Introdução:
O conceito de proteína ideal na nutrição de monogástricos está bem estabelecida no meio científico, entre nutricionistas, indústrias de rações e na produção de monogástricos. Utilizar a lisina como aminoácido referência a fim de estimar o requerimento dos outros aminoácidos essenciais é uma rotina clássica e de caráter universal. Porém, com o avanço na produção dos aminoácidos de cadeia ramificada (L-Valina e L-Isoleucina), os pesquisadores e nutricionistas são incentivados a entender melhor o seu metabolismo interativo no corpo, bem como, estabelecer a sua correlação nutricional dentro do perfil de proteína ideal.
Ótimo Balanço dos Aminoácidos de Cadeia Ramificada (BCAA):
Os BCAAs compreendem os aminoácidos neutros hidrofóbicos: Isoleucina, Leucina e Valina de estruturas químicas semelhantes. Compartilham enzimas comuns no processo de transaminação e descarboxilação oxidativa, justificando interações, principalmente em resposta à ingestão excessiva de leucina. Pesquisa realizada por Maia (2013) mostrou que a relação leucina:lisina SID de 107 para 150, reduziu o ganho de peso e piorou a conversão alimentar (Figura 1) sem afetar o consumo de ração. Para minimizar o efeito negativo da leucina, o autor recomenda aumentar a relação valina:lisina SID de 77% para 90%.
Figura 1. Duas relações de leucina:lisina SID e seu efeito sobre o ganho de peso (A) e conversão alimentar (B) de frangos de corte.
Calvert et al (1982) estudando o antagonismo de aminoácidos de cadeia ramificada, verificaram que o aumento o nível de leucina na dieta, reduziu o consumo de alimento, o ganho de peso e a eficiência alimentar das aves. Para Ospina-Rojas (2015) os níveis de leucina e valina interagem sobre o desempenho das aves, o que permite sugerir que a adição dietética da valina pode reduzir parcialmente o efeito negativo do excesso de leucina sobre o desempenho animal.
As citações acima deixam evidências de que o teor de leucina influencia diretamente no requerimento de valina em frangos de corte (Ospina-Rojas (2015). Este fato indica a necessidade de estabelecer a proporção ótima dos aminoácidos de cadeia ramificada assim como a sua correlação com a proteína ideal na nutrição das aves.
Elango et al. (2004) estudando a alimentação parenteral e enteral em leitões com o objetivo de encontrar a ótima proporção de BCAA em cada rota de suprimento de nutrientes, observaram que a proporção de 1:1,8:1,2 de isoleucina/ leucina/ valina foi apropriada para alimentação enteral. Diante desta observação, buscamos diagnosticar a proporção ótima de BCAA (isoleucina:leucina:valina) nas rações de frangos de corte (Tabela 1), utilizando o requerimento nutricional de Rostagno et al. (2017), como exemplo.
Tabela 1. Ótimo balanço de BCAA conforme o requerimento nutricional de frangos de corte1.
Como pode ser observado, ocorre redução na recomendação de BCAA à medida que avança a idade dos frangos de corte, porém pouca variação é observada na proporção entre esses aminoácidos.
Diante das observações dada por Elango et al. (2004) e, sabendo que os BCAAs têm apresentado antagonismo através do excessivo consumo de um ou outro aminoácido, especialmente de leucina, determinar a proporção ótima de BCAA, e, estabelecer a sua correlação dentro do perfil de proteína ideal parece ser um passo crucial para atingir o balanço ideal de aminoácidos necessários para a máxima síntese de proteínas.
Deste modo, para manter a proporção ótima de BCAA nas rações de frangos de corte, é importante conhecer, primeiramente, o teor de BCAA nos ingredientes das rações (Figura 2). Ingredientes ricos em proteína bruta como o farelo de soja, farinha de peixe, plasma, hemáceas, farinha de sangue, farinha de penas, farinha de carne e ossos, glúten de milho, quando presente nas rações das aves, geralmente excedem às necessidades de leucina:lisina, atingindo níveis de 130 a 150% da exigência das aves. Elevado conteúdo de leucina na dieta, aumenta o catabolismo de valina e isoleucina, especialmente quando estes dois últimos aminoácidos estão em níveis marginais na dieta (Ospina-Rojas, 2015). Segundo Dozier III et al. (2011) existe uma co-limitação de valina e isoleucina nas dietas a base de milho, farelo de soja e co-produtos de origem animal.
Figura 2. Teor de leucina, isoleucina e valina SID em ingredientes comuns para aves.
Vamos avaliar uma dieta para frangos em crescimento e ver como podemos aplicar a proporção ótima de BCAA (isoleucina:leucina:valina) dentro do perfil de proteína ideal.
Uma dieta a base de milho e farelo de soja sem aplicação de BCAA feed grade (L-Valina e L-Isoleucina) pode apresentar alto conteúdo de leucina (1.720%), descaracterizando a proporção ótima de BCAA (1:1.588:1.132 – isoleucina/leucina/valina) esperada para obter o melhor desempenho das aves. Apesar de a dieta atender o requerimento mínimo de valina (0.951%), a proporção valina/isoleucina SID é de 1.073, ou seja, abaixo da proporção ótima esperada. Esse diagnóstico nutricional pode indicar uma deficiência marginal da valina na dieta, desencadeando o seu catabolismo e prejudicando a conversão alimentar.
Por outro lado, a fórmula balanceada com BCAA feed grade estabelece um ajuste melhor na proporção de BCAA. Para a proporção ótima de BCAA, aumentar a relação isoleucina:lisina SID e valina:lisina SID em rações com alto teor de leucina, parece ser necessário. Também se justifica dentro deste contexto, reduzir o teor de proteína bruta da dieta.