No mês de Abril de 2018, tive o privilégio de percorrer quatro países da América Latina junto com nosso diretor técnico de pesquisa e desenvolvimento Mike Bedford na Jornada Técnica LAM da AB Vista.
Nesta oportunidade, tivemos contato com os principais produtores de aves e suínos do Brasil, Argentina, Chile e Colômbia, onde abordamos nas reuniões o uso de enzimas como ferramentas para melhorar a competitividade (eficiência alimentar) e na modulação de flora intestinal (nutrologia).
Um dos principais temas que nos chamou a atenção, refere-se ao período de grande pressão nos custos das matérias primas que vivemos em nosso continente. Para se ter uma ideia, apenas para falarmos sobre o preço do milho, de acordo com o portal do Canal Rural o valor deste cereal variou 17% em 2 meses no Brasil, e ainda deve subir mais. De acordo com esta a fonte, a preocupação com o clima na Argentina, as especulações sobre o relatório de oferta e demanda que será divulgado pelo Departamento da Agricultura Norte Americano, bem como a retenção de estoques pelos Cerealistas e Cooperativas no Brasil, estão demandando forte pressão sobre estes preços. Esta pressão também refletiu no mercado de farelo de soja, onde os valores médios brasileiros oscilaram, no mesmo período, de R$ 50,00 a 120,00/ tonelada, dependendo da região.
Estas variações nos custos de matérias primas, nos coloca sempre em constante desafio frente a uma busca por oportunidades de melhoria no aproveitamento dos nutrientes naturalmente presentes na dieta. Uma excelente ferramenta que devemos considerar refere-se ao uso de enzimas digestivas, em especial com estratégias que aliam o uso de produtos de elevada performance, como por exemplo as enzimas digestivas de alta atratividade para seu substrato.
Dentre estas, a fitase é provavelmente uma das enzimas exógenas mais estudadas e exploradas na nutrição de monogástricos. Seu efeito no desempenho, retenção e disponibilidade de muitos nutrientes, incluindo os macro-elementos e oligoelementos, tem sido documentado em muitos estudos em diferentes espécies animais. De acordo com Pirgozliev et al. (2017) a incorporação da fitase na matriz de dietas de aves de corte leva a mudanças significativas na utilização de fontes de cálcio (Ca) e fósforo (P) na dieta. Através do P, liberado pelo fitato, a fitase reduz a quantidade de fosfato inorgânico e cálcio necessários nos alimentos para animais, que na maioria dos casos é fornecida sob a forma de farinha de carne e ossos, fosfatos mono ou dicálcico e calcário calcítico; ou seja, trabalhar com uma fitase de alto padrão de atratividade pelo seu substrato propicia uma liberação ainda maior de P e Ca no mesmo período da janela de ação.
Este fator deve ser considerado pelos nutricionais como uma real ferramenta de redução de custos de formulação, pois além dos custos de concentrados energéticos e protéicos descritos acima, os países latino-americanos ainda sofrem com custos elevados de macro-minerais. No Gráfico 01, encontra-se apresentado um material desenvolvido pelo Departamento Técnico da AB Vista LAM com os custos do fósforo em cinco mercados de nosso continente, onde podemos observar que existem países com custo de fontes de fósforo até cinco vezes mais elevados do que aqueles observados no Brasil.
Gráfico 01. Custos do fósforo em cinco mercados latino-americanos, onde: Série 1 = refere-se a porcentagem de aumento no custo de formulação (em U$/ton) para cada 0,05% de elevação nos níveis de fósforo disponível das dietas de frangos de corte na fase de crescimento 1; Série 2 = Comparação dos valores da Série 1 entre os países, levando-se em consideração uma base 100 para o custo de formulação do fósforo disponível das dietas brasileiras.
Ptak et al. (2015) realizaram uma investigação relacionando o uso de fitase com a performance de frangos de corte de 1 até 42 dias de idade, além de melhorias no aspecto de modulação de flora intestinal de frangos de corte. Estes autores trabalharam com 4 tratamentos, distribuídos em um arranjo fatorial 2 (dieta normal –Controle Positivo x redução de aproximadamente 0,13% do conteúdo total de P Disponível da dieta – Controle Negativo) x 2 (níveis de fitase: 0 x 5000 FTU/kg).
Os autores concluíram que a adição de fitase elevou em 83 g o peso final ao abate (P<0,05), o que impactou em uma redução de conversão alimentar de cinco pontos (P<0,05). O uso desta estratégia em um sistema de formulação de Matriz Mineral + AAs + Energia para 750 FTU/kg, resultaria em uma redução de custos de formulação de U$ 2,00/ton, no mínimo; ainda sim com melhoria de performance zootécnica.
Um dos grandes responsáveis por esta ação, de acordo com os autores, está relacionado com a melhoria da modulação de flora intestinal, onde o uso da fitase resultou em um aumento significativo de Lactobacillus sp. (P<0,05), gênero bacteriano normalmente associados ao desenvolvimento de uma correta modulação de flora intestinal. Esta alteração deve-se, em parte, a uma maior multiplicação de bactérias que incrementam a produção de ácidos graxos de cadeia curta, que realmente foi superior em especial para o grupo Controle Negativo com Fitase.
Alterações no microbioma observadas neste trabalho como resultado de um uso de fitase refere-se a uma visão nova. Porém deve ser notado que, embora as alterações tenham sido significativas, as escalas das mudanças não foram extraordinárias. Mas o fato de pensarmos a fitase não apenas como uma potencial estratégia de redução de Ca e P, mas sim como uma estratégia integrada de mudanças na modulação do microbioma, aproveitamento energético e aminoacídico na dieta de aves com impactos fortes no custo de formulação e na performance zootécnica dos animais é algo que deve ser considerado na elaboração de uma matriz nutricional cada vez mais associada a uma estrutura de custos moderna.
Parte Integrante da Coluna Mensal da Gessulli (veja mais na Revista):
AVICULTURA INDUSTRIAL