menos republicanos. Esperemos que este não seja o caso e que não testemunhemos novos malfeitos.
As empresas brasileiras glocais de carnes tem uma posição hoje de destaque e fica difícil a qualquer equação de abastecimento ignorá-las. Tal entretanto não é garantia de êxito. Na atividade empresarial não há garantia de êxito. Empreendimentos não são carros onde podemos obter garantias de três anos em carros montados no Brasil ou 5 anos em carros importados, cujas peças de reposição custam uma fortuna. Por enquanto fico com meu Honda Civic 2003 pois recuso-me a pagar US$ 37.000 por um carro que, fabricado no Brasil, é disponibilizado ao consumidor mexicano por US$ 21.000.
Fico também com a esperança que motivações maiores prevaleçam sobre a visão pequena e menor de uma eventual perpetuação de poder.
Trabalho maravilhoso e com informações consistentes, com projeções animadoras para nosso país que está inserido nesse contexto e garantindo o abastecimento global. Gostaria muito de ver um trabalho similar a esse com relação ao leite. Tenho algumas informações sobre o assunto, mas não tão completas como o aqui exposto.
Abaixo alguns dados que possuo sobre o assunto produção e exportação de leite, acanhado perto das informações contidas nesse artigo do Dr. Osler, mas que de certa forma demonstra que os países em desenvolvimento, principalmente do continente latino americano passarão a fazer parte da solução para abrandar a escassez de alimentos no mundo.
A expressão Terceiro Mundo indica o conjunto de países subdesenvolvidos, de acordo com a Divisão de Estatística das Nações Unidas. Dos 173 países e possessões, 128 (74%) são considerados subdesenvolvidos, conforme relação da Food and Agriculture Organization (FAO, 2007). Apenas a Mongólia, Coréia do Norte e a frígida Groenlândia estão fora da faixa trópico-subtrópico.
Uma análise da distribuição de leite de bovinos no mundo revela que a produtividade de leite nos países menos desenvolvidos é extremamente baixa O conjunto de países subdesenvolvidos (CPS) possui 58% das terras do planeta, 79% dos seres humanos (população global de 6,5 bilhões) e 75% do total de vacas. Apesar disso, entretanto, produzem apenas 39% da produção mundial de leite.
Seremos, no mundo, segundo estimativas, 9 bilhões de pessoas em 2.025 (3 bilhões a mais). A fome no mundo continua a aumentar e de todas as zonas do Mundo, apenas a Ásia, o Pacífico, a América Latina e as Caraíbas conseguiram uma redução no número absoluto de pessoas subalimentadas.
Hoje existem premissas de que 850 milhões de pessoas (9,35%) são ameaçadas pela fome, 700 milhões (7,7%) pela desnutrição e 24 mil pessoas morrem diariamente, com número total de vítimas anuais a mais de 45 milhões.
De outro lado, o crescimento ‘patológico’ dos centros urbanos não tem sido capazes de absorver a mão-de-obra, mesmo com o crescimento muito rápido no emprego não agrícola, insuficiente para promover a estabilização ou diminuição do subemprego.
DOS 550 BILHÕES DE LITROS DE LEITE PRODUZIDOS PELO GADO BOVINO A NÍVEL GLOBAL, SÓ 12% É UTILIZADO PARA COMÉRCIO INTERNACIONAL, POIS HÁ NECESSIDADE INTERNA PARA MANTER O CONSUMO DOMÉSTICO DA POPULAÇÃO.
Com as novas políticas econômicas e investimentos algumas coisas estão melhorando em alguns países. A projeção é que o consumo entre 1993 e 2020 aumente 0,2% por ano em países desenvolvidos e 3,3% anual em países em desenvolvimento.
NOS PRIMEIROS O CONSUMO PASSARÁ DE 245 MILHÕES DE TONELADAS A 263 MILHÕES DE TONELADAS, JÁ NO TERCEIRO MUNDO SERÁ MAIOR, DE 168 MILHÕES DE TONELADAS PARA 391 MILHÕES. Quanto ao consumo per capita por ano nos países desenvolvidos diminuirá levemente de 192 kg a 189 kg, enquanto nos países em desenvolvimento aumentará de 40 a 62 kg.
Para dar um exemplo na Índia 200 milhões de pessoas saíram da linha da pobreza e em 25 anos a China tirou 300 milhões da população da miséria.
Considerando somente essas 500 milhões de pessoas da Índia e China que irão aumentar o consumo, que seja de só 30 kg/pessoa/ano, leva a uma demanda de mais 15 bilhões de litros/ano. Isso representa 35% do total de leite produzido pelo mundo.
Como fazer então para abastecer essa população e manter o abastecimento interno do mercado de lácteos de quem já produz?
América Latina conta com uma disponibilidade importante de recursos, que ainda que com profundas diferenças por países, permitem que nesse continente se consolide e melhore sua posição de importância mundial na produção bovina.
O CPD já está no limite físico de sua capacidade de produção e a solução deve ocorrer através do CPS, para aumentar em pelo menos mais 23% do leite produzido (cerca de 126 bilhões de litros), através de uma política de fomento pecuário que tem de atacar ao mesmo tempo diversas frentes como: nutrição, alimentação, melhoramento genético e sanidade.
Entretanto, vem acontecendo no Terceiro Mundo transformações que geram esperanças. Em algum momento no último terço do século XX, a larga vala ou abismo, que separava as pequenas minorias dominantes e tirânicas do resto do povo dos países CPS, começou a ser tapada pela transformação geral de suas sociedades.
Todavia as conseqüências dessa transformação ainda esperam por mais alguma coisa, pois os velhos rurais e os jovens urbanos estão separados por centenas de quilômetros de péssimas estradas e séculos de desenvolvimento.
Como resultado dessa transformação, a produção de leite na América Latina está com um crescimento forte na última década do século XX, na ordem dos 74 bilhões de litros.
Dos 550 milhões de toneladas de leite líquido de vaca (83,5% da produção total), 76% dessa produção contribuíram 22 países, 47,8% a produziram tão somente oito países e com 15,0% contribuiu só Estados Unidos. América do Sul participa com 9,5% da produção mundial, enquanto Centro América o faz com 2,5%.
Ao tomar a produção de leite líquido de vaca desde o ano 2003 e projetando para 2009, o incremento média dos seis anos foi de 2,46%.
América do Sul durante 2008 foi a região do mundo com o crescimento em produção de leite mais acelerado e isto o demonstra sua participação na produção mundial, que era de 9,09% em 2003 para 9,45% em 2007.
A produção de leite nos países desenvolvidos entre 2010 e 2020 aumentará 0,4% por ano, passando de 348 milhões de toneladas a 371 milhões. A produção per capita diminuiu, ao passar de 272 kg a 267 kg. Este crescimento moderado da produção nestes países se deve principalmente a crescimentos nos Estados Unidos e Oceania.
Por outra parte, a produção nos países em desenvolvimento no mesmo período aumentará mais, de 2,0% anual, passando de 164 milhões de toneladas a 401 milhões de toneladas. O aumento da produção na Latino América especificamente será de 2,7% anual. O crescimento da produção seria o resultado de uma maior produção por vaca.
Em conjunto, uma análise da imensa superfície em pastos, o número da população bovina, a baixa taxa de lotação animal e a produção por bovino, podem indicar os países em desenvolvimento como os de maior capacidade para responder a aumentos de produtividade.
Assim, o leite tem tudo para tornar-se uma importante ‘commodity’ para o CPS, principalmente na América Latina.
Um exemplo está no Brasil, onde isso já está ocorrendo. Nos últimos 16 anos o número de vacas ordenhadas aumentou em 11,5%, enquanto a produção de leite foi mais elevada; teve crescimento de 77%. Possivelmente esta seja uma das maiores taxas de crescimento de produtividade de leite do mundo.
Este é um fator que transcorre do uso de novas tecnologias e de seleção de animais mais adequados aos sistemas de produção no Brasil e que vai fixar o homem em suas terras, evitando o êxodo rural.
Em 1999 o Brasil importava 2,3 bilhões de litros de leite (12% da produção do país). No ano de 2005 ocorreu o inverso – passou a ser exportador, com aproximadamente 400 milhões de litros (equivalente a 1,6% da produção nacional). Já em 2007 foram destinados à exportação cerca de 940 milhões de litros (3,5% do total produzido).
Relatório da AgraFNP sobre a indústria de leite brasileira projeta que, em 2019 haverá um crescimento de produção de 3% ao ano e as exportações brasileiras do setor representarão 7% do total produzido pelo país.
A produção nacional em 2019, segundo essa fonte, será de 36,8 bilhões de litros de leite, sendo que o excedente exportável alcançará 2,64 bilhões de litros.
Na avaliação da AgraFNP, embora o Brasil ainda não seja considerado um importante ‘player’ no mercado internacional, as perspectivas de crescimento são grandes.
Olá Osler
Boa Tarde
O cenário internacional do comercio de carne, demonstrado no seu brilhante artigo, é um "jogo" , de fato, para e de gigantes. Diante desta conclusão, estaria justificada a formação de grandes empresas trans nacionais como JBS e MARFRIG com o apoio financeiro do Governo através do BNDES? Embora, neste momento, estariam cartelizando o mercado interno e em detrimento do produtor nacional que está pagando a salgada conta desta engenharia de empresas para produzir e viabiliza aquelas empresas? Este apoio "governamental" poderia ser vista/entendida como "estratégia/política" de Estado em benefício do país?
Grande abraço
egberto barros