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Acurácia e precisão na formulação não linear de ração para frangos de corte: Avanço e otimização de resultados (Parte IV)

Publicado: 11 de abril de 2014
Por: Camila Angelica Gonçalves, Zootecnista.
Planilha PPFR: aplicação prática
Desde 1983 as Tabelas Brasileiras para aves e suínos de composição de alimentos e exigências nutricionais (ROSTAGNO et al., 2011) são disponibilizadas, sendo em 2011 lançada a edição mais recente, e ainda, o que é melhor, disponibilizada integralmente pela internet (http://www.lisina.com.br/publicacoes_detalhes.aspx?id=2183 ).
Outro grande mérito das Tabelas Brasileiras refere-se à sua aceitação internacional, principalmente na América Latina, razão de sua publicação também em espanhol e inglês. Assim, aproveitando tal condição, também incorporamos na planilha PPFR a internacionalização, tanto em espanhol como em inglês (https://sites.google.com/site/ppfrprogramforfeedformulation/ ) (Figura 22).
 
Figura 22 - Programa prático de formulação de ração (PPFR).
Acurácia e precisão na formulação não linear de ração para frangos de corte: Avanço e otimização de resultados (Parte IV) - Image 1
 
Esses conhecimentos sobre o valor nutricional dos alimentos e das exigências dos animais permitem e representam uma condição de aplicabilidade imediata na formulação de rações pelos modelos obtidos no presente experimento. Mas um elo faltava, ou seja, uma ferramenta/planilha que incorporasse todas essas informações às novas tecnologias de informática, aplicando diretamente ao balanceamento de rações.
A formulação de ração, segundo o princípio linear, ainda predomina como opção para balanceamento de dietas, contudo, devido o aumento dos custos dos ingredientes e a necessidade da redução da contaminação ambiental, tem direcionado os nutricionistas à formulações com acurácia, sem recorrer a amplas margens de segurança. E ainda, devido ao aumento dos preços do milho e também de outras fontes energéticas, é fundamental revisar os níveis energéticos das dietas (PENZ-JUNIOR; BRUNO, 2012; ROSTAGNO et al., 2011).
Na prática, para atender essas condições, ao utilizar os modelos do presente projeto é possível estimar o crescimento do frango de corte, segundo o sexo, a idade e o teor de energia da ração. E assim, tendo como objetivo final, otimizar a margem bruta ("Ração de Lucro máximo") da criação de frangos de corte, e não apenas formular uma ração de custo mínimo.
Desta forma, através do modelo proposto no presente experimento, tanto a ingestão de ração como a estimativa do peso corporal, em diferentes densidades nutricionais, definem o melhor nível energético da dieta, viabilizando a mais favorável condição para otimizar a margem bruta.
Temos então, pela aplicação da formulação não linear, uma ferramenta que favorece a tomada de decisão, com maximização do desempenho econômico dos frangos de corte em diferentes cenários energéticos da dieta. Ou seja, maximizando a receita (Peso do frango*Preço/kg em R$) e, no presente caso, minimizando os custos de produção (Custo da ração consumida).
A armadilha, ou problema nutricional está em apenas objetivar encontrar o menor custo da ração por kg, o que é muito limitante para se obter um eficiente resultado econômico. Portanto, minimizar o custo por kg de ganho do frango deveria ser o objetivo principal da produção de frangos (MILLER et al., 1986). Desta forma, a visão não será mais uma ração de custo mínimo, mas uma produção com margem bruta máxima.
Tradicionalmente, o milho e o farelo de soja são os dois principais ingredientes das rações avícolas, representando em torno de 70 a 80% da dieta. Devido as recentes altas em curto espaço de tempo, faz-se necessário rever os princípios de formulação para garantir uma produção de frangos mais eficiente e econômica. Desta forma, o princípio não linear não visa produzir o "maior frango de corte" ao atingir o limite máximo de seu potencial genético, mas sim um frango mais adequado para diferentes cenários econômicos, com o menor custo por unidade de peso vivo (Figura 23).
 
Figura 23 - Margem bruta e Custo da ração segundo teor energético de dietas formuladas pelo programa PPFR.
Acurácia e precisão na formulação não linear de ração para frangos de corte: Avanço e otimização de resultados (Parte IV) - Image 2
 
Para obter o modelo mais apropriado foi utilizada a metodologia da superfície de resposta. Assim, foram obtidas equações quadráticas segundo a idade, o sexo e a densidade nutricional mais apropriada para maximizar a margem bruta, durante o processo de formulação.
Desta forma, diferiu-se completamente dos trabalhos de Guevara (2004) e Afrouziyeh et al. (2010), que se limitaram somente a uma equação, o que gerou uma única faixa de opção. Entretanto, no presente trabalho foi possível ajustar os dados a uma malha de possíveis respostas, viabilizando, segundo Barros-Neto et al. (2010), "andar" nessa superfície de resposta.
Após a finalização do experimento, ao iniciar os ajustes dos modelos, num primeiro momento, utilizou-se o "habitual", pois nas primeiras tentativas foram geradas equações conforme os trabalhos revisados de otimização não linear (Tabela 7).
 
Tabela 7 - Funções objetivo para margem de custo, obtidas das equações quadráticas para peso corporal e para consumo de ração, segundo o sexo e a idade das aves.
Acurácia e precisão na formulação não linear de ração para frangos de corte: Avanço e otimização de resultados (Parte IV) - Image 3
 
Decorrente disso, 15 equações foram obtidas, as quais permitiram 15 faixas de opções (ex: 0-21 dias ou 0-31 dias). Isto representou um enorme diferencial, mas desencadeou um grande inconveniente, ou seja, a necessidade de "muitos ajustes e manuseios" pelo usuário na planilha.
Buscando manter o foco com simplicidade, alterou-se radicalmente a proposta ao se adotar a metodologia da análise de superfície. Desta forma, reavaliando os dados, o óbvio (muitas vezes de difícil identificação e percepção) ficou evidente, ao se aplicar as equações geradas pela análise de superfície, que além de minimizar o número de equações (15 para 2), viabilizou o programa PPFR caminhar nessa malha gerada pelos dados (BARROS-NETO et al., 2010).
Tal procedimento incrementou as opções de respostas de otimização da planilha, permitindo uma melhor interpretação dos efeitos dos fatores envolvidos. Isso também possibilitou melhores subsídios para a análise econômica, ao indicar o mais favorável teor energético, ao final de períodos de criação definidos pelo usuário, numa condição de lucro máximo.
Em assim sendo, as respostas para a produção dos frangos de corte, segundo a idade e o teor energético da dieta, entendido como sendo "densidade nutricional", terá sempre duas entradas para definir a função quadrática, segundo a equação:
Y = f (I,E) = β0 + β 1I + β 2E + β 3I2 + β 4E2 + β 5I*E
Nesse estudo, Y é o "output", ou seja, o resultado de saída médio (peso corporal, consumo de ração, consumo de energia, conversão alimentar, peso de gordura cavitária e peso de carcaça), sendo I e E a idade (dias) e o teor energético da dieta (Mcal/kg de EM), respectivamente.
As partes lineares (β1I e β2E), quadráticas (β3I2 e β4E2) e os possíveis efeitos de interações (β5I*E) dessas respostas de produção seguem à lei dos rendimentos decrescentes para a idade e para o teor energético ("Input").
Cabe a ressalva que as respostas quadráticas obtidas para os diferentes fatores avaliados no presente estudo, todas foram extremamente significativas (P<0,0001) para os modelos estudados (Tabelas 5 e 6).
O efeito causativo (variável independente representada pela idade e pelo teor energético), por atuar sobre as variáveis dependentes (ex: peso corporal) demonstrou que todas elas são funções mais complexas do que uma simples função linear, ou seja, os modelos obtidos são realísticos biologicamente, justificando, e muito bem, os resultados encontrados, segundo os coeficientes de determinação (R2), que foram extremamente altos (>0,95), demonstrando confiáveis estimativas.
Também ficou demonstrado pelo coeficiente de variação (CV) que a instabilidade das respostas estudadas foram muito baixas. Entretanto, como exceção, para o CV do peso da gordura cavitária (28,7% e 36,8%, respectivamente para fêmeas e machos), por ser uma variável reconhecidamente muito instável, mesmo assim ainda permitiu um R2 com capacidade razoável de precisão (69,03% para as fêmeas e 52,35% para os machos), segundo Sampaio (2007).
A contribuição da ferramenta Solver do Excel, na otimização da função objetivo, será encontrar, quando acionada, qual o melhor desempenho do animal (fonte de renda), sem necessariamente maximizar seu potencial de ganho de peso, levando em consideração o preço do produto (preço do kg do frango de corte pago pelo mercado) e a densidade energética mais apropriada para cada cenário de combinações. Assim, a margem bruta será a renda menos o custo (despesa com a ração consumida).
Pode-se ainda ser constatado que a resposta da densidade foi curvilínea (EM*EM) para o consumo total energético. Portanto, para uma eficiente otimização, o modelo deverá obrigatoriamente ser não linear (CERRATE; WALDROUP, 2009a; EILA et al., 2012; GUEVARA, 2004), para garantir a maximização da eficiência econômica.
Com essa obrigatoriedade e através do princípio não linear de formulação do PPFR, a proporção de nutrientes, em relação ao teor energético, se mantém o mesmo em todas as dietas.
Desta forma a otimização promovida pela ferramenta Solver do Excel definirá qual a combinação de energia/nutrientes será a mais econômica, o que contraria as recomendações dos manuais das linhagens e tabelas de exigências, que orientam para a maximização do ganho de peso, o que não necessariamente garante uma máxima eficiência econômica.
Assim, de acordo com o presente trabalho, o mais favorável teor energético será aquele definido pelos modelos matemáticos, otimizados pela ferramenta Solver, através das comparações de custo/benefício, segundo cada fase da criação (inicial, crescimento, terminação).
Esse ajuste econômico é muito dependente de quanto estreito ou largo for a relação entre energia/nutrientes. Ou seja, para rações pré-iniciais e iniciais, por serem naturalmente muito estreitas as relações (ex: energia:proteína 140:1; Tabelas 3 e 4), não permite grandes manobras na otimização, contudo por ser o consumo ainda baixo nessas fases, não acarreta grandes prejuízos tal limitação.
Todavia, com o passar da idade, e com o aumento das relações (ração fase crescimento 171:1; ração fase terminação 197:1; Tabelas 3 e 4), permite ajustes muito mais "folgados", por não serem engessados pela relação, no momento da otimização da ferramenta Solver, e felizmente e oportunamente no momento em que o consumo de ração se torna cada vez mais crítico, com impacto direto no custo. Assim, essa é a maior ou principal razão pela qual há pouca flexibilidade para o ajuste da formulação para rações iniciais, frente a alterações significativas dos custos dos ingredientes.
Do exposto, fica evidenciado a importância do estudo de modelos matemáticos e de novos princípios de formulação que integrem os atuais conhecimentos da utilização e deposição dos nutrientes nos tecidos corporais do moderno frango de corte, principalmente em proteína e gordura, visando à otimização de sua deposição na carcaça (LOPEZ et al., 2007). E desta forma, produzir carcaças de melhor qualidade, para clientes cada vez mais exigentes, que desejam um menor teor em gordura nos produtos consumidos (MEINERZ et al., 2001).
 
CONCLUSÕES
  1. O conceito de formulação não linear (ração de lucro máximo) mostra-se mais apropriado para atender o conceito da nutrição de precisão para frangos de corte;
  2. Se todos os nutrientes essenciais são mantidos em proporção adequada com a densidade energética da dieta, o peso corporal e a conversão alimentar são favorecidos com o aumento da densidade energética da ração. Esta condição viabiliza a aplicação de modelos para máximo lucro (formulação não linear), visando estimar a proporção de ganho de peso mais apropriada segundo o preço pago pelo mercado;
  3. A formulação de rações, baseada no conceito não linear, corrige as distorções do sistema tradicional (ração de custo mínimo/linear), resultando numa solução ótima em termos de teor energético da dieta. Uma vez que, segundo a metodologia proposta, as exigências de todos os nutrientes são automaticamente ajustadas pelo modelo matemático, relacionados ao teor energético estimado, conforme as recomendações nutricionais distintas para fases e idades de frangos de corte;
  4. O projeto viabilizou um conceito nutricional atual e prático (nutrição de precisão) e que agora poderá ser aplicado com o uso da planilha PPFR, que por ser livre (sistema aberto e democrático) e acessível (uso do software Excel, da Microsoft), permite ajustes, com acurácia, nos modelos matemáticos adotados como suporte à decisão.
 
REFERÊNCIAS
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Camila Angelica Gonçalves
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Luis Fernando Vergamini Luna
Opta Alimentos e Insumos
28 de mayo de 2014

Prezada Camila,

Considerando uso a campo da ferramenta, que CVs seriam razoáveis para dados zootécnicos?

Cordialmente,
Luna

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