INTRODUÇÃO
Os efeitos benéficos de enzimas exógenas derivadas de microorganismos melhorando a digestibilidade dos nutrientes para aves são bem estabelecidos. Porém, as condições de processamento das rações como a peletização, podem afetar a termoestabilidade destes aditivos, prejudicando seu efeito esperado.
A maioria das pesquisas são feitas baseadas no uso de enzimas em dietas contendo nutrientes com altas quantidades de polissacarídeos não amiláceos (PNAs), carboidratos resistentes à hidrólise no trato digestório de animais monogástricos e que agem prejudicando a absorção de nutrientes. No entanto, pesquisas utilizando enzimas exógenas em dietas à base de milho e farelo de soja são direcionadas para um melhor aproveitamento dos nutrientes contidos nestes ingredientes, principais componentes das rações utilizadas no Brasil.
Desse modo, o presente trabalho foi conduzido para determinar o efeito do complexo enzimático Endopower , composto de -galactosidase, galactomanase, xilanase e -glucanase sobre o desempenho e características de carcaça de frangos de corte alimentados com dietas à base de milho e de farelo de soja e duas formas físicas (peletizada e farelada).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no período de novembro a dezembro de 2004 e avaliou o desempenho e as características de carcaça dos frangos de corte. Foram utilizados 1488 pintos de corte machos da linhagem Cobb 500, adquiridos com um dia de idade, distribuídos em oito tratamentos e seis repetições. As aves foram alojadas em galpão de alvenaria, contendo 48 unidades experimentais com 31 aves cada, dotadas de bebedouros, comedouros e lâ mpadas para aquecimento, onde foram criados atéos 42 dias de idade. Foram utilizadas dois tipos de ração basal experimental isonutrientes, formuladas na base de aminoácidos digestíveis para as fases de 1 a 21 e 22 a 42 dias de idade, de acordo com as recomendações nutricionais sugeridas por Rostagno et al. (2000). Foram utilizadas duas rações basais, uma ração basal normal (DBN) e outra valorada (DBV), na qual a energia metabolizável do milho e da soja foram superestimados em 2,0 e 9,0%, respectivamente e a digestibilidade de aminoácidos superestimada em 4% para ambos os ingredientes,. A composição percentual das rações encontra-se na Tabela 1.
A partir das rações basais, foram constituídos os tratamentos:
1 - DBN; farelada; sem enzima
2 - DBN; farelada; 200 g de enzima /ton de ração
3 - DBN; farelada; 400 g de enzima /ton de ração
4 - DBN; peletizada; sem enzima
5 - DBN; peletizada; 200 g de enzima /ton de ração
6 - DBN; peletizada; 400 g de enzima /ton de ração
7 - DBV; farelada; sem enzima
8 - DBV; farelada; 200 g de enzima /ton de ração
O desempenho foi avaliado através do consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar nos períodos de 1 a 21 e 1 a 42 dias de idade das aves. Aos 42 dias, foram selecionadas duas aves de cada unidade experimental, as quais foram abatidas após jejum de 6 horas para avaliação de carcaça .
O modelo estatístico dos experimentos para todas as características avaliadas foi o seguinte:
Y ijk= µ + Ei + FFj + EFF(ij) + eij
em que:
Yijk = observação referente à enzima i, submetida à forma física j, na repetição k.
µ = média geral
Ei = efeito da enzima i, com i = 1, 2 e 3
FFj = efeito da forma física j, com j = 1 e 2.
EFF(ij) = efeito da interação entre nível de enzima e forma física da ração
e ij = erro experimental associado aos valores observados (Yijk), que por hipótese tem distribuição normal com média zero e variâ ncia ² .
Para comparação dos tratamentos 7 e 8 , a análise estatística seguiu o modelo:
Yij = µ + Ti + eij
Yijk = observação referente ao tratamento i, na repetição k.
µ = média geral
Ti = efeito do tratamento i, com i = 1 e 2
e ij = erro experimental associado aos valores observados (Yijk), que por hipótese tem distribuição normal com média zero e variâ ncia ² .
As análises estatísticas foram realizadas utilizandose o pacote estatístico SISVAR, descrito por Ferreira (2000), testando-se os efeitos dos tratamentos por meio da análise de regressão. Os contrastes foram testados pelo teste de Scheffé, comparando-se os tratamentos adicionais com os demais tratamentos correspondentes no mesmo nível de enzima.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de desempenho nos dois períodos avaliados podem ser observados na Tabela 2.
O consumo de ração nos dois períodos avaliados reduziu linearmente (P< 0,05) à medida que houve aumento dos níveis do complexo enzimático nas rações (Figuras 1 e 2).
Sabendo-se que o principal efeito da adição de enzimas à s dietas à base de milho e farelo de soja éa melhoria da digestibilidade dos nutrientes, e que as aves regulam o seu consumo de alimento pela ingestão de energia, os resultados deste experimento indicam um possível aumento no valor energético das rações em razão da suplementação enzimática. Entretanto, analisando-se os dados de consumo de ração para o período de 1 a 42 dias, observa-se redução linear no consumo de ração mas com uma equação apresentando coeficiente de determinação baixo em relação à do período de 1 a 21 dias. Vários autores (CAMIRUAGA et al., 2001; CONTE et al., 2002; GARCIA et al., 2000), suplementando dietas à base de milho e farelo de soja com enzimas, não verificaram diferenças estatísticas no consumo de ração.
Brum et al. (1998) afirmaram que, apesar das aves consumirem alimentos para satisfazerem suas necessidades energéticas, o mecanismo não élinearmente perfeito, e, ao se aumentar o nível energético das rações, o declínio esperado no consumo raramente ocorre.
A valoração dos ingredientes das rações não alterou o consumo de ração em nenhuma das fases estudadas (P> 0,05), o que foi verificado através de contrasTES FEITOs entre os tratAMENTos constituídos DE RAções normais e os em que as rações foram valoradas nutricionalmente. Estes dados confirmam a valoração dos ingredientes pela suplementação enzimática.
Alguns autores (FISCHER et al., 2002; GARCIA et al., 2000; PEREIRA, 1999; SCHANG et al., 1997), jáverificaram através da ausê ncia de diferença no consumo de ração entre tratamentos normais e valorados, na presença de complexos enzimáticos, a ação das enzimas em suprir a deficiê ncia nutricional das rações.
No período de 1 a 21 dias, as aves que receberam ração peletizada apresentaram melhor ganho de peso em relação à quelas que receberam ração farelada (P< 0,05). Estes resultados são semelhantes aos encontrados por (BRUM et al., 1998; ROLL, 1998; VARGAS et al., 2001). Esta diferença pode ser resultado do aumento da densidade de nutrientes proporcionada pelo processo de peletização e conseqü ente redução do gasto energético com consumo de ração pelas aves.
Houve interação significativa (P< 0,05) entre a forma física da ração e os níveis de suplementação do complexo enzimático no ganho de peso no período de 1 a 42 dias de idade das aves. O ganho de peso foi superior para a ração peletizada sem a suplementação do complexo enzimático. Este fato sugere uma influê ncia, exercida pelo processo de peletização, na estabilidade enzimática.
O ganho de peso não foi alterado (P> 0,05), nas duas fases analisadas, em virtude da valoração dos ingredientes que constituíram as rações experimentais, o que confirma a hipótese da valoração dos ingredientes pela suplementação enzimática.
Resultados semelhantes foram encontrados por Fisher et al. (2002), Garcia et al. (2000) e Pereira (1999).
Houve melhoria linear (P< 0,05) na conversão alimentar no período de 1 a 21 dias de idade dos frangos de corte, atribuída à redução do consumo de ração sem afetar o ganho de peso das aves à medida que se elevaram os níveis de suplementação do complexo enzimático (Figura 3).
Estes dados estão de acordo com Fischer et al. (2002) e Torres et al. (2001), os quais verificaram melhoria na conversão alimentar neste período em frangos de corte
suplementados com enzimas em dietas à base de milho e farelo de soja.
No período de 1 a 42 dias de idade das aves, houve interação significativa (P< 0,01) entre nível de enzima e forma física da ração. A forma física peletizada sem adição do complexo enzimático foi a que apresentou melhor conversão alimentar (P< 0,05), o que pode ser resultado de uma desestabilização enzimática provocada pelo processo de peletização.
A valoração dos ingredientes das rações não alterou a conversão alimentar das aves nos dois períodos avaliados (P> 0,05). Possivelmente pela capacidade da suplementação enzimática em suprir a deficiê ncia nutricional das rações valoradas.
Os resultados encontrados estão de acordo com Fischer et al. (2002) e Garcia et al. (2000), os quais suplementaram dietas à base de milho e farelo de soja com complexo enzimático com deficiê ncia nutricional e não encontraram diferenças na conversão alimentar em relação à s rações normais.
Os resultados de características de carcaça podem ser observados na Tabela 3.
Houve diferença significativa (P< 0,05) no rendimento de carcaça com a variação da forma física da dieta independente do nível de suplementação enzimática, observando-se melhor rendimento de carcaça nas aves que receberam a ração peletizada.
Houve um aumento linear (P< 0,05) do teor de gordura abdominal na medida em que se aumentou o nível de suplementação enzimática (Figura 4). O aumento dos níveis de enzima resultou numa maior porcentagem de gordura na carcaça das aves, o que pode ser explicado por um possível aumento na liberação de energia dos nutrientes através da suplementação enzimática. O excesso de energia ingerida além das necessidades teria sido acumulado na forma de gordura na carcaça do frango.
Não houve diferença no rendimento de peito e de coxa e sobrecoxa (P> 0,05) devido aos níveis de suplementação e à forma física da ração. Estes resultados estão de acordo com Zanella (1998), que suplementando dietas à base de milhos e farelo de soja com enzimas, não encontrou diferenças significativas em nenhum dos parâ metros de carcaça avaliados.
CONCLUSÕES
A forma física peletizada proporcionou melhor ganho de peso aos 21 dias e melhor rendimento de carcaça das aves. A utilização do complexo enzimático em rações peletizadas foi influenciada pela desnaturação enzimática decorrentes das temperaturas utilizadas no processo. A energia metabolizável do milho e do farelo de soja podem ser valoradas em 2 e 9 %, respectivamente e a digestibilidade de aminoácidos em 4 % para ambos ingredientes na presença do complexo enzimático sem prejudicar o desempenho dos frangos de corte.