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Comportamento produtivo de seis gramíneas forrageiras tropicais no Planalto Norte Catarinense

Publicado: 27 de junho de 2012
Por: Ana Lúcia Hanisch ; Ângela Fonseca Rech e Daniel Dalgallo
Sumário

Resumo – Foram avaliados, sob cortes, os genótipos Brachiaria brizantha cv. MG-5 e cv. Marandu, Panicum maximum cv. Tanzânia e cv. Mombaça, Setaria sphacelata cv. Kazangula e Pennisetum purpureum cv. Pioneiro, na primavera-verão de 2006/07 e 2007/08. O delineamento experimental foi de blocos completos casualizados, com três repetições. Houve interação entre genótipos e anos de avaliação. Pennisetum purpureum foi o genótipo mais precoce e produtivo nos dois anos. Os teores de proteína bruta variaram de 8 a 12% e a digestibilidade in vitro da matéria orgânica de 62 a 70%. As duas cultivares de Panicum reduziram a cobertura do solo para valores inferiores a 10% no segundo ano. No intervalo de corte utilizado, Pennisetum purpureum cv. Pioneiro e Brachiaria brizantha cv. MG-5 e cv. Marandu indicaram adaptação às condições do Planalto Norte Catarinense.

Termos para indexação: capim-elefante, Panicum, Brachiaria, pastagem perene

Introdução
As gramíneas forrageiras perenes de clima tropical se constituem em uma alternativa viável na alimentação animal, dado ao seu alto potencial de produção e relativo baixo custo (Botrel et al., 2000). Na região do Planalto Norte Catarinense (PNC) se observa o uso de poucas espécies forrageiras perenes e, não raro, o uso de espécies pouco adaptadas. Neste cenário, a possibilidade de utilização de espécies tropicais, dos gêneros Pennisetum, Brachiaria, Panicum e Setaria, dada sua elevada capacidade de produção de forragem e qualidade, tem sido demandadas por técnicos e produtores da região na busca de aumento dos índices de produtividade animal.
No entanto, o cultivo de espécies desses gêneros representa um desafio para a região do PNC, que se caracteriza por invernos rigorosos, com ocorrência de geadas, o que limita o período de crescimento da maioria das espécies de clima quente. Ainda assim, o elevado potencial de produção de algumas dessas espécies compensa essa estacionalidade (Dall´Agnoll et al., 2004).
Se a estacionalidade pode não ser um problema, a perenização destas espécies, normalmente, tem sido. Para Dall´Agnoll et al. (2004) resultados de trabalhos com mais de um ano de avaliação da mesma espécie são raros, o que dificulta a seleção das forrageiras mais adaptadas. A avaliação da cobertura de solo promovida pela espécie forrageira, tem sido um critério importante para a indicação de sua adaptação à diferentes regiões e manejos. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a produção de massa seca, a cobertura do solo e a composição bromatológica de forrageiras perenes tropicais sob as condições edafoclimáticas do Planalto Norte Catarinense.
 
Material e métodos
O experimento foi conduzido na Epagri/Campo Experimental Salto do Canoinhas no município de Papanduva (26º22´S e 50o16´O, altitude 800 m e clima Cfb) durante a primavera-verão de 2006/07 e 2007/08. Foi utilizado delineamento de blocos ao acaso, em parcelas subdivididas no tempo, alocando-se nas parcelas os genótipos e nas subparcelas os anos de avaliação, com três repetições. Foram avaliados os genótipos Brachiaria brizantha Stapf. cv. Marandu e cv. MG-5; Panicum maximum Jacq. cv. Tanzânia e cv. Mombaça; Setaria sphacelata Moss cv. Kazangula e Pennisetum purpureum Shum. cv. Pioneiro, que já estavam implantados na área experimental, em crescimento vegetativo, sem cortes ou pastejo, desde 2004, tendo sido adubados de acordo com a recomendação apenas no plantio. O solo da área experimental apresentava na ocasião da implantação do experimento as seguintes características: 340 g/kg de argila; pH em água = 5,2; pH SMP = 5,1; P = 2,3 mg/dm3; K = 71 mg/dm3; Al = 0,9 cmolc/dm3; M.O.= 49 g/dm3.
Nos dois anos de avaliação, as parcelas foram roçadas em setembro, retirado o material morto e adubadas em cobertura, sendo utilizado no 1º ano de avaliação, 2 t/ha de cama de aviário e 300 kg/ha de fosfato natural de Gafsa. No 2º ano de avaliação foi utilizado 80 kg/ha de P2O5, 80 kg/ha de K2O e 20 kg/ha de N, na formulação comercial 5-20-20 + 40 kg/ha de N, na forma de uréia, após o 3º corte. Cinco semanas após as adubações iniciaram-se os cortes para avaliação da produção de massa seca (MS) que foram realizados com intervalos entre 35 a 40 dias, perfazendo um total de cinco cortes em cada ano.
A composição bromatológica foi determinada no 2º ano de avaliação, através de amostras compostas de cada corte, que foram encaminhadas para análise dos teores de proteína bruta, fibra bruta e digestibilidade in vitro da matéria orgânica. As avaliações da porcentagem de cobertura do solo (CS) foram realizadas na segunda quinzena do mês de janeiro de cada ano. A porcentagem de solo coberto foi determinada por estimativas visuais na área total da parcela, sempre por dois observadores treinados (Flaresso et al., 2001) e os resultados classificados de 0 a 100% da cobertura do solo (CS) pela forrageira. Os dados foram submetidos à análise de variância com o auxílio do programa estatístico Sisvar.
 
Resultados e discussão
A análise de variância comprovou efeitos de anos e de genótipos e da interação desses dois fatores para a produção de MS e CS (Tabela 1).
Tabela 1 – Produção de massa seca e % de cobertura de solo (CS) de seis genótipos de forrageiras perenes tropicais, no Planalto Norte Catarinense.
Comportamento produtivo de seis gramíneas forrageiras tropicais no Planalto Norte Catarinense - Image 1
A interação entre genótipos x ano pode ser atribuída, em parte, às condições climáticas diferenciadas entre os dois anos (Figura 2), uma vez que no 2º ano ocorreu um período de chuvas acima da média histórica da região no mês de dezembro, seguido de um período de déficit hídrico durante os meses de janeiro e fevereiro, o que deve ter contribuído para a redução da produção de MS dos genótipos avaliados.
Figura 2 – Somatória da precipitação mensal e médias das temperaturas mínimas e máximas durante a primavera-verão de 2006/07 e 2007/2008 em Major Vieira/SC - EPAGRI/CIRAM
Comportamento produtivo de seis gramíneas forrageiras tropicais no Planalto Norte Catarinense - Image 2
O capim-elefante cv. Pioneiro se foi o genótipo mais produtivo nos dois anos de avaliação. No 1º ano de avaliação, as duas cultivares de Brachiaria diferiram entre si em relação à produção de MS, mas no 2º ano de avaliação, as duas cultivares apresentaram produções semelhantes, e como as demais espécies, reduziram sua MS. Apesar da grande maioria dos trabalhos de pesquisa com Brachiaria brizantha ocorreram em regiões de clima quente no Brasil, os resultados de MF de forragem desse trabalho, nos dois anos avaliados, aproximam-se dos resultados obtidos por Costa et al. (2007), indicando adaptação dessa espécie ao clima Cfb.
No 1º ano, as duas cultivares de Panicum maximum (cv. Tanzânia e cv. Mombaça) apresentaram produção de MS adequadas para a espécie, com valores acima de 26 t/ha de MS. Mas, na avaliação da persistência dos genótipos, no 2º ano de avaliação, a não adaptação às condições avaliadas foi evidente, com produções de MS abaixo de 3 t/ha, valores muito abaixo do potencial de 33 t/ha/ano obtido com cv. Mombaça (Jank, 1995) ou de 22 t/ha/ano obtida por Soares et al. (2009) com a cv. Tanzânia.
O valor médio de PB encontrado para o capim-elefante cv. Pioneiro concorda com os relatados por Botrel et al. (2000) e Santos et al. (2003) que revela alto valor nutritivo para essa cultivar. Gerdes et al. (2000) encontraram para B. brizantha cv. Marandu, Setária e Tanzânia teores de PB no verão, de 11,4; 10,6 e 10,8%, valores próximos aos obtidos neste trabalho, com exceção da Setária, que apresentou de PB média de 8,1% (Tabela 2).
Tabela 2 – Teores médios de proteína bruta (PB), digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO), e fibra bruta (FB) de seis forrageiras perenes tropicais, no Planalto Norte Catarinense, 2008.
Comportamento produtivo de seis gramíneas forrageiras tropicais no Planalto Norte Catarinense - Image 3
Houve interação entre genótipos x ano para CS (Tabela 1). Panicum maximum cv. Tanzânia e cv. Mombaça tiveram sua cobertura severamente reduzida no 2º ano de avaliação, demonstrando incapacidade de persistir às condições climáticas da região, quando manejadas sob cortes. O capim-elefante cv. Pioneiro manteve 100% de CS nos dois anos avaliados, e juntamente com as duas cultivares de Brachiaria brizantha demonstraram persistência na região e ao manejo adotado.
 
Literatura citada
BOTREL, M.A.; PEREIRA, A.V.; FREITAS, V.P. et al. Potencial forrageiro de novos clones de capim-elefante. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n. 2; p. 334-340, 2000.
CARVALHO, C.A.B; MENEZES, J.B.O.X; CÓSER, A.C. Efeitos da fertilização de cobertura e do intervalo entre cortes sobre a produção e o valor nutritivo do capim-elefante. Ciência e Agrotecnologia, v.24, n.1, p.233-241, 2000.
COSTA, K.A.P.; OLIVEIRA, I.P; FAQUIN, V. et al. Intervalo de corte na produção de massa seca e composição químico-bromatológica da Brachiaria brizantha cv. MG-5. Ciência e Agrotecnologia, v.31, n.4, p. 1197-1202, 2007.
DALL´AGNOL, M.; SCHEFFER-BASSO, S. M; NASCIMENTO, J. A. L. et al. Produção de forragem de capim elefante sob clima frio. Curva de crescimento e valor nutritivo. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 5, p. 1110-1117, 2004.
GERDES, L.; WERNER, J.C.; COLOZZA, M.T. et al. Avaliação de características de valor nutritivo de gramíneas forrageiras Marandu, Setária e Tanzânia nas estações do ano. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n. 4, p. 955-963, 2000.
JANK, L. Melhoramento e seleção de variedade de Panicum maximum. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, TEMA: O CAPIM COLONIÃO, 12., 1995, Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1995, p.21-58.
SANTOS, M.V.F.; DUBEUS JR., J.C.B; SILVA, M.C. et al. Produtividade e composição química de gramíneas tropicais na Zona da Mata de Pernambuco. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 32, n. 4, p. 821-827, 2003.
SILVA, D.J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa, UFV. 2002. 165p.
SOARES, A. B.; SARTOR, L. R.; ADAMI, P. F.; et al. Influência da luminosidade no comportamento de onze espécies forrageiras perenes de verão. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 3 p. 443-451, 2009.
TILLEY, J.M.A.; TERRY, R.A. A two stage technique for the "in vitro" digestion of forage crop. Journal of Britain Grassland Society, v.18, p.104-111, 1963.
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Autores:
Ana Lúcia Hanisch
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