INTRODUÇÃO
As rações formuladas para as codornas japonesas baseiam-se principalmente em aminoácidos totais, o que pode acarretar em níveis excessivos às necessidades da ave. O triptofano pertence à classe dos aminoácidos essenciais, ou seja, não são produzidos pelas aves ou são produzidos em quantidade muito aquém das necessidade diárias, sendo necessário que seja suplementado nas rações.
De acordo com o NRC (1994), a exigência de triptofano total para codornas japonesas em fase inicial e de reprodução é de 0,22 e 0,19%, com 24 e 20% de PB e 2.900 kcal de EM/kg de ração, respectivamente. Shim & Lee (1993) reportaram que, para ótima produção de ovos e eficiência alimentar, as dietas de codornas em postura devem conter, em aminoácidos totais, 1,0% de lisina, 0,43% de metionina, 0,18% de triptofano e 0,63% de treonina. No entanto, trabalhos realizados por Shim & Vohra (1984) determinaram a exigência de 0,25% de triptofano total. Leeson & Summers (1991) discordaram dos autores anteriores, recomendando 0,22% de triptofano total na dieta de codornas na fase de produção.
Assim, este estudo teve como objetivo determinar a exigência de triptofano para codornas japonesas em fase de postura alimentadas com rações com níveis crescentes de triptofano sob relação variável e constante.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Módulo de Pesquisas com Aves do CCA/UFPB, Areia/PB. A cidade de Areia está inserida na microrregião do Brejo Paraibano (6º 58' 12'' de latitude Sul e 35º 42' 15'' de longitude Oeste), com altitude média de 619 m (GONDIM e FERNANDES, 1980). De acordo com a classificação de Köppen, o clima é tropical semi-úmido do tipo As', isto é, clima quente e úmido que se caracteriza por apresentar estação chuvosa no período outono-inverno, com precipitação pluviométrica média anual girando em torno de 1500 mm, temperatura média anual entre 22-30ºC e umidade relativa do ar elevada (75-87%). Segundo a classificação bioclimática de Gäussen, nesta região predomina o bioclima 3 dth (nordestino sub-seco), com período seco variando de um a três meses no ano (BRASIL, 1972).
Foram desenvolvidos dois experimentos seqüenciais, o primeiro com rações que continham níveis crescentes de triptofano, alterando-se a relação triptofano: lisina e, com base nos resultados, realizou-se um segundo experimento, com o objetivo de avaliar a exigência de triptofano com relação aminoácidos: lisina constante.
Experimento 1 – Níveis crescentes de triptofano, relação variável
Um total de 288 codornas japonesas aos 125 dias de idade foi distribuído em um delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos, com seis repetições de 8 aves cada. O experimento foi dividido em 5 fases de 21 dias cada, totalizando 105 dias de avaliação. Os tratamentos consistiram em uma ração formulada à base de milho e farelo de soja, suplementada com os aminoácidos L-Lisina, L- Treonina, DL-Metionina, L-Triptofano, L-Arginina, L-Isoleucina e L-Valina de forma a atender as exigências nutricionais para codornas japonesas em postura, exceto para triptofano, de acordo com as recomendações do NRC (1994), justificando o uso dos aminoácidos totais nas rações.
A ração basal foi suplementada com 0,00, 0,02, 0,04, 0,061 e 0,081% de L-Triptofano em substituição ao L - Ácido Glutâmico com o objetivo de alcançar os níveis de 0,150, 0,170, 0,190, 0,210 e 0,230% de triptofano na ração, resultando nas relações triptofano: lisina de 15, 17, 19, 21 e 23% (Tabela 1).
O L - Ácido Glutâmico foi utilizado para tornar as rações isoprotéicas. O nível dietético do óleo de soja e do inerte foi acrescido em substituição ao L - Ácido Glutâmico que foi reduzido com o aumento dos níveis de triptofano nas rações experimentais, de forma a tornar as dietas, além de isoprotéicas, isoenergéticas.
Experimento 2– Níveis crescentes de triptofano, relação constante
Um total de 240 codornas japonesas aos 125 dias de idade foi distribuído em um delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos com seis repetições de 8 aves cada. O experimento foi dividido em 5 fases de 21 dias cada, totalizando 105 dias de avaliação. Os tratamentos consistiram em uma ração formulada à base de milho e farelo de soja, suplementada com os aminoácidos L-Lisina, DL-Metionina, L-Triptofano, L-Arginina, L-Isoleucina e L-Valina de forma a atender as exigências nutricionais para codornas japonesas em postura. As rações tinham a mesma relação aminoácidos: lisina de acordo com as recomendações sugeridas pelo NRC (1994), exceto a triptofano: lisina que foi fixada em 21%. As relações aminoácidos: lisina foram 70, 78, 126, 92, 90 e 21%, para metionina+cistina, treonina, arginina, valina, isoleucina e triptofano, respectivamente, conforme apresentadas na Tabela 2.
Tabela 1. Composição alimentar e química das rações experimentais.
Variáveis avaliadas
As variáveis avaliadas foram: consumo de ração (g/ave/dia), produção (%), peso (g), massa (g/ave/dia), conversão por massa (kg/kg) e por dúzia de ovo (kg/dz), peso (g) e porcentagem (%) de gema, de albúmen e de casca, espessura da casca (mm), unidade Haugh e gravidade específica (g/cm3).
O período de avaliação da produção de ovos foi dividido em cinco períodos de 21 dias cada. Ao final de cada período foram coletadas as sobras das rações de cada parcela para o cálculo do consumo de ração. A coleta dos ovos foi realizada duas vezes ao dia (10:00 e 16:00 h), sendo anotados em ficha de freqüência de postura e a mortalidade. A produção dos ovos em porcentagem foi calculada dividindo-se a quantidade de ovos totalizados por repetição pelo número de aves, corrigindo pela mortalidade, quando havia.
Os ovos dos últimos três dias de cada período foram pesados individualmente para a obtenção do peso médio dos ovos. Os cálculos da massa de ovo foram realizados pelo produto da produção de ovos e do peso médio dos ovos por parcela. A conversão alimentar por massa de ovo foi calculada através da relação entre o consumo de ração e massa de ovo produzida. A conversão por dúzia de ovos foi calculada pela relação entre o consumo de ração dividida pela produção, sendo esse resultado multiplicado por doze.
Tabela 2. Composição alimentar e química das rações experimentais.
Ao final de cada período, foram selecionados quatro ovos por parcela para determinação do peso e porcentagem de gema, de albúmen e de casca, após separação manual destes componentes, onde as cascas foram colocadas em estufa a 105°C por quatro horas. A porcentagem de cada um dos componentes do ovo foi obtida dividindo-se o peso do componente pelo peso do ovo, em seguida multiplicando o resultado por 100. A espessura da casca foi medida com o auxílio de um micrômetro digital com precisão de 0,1 mm em três pontos na linha mediana do ovo, com os quais foi calculada a média aritmética.
A cada final de período experimental foram selecionadas amostras representativas de dois ovos por parcela onde foram feitas imersões dos ovos em diferentes soluções salinas com os devidos ajustes para um volume de 25 litros de água com densidades que variavam de 1,060 a 1,100 com intervalo de 0,0025 g/cm3. Os ovos eram colocados nos baldes com as soluções, da menor para a maior densidade e eram retirados ao flutuarem, sendo anotados os valores respectivos das densidades correspondentes às soluções dos recipientes. Antes de cada avaliação, as densidades eram conferidas com densímetro de petróleo.
Nas análises histológicas, a coleta do material foi realizada através de fragmentos do sistema digestório (duodeno e fígado) e reprodutor (magno e útero) de 10 animais por tratamento. Os fragmentos foram imersos em fixador metacarn (60% metanol, 30% clorofórmio e 10% ácido acético) por 12 horas, sendo transferidos para álcool 70% em seguida.
Para a microscopia óptica foi feita a inclusão dos fragmentos em paraplast. Foram realizados cortes seriados dos fragmentos com 5 μm de espessura. As seguintes colorações histológicas foram realizadas para a descrição histológica: hematoxilina e eosina, periodic acid Schiff (PAS) e tricômio de Masson. As fotomicrografias foram capturadas com o auxílio de microcâmera acoplada ao microscópio Olympus BX-51 e as imagens digitalizadas no software KS 400.3 (Zeiss).
Os resultados foram submetidos as analises de variância e regressão utilizando-se o programa SAEG (Universidade Federal de Viçosa, 2000).
RESULTADOS
Experimento 1 – Níveis crescentes de triptofano, relação variável
Os níveis de triptofano nas rações das codornas japonesas em postura influenciaram o desempenho das aves, alterando a produção de ovos, além da massa, conversão em massa e em dúzia de ovos (Tabela 3).
Tabela 3. Consumo de ração (CR, g), produção (PR, %), peso (PO, g), massa (MO, g), conversão em massa (CMO, g/g) e em dúzia de ovos (CDZ, g/g) em função do nível de triptofano das rações.
Com base no comportamento dos dados obtidos, as equações polinomiais são apresentadas na Tabela 4, bem como a relação e o nível determinado após derivada.
Tabela 4. Equações polinomiais das variáveis influenciadas estatisticamente pelas relações triptofano: lisina das rações.
De acordo com a Tabela 4, as relações do triptofano com a lisina foram 19,07, 20,13 e 20,92, o que representa um nível de 0,191, 0,201 e 0,209% de triptofano para melhores índices de produção, conversão em massa e em dúzia de ovos, respectivamente.
O nível crescente de triptofano não influenciou tais variáveis (Tabela 5).
Tabela 5. Gravidade específica (GE, g/cm3), porcentagem de gema (PGema, %), albúmen (PAlbúmen, %), e casca (PCasca, %), espessura da casca (ESP, mm) em função das relações triptofano: lisina das rações.
De acordo com os dados apresentados, a relação triptofano: lisina em 21%, ou 0,210% de triptofano nas rações, equivalente a um consumo diário por ave de 52 mg de triptofano, proporciona as aves um desempenho mais eficiente.
As análises histológicas mostraram que com o aumento da porcentagem de triptofano na dieta, com aumento da proporção de triptofano em relação a lisina, houve um aumento da esteatose hepática. As dietas com 0,150 e 0,170% não proporcionaram esse aumento, sendo visto nos animais desses tratamentos apenas alguns vacúolos citoplasmáticos lipídicos. Além disso, observar que a arquitetura hepática está normal com sinusóides bem definidos. Existe a presença de alguns vacúolos citoplasmáticos lipídicos, normais para animais de produção que recebem ração hiperenergética. A partir de 0,190% de triptofano a esteatose se torna moderada, com bastante vacúolos cito´plasmáticos, apresentando áreas mais positivas ao PAS, denotando acumulo de glicogênio nessas areas, enquanto que em 0,210 e 0,230% severa (Figura 1). Observar as pontas de seta, mostrando os vacúolos citoplasmáticos lipídicos.
No tratamento com 0,190% de triptofano, o fígado dos animais apresentou maior quantidade de glicogênio estocado, visto maior positividade à coloração PAS..Entretanto é o grupo que apresenta o fígado mais leve (6,01 ± 1,66 g) (Figura 1C, D).
Figura 1. Fotomicrografias de fígado de codornas japonesas com níveis crescentes de triptofano na dieta em relação a lisina. A e B) Fígado representativo dos grupos com 0,150 e 0,170% de triptofano na ração.. C e D) Fígado de animal do grupo com 0,190% de triptofano. E e F) Fígado de animal do grupo com 0,210% de triptofano. G e H) Fígado de animal do grupo com 0,230% de triptofano. Coloração de ácido periódico de Schiff (PAS). A, C, E e G) Bar: 200 μm. B, D, G e H) Bar: 100 μm.
Apesar da severa esteatose os animais do tratamento com 0,230% de triptofano na ração não apresentaram acúmulo de tecido conjuntivo (colágeno) no parênquima hepático (Figura 2). Observar que os animais desse tratamento apresentam severa esteatose com bastante vacúolos citoplasmáticos lipídicos (Pontas de seta), entretanto, não há a presença de depósitos de colágeno parenquimal hepático o que denotaria ciclos de morte de hepatócitos.
Figura 2. Fotomicrografias de fígado de codorna japonesa do grupo com 0,230% de triptofano na dieta (relação triptofano:lisina de 23%). Coloração de tricômio de Masson. A) Bar: 200 μm. B) Bar: 100 μm.
O magno foi o órgão que apresentou as maiores alterações histológicas (Figura 3). Enquanto os animais dos grupos com 0,150 e 0,170% de triptofano apresentavam poucos glândulas ativas ou em regeneração (Figura 3A, B), os grupos seguintes apresentavam maior quantidade dessas glândulas, principalmente os grupos com 0,190 e 0,210% de triptofano. Destaque para o grupo com 0,210% de triptofano na dieta, o qual apresentou glândulas ativas repletas de albúmen (Figura 3 G, H, I). Observar que a quantidade de glândulas ativas no tratamento com 0,230% é menor que os grupos com 0,190 e 0,210% de triptofano na ração.
Não houve variação na quantidade ou produção das células produtoras de muco do epitélio do magno, nem da espessura desse epitélio (Figura 3A, D, G, J). Também não foram observadas alterações no útero desses animais, seja na ramificação das dobras secundárias ou na quantidade de glândulas.
Figura 3. Fotomicrografias de magnos de codornas japonesas com níveis crescentes de triptofano na dieta em relação a lisina. A, B e C) Magno representativo de animais dos tratamentos com 0,150 e 0,170% de triptofano na ração. (D, E e F) Magno de animal do grupo com 0,190% de triptofano na ração. G, H e I) Magno de animal do grupo com 0,210% de triptofano na ração. Observar a grande atividade das glândulas do magno com grande depósito de albúmen. J, L e M) Magno de animal do grupo com 0,230% de triptofano na ração. Glândulas ativas com depósito de albúmen (Ponta de seta). Coloração de ácido periódico de Schiff (PAS) (A, D, G e J). Coloração de hematoxilina-eosina (B, C, E, F, H, I, L e M). A, D, G e J) Bar: 300 μm. B, E, H e L) Bar: 100 μm. C, F, I e M) Bar: 150 μm.
O intestino dos animais também sofreram variações morfológicas em decorrência do aumento da relação triptofano: lisina. Níveis de 0,190% ou maiores aumentaram as ramificações (Pontas de Seta) das vilosidades intestinais (Figura 4). Apesar dessa alteração, não houve influência na quantidade ou produção das células caliciformes intestinais (Figura 4B, D, F, H), característica que pode ser observada pela coloração roxa.
Figura 4. Fotomicrografias de intestino de codornas japonesas com níveis crescentes de triptofano na ração em relação a lisina. A e B) Intestino representativo de animais com 0,150 e 0,170% de triptofano na ração. C e D) Intestino de animal com 0,190% de triptofano na ração.. E e F) Intestino de animal com 0,210% de triptofano na ração. G e H) Intestino de animal com 0,230% de triptofano na ração.. Coloração de tricômio de Masson (A, C, E e G). Coloração de periodic acid Schiff (PAS) (B, D, F e H). Bar: 200 μm.
Experimento 2– Níveis crescentes de triptofano, relação constante
Os níveis de triptofano crescentes com relação constante alteraram o desempenho das codornas japonesas em postura, especialmente na produção, massa e conversão em massa de ovos, tal qual se pode observar na Tabela 6..
Tabela 6. Consumo de ração (CR, g), produção (PR, %), peso (PO, g), massa (MO, g), conversão em massa (CMO, g/g) e em dúzia de ovos (CDZ, g/g) em função do nível de triptofano das rações.
As variáveis que avaliaram a qualidade dos ovos não foram alteradas de forma estatística pelos níveis de triptofano e dos demais aminoácidos, exceto a espessura da casca dos ovos, que teve um comportamento linear crescente (P<0,05), como apresentado na Tabela 7.
Tabela 7. Gravidade específica (GE, g/cm3), porcentagem de gema (PGema, %), albúmen (PAlbúmen, %), e casca (PCasca, %), além da espessura da casca (ESP, mm) em função do nível de triptofano das rações.
De acordo com as equações polinomiais obtidas através da análise dos dados das variáveis avaliadas, determinou-se os níveis ótimos de triptofano para a produção, massa, conversão em massa e espessura das cascas dos ovos das codornas japonesas. Tais determinações se dão após a derivada das equações, conforme apresentado na Tabela 8.
Tabela 8. Equações polinomiais das variáveis influenciadas estatisticamente pelos níveis de triptofano das rações.
Dentre as determinações do melhor nível de triptofano com relação aminoácidos: lisina constante em 21% foi o de 0,216%, o que equivale a um consumo de 52 mg/ave/dia, pois foi o nível que possibilitou uma maior conversão em massa de ovos, o que supera as exigências nutricionais para que as codornas japonesas tenham uma maior produção e uma maior massa de ovos, consequentemente.
DISCUSSÃO
Os melhores níveis de triptofano foram 0,210 e 0,216% deste aminoácido, com uma relação variável e constante a 21% com a lisina, respectivamente.
Pinheiro et al. (2008) avaliaram níveis de triptofano nas rações de codornas japonesas em postura, utilizando aves com 21 a 30 semanas de idade, com peso e produção de ovos média de 58,5g e 84,50%, respectivamente. As aves receberam rações isocalóricas e isoprotéicas, exceto para triptofano digestível que foram, para cada ração experimental, 0,120 a 0,280%, variando para cada nível 0,04% de triptofano digestível, perfazendo 5 níveis, o que correspondeu às relações triptofano digestível: lisina digestível a 12, 16, 20, 24 e 28%, respectivamente. Após análise dos dados, os autores verificaram influência do triptofano sobre o consumo de triptofano e produção de ovos, de forma que tiveram um efeito linear crescente em relação ao triptofano das rações, já que a cada 1% de triptofano na ração a produção de ovos aumentou em 1,26%. Os resultados obtidos por Pinheiro et al. (2008) confirmam aqueles encontrados por Harms & Russell (2000) e Deponti et al. (2007), que trabalharam com galinhas poedeiras e verificaram melhoria na produção, à medida que níveis crescentes de triptofano foram adicionados às dietas.
Ainda sobre os resultados apresentados por Pinheiro et al. (2008), em função da não influência do triptofano sobre a conversão alimentar por massa e dúzia de ovos das codornas, se confirmam sob efeito similar aos observados por Peganova & Eder (2003) e Deponti et al. (2007), quando não verificaram influência significativa sobre essas variáveis para galinhas poedeiras. Contudo, Lima et al. (2011), avaliando níveis de triptofano nas rações de galinhas poedeiras leves em inicio de postura, observaram efeito quadrático para produção, peso, massa, conversão em massa e em dúzia de ovos, em que estimaram as relações de triptofano:lisina em 23,98; 24,07; 24,11; 24,58 e 25,25%, respectivamente.
Assim, Pinheiro et al. (2008) recomendaram 0,21% de triptofano digestível, correspondente ao consumo de 45,0 mg de triptofano digestível/ave/dia para melhor desempenho e qualidade de ovos de codornas japonesas. Por outro lado, Rizzo et al. (2008), trabalhando com níveis de triptofano entre 0,23 e 0,98%, não verificaram efeito sobre o desempenho nem sobre os parâmetros fisiológicos das codornas japonesas, concluindo que 0,23% de triptofano, em dietas com 18% de proteína bruta e 2800 kcal de energia metabolizável/kg são suficientes para essas aves.
Comparando nossos resultados com os recomendados pelo NRC (1994), Silva & Costa (2009) e Rostagno et al. (2011), percebemos que nossos resultados estão acima da primeira recomendação, semelhantes à segunda e abaixo da terceira. Diferencial há a recomendação de Rostagno et al. (2011) que trata de aminoácidos na forma digestível, e por apresentar níveis ideais de triptofano em 0,23%, mostra tal aminoácido na forma total, o que seria ainda mais alto, diferindo concomitantemente dos resultados aqui apresentados. Essa disparidade pode ser explicada em função da metodologia aplicada e ainda, de condições experimentais variadas, o que gera dados diferentes ao tipo de ave recomendada.
De acordo com os trabalhos acima apresentados e discutidos, percebe-se variação nas recomendações nutricionais de triptofano para as codornas japonesas em postura, já que poucas pesquisas foram realizadas com esse aminoácido. Assim, ao comparar as recomendações para as codornas japonesas com as das galinhas poedeiras, percebe-se similaridade no nível dietético. Contudo, como as codornas consomem cerca de 25% da quantidade de ração das galinhas poedeiras, logo o que influencia diretamente é o consumo diário do aminoácido pela ave.
Além de serem poucos os trabalhos envolvendo o triptofano em dietas de codornas, esse foi o primeiro estudo envolvendo os efeitos histológicos e fisiológicos desse aminoácido. Histologicamente o aumento da porcentagem de triptofano na dieta levou a uma maior ramificação das vilosidades intestinais proporcionando maior área de absorção para nutrientes. Esse re-arranjamento da mucosa demonstra a necessidade fisiológica de ampliar a superfície absortiva do intestino delgado em relação a um determinado nutriente, no caso a treonina. Fato que corrobora com os resultados de Gomide-Júnior et al. (2004), nos quais demonstraram que a mucosa intestinal responde a agentes exógenos por meio de modificações morfológicas. O aumento da treonina na dieta de codornas também leva ao aumento das ramificações do intestino, entretanto, também levam a um aumento das células caliciformes (Matheus et al., 2011), fato esse não ocorrido no presente estudo.
O magno também foi influenciado com o aumento desse aminoácido, levando a um aumento de glândulas ativas nesse órgão assim como o maior estoque de albúmen nessas glândulas, principalmente no tratamento com 0,210%. Dessa forma apresenta quantidade de albúmen superior, o que, permitem que a produção dos ovos seja feita em um período de tempo menor, aumentando assim a produção, peso, massa, conversão em massa e dúzia de ovo, corroborando com os resultados obtidos neste estudo, especialmente na produção, peso, massa, conversão em massa e em dúzia de ovos. Esses resultados corroboram com os resultados zootécnicos encontrados no presente estudo e também com os encontrados em decorrência do aumento da porcentagem de treonina na dieta de codornas (Matheus et al, 2011), apesar do aumento da treonina levar também a um aumento das dobras secundárias do magno.
Apesar das modificações encontradas no magno, não foram observadas modificações morfológicas no útero, diferentemente do que acontece com o aumento da treonina na dieta de codornas (Matheus et al., 2011).
O aumento da porcentagem de triptofano também levou a um aumento dos vacúolos citoplasmáticos lipídicos nos hepatócitos levando a uma esteatose severa sem acúmulo de colágeno parenquimal, não denotando mortalidade hepatocitária (Fausto et al., 2003), diferentemente do que acontece com o aumento de treonina que leva a uma deposição de colágeno parenquimal (Matheus et al., 2011).
O fígado dos animais do tratamento com 0,190% de triptofano na dieta apresentaram uma esteatose moderada, sendo intermediária entre os tratamentos do estudo. Os mesmos possuíam áreas mais positivas para PAS e eram como um todo mais positivas, indicando maior produção de glicogênio. Entretanto, a relação peso carcaça/ fígado desse animais era a menor dos tratamentos, indicando provavelmente que o glicogênio produzido era rapidamente destinado ao sistema reprodutor para a produção de ovos. Diferentemente do encontrado no presente trabalho, o aumento da treonina leva a resultados diferentes do encontrado no presente estudo. No grupo com maior produção, os fígados eram mais pesados e com pouca deposição de glicogênio (Matheus et al., 2011).
CONCLUSÃO
A exigência de triptofano para codornas japonesas em postura é de 0,210 e 0,216% na ração, com relação variável e constante em 21%, respectivamente, ou 52 mg/ave/dia.
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