O Trato Gastro-Intestinal (TGI) é responsável pelo processo digestório, ou seja, é nele que o alimento consumido sofre transformações físicas, químicas e enzimáticas para que os nutrientes que contém possam ser liberados e absorvidos de forma eficiente. No entanto, para que isso aconteça adequadamente os animais devem apresentar um TGI saudável. Por saúde gastro-intestinal entende-se a ausência de enfermidades que possam lesar e/ou causar inflamação do TGI, ou induzir comprometimento de sua função secretória, digestiva, absortiva ou peristáltica (Ito et al, 2004).
De acordo com a literatura, cada episódio de gastroenterite será causa de efeitos deletérios com comprometimento do desempenho zootécnico do lote por afetar a digestão e absorção de nutrientes essenciais para o desenvolvimento do frango.
A menor digestão pode ocorrer tanto pelas lesões causadas em enterócitos, pela espoliação decorrente a infecção por parasitos, vírus ou bactérias como pelo aporte de nutrientes e maior gasto energético pelo animal, para produção de células de defesa e/ou para recuperação do epitélio lesionado.
Portanto, quando um lote de frangos de corte não apresenta nenhum comprometimento de sua saúde gastro-intestinal aumentam-se as probabilidades do mesmo apresentar excelente (ou máximo) resultado zootécnico.
Embora o pintinho nasça com completo desenvolvimento anatômico do TGI, o mesmo apresenta capacidade funcional digestória imatura, comparando-se ao TGI de aves adultas (Maiorka, 2004). O intestino das aves completa seu desenvolvimento durante os primeiros 20 a 30 dias de vida, nesse período ele passa por um período de maturação que envolve adaptações morfo fisiológicas (Maiorka, 2004).
Na primeira semana de vida, o intestino cresce cinco vezes mais que o resto do corpo e na segunda semana, as vilosidades intestinais dobram de compromimento. No final do seu desenvolvimento, o peso intestinal da ave aumentou de 27 vezes quando comparado com o início de sua formação embrionária. Após os 30 dias de vida da ave seu intestino não se modifica mais, exceto no processo fisiológico de renovação celular, que ocorre a cada dois a cinco dias (Ito et al, 2004).
Dados de literatura indicam que a manutenção da integridade e saúde intestinal durante o desenvolvimento e maturação do TGI é essencial para o máximo desempenho zootécnido da ave. Em um estudo realizado por Maiorka (2003) foi observado que jejum hídrico ou sólido nas primeiras 24 horas de vida de pintinhos afetou negativamente o desenvolvimento da mucosa intestinal.
Ito et al (2004) sugerem que gastroenterites nos primeiros dias de vida podem comprometer irreversivelmente o sistema digestório do frango de corte, incapacitando-o de realizar suas funções fisiológicas e predispondo a ave a ter gastroenteropatias irreversíveis, má digestão e/ou má absorção pelo resto do ciclo produtivo. A tabela 1 apresenta as principais injúrias que afetam a mucosa intestinal e seus agentes.
Tabela 1: Principais injúrias que acometem a mucosa intestinao e seus respectivos agente.
A mucosa intestinal é um dos componentes do TGI que merece atenção especial quando se avalia a saúde intestinal. Segundo Maiorka (2004) a mucosa faz parte do sistema imunológico da ave, agindo como um barreira contra microorganismos patogênicos passíveis de causar septicemias.
Nesse sentido fica clara a influência da viscosidade do conteúdo intestinal sobre a integridade da mucosa.
Ao se avaliar a microbiota do TGI deve-se considerar que ela é composta por uma flora normal. Esta é formada por microorganismos aderidos ao muco secretado pelas células caliciformes da mucosa interna ou fibras encontradas na dieta. A composição e quantidade de microorganismos que estão presentes nessa flora varia segundo a idade da ave e região do TGI avaliada. Ao nascer, pintos saudáveis são estéreis, mas bactérias ambientais rapidamente colonizam seu TGI durante a eclosão e após o nascimento.
Portanto é evidente a influência do ambiente em encubatório na formação da flora intestinal e consequente definição de seu status sanitário.
Embora a flora intestinal seja estabelecida nas primeiras horas de vida do pintinho, muitos microorganismos (como bactérias e fungos) podem ser introduzidos no TGI da ave, por deglutição. Assim, a ração, a água de bebida, o ambiente do aviário e outras aves que compõem o lote (principalmente aqueles formados por aves de diferentes origens) são importantes fontes de infecção por bactérias patogênicas ao TGI.
Esses microorganismos podem causar disbacterioses (desequilíbrio da flora intestinal) quando a pressão de infecção for muito elevada ou quando a ave estiver sob estresse, podendo acarretar em quadros de gastroenterite e consequente queda de produtividade do lote.
Dessa maneira, é crucial a adoção de manejos e tecnologias estratégicas que objetivem a manutenção da estabilidade da flora e saúde intestinal.
Os ácidos orgânicos têm sido utilizados há décadas na alimentação de leitões para amenizar o surgimento de enterites na fase imediatamente após o desmame.
Na avicultura brasileira, os ácidos orgânicos têm sido usados principalmente para reduzir a excreção de Salmonela no pré-abate. Por sua vez, na europa, os produtos têm sido usados nos primeiros 15 dias de alojamento, a fim de promover adequada saúde intestinal aos animais no início de seu desenvolvimento.
Estudos recentes demonstram que os ácidos orgânicos de cadeia curta (SCFA), como o acético, propiônico e butírico além de atuarem reduzindo o pH e auxiliando a eliminação de microorganismos no bolo alimentar e em estruturas proximais do TGI, atuam de forma benéfica na integridade das células da mucosa intestinal.
Hoffmann e Litscheva (2005) avaliaram, em uma granja de frangos de corte comercial, o uso de SCFA e seus sais de amônia na água de bebida e observaram melhoria de 2,4% no ganho de peso diário, 3,7% na eficiência alimentar, 15,8% na mortalidade e redução na rejeição de cortes no frigorífico de 59% (tabela 2).
Tabela 2: Resultados zootécnicos de lotes tratados e não tratados com SCFA e seus sais de amônia.
Em outro trabalho, o uso de SCFA e seus sais de amônia em água de bebida para frangos de corte, promoveu redução na mortalidade total do lote de 11% e redução nos custos com medicamentos de 42,8% (Selko BV, 2011). De forma geral os pesquisadores tem avaliado diferentes aditivos alternativos aos antibióticos em busca da integridade intestinal, redução da excreção de patógenos específicos (como as salmonelas) e melhoria de desempenho.
Considerando portanto, que a idade de abate de frangos de corte praticada comercialmente está entre 42 e 48 dias de idade, conclui-se que cerca de 2/3 desse período o frango possui seu TGI em desenvolvimento e assim necessitam ao máximo de cuidados específicos buscando a manutenção da integridade intestinal e máximo desempenho zootécnico.
O uso de aditivos a base de ácidos orgânicos de cadeia curta e seus sais de amônia, quando no início do alojamento (ao modelo europeu) se mostra uma excelente ferramenta para atingir esse objetivo com um baixo custo de tratamento.