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Efeitos de Níveis de Ácido L-Glutâmico e de Vitamina K da Dieta sobre a Atividade de a-Amilase em Frangos de Corte

Publicado: 31 de maio de 2022
Por: Flavia Escapini Fanchiotti, George Henrique Kling de Moraes, Maria Goreti de Almeida Oliveira, Luiz Fernando Teixeira Albino, Ana Cláudia Peres Rodrigues, Efraim Lázaro Reis, Marcela Piedade Monteiro
Introdução
Em virtude da redução contínua na idade de comercialização de frangos de corte, a primeira semana após a eclosão tornou-se proporcionalmente mais importante na vida das aves (Nitsan et al., 1991a, b; Uni et al., 1998). No período inicial do crescimento, ocorre a transição de uma provisão de nutrientes endógenos da gema, principalmente gordura e proteína, para ingestão e digestão de ração, alimentação exógena, na qual os carboidratos, sobretudo amido, são a maior fonte energética (Nitsan et al., 1995; Dunnington & Siegel, 1995; Sell, 1996; Uni et al., 1998). Nesse período, os segmentos do trato gastrointestinal aumentam de tamanho muito mais rapidamente que o restante do corpo. A síntese limitada das enzimas digestivas durante os primeiros dias após o nascimento e seu aumento por volta do décimo dia, quando o crescimento relativo é máximo, indicam uma possível relação entre esses dois fatores (Mahagna et al., 1995). Como os processos digestivos neste momento não estão plenamente desenvolvidos, esta baixa síntese pode se tornar fator limitante no consumo e crescimento de frangos de corte (Sell, 1991; Noy & Sklan, 1995; Nir, 1998; Cançado & Baião, 2002).
Com o uso de dietas purificadas, é possível estudar a indução nutricional de diversas enzimas de aves (Ribeiro et al., 1995a; Guimarães et al., 1996, Moraes et al., 1998). No entanto, as dietas purificadas contendo níveis adequados de aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais não são suficientes para promover desenvolvimento máximo em frangos, havendo a necessidade de suplementação com uma fonte de nitrogênio não-específico para que, associada ao esqueleto carbônico proveniente do metabolismo de carboidratos, forme os aminoácidos não-essenciais e outros compostos nitrogenados. O ácido L-glutâmico é considerado por vários autores fonte eficiente de nitrogênio não-específico capaz de promover o desenvolvimento e o crescimento, melhorar o desempenho, diminuir a incidência de problemas de pernas e a mortalidade em aves de corte (Rodrigues, 1996; Guimarães et al., 1993a, b; Ribeiro et al., 1995b, c; Silva et al., 2001).
A vitamina K é conhecida como um cofator para a γ -carboxilase, enzima que catalisa uma transformação pós-síntese, convertendo resíduos específicos de ácido glutâmico a γ -carboxiglutâmico (Gla). O resíduo Gla atua na ativação de alguns fatores da coagulação sangüínea, possibilitando a criação de sítios para a ligação de íons cálcio, o que permite maior adsorsão dessas proteínas nas membranas fosfolipídicas em algumas etapas da coagulação sangüínea (Gallop et al., 1980). A vitamina K também é requerida na carboxilação dos resíduos de L-glutâmico de algumas proteínas ósseas, como osteocalcina e Gla-proteína da matriz, as quais, por meio desse processo, adquirem habilidade para a ligação com íons cálcio (Vermeer et al., 1995).
Além disso, a síntese intestinal de vitamina K é limitada, tornando a suplementação dietética de grande importância (McDowell, 1989). Em aves jovens, o intestino grosso, parte mais importante para a síntese bacteriana, compreende menos que 6% do tamanho total do trato digestivo. A vitamina K sintetizada pela flora intestinal não é absorvida significativamente porque a síntese ocorre na porção mais distal do tubo digestivo (McDowell, 1989).
Uma vez que a vitamina K e o ácido L-Glutâmico são importantes suplementos na promoção do crescimento de aves alimentadas com dietas purificadas, torna-se fundamental esclarecer a influência dos mesmos sobre o desenvolvimento do aparelho digestivo.
Os objetivos neste trabalho foram estudar os efeitos e investigar possíveis interações de níveis de ácido L-glutâmico e vitamina K sobre a atividade da enzima digestiva α-amilase em frangos de corte aos 14 dias de idade submetidos a dietas purificadas.
Material e Métodos
O experimento foi realizado utilizando-se delineamento inteiramente casualizado, em um arranjo fatorial 2x4. A dieta experimental foi suplementada com dois níveis de ácido L-Glutâmico (6,25 e 12,5%) combinados com quatro níveis de vitamina K (0,02; 0,20; 20,0 e 200,0 mg/kg de ração). Foram utilizados 256 pintos Avian Farms de um dia, machos, com peso médio inicial de 48 gramas, distribuídos aleatoriamente em quatro repetições de oito aves por unidade experimental. As aves foram mantidas em baterias aquecidas com piso de tela elevado e foram alimentadas com uma dieta básica purificada (Tabela 1) contendo todos os aminoácidos essenciais, minerais e vitaminas, exceto a Vit K, por 14 dias.
Dietas e água foram fornecidas à vontade. Ao final do experimento, foram selecionadas ao acaso três aves de cada tratamento, que foram pesadas e sacrificadas por deslocamento cervical. O pâncreas e o conteúdo da porção proximal do intestino delgado, entre a junção da moela e o divertículo, foram removidos, pesados, homogeneizados com adição de água destilada na proporção 3:1 (peso:volume), congelados em nitrogênio líquido, liofilizados e armazenados a - 20ºC. De cada amostra do material liofilizado, foi retirada uma alíquota de 1mg, que foi solubilizada em 1 mL de água destilada e deionizada gelada e centrifugada a 7.500 x g por 10 minutos a 4ºC. A atividade de α-amilase foi determinada por espectrofotometria, segundo metodologia modificada de Caraway (1959), que se baseia no princípio de que a α-amilase promove a hidrólise do amido com a liberação de moléculas de carboidratos e dextrina e, com a adição de iodo forma-se cor azul, em virtude da complexação do iodo, com o amido não-hidrolisado. A atividade de α-amilase é inversamente proporcional à
Tabela 1 - Composição da dieta básica purificada
Efeitos de Níveis de Ácido L-Glutâmico e de Vitamina K da Dieta sobre a Atividade de a-Amilase em Frangos de Corte - Image 1
intensidade da cor azul e pode ser calculada pela comparação com um controle de substrato. A leitura da cor desenvolvida é realizada a 660 nm e os valores são expressos em Unidades Internacionais (UI), sendo uma unidade igual a quantidade de enzima que hidrolisa totalmente 10 mg de amido em 30 minutos a 37oC. Para a determinação da concentração de proteína do pâncreas e quimo, foi empregado o método descrito por Warburg & Christian (1941), citados por Whitaker & Granum (1980). Com os valores de concentração de proteína, foram calculadas as atividades específicas (UI/mg de proteína), definidas como número de unidades de enzima por miligrama de proteína (Nelson & Cox, 2000). Os dados de atividades de α-amilase foram transformados em log x e submetidos à análise de variância por intermédio do programa SAEG (1982). Os tratamentos foram comparados pelo teste F (P< 0,05).
Resultados e Discussão
O resumo da análise de variância para as atividades de α-amilase no quimo encontra-se na Tabela 2, na qual podem ser observados efeitos significativos dos tratamentos sobre a atividade específica (UI/mg de proteína) e atividades relativas (UI/g de tecido e UI/100 g de peso corporal).
Na Tabela 3, são apresentados os valores médios das atividades de α-amilase no quimo.
Comparando-se com o nível de 6,25% de L-Glu, 
Tabela 2 - Análise de variância para as atividades de α-amilase no quimo
Efeitos de Níveis de Ácido L-Glutâmico e de Vitamina K da Dieta sobre a Atividade de a-Amilase em Frangos de Corte - Image 2
Tabela 3 - Atividades médias de α-amilase no quimo de pintos de corte1
Efeitos de Níveis de Ácido L-Glutâmico e de Vitamina K da Dieta sobre a Atividade de a-Amilase em Frangos de Corte - Image 3
observa-se redução significativa (P< 0,05) das atividades de α-amilase no quimo, quando foi utilizada a suplementação de 12,5% de L-Glu combinada com 0,02; 0,20 e 20,0 mg de vitamina K/kg de ração.
A suplementação de 6,25% de L-Glu combinada com 20,0 mg de vitamina K/kg na ração resultou em maiores atividades, observando-se aumentos de 3,74; 5,78 e 5,92 vezes quando o nível de vitamina K passou de 0,02 para 20,0 mg/kg de ração.
Nas dietas contendo 12,5% de L-Glu, as atividades de α-amilase mantiveram-se baixas, elevando consideravelmente apenas com o nível de 200,0 mg de vitamina K/kg. Quando o nível de vitamina K passou de 0,02 para 200,0 mg/kg, aumentos de 4,65; 8,66 e 9,08 vezes foram observados nas atividades expressas em UI/mg de proteína, UI/g de tecido e UI/100 g de peso corporal, respectivamente.
Resultados semelhantes foram descritos por Rodrigues et al. (2001), que, ao avaliarem a idade das aves sobre as atividades de α-amilase no quimo, utilizando 12,5% de L-Glu e 2,0 mg de vitamina K/kg de ração, observaram efeitos significativos sobre as atividades enzimáticas de aves aos 14 dias de idade.
Na Tabela 4, é apresentado o resumo da análise de variância para as atividades de α-amilase no pâncreas, não sendo observada interação (P> 0,05) entre L-Glu e vitamina K. O efeito do L-Glu foi significativo (P< 0,01) sobre as atividades relativas de α-amilase, porém não afetou (P> 0,05) a atividade específica. Por sua vez, a vitamina K não exerceu efeito (P> 0,05) sobre as atividades de α-amilase pancreática.
Ao contrário do encontrado neste estudo, Rodrigues (2001), avaliando o perfil enzimático de
Tabela 4 - Análise de variância para as atividades de α-amilase no pâncreas
Efeitos de Níveis de Ácido L-Glutâmico e de Vitamina K da Dieta sobre a Atividade de a-Amilase em Frangos de Corte - Image 4
Tabela 5 - Atividades médias de α-amilase no pâncreas de pintos de corte1
Efeitos de Níveis de Ácido L-Glutâmico e de Vitamina K da Dieta sobre a Atividade de a-Amilase em Frangos de Corte - Image 5
aves de 7 aos 21 dias de idade, utilizando 12,5% de L-Glu associados a 2,0 mg de vitamina K, observou que tanto a atividade específica quanto as atividades relativas de α-amilase pancreática foram maiores nas aves com 14 dias de idade, sugerindo efeitos significativos do ácido L-Glu e vitamina K.
Considerando-se os valores médios das atividades relativas de α-amilase no pâncreas (Tabela 5), observa-se que houve redução significativa (P< 0,05) das atividades enzimáticas quando foi utilizada a suplementação de 12,5% de L-Glu.
Quando expressa em UI/g de tecido, a atividade relativa de α-amilase aumentou 1,63 vezes quando o nível de vitamina K passou de 0,02 para 20,0 mg/ kg de ração e reduziu 1,41 vezes com o avanço do nível para 200,0 mg/kg de ração, nas dietas suplementadas com 6,25% de L-Glu. As aves alimentadas com dietas contendo 12,5% de L-Glu apresentaram redução gradual da atividade enzimática, aumentando-se os níveis de vitamina K. Comparando-se o menor e o maior nível de vitamina K, observou-se que a redução da atividade relativa foi de 2,18 vezes.
Nas dietas suplementadas com 6,25% de L-Glu, a atividade relativa, expressa em UI/100 g de peso corporal, elevou 1,80 vezes quando o nível de vitamina K passou de 0,02 para 20,0 mg/kg de ração e reduziu 1,87 vezes com o aumento do nível para 200,0 mg/kg de ração. Elevando-se o nível de L-Glu para 12,5%, houve redução gradual da atividade de α-amilase. As aves que receberam 200,0 mg de vitamina K/kg apresentaram redução de 2,07 vezes em relação àquela observada com 0,02 mg de vitamina K/kg de ração.
Lima et al. (2003) e Pinchasov et al. (1990) sugeriram que as atividades das enzimas digestivas no intestino delgado são correspondentes à quantidade de conteúdo intestinal e variam diariamente de acordo com o estado de alimentação. Além disso, parece que a síntese de enzimas pancreáticas é também regulada pela presença de quimo no intestino. Os estudos sobre as atividades enzimáticas de aves de corte ainda são pouco conclusivos. Portanto, a redução das atividades enzimáticas, observada em alguns tratamentos do presente estudo, não pode ser explicada considerando-se apenas os níveis de suplementação. Seria necessário avaliar todo o processo digestivo das aves para propor estratégias nutricionais adequadas.
Conclusões
Os resultados deste estudo sugerem que a associação entre ácido L-Glutâmico e diferentes níveis de vitamina K interfere na atividade enzimática de αamilase em aves de corte submetidas a dietas purificadas.
Em geral, o nível de 12,5% de L-Glu, associado a diferentes níveis de vitamina K, reduziu a atividade enzimática.
Esse artigo foi originalmente publicado em Esse artigo foi originalmente publicado em R. Bras. Zootec., v.34, n.2, p.541-547, 2005 | https://www.scielo.br/j/rbz/a/TfM9wkW4MYDSSvZmmWSKb3R/?format=pdf&lang=pt. Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

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