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Lisina Codornas Proteína Ração

Exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de postura, em função do nível de proteína da ração

Publicado: 5 de março de 2013
Por: Marcelo Luís Gomes Ribeiro, Aluno do Mestrado em Zootecnia, Centro de Ciências Agrárias -CCA-, Universidade Federal da Paraíba -UFPB-, PB; José Humberto Vilar da Silva, Professor do Centro de Formação de Tecnólogos da UFPB, PB; Manuel de Oliveira Dantas e Fernando Guilherme Perazzo Costa, Professor do CCA, UFPB, PB, e Sérgio Felix de Oliveira, José Jordão Filho e Edson Lindolfo da Silva, aluno do curso de Graduação em Licenciatura em Ciências Agrárias, UFPB, PB.
RESUMO - O experimento objetivou estimar as exigências de lisina total e a relação lisina: proteína em codornas, na fase de produção. Foram utilizadas 320 codornas, resultado do cruzamento entre a codorna japonesa e a européia de 60 a 144 dias de idade, com peso vivo médio de 178+12 g, alimentadas com rações contendo 20 e 23% de proteína bruta (PB) e, 0,80; 0,95; 1,10; 1,25 e 1,40% de lisina. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso em esquema fatorial 2x5 (dois níveis de PB x cinco níveis de lisina), que resultou em dez tratamentos, cada um com quatro repetições de oito aves. As codornas foram submetidas a um programa de luz de 17 horas de duração e alimentadas à vontade. As variáveis estudadas foram obtidas em quatro períodos de 21 dias. Houve efeito quadrático dos níveis de lisina sobre a produção de ovos, sendo a exigência e o consumo, respectivamente, de 1,07% e 287 mg de lisina/dia com 20%PB e de 1,15% e 321 mg de lisina/dia com 23%PB. O nível de 23%PB aumentou o consumo de ração, produção, peso e massa de ovos e também melhorou a conversão alimentar por massa e dúzia de ovos. As relações lisina: PB não foram alteradas, sendo de 5,3 e 5,0%, respectivamente, com 20 e 23% de PB na ração. Os resultados do presente estudo sugerem aumento quantitativo da exigência de lisina de codornas na fase de produção, mas não da relação lisina: PB, à medida que a concentração de PB na ração é elevada.
Palavras-chave: peso do albumem e gema, produção de ovos, qualidade da casca do ovo
Introdução
Na alimentação de codornas, a ração representa cerca de 65 a 70% do custo de produção, sendo a proteína (aminoácidos) responsável por cerca de 25% deste custo, que em casos de erros nas dosagens de nutrientes, especialmente os aminoácidos, pode ser ainda maior, podendo causar danos ao desempenho das aves pelo imbalanço, antagonismo e toxidez (Silva & Ribeiro, 2001).
O aminoácido lisina é considerado padrão no conceito de proteína ideal, balanceamento teoricamente ideal de proteína, e vem sendo usado como referência para atualizar as necessidades de outros aminoácidos, por intermédio de relações simples (Silva & Ribeiro, 2001). A lisina também tem papel importante no organismo, na síntese de carnitina, que atua no transporte de ácidos graxos para a beta-oxidação na mitocôndria, na formação da matriz óssea em animais jovens e no crescimento muscular.
As recomendações de proteína para codornas em produção variam de 20% (Lesson & Summers, 1997; NRC, 1994) a 21% (Fabichak, 1987) e 22,4% (Pinto et al., 1998), e estes valores estão além dos normalmente recomendados para galinhas poedeiras de 1617% (Rostagno et al., 2000). As recomendações de lisina, por sua vez, variam de 0,8% (Lesson & Summers, 1997) a 1,0% (NRC, 1994) em rações contendo 20% PB, resultando em diferentes relações lisina: proteína.
Estudos recentes têm mostrado, claramente, que as exigências de metionina (Silva et al., 1998 ab), triptofano, valina e lisina (Morris et al., 1999), em frangos de corte, crescem linearmente com o aumento do nível de proteína na ração. Entretanto, nenhum estudo ainda foi realizado para testar esta evidência com codornas, como também avaliar se a relação lisina: proteína exigida por esta espécie sofre alteração, à medida que mais proteína é adicionada à ração.
Por outro lado, as formulações de rações para codornas dependem de dados contidos em tabelas estrangeiras, obtidas em condições ambientais muito diferentes da brasileira (Silva & Ribeiro, 2001). A maioria dos dados compilados pelo NRC (1994) foi obtida há quase vinte anos (Shim & Vohra, 1984) com aves apresentando potencial genético bastante diferente das codornas criadas atualmente.
Os objetivos deste trabalho foram determinar as exigências em lisina para codornas e avaliar se a relação lisina: proteína bruta é alterada pelo nível de proteína da ração.
 

Material e Métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Avicultura do Centro de Formação de Tecnólogos, Campus de Bananeiras/UFPB.
Foram utilizadas 320 codornas, resultado do cruzamento entre codornas japonesas (Coturnix coturnix japonica) e codornas européias (Coturnix coturnix coturnix), com peso vivo médio inicial de 178+12 g, na fase de 60 a 144 dias de idade. As aves foram alojadas aos 50 dias em gaiolas sobrepostas, de arame galvanizado com 0,33 x 0,33 x 0,16 m, e alimentadas com rações e água à vontade, durante quatro períodos de 21 dias. O programa de luz (luz natural + artificial) adotado teve duração de 17 horas diárias.
Os dados de temperatura e umidade relativa do ar foram registrados três vezes ao dia, utilizando-se um termohigrômetro digital. Durante o experimento, os dados médios obtidos de temperatura e umidade máximas e mínimas foram, respectivamente, de 29,5 e 21,9ºC e de 90,5 e 49,8%.
Duas rações basais (Tabela 1) foram formuladas para conter 20 e 23% de PB e atender as necessidades das codornas em postura em todos os nutrientes, exceto lisina, que foi suplementada com L-lisina·HCl (78,4 % de lisina), em substituição ao amido de milho, em proporções iguais nas rações, em 0,00; 0,191; 0,383; 0,574 e 0,765%, resultando, respectivamente, em 0,80; 0,95; 1,10; 1,25 e 1,40% de lisina nas rações.
As variáveis estudadas foram consumo de ração, produção de ovos, peso e massa de ovos, conversão alimentar por massa e por dúzia de ovos. A produção de ovos (ave/dia) foi acompanhada, diariamente, enquanto o peso foi obtido com a pesagem dos ovos produzidos nos últimos cinco dias de cada período experimental. Os pesos de albúmem, gema e cascas foram obtidos após separação manual destes componentes. A porcentagem de casca seca foi obtida pela quebra e secagem das casca em estufa a 105ºC por 24 horas.
O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso em esquema fatorial 2 x 5 (dois níveis de proteína x cinco níveis de lisina), totalizando dez tratamentos, cada um com quatro repetições de oito aves. Os dados foram analisados de acordo com o seguinte modelo estatístico:
Yijk = m + Li + NPj + L*NP(ij)+ eijk
em que Yijk = variável observada na k-ésima repetição, que recebeu o i-ésimo nível de lisina e o j-ésimo nível de proteína; m = média geral do experimento; Li = efeito do i-ésimo nível de lisina da ração, sendo i = 0,80, 0,95, 1,10, 1,25 e 1,40 % de lisina; NPj = efeito do j-ésimo nível de proteína da ração, sendo j = 20 e 23% de PB; L*NP (ij) = efeito da interação do i-ésimo nível de lisina com o j-ésimo nível de proteína; eijk = erro aleatório, NID (0, σ2).
As análises estatísticas foram realizadas de acordo com o programa SAEG (Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas), desenvolvido pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA – UFV (1983). Quando as interações foram significativas (P<0,05) realizaram-se os desdobramentos das mesmas com o objetivo de serem realizadas análises de regressão em função dos níveis de lisina, dentro de cada nível de proteína da ração, considerando-se o maior valor do coeficiente de determinação (R2) e a significância a 5 ou 1% de probabilidade de acordo com o teste F, uma vez respeitada a resposta biológica das aves. Na ausência de interações significativas (P>0,05), os níveis de lisina e de proteína foram estudados como efeitos principais.
Tabela 1 - Composição percentual e química das rações com base na matéria natural
Table 1 - Percentage and chemical compositions of basal diets as fed
Exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de postura, em função do nível de proteína da ração - Image 1
 

Resultados e Discussão

Na Tabela 2 são apresentados os resultados de consumo de ração, produção, peso, massa, conversão por massa e por dúzia de ovos. À exceção da produção de ovos, as demais variáveis não apresentaram interação (P>0,05) dos níveis de lisina com os níveis de PB da ração e, portanto, somente os efeitos principais estão sendo apresentados.
O consumo de ração não sofreu efeito (P>0,05) dos níveis de lisina. Entretanto, a concentração de PB afetou, significativamente (P<0,05) o consumo, que diminuiu no nível de 20% PB, em comparação ao observado no nível de 23% PB (Tabela 2). Este resultado discordou daquele obtido por Murakami (1991) que, utilizando níveis de 16, 18, 20 e 22% de PB, não observaram efeito significativo sobre o desempenho de codornas, nas fases de crescimento e postura.
Observou-se efeito (P<0,01) quadrático sobre a produção de ovos (Tabela 2; Figura 1), dos níveis de lisina dentro dos níveis de 20% PB (P<0,05) e 23% PB (P<0,07) da ração, com pontos de máxima produção em 1,07% de lisina (91,9%/ave/d) e 1,15% de lisina (95,4%/ave/d), respectivamente. O nível de 23% de PB aumentou a produção de ovos em comparação com o nível de 20% de PB (P<0,05) dentro dos níveis de 0,80, 0,95, 1,25 e 1,40% de lisina.
Figura 1 - Produção de ovos em função dos níveis de lisina (X) e de cada nível de proteína bruta (PB) da ração de codornas.
Figure 1 - Egg production according to dietary lysine (X) and each crude protein (CP) levels of quail laying diet.
Exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de postura, em função do nível de proteína da ração - Image 2
 
Tabela 2 - Consumo de ração (CR), produção de ovos (PR), pesos dos ovos (PO), massa de ovos (MO), conversão por massa de ovos (CMO) e conversão por dúzia de ovos (CDO) de acordo com os níveis de proteína e lisina na ração
Table 2 - Feed intake (FI), egg production (EP), egg weight (EW), egg mass (EM), feed to egg dozen ratio(FDR) and egg feed to egg mass ratio (FMR), according to the dietary protein and lysine levels
Exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de postura, em função do nível de proteína da ração - Image 3
A estimativa da exigência de lisina obtida no presente trabalho com 20% de PB foi 7% maior que o nível de lisina recomendado pelo NRC (1994), com similar conteúdo de proteína bruta na ração. No entanto, a estimativa de exigência de lisina aumentou para 1,15%, quando o nível de proteína da ração passou para 23%, sendo 15% superior ao valor preconizado pelo NRC (1994) e 8% acima do valor estimado, quando a ração continha 20% de PB. Estes resultados, corroboram a hipótese de Morris et al. (1987) e Rose & Uddin (1988) de que as exigências de lisina em frangos de corte crescem com o aumento do nível de proteína da ração. Silva et al. (1998 a,b), também, observaram aumento percentual da exigência de metionina+cistina em frangos de corte quando a proteína da ração foi elevada. Estes resultados sugerem que semelhante ao ocorrido com outras espécies, a exigência quantitativa de lisina para codornas também aumenta com o nível de PB da ração.
Com base nas estimativas de exigências obtidas no presente trabalho, pode-se observar que a relação lisina: proteína não foi alterada, sendo de 5,3 e 5,0%, respectivamente, com 20 e 23% de PB na ração, concordando com a proporção de lisina: PB de 5% recomendada pelo NRC (1994).
Allen & Young (1980) recomendaram para uma ração com 18% de PB um percentual de 0,86% de lisina, resultando numa relação lisina: PB de 4,7%, um pouco abaixo da obtida no presente estudo e àquela recomendada pelo NRC (1994).
Oliveira et al. (1999) trabalharam com duas relações lisina: proteína (5,2 e 7,01%) e dois níveis de PB na ração (19,0 e 14,1%). Os autores chegaram a conclusão que, a ração com baixa proteína (14,1%), suplementada com lisina, não proporcionou a mesma resposta que a ração com nível ótimo de proteína (19%). A explicação para a discrepância entre o resultado obtido por Oliveira et al. (1999) e o do presente estudo foi, provavelmente, decorrente do desequilíbrio protéico, aumentando o catabolismo e, conseqüentemente, desvio dos grupos aminos da lisina para a síntese de aminoácidos não-essenciais (glutamato) ou de ácido úrico, em virtude do baixo teor de PB da ração usada por aqueles autores.
O peso e as porcentagens de gema, albúmem e cascas (Tabela 3) não sofreram efeitos de interação (P>0,05) dos níveis de lisina com os níveis de PB das rações. Por outro lado, os pesos de gema e de albúmem foram afetados pelo nível de proteína da ração, crescendo à medida que o nível de proteína passou de 20 para 23%. O valor percentual médio de gema de 31,19% obtido no presente experimento foi semelhante àquele citado por Murakami & Ariki (1998) de 31,14%. Da mesma forma, a porcentagem média de cascas de 8,15%, assemelha-se àquela citada por Zampronio et al. (1996) de 8,11% e está pouco acima daquela de 7,62% observada por Masukawa et al. (1996).
Tabela 3 - Peso da gema (PG), porcentagem de gema (%G), peso do albúmen (PAL), porcentagem de albúmem (%AL), peso da casca seca (PC) e porcentagem de casca seca (%C) de acordo com os níveis de proteína e lisina da ração
Table 3 - Yolk weigh (YW), yolk percentage (YP), albumen weight (AW), albumen percentage (AP), egg shell weight (SW) and egg shell percentage (SP), in according to protein and lysine levels of diets
Exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de postura, em função do nível de proteína da ração - Image 4
 

Conclusões

As exigências de lisina total de codornas estimadas pela produção de ovos foram de 1,07% ou consumo de 287 mg/dia com 20% de proteína na ração e de 1,15% ou consumo de 321 mg/dia com 23% de proteína na ração.
Codornas alimentadas com ração contendo 23% de proteína, apresentam melhor consumo de ração, peso dos ovos, massa de ovos, conversões por dúzia e por massa de ovos, pesos da gema e albúmen e porcentagem de albúmen que àquelas alimentadas com 20%.
 

Literatura Citada

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Autores:
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