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Exigências nutricionais de treonina e triptofano para codornas japonesas e galinhas poedeiras leves em postura (Capítulo IV)

Publicado: 2 de fevereiro de 2010
Por: Matheus Ramalho de Lima (Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba, do qual participa a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do título de Doutor em Zootecnia- Área de concentração: Nutrição Animal).
Sumário

Este estudo teve como objetivo determinar a exigência de treonina digestível para poedeiras leves alimentadas com rações com níveis crescentes de treonina sob relação variável e constante. Foram desenvolvidos dois experimentos seqüenciais, o primeiro com rações que continham níveis crescentes de treonina digestível, alterando-se a relação treonina digestível: lisina digestível e, com base nos resultados, realizou-se um segundo experimento, com o objetivo de avaliar a exigência de treonina digestível com relação aminoácidos: lisina constante. No primeiro experimento, as rações, isoprotéicas e isocalóricas, foram formuladas à base de milho e farelo de soja, suplementadas com os aminoácidos industriais L-Lisina, DL-Metionina, L-Triptofano, L-Isoleucina e L-Valina de forma a atender as exigências nutricionais para poedeiras leves em postura, exceto para treonina digestível. Os níveis avaliados foram 0,446; 0,486; 0,526; 0,565; 0,605 e 0,645% de treonina digestível. No segundo experimento, os tratamentos consistiram em uma ração formulada à base de milho e farelo de soja, suplementada com os aminoácidos L-Lisina, DL-Metionina, L-Triptofano, L-Arginina, L-Isoleucina e L-Valina de forma a atender as exigências nutricionais para poedeiras leves em postura. As relações aminoácidos: lisina digestível foram 91, 23, 90, 83 e 75%, para metionina+cistina, triptofano, valina, isoleucina e treonina digestíveis, respectivamente. foram avaliados dados de desempenho, qualidade dos ovos produzidos. Com base nesses dados, determinou-se que a exigência de treonina digestível para poedeiras leves é de 0,597 e 0,610% ou 684 e 626 mg/ave/dia,com relação crescente e constante em 75%, respectivamente.

Palavras- chave: aminoácido, desempenho, qualidade de ovo.

 

INTRODUÇÃO
A treonina é um aminoácido essencial, sendo encontrado em altas concentrações no coração, nos músculos, no esqueleto e no sistema nervoso central. É exigido para formação da proteína e manutenção do turnover protéico corporal, além de auxiliar na formação do colágeno (Sá et al., 2007). A treonina está envolvida em outras funções fisiológicas, como a digestão e a imunidade (Bisinoto et al., 2007). O muco, secreção produzida pelo trato gastrintestinal, é composto principalmente de água (95%) e mucinas (5%), que são glicoproteínas de alto peso molecular, especialmente rica em treonina. Estima-se que mais da metade da treonina consumida seja utilizada em nível intestinal para as funções de mantença, sendo primariamente utilizada na síntese de mucina. O tipo e quantidade de mucina produzida no trato gastrintestinal influenciam as comunidades microbianas (por servir de substrato para a fermentação bacteriana e para fixação), a disponibilidade de nutrientes (via perda endógena de mucina, bem como pela absorção de nutrientes) e função imune (via controle da população microbiana e disponibilidade de nutrientes) (Corzo et al., 2007).
A formulação de rações com níveis inadequados em aminoácidos digestíveis pode promover diversos prejuízos no que concerne à produção efetiva dessas aves, bem como fatores econômicos e ambientais. Muito se tem buscado a relação ideal entre os nutrientes das rações de aves, mas a variação na qualidade dos alimentos, linhagens e especificidades de criação dessas aves, faz com que as recomendações precisem sempre de renovação.
Assim, este estudo teve como objetivo determinar a exigência de treonina digestível para poedeiras leves alimentadas com rações com níveis crescentes de treonina sob relação variável e constante.
 
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Módulo de Pesquisas com Aves do CCA/UFPB, Areia/PB. A cidade de Areia está inserida na microrregião do Brejo Paraibano (6º 58' 12'' de latitude Sul e 35º 42' 15'' de longitude Oeste), com altitude média de 619 m (GONDIM e FERNANDES, 1980). De acordo com a classificação de Köppen, o clima é tropical semi-úmido do tipo As', isto é, clima quente e úmido que se caracteriza por apresentar estação chuvosa no período outono-inverno, com precipitação pluviométrica média anual girando em torno de 1500 mm, temperatura média anual entre 22-30ºC e umidade relativa do ar elevada (75-87%). Segundo a classificação bioclimática de Gäussen, nesta região predomina o bioclima 3 dth (nordestino sub-seco), com período seco variando de um a três meses no ano (BRASIL, 1972).
Foram desenvolvidos dois experimentos seqüenciais, o primeiro com rações que continham níveis crescentes de treonina digestível, alterando-se a relação treonina digestível: lisina digestível e, com base nos resultados, realizou-se um segundo experimento, com o objetivo de avaliar a exigência de treonina digestível com relação aminoácidos: lisina constante.
Experimento 1 – Níveis crescentes de treonina digestível, relação variável
Foram utilizadas 288 poedeiras leves da linhagem Dekalb White com 29 semanas de idade, distribuídas em um delineamento experimental inteiramente casualizado, com 6 tratamentos, 12 repetições e 4 aves por unidade experimental. O experimento foi dividido em 5 fases de 28 dias cada, totalizando 140 dias de avaliação.
As rações (Tabela 26), isoprotéicas e isocalóricas, consistiram de uma ração à base de milho e farelo de soja, suplementadas com os aminoácidos industriais L-Lisina, DL-Metionina, L-Triptofano, L-Isoleucina e L-Valina de forma a atender as exigências nutricionais para poedeiras leves em postura, exceto para treonina digestível. Os níveis avaliados foram 0,446; 0,486; 0,526; 0,565; 0,605 e 0,645% de treonina digestível. A proteína bruta foi reduzida para provocar a deficiência de treonina e as relações aminoácidos: lisina atenderam a recomendação de Rostagno et al. (2005), exceto para arginina, que ficou superior.
 
Tabela 26. Composição percentual e nutricional das rações experimentais.
Exigências nutricionais de treonina e triptofano para codornas japonesas e galinhas poedeiras leves em postura (Capítulo IV) - Image 1
 
Experimento 2 – Níveis crescentes de treonina digestível, relação constante
Foram utilizadas 240 poedeiras leves da linhagem Dekalb White com 29 semanas de idade, distribuídas em um delineamento experimental inteiramente casualizado, com 5 tratamentos, 12 repetições e 4 aves por unidade experimental. O experimento foi dividido em 5 fases de 28 dias cada, totalizando 140 dias de avaliação.
Os tratamentos consistiram em uma ração formulada à base de milho e farelo de soja, suplementada com os aminoácidos industriais L-Lisina, DL-Metionina, L-Triptofano, L-Arginina, L-Isoleucina e L-Valina de forma a atender as exigências nutricionais para poedeiras leves em postura. As rações tinham a mesma relação aminoácidos: lisina de acordo com as recomendações sugeridas por Rostagno et al. (2005), exceto a treonina digestível: lisina digestível que foi mantida constante em 75%. As relações aminoácidos: lisina digestível foram 91, 23, 90, 83 e 75%, para metionina+cistina, triptofano, valina, isoleucina e treonina digestíveis, respectivamente, conforme apresentadas na Tabela 27.
 
Tabela 27. Composição percentual e nutricional das rações experimentais.
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Variáveis avaliadas
As variáveis avaliadas foram: consumo de ração (g/ave/dia), produção (%), peso (g), massa de ovo (g/ave/dia), conversão por massa (kg/kg) e por dúzia de ovo (kg/dz), peso (g) e porcentagem (%) de gema, de albúmen e de casca, espessura da casca (mm), unidade Haugh, gravidade específica.
O período de avaliação da produção de ovos foi dividido em cinco períodos de 28 dias cada. Ao final de cada período foram coletadas as sobras das rações de cada parcela para o cálculo do consumo de ração. A coleta dos ovos foi realizada duas vezes ao dia (10:00 e 16:00 h), sendo anotados em ficha de freqüência de postura e a mortalidade. A produção dos ovos em porcentagem foi calculada dividindo-se a quantidade de ovos totalizados por parcela pelo número de aves, corrigindo pela mortalidade, quando havia. Os ovos dos últimos três dias de cada período foram pesados individualmente para a obtenção do peso médio dos ovos. Os cálculos da massa de ovo foram realizados pelo produto da produção de ovos e do peso médio dos ovos por parcela. A conversão alimentar por massa de ovo foi calculada através da relação entre o consumo de ração e massa de ovo produzida. A conversão por dúzia de ovos foi calculada pela relação entre o consumo de ração dividida pela produção, sendo esse resultado multiplicado por doze.
Ao final de cada período, foram selecionados quatro ovos por parcela para determinação do peso e porcentagem de gema, de albúmen e de casca, após separação manual destes componentes, onde as cascas foram colocadas em estufa a 105°C por quatro horas. A porcentagem de cada um dos componentes do ovo foi obtida dividindose o peso do componente pelo peso do ovo, em seguida multiplicando o resultado por 100. A espessura da casca foi medida com o auxílio de um micrômetro digital com precisão de 0,1 mm em três pontos na linha mediana do ovo, com os quais foi calculada a média aritmética.
A cada final de período experimental foram selecionadas amostras representativas de dois ovos por parcela onde foram feitas imersões dos ovos em diferentes soluções salinas com os devidos ajustes para um volume de 25 litros de água com densidades que variavam de 1,060 a 1,100 com intervalo de 0,0025 g/cm3. Os ovos eram colocados nos baldes com as soluções, da menor para a maior densidade e eram retirados ao flutuarem, sendo anotados os valores respectivos das densidades correspondentes às soluções dos recipientes. Antes de cada avaliação, as densidades eram conferidas com densímetro de petróleo.
Nas análises histológicas, a coleta do material foi realizada através de fragmentos do sistema digestório (duodeno e fígado) e reprodutor (magno e útero) de 10 animais por tratamento. Os fragmentos foram imersos em fixador metacarn (60% metanol, 30% clorofórmio e 10% ácido acético) por 12 horas, sendo transferidos para álcool 70% em seguida.
Para a microscopia óptica foi feita a inclusão dos fragmentos em paraplast. Foram realizados cortes seriados dos fragmentos com 5 μm de espessura. As seguintes colorações histológicas foram realizadas para a descrição histológica: hematoxilina e eosina, periodic acid Schiff (PAS) e tricômio de Masson. As fotomicrografias foram capturadas com o auxílio de microcâmera acoplada ao microscópio Olympus BX-51 e as imagens digitalizadas no software KS 400.3 (Zeiss).
Os resultados foram submetidos as analises de variância e regressão utilizando-se o programa SAEG (Universidade Federal de Viçosa, 2000).
 
RESULTADOS
Experimento 1 – Níveis crescentes de treonina digestível, relação variável
Para as variáveis de desempenho, verificou-se que apenas o consumo de ração e a conversão em dúzia de ovos não foram influenciados (P>0,05) pelos tratamentos, contudo as demais variáveis sofreram modificações neste sentido, possibilitando verificar resultados em que podemos confirmar a importância da treonina digestível no desempenho das poedeiras leves em postura, pois as principais variáveis relacionadas à essas aves, no que concerne ao desempenho zootécnico, foram influenciadas estatisticamente, como a produção, peso, massa e conversão em massa de ovos. Assim, os resultados experimentais, que conferem à parte do desempenho zootécnico, apresentam-se na Tabela 28.
 
Tabela 28. Consumo de ração (CR, g/ave/dia), produção (PR, %/ave/dia), peso (PO, g/ovo), massa (MO, g/ave/dia), conversão em massa (CMO, kg/kg) e em dúzia (CDZ, kg/12) de ovos em função das relações treonina: lisina digestíveis.
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A produção diária de ovos foi influenciada (P<0,05) pelos níveis de treonina em relação à lisina. Tendo um comportamento quadrático, a produção melhorou até a relação 76 (0,605%) e, de acordo com a regressão, a relação ótima determinada foi de 75,43%, o que corresponde a um nível de 0,600% de treonina digestível. Para o peso, massa e conversão em massa de ovos, o comportamento foi semelhante ao da produção, onde as suas equações, apresentadas na Tabela 29, após as derivações, determinaram as melhores relações de 72,73, 73,70 e 72,80% de treonina digestível: lisina digestível ou 0,579, 0,586 e 0,5795% de treonina digestível, respectivamente.
 
Tabela 29. Equações polinomiais das variáveis influenciadas estatisticamente pelas relações treonina: lisina digestíveis.
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Conforme observado na Tabela 30, a variação nas relações treonina digestível: lisina digestível não resultou em nenhum efeito de regressão (P >0,05) em relação às variáveis relacionadas com a qualidade dos ovos.
 
Tabela 30. Gravidade específica (GE, g/cm3), unidades Haugh (UH), pesos relativos do albúmen (PAlbúmen, %), casca (PCasca, %) e gema (PGema, %) e espessura de casca (ESP, mm) de ovos em função das relações treonina: lisina digestíveis.
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Experimento 2 – Níveis crescentes de treonina digestível, relação constante
Com uma ração contendo níveis crescentes em todos os aminoácidos, mas com a relação em função da lisina sempre constante, os efeitos foram similares aos observados no experimento anterior. A produção, o peso, a massa, a conversão em massa e a conversão em dúzia de ovos foram significativamente influenciadas de forma quadrática pelos tratamentos (Tabela 31).
 
Tabela 31. Consumo de ração (CR, g/ave/dia), produção (PR, %/ave/dia), peso (PO, g/ovo), massa (MO, g/ave/dia), conversão em massa (CMO, kg/kg) e em dúzia (CDZ, kg/12) de ovos em função dos níveis de treonina digestível.
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Na Tabela 32, observa-se os polinômios oriundos das análises estatísticas das variáveis apresentadas na Tabela 31.
 
Tabela 32. Equações polinomiais das variáveis influenciadas pelos níveis de treonina digestível.
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A qualidade interna e externa dos ovos não foi influenciada (Tabela 33) pelos tratamentos avaliados, exceto a percentagem de gema, que teve um comportamento quadrático.
 
Tabela 33. Gravidade específica (GE, g/cm3), unidades Haugh (UH), pesos relativos do albúmen (PAlbúmen, %), casca (PCasca, %) e gema (PGema, %) e espessura de casca (ESP, mm) de ovos em função dos níveis de treonina digestível.
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Na Tabela 34, encontra-se a equação polinomial para a percentagem de gema dos ovos das poedeiras leves.
 
Tabela 34. Equações polinomiais das variáveis influenciadas estatisticamente pelos níveis de treonina digestível.
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Os pesos das poedeiras dos diferentes tratamentos com concentrações crescentes de treonina com relação treonina: lisina constante foram não significantes, apesar do peso do grupo com 0,642% ser menor (Figura 1).
 
Figura 1- Peso vivo de poedeiras leves sobre tratamentos com concentrações crescentes de treonina e relação constante com lisina.
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O intestino das poedeiras sob tratamento com 0,642% apresentaram maiores vilosidades, juntamente com o tratamento com 0,687% (Figura 2A, B, C). Além disso, as vilosidades do tratamento com 0,642% de treonina apresentaram células caliciformes em maior número e com maior grau de atividade (Figura 2D, E, F). O tratamento com 0,687% de treonina apresentou vilosidades com maior quantidade de lâmina própria em seu interior (região na qual se encontram os vasos sanguíneos) (Figura 3).
 
Figura 2- Fotomicrografias de intestino de poedeiras tratadas com concentrações crescentes de treonina, sendo a relação com lisina constante. A e D) Intestino representativo de tratamentos com 0,507, 0,552 e 0,597% de treonina na ração. B e E) Intestino representativo de tratamentos com 0,642% de treonina na ração. C e F) Intestino representativo de tratamentos com 0,687% de treonina na ração. Observar que as vilosidades intestinais no tratamento com 0,642% de treonina são maiores (traços verticais vermelho) e possuem células caliciformes (pontas de seta) em maior número e mais ativas que nos demais tratamentos. A, B, C) Coloração de hematoxilina-eosina. Bar: 100μm. D, E, F) Coloração de periodic acid Schiff. Bar: 400 μm.
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Figura 3- Fotomicrografias de intestino de poedeiras tratadas com rações com concentrações crescente de treonina, sendo a relação com lisina constante. A) Intestino do tratamento 0,507%. B) Intestino do tratamento com 0,687%. Observar que a lâmina própria (traços verticais) das vilosidades intestinais das poedeiras do tratamento com 0,687% é mais espessa. Coloração de tricômio de Masson. Bar: 400μm.
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O fígado dos animais do tratamento com 0,687% foram os únicos a apresentarem esteatose (gotículas citoplasmáticas de lipídio) (Figura 4C). Esse tratamento proporcionou maior depósito de colágeno ao redor dos vasos sanguíneos hepáticos (Figura 4F). Já o fígado dos animais do tratamento com 0,642% de treonina apresentaram maior depósito de glicogênio (marcado pela coloração de periodic acid Schiff) (Figura 4H).
 
Figura 4- Fotomicrografias de fígado de poedeiras tratadas com rações com concentrações crescentes de treonina, sendo a relação com lisina constante. A, D e G) Fígados representativos dos tratamentos com 0,507, 0,552 e 0,597% de treonina. B, E e H) Fígados de animais do tratamento com 0,642% de treonina. C, F e I) Fígados de animais do tratamento com 0,687% de treonina. Observar depósitos citoplasmáticos lipídicos (pontas de seta) no fígado dos animais do tratamento com 0,687% de treonina, assim como maior depósito de colágeno nos vasos sanguíneos hepáticos (setas). Observar também que os animais do tratamento com 0,642% de treonina apresenta maior depósito de glicogênio hepático ("H") que os demais grupos. A, B, C) Coloração de hematoxilina-eosina. C, D, E) Coloração de tricômio de Masson. F, G, H) Coloração de periodic acid Schiff. A, B, C, G, H, I) Bar: 200μm. D, E, F) Bar: 300μm.
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Em relação ao magno, os animais do tratamento com 0,687% de treonina apresentaram maior quantidade de dobras secundárias em comparação aos demais tratamentos do estudo (Figura 5B). Já do magno dos animais do tratamento com 0,507% de treonina apresentaram apenas dobras primárias (Figura 5A).
 
Figura 5- Fotomicrografias do magno de poedeiras leves nutridas com ração com diferentes porcentagens de treonina mantendo a relação entre lisina constante. A) Magno do tratamento com 0,507% de treonina. B) Magno do tratamento com 0,687% de treonina. Observar que quanto do aumento da porcentagem da treonina na ração há o aumento das dobras secundárias (setas) do magno. Coloração de periodic acid Schiff. Bar: 1mm.
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DISCUSSÃO
Avaliando as influências possíveis sobre a necessidade nutricional de treonina nas aves, Samad et al. (2006) perceberam que o genótipo, o sexo, a idade e a eficiência de utilização da treonina dietética possibilitam uma variação nas recomendações deste aminoácido, exceto quando a variável utilizada para tal recomendação é a deposição protéica que, segundo os autores, não é capaz de modificar a necessidade dietética de treonina. De acordo com as afirmações dos autores, é notável a reavaliação constante das recomendações nutricionais das galinhas poedeiras em função das características citadas como capazes de modificar as necessidades nutricionais. A avaliação é viável tendo em vista a disponibilidade de linhagens de galinhas poedeiras a ciclos cada vez mais curtos no mercado.
Neste sentido, Faria et al (2002), avaliando a recomendação nutricional de treonina para poedeiras leves alimentadas com dietas à base de milho e farelo de soja, utilizaram oito tratamentos com níveis decrescentes de treonina e dos demais aminoácidos. Na ração 1 (Controle Positivo) o nível de treonina foi de 0,530%, já na ração 2 havia 0,50% de treonina. A ração 3 tinha 0,480% de treonina e os demais aminoácidos com níveis 90% da ração 2. Para as dietas subseqüentes, os valores foram 0,45; 0,42; 0,40; 0,37 e 0,35% de treonina, com os aminoácidos com níveis de 85, 80, 75, 70 e 65% da ração 2, respectivamente. Após análises dos resultados, os autores verificaram que a produção, o peso e a massa de ovos foram significativamente maiores quando as aves consumiam níveis mais elevados de treonina. Além disso, as aves que se alimentaram com níveis menores que 0,40% de treonina na dieta tiveram uma perda de peso, sendo a maior perda na dieta com 0,35% de treonina. Os resultados apresentados pelos autores confirmam-se no que foi apresentado nos experimentos 1 e 2, pois com o aumento dos níveis de treonina no primeiro e no segundo experimento, o desempenho foi melhorado, especialmente nas variáveis citadas pelos autores supracitados.
Sá et al. (2007) observaram efeito quadrático para a produção e massa de ovos, estimando uma exigência de 0,499, 0,501% de treonina digestível com 0,706% de lisina digestível. Na pesquisa aqui apresentada, os efeitos significativos foram os mesmos, mas as determinações das exigências nutricionais foram diferenciadas, pois os melhores resultados para a produção e massa de ovos foram observados com 0,600 e 0,586% de treonina digestível, correspondendo a uma relação de 75,43 e 73,70% da treonina com a lisina. Os efeitos similares, mas recomendações podem ser explicadas por um efeito de extrema importância e que muitas vezes é deixado de lado, a linhagem das aves avaliadas. Sá et al. (2007) avaliaram aves Lohmman, enquanto no presente foram aves Dekalb.
Com base em níveis crescentes de treonina digestível nas rações, os resultados do desse trabalho mostram que as características de qualidade de ovos avaliadas não foram influenciadas pelas relações treonina digestível: lisina digestível. Da mesma forma, Valério et al. (2000), quando utilizaram níveis crescentes de treonina na ração, não constataram melhora da unidade Haugh dos ovos. No entanto, Sá et al. (2007) observaram efeito quadrático com o aumento da treonina digestível na ração para unidades Haugh, sugerindo o nível dietético de 0,478% de treonina digestível para poedeiras leves com 34 a 50 semanas de idade.
Da mesma forma que Sá et al (2007), Teixeira et al. (2005) relataram que a treonina digestível influencia a qualidade dos ovos, pois a gravidade específica da casca dos ovos foi significativamente melhorada quando as aves foram alimentadas com rações contendo níveis mais elevados de treonina digestível e recomendaram 0,530% de treonina digestível para poedeiras leves. Em nosso estudo, não foi observado efeito significativo sobre a gravidade específica.
Os resultados obtidos nesse estudo corroboram com a recomendação feita por Gomez & Angels. (2009) quando concluíram uma pesquisa com poedeiras em segundo ciclo de postura com diferentes níveis de treonina digestível e metionina digestível, recomendando uma relação ótima de 74% de treonina digestível: lisina digestível. Já Cupertino et al (2010), avaliando a exigência de treonina digestível para poedeiras leves e semipesadas durante o segundo ciclo de postura alimentadas com dietas isoprotéicas e isoenergéticas, concluíram que dietas com 0,446 e 0,465% de treonina digestível, equivalente a uma relação treonina digestível: lisina digestível de 68 e 71 para poedeiras leves e semipesadas, respectivamente, levam ao máximo desempenho dessas aves.
Em outra pesquisa avaliando os níveis de treonina na ração de poedeiras, mas com aves em segundo ciclo de postura, Shmidt et al (2010), utilizando níveis crescentes de treonina digestível nas rações, obedecendo às relações de 58, 63, 68, 73 e 78% com a lisina digestível, quando essa esteve fixada em 0,653%, recomendaram níveis de 0,460% de treonina digestível, equivalente a uma relação treonina digestível: lisina digestível de 70% para as aves obterem os melhores níveis de produção de ovos. Outras determinações foram obtidas, tais como a de 0,432, 0,451, 0,467, 0,452 e 0,436% de treonina digestível, o que equivale a relações de 66, 69, 72, 69 e 67, para o peso, massa, conversão em dúzia e em massa de ovos e ainda sobre a Unidade Haugh, respectivamente. Assim, os autores concluíram que o melhor nível de treonina digestível para poedeiras em segundo ciclo de postura é de 0,467%, o que é equivalente a uma relação de 72% com a lisina digestível.
Com base nos resultados apresentados nesse estudo e correlacionados com outros publicados na literatura nacional e internacional, a suplementação de L-Treonina demonstra ser eficiente sobre o desempenho das poedeiras leves, demonstrando resultados conclusivos e similares quando se leva em consideração as variáveis de produção. Contudo, o mesmo não se observa com as variáveis que avaliam a qualidade dos ovos. Possivelmente, divergências nas metodologias aplicadas ou simplesmente falta de efeito significativo sobre estas características podem responder a esse efeito.
A metodologia empregada em nosso estudo demonstra que a avaliação das exigências nutricionais com base apenas no nível do aminoácido não é recomendada, nem tampouco, levando-se em consideração apenas a relação aminoácido: lisina, pois o nível do aminoácido depende do relacionamento entre os demais e não só com a lisina. Assim, não basta formular rações com base em relações aminoácidos: lisina, mas o nível de cada aminoácido é primordial ao atendimento inicial dos requerimentos nutricionais das aves.
O peso das aves não diferiu entre os tratamentos, entretanto, o peso dos animais do grupo com 0,642% de treonina tende a ser menor, o que pode indicar uma destinação maior de energia para a produção de ovos ao invés de ganho de peso. O fígado dos animais desse tratamento também foi mais positivos à coloração de periodic acid Schiff, coloração que cora glicoproteínas (de rosa), dentre elas o glicogênio (fonte de energia). Esse resultado indicaria que esses animais produzem mais glicogênio o que seria positivo no ponto de vista produtivo. Uma vez que esses animais não são mais pesados que os demais, é de se esperar que eles destinem essa fonte de energia para outra localidade, como o sistema reprodutor (produção de ovos), corroborando assim com os achados zootécnicos.
Outro resultado histológico encontrado no fígado dos animais com maior porcentagem de treonina na ração, mais especificamente no tratamento com 0,687%, é a presença de vacúolos citoplasmáticos de lipídios nos hepatócitos dos fígados dos animais desse tratamento, denotando esteatose não severa. Tal patologia, não oferece risco à saúde do animal e pode ser causada pela maior síntese de estrogênio no ovário para dar suporte à maior produção de ovos (Bunchasak & Silapasorn, 2005), o que vai de encontro com nossos resultados. Lima et al. (2011) em estudo com codornas, também observou a presença de esteatose quando do aumento da porcentagem de treonina na ração. O aumento da treonina da dieta também levou a um aumento da deposição de colágeno ao redor dos vasos sanguíneos hepáticos, entretanto, não houve depósito parenquimal o que denotaria processo fibrótico resultante de processos contínuos de regeneração hepatocitária, com morte celular (Fausto et al., 2003). Já em codornas, tal depósito de colágeno parenquimal foi observado quando do aumento da treonina na ração (Lima et al., 2011).
A maior produção pelos animais com maiores porcentagens de treonina na ração, encontrada nas análises zootécnicas, também pode ser explicado pelo maior comprimento das vilosidades intestinais, principalmente nos animais do tratamento com 0,642% de treonina. O aumento do comprimento das vilosidades permite que se tenha maior área de contato com o alimento ingerido e consequentemente maior área de absorção. Esse re-arranjamento da mucosa demonstra a necessidade fisiológica de ampliar a superfície absortiva do intestino delgado em relação a um determinado nutriente (Aptekmann et al., 2001), no caso a treonina. Fatos que corroboram com os resultados de Gomide-Júnior et al. (2004), nos quais demonstraram que a mucosa intestinal responde a agentes exógenos por meio de modificações morfológicas na altura e número das vilosidades intestinais, profundidade de criptas intestinais, proliferação celular e número de células mortas por perda epitelial.
Os animais do tratamento com 0,642% de treonina na ração também apresentaram células caliciformes (células produtoras de muco das vilosidades intestinais) em maior número e em estado mais ativo que os animais dos demais grupos. Esse resultado é observado pela maior positividade à coloração de periodic acid Schiff (PAS). Em relação a maior positividade à colocação de PAS no epitélio intestinal com o aumento da treonina nas rações, demonstra-se que as células caliciformes do epitélio intestinal estão produzindo maior quantidade de muco, além de estarem em maior número. Essa característica permite que o bolo alimentar passe pelo intestino com maior facilidade evitando constipações e protegendo a mucosa intestinal de danos causados pelo jejum ou agentes patogênicos (Gomide-Júnior et al., 2004). Sendo assim, o aumento da relação de treonina na dieta também proporcionaria efeitos positivos para a saúde animal. Essas características observadas no intestino quando do aumento da treonina na dieta também foram observadas em experimento com codornas (Lima et al., 2011).
Outra característica que melhoria a produção seria a maior espessura da lâmina própria das vilosidades intestinais encontradas nos animais dos tratamentos com maior porcentagem de treonina na ração, principalmente no tratamento com 0,687%. Pois são nessas áreas (lâmina própria) que se encontram os vasos sanguíneos que captam os nutrientes absorvidos pelas células (enterócitos) do epitélio da vilosidade intestinal (Junqueira & Carneiro, 2003). Sendo assim, maior espessura de vilosidade também poderia estar relacionada com maior capacidade de repassar os nutrientes do lúmen intestinal para a corrente sanguínea.
Por fim, os estudos histofisiológicos também demonstraram diferenças morfológicas na estrutura das dobras do magno. Nos tratamentos com maior porcentagem de treonina na ração, especificamente o tratamento com 0,687%, as dobras do magno apresentavam maior quantidade de dobras secundárias que os outros tratamentos estudados. Estudos com codornas também demonstraram o aumento das dobras secundárias do magno (Lima et al., 2011), entretanto, em tal estudo também aumentava a produção de muco pelo epitélio desse órgão, fato que não ocorreu no presente estudo. O aumento das dobras secundárias do magno (porção do oviduto que produz a clara- albúmn) aumenta a área de contato com o ovo em formação, possibilitando maior velocidade na formação da clara.
Segundo os resultados histofisiológicos, o aumento da treonina na ração (tratamentos 0,642 e 0,687%) proporcionou condições morfológicas favoráveis ao aumento da produção das poedeiras, corroborando com os resultados zootécnicos encontrados.
 
CONCLUSÃO
A exigência de treonina digestível para poedeiras leves é de 0,597 e 0,610% ou 684 e 626 mg/ave/dia,com relação variável e constante em 75%, respectivamente.
 
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Autores:
Matheus Ramalho
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