INTRODUÇÃO
A busca pela máxima eficiência alimentar e redução de custos na avicultura é um ponto crítico a ser considerado nas criações comerciais. Um alimento balanceado adequadamente, destinado à alimentação animal, é nutricionalmente completo quando reduz o estresse, minimiza deficiências, melhora a competência imunológica e produz carcaça de qualidade, com melhor desempenho e maior lucratividade (BUTOLO, 1999).
O moderno sistema de criação de frangos de corte é sustentado por pintos comerciais produzidos em sistema de incubação com eficiente controle sanitário, fato que tem contribuído para o desenvolvimento da avicultura brasileira. Entretanto, por outro lado, tem retardado o estabelecimento de uma microbiota intestinal para estes animais. Dessa forma as aves, em condições desfavoráveis de campo, ao chegarem às granjas ficam susceptíveis a desafios por microrganismos patogênicos. Assim o desempenho produtivo pode ser afetado, principalmente pelo desenvolvimento de patologias entéricas e respiratórias.
Os antibióticos são rotineiramente utilizados em rações para controlar agentes prejudiciais ao processo digestivo, promovendo melhora nos índices zootécnicos e maximizando a produção (CONNOLLY, 2001). Entretanto, no momento, o uso desses produtos está sendo cada vez mais questionado devido à sua possível relação com a resistência aos antibióticos usados na antibioticoterapia humana (PALERMO, 2006).
A produção animal vem se adaptando a estas crescentes exigências e, neste sentido, é cada vez mais intensa a preocupação com as condições sob as quais os animais são criados e as implicações que isso pode acarretar à qualidade do produto final (GHADBAN, 2002). Dentro desse contexto, a utilização de probióticos, prebióticos, simbióticos, ácidos orgânicos, entre outros têm recebido atenção por parte de pesquisadores como eventuais substitutos dos atuais antibióticos utilizados como aditivos alimentares, pois não deixam resíduos nas carcaças (MENTEN e PEDROSO, 2005). Dentre estas alternativas destacam-se os probióticos, os quais são produtos constituídos por microrganismos vivos usados com o objetivo de afetar beneficamente o animal hospedeiro, promovendo o equilíbrio da microbiota intestinal (FULLER, 1989), de forma a restringir o uso de antibióticos apenas na forma terapêutica.
A utilização de probióticos como aditivos alimentares supostamente podem proporcionar melhor desempenho (JIN et al., 1998), porém, para que este benefício seja alcançado é necessário avaliar fatores como, idade do animal, tipo de probiótico, viabilidade dos microrganismos no momento de serem agregados às rações, cepas utilizadas, condições de armazenamento, condições de manejo (nível de estresse) e sanidade (FURLAN et al, 2004).
O melhor aproveitamento dos alimentos faz com que os animais produzam mais carne, sem que para isto necessitem consumir mais ração. Ou que cheguem mais rapidamente à idade de abate. Como resultado, cada quilo de carne produzida, terá sido obtido com menores quantidades de ração, gerando menos dejetos, e ajudando na melhoria do meio ambiente.
Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar a eficácia da utilização do probiótico Bacillus subitilis sobre o desempenho zootécnico, rendimento de carcaça e de partes da carcaça de frangos de corte nas diferentes fases de criação.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 600 pintos de corte machos, de um dia de idade da linhagem Cobb, sexados e provenientes de ovos de matrizes com idade ao redor de 45 semanas de idade. As aves foram alojadas em um galpão experimental de alvenaria, com cobertura de telha sanduíche, piso de concreto, paredes laterais com0,30 mde altura, completados com tela de arame até o telhado, com 3,20m de pé direito, e cortinado externo móvel, dividido em 80 boxes de 3,10 x1,05 m, separados por telas de0,70 mde altura.
Nas primeiras duas semanas de idade das aves, foram utilizados comedouros tubulares infantis e bebedouros de alumínio, os quais foram substituídos gradativamente por comedouros tubulares com capacidade para20 kgde ração e bebedouros pendulares após a primeira semana de idade. Tanto a água como a ração, foram fornecidas à vontade e a iluminação foi de 24 horas durante todo o período de criação. O aquecimento inicial foi feito através de lâmpadas infra-vermelho de 250 watts, procurando manter a temperatura ambiente entre28 a30°C, durante as duas primeiras semanas de vida.
Os pintos foram vacinados contra a doença de Marek, Gumboro e Bouba Aviária no próprio incubatório, seguindo-se a vacinação no 5o e 21o dias contra a Doença de Gumboro e no 8o dia contra a Doença de New Castle, ambas as vacinas foram administradas via água de bebida.
As rações experimentais (Tabela 2) foram formuladas à base de milho e farelo de soja, seguindo-se as recomendações de Rostagno et al. (2011).
Tabela 2. Composição percentual das rações experimentais para frangos de corte de1 a 21 e de22 a 41 dias de idade.
O programa de alimentação foi dividido em 2 fases, ou seja, fase inicial (1-21 dias de idade) e de crescimento (22-41 dias de idade).
O delineamento experimental adotado foi inteiramente casualizado com 5 tratamentos e 4 repetições de 30 aves cada, totalizando 120 aves por tratamento. O probiótico utilizado foi à base de Bacillus subitilis na concentração de 109 UFC/g. Os tratamentos experimentais foram: Controle (sem inclusão de probiótico); 150 g/ton de probiótico; 300 g/ton de probiótico; 450 g/ton de probiótico; 600 g/ton de probiótico.
Foram avaliados os parâmetros de desempenho (ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, viabilidade criatória e IEP) e de rendimento de carcaça e suas partes.
Aos 40 dias de idade, foram retiradas 2 aves por boxe, sendo 8 aves por tratamento, totalizando 40 aves. Estas foram escolhidas pelo peso médio da parcela, quando então foram submetidas a um período de 8 horas de jejum, sendo pesadas antes do abate, que foi realizado aos 41 dias de idade das aves, no abatedouro da FCAV/ UNESP - Campus de Jaboticabal.
Os cortes obtidos foram: carcaça eviscerada (sem pés, pescoço e cabeça), peito com osso, pernas (coxa + sobrecoxa), dorso e asas. Para o cálculo de rendimento de carcaça, foi tomado como base o peso vivo, obtido individualmente na plataforma antes do abate (MENDES, 1990) e para o rendimento de partes da carcaça quente, foi considerado como base o peso da carcaça eviscerada sem cabeça, pescoço e pés.
A análise estatística dos dados de desempenho, mortalidade e rendimento de carcaça e partes foi realizada pelo método da análise de variância com o auxílio do procedimento GLM do SAS (2002). Em caso de significância estatística, para os níveis de probióticos avaliados, testes de regressão polinomial, seriam realizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos para as características de desempenho durante o período de1 a21 dias, não apresentaram resultados significativos (P>0,05) entre os tratamentos. Tanto a dieta controle, como as dietas com níveis crescentes de inclusão do probiótico (Bacillus subitilis) apresentaram resultados semelhantes para as características de desempenho avaliadas (Tabela 3).
Tabela 3: Médias, probabilidade (P) e coeficiente de variação (CV) para os parâmetros de desempenho das aves durante o período de1 a 21 dias de idade.
Esses resultados estão de acordo com Loddi et al (2000), Reyes et al (2000) e Estrada et al (2001) que verificaram que, o uso de probióticos não obteve efeito sobre os parâmetros produtivos nessa fase, devido a capacidade de colonização do trato gastrointestinal pelas bactérias dos probióticos ser baixa. Pelicano et al. (2004), trabalhando com diferentes tipos de probióticos e prebióticos adicionados à ração também não observaram diferença significativa para o ganho de peso e consumo de ração em frangos de corte durante o período de1 a21 dias de idade.
Em contraposição Zulkifli et al. (2000) e Boratto et al. (2004), observaram um maior ganho de peso para as aves que receberam ração contendo probiótico quando comparado aquelas do tratamento controle. Já Correa et al. (2003), ao testar diferentes tipos de probióticos na dieta de frangos de corte, observaram um menor consumo de ração nos tratamentos que receberam probiótico quando comparados ao tratamento controle.
De maneira semelhante ao observado para a fase de1 a21 dias de idade, os resultados de desempenho das aves referentes ao período de22 a42 dias de idade não apresentaram diferença significativa (P>0,05) entre os diferentes níveis do probiótico testado em relação ao tratamento controle (Tabela 4).
Tabela 4: Médias, probabilidade (P) e coeficiente de variação (CV) para os parâmetros de desempenho das aves durante o período de22 a 42 dias de idade.
Esses resultados discordam de Mohan et al. (1996) que verificaram incremento no ganho de peso das aves com uso de probióticos a partir da quarta semana de criação.
As condições de criação podem influenciar de forma direta a eficiência dos aditivos promotores de crescimento (BORATTO, 2004) e a relação entre o número e o tipo de microrganismos viáveis presente no probiótico, podem estar relacionadas com a eficiência de ação deste produto (LIMA et al., 2003).
Para o período total de criação,1 a42 dias de idade, os parâmetros de desempenho não apresentaram resultados significativos (P>0,05) entre os tratamentos em estudo (Tabela 5).
Tabela 5: Médias, probabilidade (P) e coeficiente de variação (CV) para os parâmetros de desempenho das aves durante o período de 1 - 42 dias de idade.
Esses resultados estão de acordo com Dos Santos et al. (2004), que também não observaram efeitos sigificativos (P>0,05) nos parâmetros de desempenho das aves que receberam probiótico, em relação ao tratamento controle.
As condições de higiene das instalações (vazio sanitário, cama nova), o manejo e o estado sanitário dos animais podem estar relacionados com os resultados obtidos nesse experimento. Segundo Fuller (1988), o efeito dos probióticos é variável, sendo que a promoção de crescimento destes microorganismos somente ocorre se há uma depressão de crescimento de microorganismos patogênicos, o que normalmente ocorre em situações estressantes. Aves alojadas em locais que se apresentam há bastante tempo desocupados ou com baixo nível de contaminação ambiental também tendem a apresentar resultados pouco significativos em relação à utilização de probióticos (KUSSAKAWA e FERREIRA, 1999).
Portanto, mesmo contendo farinha de carne e ossos na ração basal fornecida às aves, não houve bactérias patogênicas suficientes para apresentar um desafio significativo ao organismo desses animais, desta forma, o probiótico adicionado a dieta não conseguiu realizar exclusão competitiva.
Quanto às características de carcaça, não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos (Tabela 6).
Tabela 6: Médias, probabilidade (P) e coeficiente de variação (CV) dos resultados avaliados no abate de frangos de corte de1 a42 dias de idade.
De acordo com os resultados encontrados no presente estudo Loddi et al. (2000) e Pelícia et al. (2003) também não observaram efeitos significativos sobre o rendimento de carcaça e cortes, quando se adicionou probióticos as rações de frangos de corte.
Estes resultados foram discordantes aos encontrados por Santos et al. (2002) que observaram melhora nas características de carcaça com o uso de probióticos na ração.
Como o experimento foi conduzido em um mesmo galpão experimental, os boxes dos diferentes tratamentos ficaram muito próximos uns dos outros, o que pode ter levado a contaminação dos microrganismos de um tratamento para o outro devido ao manejo diário realizado pelos tratadores. Portanto esse fato também pode ter influenciado nos resultados finais obtidos.
CONCLUSÕES
Considerando-se as condições em que foi realizado o experimento, pode-se concluir que a inclusão do probiótico Bacillus subitilis na ração não influenciou de maneira significativa o desempenho e os parâmetros de rendimento de carcaça e partes da carcaça das aves em todas as fases analisadas.
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