Criptas intestinais frango caipira

O sucesso da atividade avícola depende do equilíbrio entre produtividade e lucratividade (Brandalize, 2001), na qual 70 a 80% do custo total de produção refere-se a alimentação. Por esse motivo, vários pesquisadores buscam fontes alternativas para a redução de custo sem perda de qualidade (Alvarenga et al., 2004). Diante disso, os subprodutos da agroindústria são fontes valiosas de proteínas, energia e fibra para a indústria de produção animal e, tradicionalmente, têm sido utilizados para substituir concentrados energéticos e protéicos (NRC, 1994).
O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) por sua vez é um fruto bastante produzido na região Amazônica Brasileira, todavia a indústria beneficia a poupa e as sementes são descartadas. Nesse contexto, a torta de semente de cupuaçu (TSC) torna-se uma alternativa para a alimentação do frango caipira.
Por outro lado, as características físicas e químicas dos nutrientes afetam diretamente o desenvolvimento da mucosa intestinal, ao ponto que o adequado e rápido ganho de peso das aves está diretamente relacionado à integridade morfofuncional do sistema digestório (Maiorka et al., 2000; Maiorka & Macari, 2002; Smith et al., 1990).
A mucosa intestinal das aves é formada por vilosidades e criptas (Macari et al., 1994). O desenvolvimento da mucosa intestinal consiste no aumento da altura e densidade dos vilos intestinais, as quais são renovadas constantemente pelas criptas intestinais (Cunningham, 1993). Caso um nutriente leve a manutenção ou diminuição da taxa de proliferação celular, ocorre redução na altura dos vilos e, conseqüentemente, diminuição na taxa de digestão e de absorção dos nutrientes (Macari, 1998). De acordo com Applegate et al. (1999), as divisões mitóticas nas criptas respondem por 55% da proliferação celular no intestino.
Este trabalho teve como objetivo investigar o efeito da inclusão de níveis crescentes de torta de semente de cupuaçu (TSC) sobre a profundidade das criptas intestinais de duodeno e jejuno em frango caipira.

Para o presente estudo foram utilizados 300 pintos, linhagem Pedrês, alojados em 30 boxes, cada um contendo 10 animais. Durante o período experimental os animais receberam água e ração a base de milho e farelo de soja com inclusão de níveis crescentes de torta de semente de cupuaçu (Theobroma grandiflorum). O delineamento utilizado foi inteiramente ao acaso, com cinco tratamentos e seis repetições, sendo: T1 - Controle, sem inclusão da torta de semente de cupuaçu (TSC); T2 - Inclusão de 5% de TSC; T3 - Inclusão de 10% de TSC; T4 - Inclusão de 15% de TSC e T5 - Inclusão de 20% de TSC.
As aves foram submetidas a jejum alimentar de 24 horas antes do abate ocorrido aos 71 dias de idade. Após a eutanásia foram colhidos fragmentos de 3 cm de comprimento provenientes do duodeno e jejuno, os quais foram cortados longitudinalmente, lavados e estendidos pela túnica serosa. Esses fragmentos foram acondicionados em formaldeido a 10% por 48 horas e logo após mantidos em álcool etílico a 70%. Em seguida as amostras foram submetidas ao processamento histológico convencional e incluídos em blocos de parafina para obtenção de cortes de 05 µm de espessura, os quais foram corados pela Hematoxilina-Eosina, a fim de identificar e avaliar a morfologia intestinal.
Posteriormente, com o auxilio de microscópio com uma câmera acoplada e um programa de morfometria específico AXIOSCOPIO VISION Release 4.8.2, foram feitas mensurações de profundidade das criptas partindo de sua base até a região de transição cripta:vilosidade.
As análises estatísticas foram feitas pelo método de análise de variância (ANOVA), e quando necessário, foi utilizado o teste de Tukey ao nível de 5,0% de probabilidade, para verificar diferenças significativas entre as médias dos tratamentos.

A profundidade das criptas aos 71 dias de idade não foi influenciada (p>0,05) pelos diferentes tipos de tratamentos (Tabela 1). A torta de semente de cupuaçu é ingrediente rico em fibras e como tal não induziu a proliferação celular e consequente adaptação do epitélio intestinal. Esse fato também foi observado em coelhos tratados com grandes concentrações de fibras (Amoroso et al., 2009).

Tabela 1. Médias e desvios-padrão de profundidade de cripta (µm) em relação aos diferentes tipos de tratamento

Ainda de acordo com os resultados apresentados foi possível observar que o tamanho das criptas apresentou um valor decrescente para o duodeno e um valor crescente para o jejuno, à medida que houve aumento dos níveis de inclusão da torta de semente de cupuaçu a ração.

A inclusão de diferentes concentrações de torta de cupuaçu a ração não altera o tamanho das criptas intestinais, duodeno e jejuno, e consequentemente não afeta proliferação celular neste local, podendo ser utilizado na alimentação de frango caipira.

Alvarenga BO, Beletti, ME, Fernandes EA, Silva MM, Campos LFB, Ramos SP. 2004. Efeitos de fontes alternativas de fósforo nas rações de engorda e abate sobre a morfologia intestinal de frango de corte. Bioscience Journal 20:55-59.

Amoroso L, Baraldi-Artoni SM, Santos EA, Oliveira D, Franzo VS, Barreiro FR, Junqueira OM, Filadelpho AL. 2009. Análise morfométrica do intestino delgado de coelhos da raça nova zelândia branco alimentados com diferentes níveis de fibra. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária 13:1-11.

Applegate TJ, Dibner JJ, Kitchell ML, Uni Z, Lilburn MS. 1999. Effect of turkey (Meleagridis gallopavo) breeder hen age and egg size on poultry development. 2. Intestinal villus growth, enterocyte migration and proliferation of turkey poult. Comparative Biochemistry Physiology B 124:381-389.

Brandalize VH. 2001. Influência da nutrição da matriz, sobre a performance do frango de corte. p 46. Em: Encontro Técnico em Ciências Aviárias, Uberlândia.

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Macari M, Furlan RL, Gonzales E. 1994. Fisiologia Aplicada a frango de corte. Funep/Unesp, Jaboticabal.

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