Introdução
Óleos e gorduras são ingredientes muito utilizados como fonte concentrada de energia e permitem a formulação de dietas de alta densidade energética. O NRC (1994) destaca a melhora na palatabilidade e na conversão alimentar e a redução na perda de nutrientes, entre outros, como efeitos benéficos, denominados "extracalóricos", do uso de gorduras nas rações. Segundo Franco (1992), o efeito extracalórico da gordura consiste na maior energia líquida desta, uma vez que sua deposição pela ave é muito mais eficiente quando fornecida pela dieta que pela síntese a partir de precursores da acetilcoenzima A. Dessa forma, quando a gordura é incluída na dieta, a síntese de ácidos graxos é reduzida e a ave dispõe de mais energia para o desempenho produtivo proposto.
Pesquisadores têm reportado efeito negativo, com redução no peso dos ovos e no desempenho zootécnico de poedeiras alimentadas com dietas suplementadas com fontes de ácidos graxos poliinsaturados (Santos, 2005). De acordo com Franco & Sakamoto (2005), a nutrição das poedeiras, além de influenciar a qualidade física dos ovos (tamanho, porcentagem de seus componentes, resistência da casca), pode ainda influenciar sua qualidade nutricional (composição química).
Santos (2005) observaram que a inclusão de óleos vegetais em dietas de poedeiras, independentemente do tipo (soja, linhaça ou algodão), não melhorou as características de qualidade dos ovos em relação à dieta sem óleo. O nível de 4% de óleo vegetal melhorou na coloração da gema crua dos ovos e a elevação dos níveis de óleo de linhaça de 2 para 4% nas dietas ocasionou redução na porcentagem de gema e aumento na porcentagem de albúmen.
Outro fator que pode ser afetado pela nutrição é a deposição de colesterol na gema do ovo (Hargis, 1991). A inclusão de ingredientes selecionados, como óleos vegetais ricos em ácidos graxos, em rações para poedeiras visa à modificação do padrão lipídico da gema e à redução do nível de colesterol do ovo. Os resultados na literatura sobre os efeitos da dieta nas concentrações de colesterol no ovo e no plasma são contraditórios (Murata et al., 2003). Holland et al. (1980) e Mori et al. (1999) observaram que a adição de óleos ricos em ácidos graxos poliinsaturados na dieta diminui a concentração de colesterol do plasma e do ovo.
Com base no exposto, estudou-se o efeito da inclusão dos óleos de linhaça e de soja, ricos em ácidos graxos insaturados, em dietas para poedeiras comerciais sobre o desempenho zootécnico e a qualidade interna e externa dos ovos.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido nas instalações do Setor de Avicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, localizado no Município de Areia. O experimento teve duração de 140 dias, divididos em cinco períodos de 28 dias.
Foram utilizadas 192 poedeiras comerciais da linhagem Bovans Goldline, com 29 semanas no início do período experimental, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos e quatro repetições de oito aves, totalizando 24 unidades experimentais. As aves foram alojadas em gaiolas de arame galvanizado suspensas a 1,0 m do piso, cada uma com quatro aves (525 cm2/ave), em galpão de 10 × 4 m, com 2,8 m de pé-direito, coberto com telhas de cerâmica e aberto lateralmente. O comedouro utilizado foi do tipo calha e os bebedouros do tipo nipple.
As rações foram formuladas visando atender às exigências nutricionais das aves, de acordo com as recomendações de Rostagno et al. (2005). Na composição das rações, foram incluídos componentes convencionais como milho, farelo de soja, calcário, fosfato bicálcico e sal, além de soja e linhaça, fontes de óleo vegetal (Tabela 1).
Os tratamentos consistiram de uma dieta controle (sem óleo vegetal) e de dietas com 0,0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0% de óleo de linhaça em substituição a 100, 75, 50, 25 ou 0% do óleo de soja.
Durante o experimento, a ração e a água foram fornecidas à vontade. Avaliaram-se o consumo de ração, a produção, o peso e a massa de ovos, a conversão por massa e por dúzia de ovos, os pesos e as porcentagens de albúmen, gema e casca, a gravidade específica dos ovos, os teores de matéria seca, cinzas e proteína do albúmen e da gema, o teor de colesterol e a coloração da gema.
Os ovos foram colhidos diariamente e a produção de ovos por parcela foi anotada em planilhas adequadas. A produção dos ovos em porcentagem foi calculada dividindo-se a quantidade de ovos totalizados por parcela pelo número de aves. Ao final de cada período experimental, foram coletadas as sobras de ração de cada parcela para cálculo do consumo de ração pela diferença entre a ração fornecida e as sobras. Os ovos dos últimos três dias de cada período experimental foram pesados individualmente para obtenção do peso médio dos ovos. Os cálculos da massa de ovo foram realizados pelo produto da produção de ovos e do peso médio dos ovos por parcela.
A conversão alimentar por massa de ovo foi calculada pela relação entre o consumo de ração e a massa de ovo produzida, enquanto a conversão por dúzia de ovos foi calculada pela relação entre o consumo de ração dividido pela produção e o resultado foi multiplicado por 12.
Do total de ovos colhidos por repetição, foram selecionadas seis unidades para determinação dos pesos e das porcentagens de gema, albúmen e casca, da coloração da gema, da gravidade específica dos ovos, da composição físico-química dos ovos e do teor de colesterol na gema dos ovos. Após separação manual dos componentes, as cascas foram mantidas em estufa a 105oC por 4 horas. As porcentagens foram obtidas dividindo-se os pesos de albúmen, gema e casca pelo peso médio dos ovos e o resultado foi multiplicado por 100.
Tabela 1 - Composição percentual das dietas experimentais
A gravidade específica foi determinada pelo método de flutuação salina, conforme metodologia descrita por Hamiltom (1982). Ao final de cada período experimental, foram selecionadas amostras representativas de dois ovos por parcela. Em seguida, foram feitas imersões dos ovos em diferentes soluções salinas com os devidos ajustes para um volume de 25 litros de água em densidades de 1,060 a 1,100 em intervalos de 0,025. Os ovos foram colocados nos baldes com as soluções, da menor para a maior densidade, e retirados ao flutuarem. Os valores respectivos das densidades correspondentes às soluções dos recipientes foram anotados. Antes de cada avaliação, as densidades foram conferidas com densímetro de petróleo.
Para determinação dos teores de matéria seca, cinzas e proteína, foram utilizados ovos inteiros, crus e sem casca, segundo Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (1985).
Os lipídeos na gema foram extraídos utilizando-se a técnica de Folch et al. (1957). Para quantificação do teor de colesterol, no final de cada período os ovos foram coletados, identificados e armazenados sob refrigeração até a realização das análises. No laboratório, os ovos foram quebrados para separação da gema inteira. As gemas de dois ovos de cada repetição por tratamento foram pesadas e homogeneizadas. O pool das gemas foi acondicionado em recipientes de vidro. O teor de colesterol foi quantificado utilizando-se a técnica de colorimetria, segundo Bohac et al. (1988), adaptado por Bragagnolo & Rodriguez-Amaya (1995).
As análises estatísticas foram realizadas por meio de análise de variância utilizando-se o programa Sistemas de Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (1999). As médias foram submetidas ao teste Dunnet a 5% de probabilidade, comparando-se o tratamento sem inclusão de óleo (controle) aos demais tratamentos. Em seguida, efetuou-se a análise de regressão para as dietas com óleo de linhaça. As análises de variância foram realizadas com base no seguinte modelo estatístico: Yij = μ + Ti + εij, em que: μ = média geral esperada; Ti = efeito do tratamento i (i = 1,... 6) e εij = erro experimental.
Resultados e Discussão
As análises de variância revelaram que não houve efeito significativo dos níveis de substituição do óleo de soja pelo óleo de linhaça (P>0,05) sobre nenhuma das características de desempenho avaliadas (Tabela 2).
Em todo o experimento, a taxa de postura se manteve acima de 80% em todos os tratamentos. A inclusão de no máximo 2% de óleo de linhaça na ração não teve efeito sobre o consumo de ração pelas poedeiras, portanto, não houve redução da palatabilidade, como observado por Baucells et al. (2000) ao adicionarem 4% de óleo de linhaça na ração. As médias de peso de ovo, massa de ovo, conversão por massa de ovo e conversão por dúzia de ovos foram 65,20 ± 1,89 g, 59,31 3,18 g/ave/dia, 1,97 ± 0,09 kg de ração/kg de ovo e 1,53 ± 0,07 kg de ração/dúzia de ovos, respectivamente.
A produção de ovos pelas poedeiras alimentadas com as rações contendo óleo de soja foi similar à das poedeiras cuja ração continha óleo de linhaça. O mesmo comportamento foi observado para as rações com os óleos de soja e de linhaça. Resultados análogos foram encontrados por Murata (1998), que, em pesquisa com poedeiras alimentadas com óleo de soja e canola, não constataram diferenças significativas na produção de ovos. Filardi et al. (2004) alimentaram poedeiras com óleos de soja, canola, girassol e algodão e também não verificaram diferenças significativas na produção de ovos. Pita et al. (2004), em estudo com poedeiras da linhagem Babcock alimentadas com rações contendo 20% de semente de linhaça, 6% óleo de canola ou combinação entre eles (10% de semente e 3% de óleo), avaliaram a suplementação com 0, 100 e 200 UI de vitamina E por quilograma de ração e constataram que poedeiras alimentadas com ração contendo 20% de semente de linhaça apresentaram significativa redução na produção de ovos. Esta redução pode ser atribuída à presença de fitoestrógenos na semente da linhaça, uma vez que essas substâncias podem alterar a regulação hormonal das aves.
A inclusão de óleo de linhaça em substituição ao óleo de soja nas rações não prejudicou o desempenho das poedeiras, como demonstrado por Vasconcelos et al. (2000), que também não encontraram diferença na produção de ovos ao fornecerem óleo na ração. Resultados semelhantes foram observados por Santos (1998), que não constatou diferença na produção de ovos em poedeiras alimentadas com dietas com óleo de soja e canola em comparação a uma dieta sem óleo. Shafey et al. (1992), ao fornecerem rações suplementadas com óleo de soja para poedeiras comerciais, observaram, entretanto, aumento significativo na produção e massa de ovos em comparação a uma ração sem óleo de soja. O aumento da produção de ovos possivelmente esteve relacionado à melhor utilização da energia da ração contendo níveis crescentes de óleo, em virtude da diminuição do aumento calórico.
Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de substituição do óleo de soja pelo óleo de linhaça sobre a qualidade interna e externa dos ovos, à exceção da coloração da gema, que foi mais intensa nas aves alimentadas com as rações contendo mais que 1% de óleo de linhaça (P<0,05) em relação à dieta controle (Tabela 3).
Os resultados encontrados corroboram informações de Vasconcelos et al. (2000) de que poedeiras alimentadas com rações com ou sem óleo de linhaça produziram ovos com pesos semelhantes. Murata (1998), avaliando o efeito da adição de 3% de óleos de peixe, canola e soja na dieta de poedeiras, não encontrou diferenças no peso dos ovos. Similarmente, Filardi et al. (2004) forneceram rações contendo óleos de algodão, girassol, canola e soja para aves e verificaram que o tipo de gordura utilizado não teve efeito significativo no peso dos ovos.
De forma semelhante, Summers & Leeson (1983) e Atteh & Leeson (1985) não observaram aumento do peso dos ovos com a adição de gorduras na dieta. Por outro lado, Whitehead et al. (1991), Keshavarz & Nakajima (1995) e Grobas et al. (1999) conduziram experimentos com poedeiras e constataram efeitos positivos das gorduras dietéticas no aumento do peso dos ovos.
Tabela 2 - Consumo de ração (CR), produção (PR), peso (PO) e massa de ovo (MO), conversão por massa de ovo (CMO) e por dúzia de ovo (CDZ) de poedeiras alimentadas com dietas contendo diferentes níveis de óleo de linhaça (OL)
Tabela 3 - Peso e porcentagens de albúmen (PA e %A), gema (PG e %G) e casca (PC e %C), gravidade específica (GE) e coloração da gema (CG) de poedeiras alimentadas com rações contendo óleo de linhaça (OL)
Resultados contrários, entretanto, foram encontrados por Jensen (1983), que, utilizando 1 e 2% de gordura animal em rações para a fase de postura, verificou aumento no percentual de ovos grandes e extras em poedeiras comerciais. Confirmando esta afirmação, Sell et al. (1987) constataram que a adição de gorduras vegetal e animal em rações isocalóricas tem ação benéfica no peso dos ovos. Mendonça Jr. (2002), avaliando os efeitos do óleo de peixe sobre a qualidade do ovo de galinhas poedeiras com 89 semanas de idade, observou que a adição de 1 a 4% de óleo de peixe à dieta provocou redução no peso dos ovos. Contudo, Briz (1997) verificou que as dietas com óleo de linhaça tendem a reduzir o peso do ovo e da gema.
March & Macmillan (1990) relataram influência da composição lipídica sobre o peso do ovo e que o ácido linoléico é requerido pela poedeira para o máximo de peso do ovo. Segundo Jensen (1968) e Balvane (1970), rações deficientes em ácido linoléico promovem redução de até 10 g no peso do ovo e afetam principalmente a gema.
Não foi constatado efeito significativo na porcentagem de clara dos ovos. Segundo Keshavarz & Nakajima (1995), a adição de gordura na alimentação de poedeiras reduz a velocidade do trânsito digestivo e melhora a utilização dos nutrientes para formação das proteínas do albúmen, entretanto, isso não foi observado nesta pesquisa. Os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram os descritos por Murata (1998), que, avaliando o efeito da inclusão de 3% de óleo de soja, canola e pescado para poedeiras, verificou que não houve diferenças significativas na porcentagem de clara dos ovos analisados. Por outro lado, Santos (2005), estudando a inclusão de óleo de soja, linhaça e algodão nos níveis de 2 e 4%, não constatou efeito significativo na porcentagem de clara, exceto quando adicionou 4% de óleo linhaça na ração, o que promoveu maior percentual de clara.
Vasconcelos et al. (2000), alimentando poedeiras com rações contendo até 3% de óleo de linhaça, não observaram efeito significativo na porcentagem de gema dos ovos. Entretanto, Santos (2005) verificou que o aumento de 2% para 4% na porcentagem de óleo de linhaça nas dietas ocasionou redução na porcentagem de gema e aumento na porcentagem de clara.
As rações com óleo de linhaça nos níveis acima de 50% intensificaram a coloração da gema (ração sem adição de óleo), o que confirma os resultados encontrados por Farrell (1998) em análise de ovos produzidos com o fornecimento de rações enriquecidas com óleo de peixe e linhaça (30 e 10 g de óleo/kg de ração, respectivamente) em comparação a ovos comerciais. Neste estudo, a cor da gema dos ovos não enriquecidos foi muito mais clara que a dos ovos obtidos com o fornecimento de óleo de linhaça. Gómez (2003), avaliando o efeito de inclusão de 0% e 5% de óleo de linhaça na cor de gema, observou o menor valor na escala (cor amarela mais clara) quando adicionada linhaça na alimentação das poedeiras.
Resultados contrários foram reportados por Vasconcelos et al. (2000), que encontraram em aves alimentadas com rações contendo óleo de linhaça ou sem óleo índices de coloração de gema similares. Corroborando esses resultados, Murata (1998) também não constatou diferenças significativas na coloração da gema quando avaliou o efeito da adição de 3% de óleo de soja, canola e peixe na dieta de poedeiras.
A qualidade externa do ovo, a porcentagem de casca e a gravidade específica (Tabela 3) não foram influenciadas pelos níveis de óleo utilizados na fase de produção. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados por Brugalli et al. (1998), que adicionaram três níveis de óleo vegetal (0, 2 e 4%) na ração de poedeiras semipesadas de primeiro ciclo e não observaram diferenças significativas nessas características do ovo.
Os ovos das aves alimentadas com rações contendo óleo de soja ou linhaça e a combinação entre eles apresentaram porcentagem similar de casca. Esses resultados estão de acordo com os encontrados por Murata (1998), que, ao incluírem 3% dos óleos de soja, peixe e canola em rações para poedeiras, não verificou efeito significativo sobre a porcentagem de casca dos ovos. Santos (1998), alimentando poedeiras com rações suplementadas com óleo de soja e canola, e Santos (2005), usando óleos de soja, linhaça e algodão, não constataram diferenças significativas na porcentagem de casca dos ovos.
A gravidade específica (GE) é uma estimativa da quantidade de casca depositada e está relacionada à porcentagem de casca. Segundo Hamilton (1982), a gravidade específica aumenta de acordo com a espessura da casca. Peebles & Mc Daniel (2004) sugeriram valor de gravidade específica 1,0800 como limite entre a baixa e a alta qualidade da casca de ovos. Mendonça Jr. (1996) observou valor inferior de gravidade específica (1,0777).
Segundo Silva (2004), a gravidade específica não pode ser inferior a 1,0800. Portanto, o óleo de linhaça não interferiu negativamente na gravidade específica dos ovos, uma vez que em todos os tratamentos os valores foram superiores aos descritos por diversos autores, indicando que os ovos produzidos apresentaram boa qualidade da casca.
Balevi & Coskun (2000), avaliando o efeito de algumas fontes de óleo vegetal (óleos de girassol, algodão, milho, linhaça, soja, milho, oliva, peixe e sebo), não verificaram diferenças na gravidade específica entre os grupos de aves alimentadas com as rações. Neste estudo, não houve efeito (P>0,05) dos níveis de substituição do óleo de soja pelo óleo de linhaça sobre a composição química dos ovos das poedeiras semipesadas de 29 a 49 semanas de idade (Tabela 4).
Conforme Resolução 005 de 1991, baseada no Decreto nº 99427 de 1990, as características físico-químicas da gema de ovos são: 1,8% de cinzas, 13% de proteína e 27,5% de gordura. O albúmen contém, em média, 0,7% de cinzas, 9,5% de proteína e 0,03% de gordura. Ahn et al. (1997), estudando o efeito de diferentes linhagens sobre o conteúdo de sólidos totais do ovo, do albúmen e da gema e a composição em lipídios e proteína da gema, encontraram valores médios de 11,79 e 50,85% de sólidos totais no albúmem e na gema, 30,75% de lipídeos e 16,85% de proteína na gema. Salvador & Santa (2002), comparando os teores de macronutrientes de ovos enriquecidos com poliinsaturados (PUFA) ômega-3, ovos vermelhos de galinhas de granja e caipiras, ovos brancos de galinhas de granja e ovos de codorna, não verificaram diferença significativa nos teores de proteína entre os tipos de ovos.
Shafey et al. (1992) não verificaram diferenças no teor de colesterol da gema de ovos de poedeiras alimentadas com rações contendo 2% de óleo de soja em relação à dieta controle (sem óleo). Resultados semelhantes foram reportados por Santos (2005), que, alimentando aves com rações contendo óleo de soja, linhaça ou algodão em dois níveis (2% e 4%), não verificou alteração no teor de colesterol na gema do ovo. Mendonça Jr. (2002), avaliando os efeitos do óleo de peixe sobre a qualidade do ovo e os teores de colesterol na gema do ovo de galinhas poedeiras com 89 semanas de idade, observou que a adição de 1 a 4% de óleo de peixe à dieta não promoveu alteração nos teores de colesterol na gema.
Murata et al. (2003), estudando os níveis de colesterol total na gema de ovo utilizando diferentes fontes de óleo, verificaram que o colesterol da gema foi afetado pela fonte de óleo (P<0,05), uma vez que os valores foram mais baixos quando o óleo de soja foi adicionado à dieta. Santos (2005) verificou, entretanto, que a adição de diferentes óleos vegetais nas dietas (2% e 4%) não promoveu alteração no teor de colesterol dos ovos.
A gordura dietética parece não ter efeito sobre a deposição de colesterol na gema do ovo segundo pesquisas realizadas por Reiser & Gibson (1950) e Fisher & Leveille (1957). Entretanto, Hargis et al. (1991) avaliaram o efeito de uma dieta contendo 3% de óleo de pescado e outra sem adição de gordura e verificaram redução significativa do colesterol na gema do ovo das poedeiras que consumiram a ração contendo óleo de peixe. Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 apresentam efeitos hipocolesterolêmicos e reduzem os níveis de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), pois modificam a composição das membranas celulares e das lipoproteínas e induzem o aumento das excreções biliar e fecal do colesterol, reduzindo a síntese do lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) no fígado (British Nutrition Foundations, 1994), o que poderia ocasionar redução do teor de colesterol no ovo (Hargis & Van Elswyk, 1993). Considerando que apenas 21% do colesterol da gema encontra-se sob a forma esterificada, reduções substanciais no colesterol somente seriam alcançadas mediante a modificação na composição das lipoproteínas sintetizadas no fígado, que entram na formação da gema (Santos, 2005).
Hodzic et al. (2005), estudando a possibilidade de modificar o nível de colesterol total da gema de ovos por meio da suplementação com diferentes gorduras (3% de óleo de peixe, 3% de óleo de palma e 3% de banha de porco), observaram que o colesterol total da gema é constante e pode ser influenciado somente em algumas condições, por exemplo, quando as poedeiras foram alimentadas com 3% de banha de porco. O conteúdo de colesterol total da gema do ovo também foi pesquisado por Hirata et al. (1986), que não verificaram diferenças entre poedeiras alimentadas com dietas contendo óleo de soja ou coco, banha de porco ou sebo, bem como entre aves alimentadas com a mistura de óleo de girassol e palma em comparação a três regimes alimentares (sebo e fosfolipídeos de girassol cru ou refinado).
Tabela 4 - Matéria seca da gema (MSG), cinza da gema (CING), proteína da gema (PROG), matéria seca do albúmen (MSA), cinza do albúmen (CINA), proteína do albúmen (PROA), e colesterol da gema (COLG) de ovos de poedeiras comerciais de 29 a 44 semanas alimentadas com rações contendo óleo de linhaça (OL)
Conclusões
A adição de até 2% de óleo de linhaça não altera o desempenho zootécnico de poedeiras semipesadas nem a qualidade interna e externa e o teor de colesterol dos ovos.
Literatura Citada.
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