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Dietas poedeiras aflatoxina fumonisina adsorvente

Qualidade óssea de poedeiras comerciais alimentadas com dietas contendo aflatoxina, fumonisina e adsorvente

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: EV Siloto, DRS Sartori, EFA Oliveira, J.R. Sartori, VB Fascina
Sumário

Os efeitos da aflatoxina e fumonisina e sua associação, sobre a porcentagem de postura e a qualidade óssea de poedeiras comerciais, foram avaliados bem como a eficácia de um adsorvente glucano em promover a redução destes efeitos. Foram utilizadas 168 poedeiras com 37 semanas de idade, por um período experimental de 56 dias. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 3x2 + 1 (3 tratamentos com micotoxinas: aflatoxina (AF), fumonisina (FU) e aflatoxina + fumonisina (AF + FU); 2 tratamentos com e sem adsorvente; e grupo controle sem micotoxinas e adsorvente), totalizando 7 tratamentos e 6 repetições com 4 aves/gaiola. As rações foram contaminadas com 1ppm de AF e 25ppm de FU e o adsorvente (ADS) foi incluído na concentração de 2kg/ton ração. Não foram observados efeitos (p>0,05) das micotoxinas e do adsorvente sobre porcentagem de cinzas e resistência a quebra. Aves dos tratamentos com AF apresentaram menores porcentagens de postura. O tratamento com AF+FU e ADS apresentou maior porcentagem de materia seca (66,61%) que o mesmo tratamento sem ADS (61,88%). O tratamento com FU e ADS apresentou maior concentração de fósforo que na ausência do ADS. A concentração de cálcio na tíbia diferiu entre as micotoxinas, sendo que as aves do tratamento com FU apresentaram maiores concentrações (4,016 mg/L) que as do tratamento com AF (3,54 mg/L). As alterações observadas na porcentagem de postura são indicativas da toxicidade da aflatoxina na concentração de 1ppm. As micotoxinas, separadamente ou em associação, não influenciaram os parâmetros de qualidade óssea analisados. O uso de adsorvente glucano na dieta, na concentração de 2 kg/ton, não foi suficiente para reverter os efeitos das micotoxinas na postura e não afetou a qualidade óssea.
Palavras Chave: Adsorvente, Micotoxinas, Poedeiras, Resistência óssea.

Introdução
As micotoxinas na dieta representam um dos principais fatores que deprimem a produtividade das aves e também a qualidade dos seus produtos. Cerca de 25% dos grãos produzidos em todo mundo estão contaminados com micotoxinas (Mannon & Jonhson, 1985), sendo assim, o controle de seu impacto é fundamental para evitar perdas econômicas.
O grupo das micotoxinas com maior distribuição em todo mundo é o das aflatoxinas, produzidas pelos fungos Aspergillus flavus, A. parasiticus e A. nominus (Kurtzman et al., 1987), que se desenvolvem em clima quente e úmido. A toxicidade das aflatoxinas em aves de corte é caracterizada pela diminuição das concentrações sanguíneas de proteína total, albumina, colesterol, glicose, ácido úrico, fósforo inorgânico e cálcio e no aumento da atividade de enzimas indicativas de lesões hepáticas (Amer et al., 1998). A aflatoxina é também conhecida por interferir no metabolismo da vitamina D (vit D), contribuindo para redução na resistência dos ossos e fraqueza das pernas (Hamilton, 1984).
Estudos também têm demonstrado que as aflatoxinas afetam direta ou indiretamente o metabolismo do cálcio e do fósforo nas aves (Glahn et al., 1991), dois nutrientes inorgânicos importantes que representarem 95 % da matriz mineral óssea. O cálcio, o fósforo e a vit D são elementos intimamente associados no metabolismo animal, muitas vezes combinados entre si, principalmente, na formação óssea (Vargas et al., 2004).
Glahn et al. (1991) explicaram que os efeitos das aflatoxinas sobre o cálcio e fósforo podem estar relacionados com alterações no metabolismo da vit D e do paratormônio (PTH), pois esta micotoxina pode diminuir a síntese de PTH endógeno ou alterar a sensibilidade renal a este hormônio, podendo ainda, reduzir a síntese de 1,25-dihidroxi vit D, causando diminuição da excreção renal de fósforo e aumento na excreção de cálcio. A aflatoxina reduz a absorção intestinal de vit D e os danos causados ao fígado impedem sua conversão à forma ativa, o 25-hidroxicolecalciferol. Não está claro, no entanto, se as micotoxinas criam uma deficiência metabólica específica de vitamina D3 e de outros nutrientes ou se eles simplesmente afetam a ave, devido à redução no consumo de ração. Em rações contaminadas por micotoxinas, especialmente aquelas com presença de Fusarium, recomenda-se aumentar os níveis de vitamina D3.
As fumonisinas são citotóxicas e carginogênicas para os animais e sua principal atuação é na inibição da síntese dos esfingolipídios, importantes para integridade da membrana celular e transporte iônico celular (Santurio, 2000). Poedeiras são capazes de tolerar concentrações relativamente altas de FB1 por longos períodos de tempo, sem afetar a saúde e o desempenho desses animais (Kubena et al., 1999).
O presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito deletério da aflatoxina e fumonisina e sua associação sobre a qualidade óssea de poedeiras comerciais, bem como analisar a eficácia do adsorvente glucano em promover a redução e/ou eliminação total destes efeitos.
Material & Métodos
O experimento foi realizado na Câmara Bioclimática da FMVZ, UNESP - Campus de Botucatu. Foram utilizadas 168 fêmeas da linhagem Hisex Brown com 37 semanas de idade no início do experimento. Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3x2+1 (3 tratamentos com adição de micotoxina: com aflatoxina (AF), com fumonisina (FU) e com aflatoxina + fumonisina (AF+FU); tratamentos com e sem adsorvente (ADS); e ração controle sem adição de micotoxinas nem adsorvente), totalizando 7 tratamentos com 6 repetições cada. A unidade experimental foi constituída de uma gaiola com quatro aves e o experimento teve duração de 56 dias, compreendendo dois ciclos de 28 dias. A dosagem de intoxicação utilizada no experimento foi de 1ppm de aflatoxina e 25ppm de fumonisina e o adsorvente usado foi o glucano, derivado de parede celular de levedura, na dosagem de 2kg/tonelada de ração.
Os ovos foram coletados duas vezes ao dia para cálculo da porcentagem de postura. Para o estudo da qualidade óssea, foram abatidas seis aves por tratamento (uma por repetição), sendo retiradas as tíbias esquerdas dessas aves e congeladas para posterior análise. Os ossos se encontravam em estado natural, apenas descarnados manualmente para a análise de resistência que foi efetuada por meio de uma célula específica acoplada ao equipamento Texture Analyser TA. XT Plus, o qual mediu a força necessária para que ocorresse a quebra total dos ossos. Posteriormente à análise de resistência à quebra, os ossos foram calcinados em mufla a 800ºC por 3 horas para obtenção das cinzas ósseas. A quantificação de cálcio e fósforo nas amostras de ossos de poedeiras foi feita por espectrometria de absorção atômica e espectrofotometria UV-Visível após mineralização das amostras (Neves et al., 2009; Moraes et al.,2009).
Para a análise estatística dos dados foi utilizada a análise de variância pelo procedimento General Lineal Model (GLM) com auxílio do programa Statistical Analysis System (SAS, 2002) e quando o teste F foi significativo (p<0,05), as médias entre os tratamentos foram comparadas pelos testes de Tukey para comparação das médias entre os tratamentos e Dunnett para comparar as médias dos tratamentos com o grupo controle.
Resultados & Discussão
Os valores médios de porcentagem de postura, porcentagem de cinzas, matéria seca, concentração de fósforo e cálcio e resistência a quebra dos ossos de poedeiras comerciais estão apresentados na Tabela 1. Não foram observados efeitos (p>0,05) das micotoxinas e do adsorvente sobre porcentagem de cinzas e resistência a quebra. Aves dos tratamentos com AF apresentaram menores porcentagens (p = 0,0594) de postura e estes resultados estão de acordo com Oliveira et al. (2002), para concentrações de 100, 300 e 500 μg/kg de AF e com Iqbal et al. (1983), para concentrações de 100 a 500 mg/kg de AFB1.
Tabela 1. Porcentagem de postura e características de qualidade óssea de poedeiras comerciais nos diferentes tratamentos.
 
 
 
MICOTOXINA
 
VALORES DE P
 
TRAT¹
CONT
ADS
AF
FU
AF+FU
Média
ADS
MICO
INT
CONT
CV (%)
Postura (%)
94,79
Sem
76,72
86,76
77,38
80,29
0,5828
0,0594
0,5793
0,0430
14,77
Com
83,93
90,77
73,51*
82,74
Média
80,33 ab
88,77 a
75,45 b
 
Cinzas (%)
41,75
Sem
43,82
42,21
45,43
43,82
0,2805
0,1223
0,9415
0,3054
8,12
Com
43,07
40,78
43,70
42,44
Média
43,44
41,50
44,64
 
MS (%)
60,91
Sem
64,93
64,03
61,88 B
63,61
0,3067
0,9830
0,0465
0,0583
4,65
Com
63,38
64,00
66,61 A
64,55
Média
64,16
64,02
64,03
 
P (mg/L)
0,159
Sem
0,177
0,210 B
0,166
0,184
0,6549
0,7713
0,0283
0,0708
16,94
Com
0,184
0,164 A
0,190
0,179
Média
0,181
0,187
0,177
 
Ca (mg/L)
3,37
Sem
3,44
3,90
3,88
3,74
0,9845
0,0351
0,1355
0,0844
11,72
Com
3,64
4,13
3,43
3,76
Média
3,54 b
4,02 a
3,67 ab
 
Resistência a quebra (kgf/mm)
9,12
Sem
11,22
10,16
10,12
10,50
0,2678
0,2362
0,0630
0,0837
20,79
Com
10,16
10,35
13,59
11,24
Média
10,69
10,26
11,70
 
¹Tratamentos: CONT: controle, AF: tratamento com aflatoxina, FU: tratamento com fumonisina, AF+FU: tratamento com aflatoxina mais fumonisina, ADS: adsorvente, MICO: micotoxina, INT: interação.
* Diferem do tratamento controle pelo teste de Dunnett (P<0,05);
a, b Médias na linha seguidas de letras minúsculas diferentes, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05);
A, B Médias na coluna seguidas de letras maiúsculas diferentes, diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).
Houve interação (p<0,05) entre inclusão de micotoxinas e adsorvente para porcentagem de matéria seca (MS), sendo que o tratamento com AF+FU com ADS apresentou maior porcentagem (66,61%) que o mesmo tratamento sem ADS (61,88%). A porcentagem de postura reduzida observada neste ultimo tratamento (73,51%) mobilizou menos tecido ósseo, o que pode explicar esta maior porcentagem de MS na tíbia. De fato, estudos mostram que a mobilização óssea está relacionada com a produção de ovos (Whitehead, 2004). Houve interação (p<0,05) também para a concentração de fósforo no tratamento com FU, que apresentou maior valor (0,210 mg/L) na ausência do ADS. A concentração de cálcio na tíbia diferiu entre as micotoxinas, sendo que as aves do tratamento com FU apresentaram maiores concentrações (4,016 mg/L) que as do tratamento com AF (3,54 mg/L).
Sabe-se que a AF afeta o fígado e os rins, órgãos envolvidos na biossíntese da vit. D ativa (Hamilton, 1984), que é responsável em transferir o cálcio e o fósforo da dieta para a corrente sanguínea. Com o efeito tóxico da AF e, conseqüente, redução na vit D ativa ocorre diminuição na absorção intestinal de cálcio e na deposição de cálcio no osso. Sendo assim, houve maior mobilização do cálcio ósseo para a formação da casca do ovo, o que pode explicar o menor teor de cálcio ósseo no tratamento com AF.
A fumonisina parece não ter efeito sobre a síntese de vit D ativa e, neste estudo, a absorção intestinal de cálcio e fósforo oriundos da dieta garantiram as necessidades para formação da casca, permitindo maior concentração de cálcio e fósforo nos ossos das aves tratadas com FU (sem ADS). Com o uso de adsorvente houve tendência de maior postura, que pode estar associada à maior demanda de cálcio e fósforo para o ovo. No entanto, a baixa concentração de FU utilizada neste estudo pode não ter possibilitado maiores efeitos dessa micotoxina.
Conclusão
As alterações observadas na porcentagem de postura são indicativas da toxicidade da aflatoxina na concentração de 1ppm. As micotoxinas, separadamente ou em associação, não influenciaram a qualidade óssea. O uso de adsorvente glucano na dieta, na concentração de 2 kg/ton, não foi suficiente para reverter os efeitos das micotoxinas na postura e não afetou a qualidade óssea.
Bibliografia
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Whitehead CC. 2004. Overview of Bone Biology in the Egg-Laying Hen. Poultry Science 83:193-199.
 
 
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Autores:
José Roberto Sartori
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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