A preocupação com a qualidade de vida das aves é compreensível mas, e as condições de trabalho? E as relações sociais de trabalho?
Sr. Sebastião, sabemos que só conseguiremos uma boa condição de bem-estar para as aves quando os trabalhadores responsáveis pelo manejo das mesmas também estiverem bem... Por isso, os estudos e pesquisas relacionados ao pré-abate dos animais também tem levado muito em consideração os aspectos relacionados a ergonomia e ao bem-estar dos trabalhadores, pois sabemos que isso tem efeito direto no modo como os animais são manejados e portanto na quantidade final de perdas decorrentes desse processo.
O artigo em pauta, merece todo o apreço e consideração pela abordagem técnica e precisa. Proprio de quem realmente conhece o assunto, na sua essência. Informações precisas e pontuais, trazem à luz das discussões e soluções a respeito,do quanto se perde e se deixa de lucrar, pelo manejo inadequado nas operações de pré-abate de frangos de corte.
Na realidade o Brasil desponta no cenário produtivo de proteínas de origem animal, não só pelo quantitativo, mas também pelo qualitativo. Inúmeras empresas do ramo avícola promovem via integração, uma considerável melhoria de vida dos integrados.Existem contradições, mas ...
O que chama a atenção no quesito “apanha” de frangos, vai além do exposto.
O Brasil ainda não conseguiu colocar em prática nenhum tipo de NBr que normatize algo a respeito não só da “apanha” de frangos, assim como o sistema de transporte.
Provavelmente teremos nos próximos tempos, a visita de autoridades sanitárias européias, que já adotam normas rígidas a respeito do transporte de frangos.
O fórum para se discutir a respeito do quesito transporte é a ABNT, em especial no Comitê 12.
A UB A publicou algo a respeito. Provavelmente o fez com a intenção de informar.Mas jamais se preocupou em colocar em prática os enunciados.Vejamos então:
“6.1. Apanha
6.1.1. As empresas devem ter um programa de treinamento sobre as responsabilidades quanto ao bem-estar das aves para os funcionários encarregados de realizar a apanha, transporte e omanejo pré-abate das aves no frigorífico.
6.1.2. A equipe de apanha deve ter um líder para fazer o monitoramento da mesma.
6.1.3. Maus tratos e brutalidade no manejo com as aves durante estas etapas não devem ser tolerados.
6.1.4. Aves que apresentam problemas sanitários, fraturas ou lesões que comprometem seu bem-estar não devem ser transportadas. Neste caso é recomendável o sacrifício, sendo aceitável o deslocamento cervical manualmente desde que as aves não apresentem mais de 3 kg e que seja realizado por um funcionário treinado para o abate emergencial.
6.1.5. Antes do transporte, todas as aves devem receber água até o momento de começar o carregamento.
6.1.6. Admite-se que o tempo de jejum seja prolongado caso haja problemas no transporte e outros não previstos, desde que o responsável comunique a equipe do frigorífico e o veterinário responsável pela inspeção das aves.
6.1.7. Durante a apanha as caixas devem ser colocadas dentro dos galpões, e posicionadas de forma que subdivida os lotes para facilitar a contenção das aves e diminuir a atividade durante a apanha.
6.1.8. A densidade das aves no transporte deve ser ajustada de acordo com as condições climáticas, tamanho das caixas e peso das aves, baseando-se no princípio de que todas as aves devem ter espaço suficiente na caixa para que possam deitar sem ocorrer amontoamento de uma ave sobre a outra.
6.1.9. Os funcionários da apanha devem fechar as caixas e deslizá-las suavemente sobre a linha de carregamento até a plataforma do caminhão.
6.1.10. Para a apanha de perus deve ser seguido o procedimento para a espécie, adequada ao tamanho da ave e o tipo de transporte (módulo fixo ou móvel) ou caixa.”
Na teoria a prática é outra, como diz o ditado popular. Falta mão de obra, falta competência, falta treinamento e capacitação.
Nem sempre se cumprem os horários estabelecidos.
Existe a possibilidade de uma comitiva de técnicos da U.E. vir ao Brasil, para visitar algumas plantas frigoríficas, que abatem e processam frangos para o corte e então teremos a sutil sugestão: da forma como o Brasil realiza a “apanha” e o transporte de frangos de corte para as plantas frigoríficas, está muito a desejar e provavelmente a U.E. imporão severas restrições as importações de frangos.
No momento está vigente uma Norma Européia que especifica exclusivamente, o transporte de frangos destinados ao abate.
Para quem está familiarizado com as NRs, a ISO 26000, contempla “o respeito ao bem-estar dos animais quando suas vidas e existência são afetadas, incluindo o fornecimento de condições dignas para a manutenção, criação, transporte e uso de animais, além de mencionar também o bem estar psicológico dos animais em diversos capítulos”a. O
O Brasil participou de forma expressiva na elaboração da ISO 26000, contando com os conhecimentos e dedicação do Engenheiro Jorge Cajazeira.
Finalizando. Faz-se necessário deixar de olhar para o próprio umbigo e começar a olhar para outros horizontes, como ocorreu com os autores do artigo publicado no site da Engormix. Participar da ABNT, no sentido de avivar e reviver o Comitê 12, que está desativado, buscando a participação do mundo acadêmico, dos pesquisadores, da Classe Médica Veterinária e em especial das Integrações Avícolas, para que o binômio: apanha de frangos e transporte, passem a ser encarados de uma forma mais humanitária.