Introdução
Diante da restrição ao uso de antibióticos melhoradores de desempenho na alimentação animal, bem como da preocupação dos consumidores com a qualidade dos produtos, exigindo alimentos mais saudáveis e com ausência de resíduos químicos, vêm aumentado a busca por aditivos naturais alternativos, que por meio de mecanismos específicos, ajudam a superar desafios que favorecem a manifestação de problemas entéricos nos animais.
Estudos têm demonstrado que glutamina e ácido glutâmico (Newsholme, 2003a; 2003b; Yi et al., 2005; Yoo et al., 1997), bem como óleos essenciais e extratos vegetais (Christaki et al., 2004; Jamroz et al., 2005; Vasconcelos et al., 2010) são capazes de melhorar a resposta imune, a microflora intestinal prevenindo efeitos negativos na estrutura do intestino e, conseqüentemente, melhorando absorção dos nutrientes e o desempenho final dos animais, o que os tornam suplementos interessantes para criação de frangos de corte alternativos durante períodos de desafio.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da suplementação da dieta com glutamina mais ácido glutâmico e aditivos fitogênicos, associados ou não, como alternativa aos antibióticos melhoradores de desempenho (AMD), sobre a morfologia da mucosa intestinal de frangos de corte na fase inicial de criação.
Material & Métodos
Em delineamento inteiramente casualisado, com seis tratamentos e três repetições, foram alojados 450 pintos de corte machos de 1 dia de idade da linhagem Cobb, vacinados no incubatório contra doença de Marek, Gumboro e Bouba aviária, em gaiolas metálicas dispostas em fileiras, munidas de comedouros frontais e bebedouros tipo nipple. Os tratamentos consistiram de dieta controle (DC); DC+Vacina contra coccidiose; DC+antibióticos melhoradores de desempenho (AMD); DC+glutamina+ácido glutâmico1 (Gln/Glu); DC+aditivos fitogênicos2 (AFs) e DC+Gln/Glu+AFs.
As exigências nutricionais das aves foram estabelecidas de acordo com Rostagno et al. (2005). Água e ração foram fornecidas ad libitum e o programa de luz foi constante, com fornecimento de 24 horas de luz durante todo o período experimental.
As aves do tratamento Controle + Vacina foram vacinadas individualmente e oralmente, aos três dias de idade, contra coccidiose (Livacox® - Biopharm).
Para a análise mnorfológica da mucosa intestinal aos sete dias de idade, foram tomadas, aleatoriamente, duas aves por repetição e sacrificadas por deslocamento da articulação crânio-cervical para coleta de amostras de segmentos do duodeno, jejuno e íleo. As amostras foram fixadas em solução de formol a 10% por 24 horas. Posteriormente, foram lavadas e transferidas para álcool 70%, desidratadas em uma série crescente de álcoois, diafanizados em xilol e incluídas em Paraplast. Com o uso do micrótomo foram obtidos cortes de cinco micrômetros de espessura, os quais foram corados com hematoxilina-eosina. Nestes cortes, utilizando-se um microscópio ótico acoplado a um sistema analisador de imagens e computador, foram medidas as alturas de vilosidades e profundidade de criptas de cada segmento.
Os dados obtidos foram tabulados e analisados com auxílio do procedimento GLM do software SPSS 13.0 for Windows (2004) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
1AminoGut ® com inclusão de 1% de 1-21 dias e de 0,5% de 22-42 dias.
2Imunostart® (extrato de curcuma, extratos de citros e extratos de sementes de uva) com inclusão de 700g/ton de 1-10dias de idade; 500g/ton de 11-21 dias de idade) + Enterocox® (óleo de eucalipto, óleo essencial de Canela-da-China, folhas de Boldo-do-Chile, sementes de Feno-Grego) com inclusão de 300g/ton de 1-10 dias de idade, 1000g/ton de 11-35 dias de idade e 500g/ton de 36-42 dias de idade).
Resultados & Discussão
Houve influência dos tratamentos (P<0,05) apenas para altura de vilosidade e profundidade de criptas dos segmentos do duodeno e íleo (Tabela 1). A maior altura de vilosidade no duodeno foi observada no tratamento Gln+Glu em relação ao DC, DC+Vacina e AFs, não deferindo dos tratamentos Gln+Glu+AFs e AMD, que não diferiram entre si nem dos demais tratamentos. A maior profundidade de cripta no duodeno foi observada nos tratamentos Gln+Glu e DC+vacina em relação ao DC, não deferindo dos demais tratamentos, que não diferiram do DC e nem entre si. A maior altura de vilosidade no íleo foi observada no tratamento Gln+Glu em relação ao DC, não deferindo dos demais tratamentos, que também não diferiram entre si e nem do DC. A maior profundidade de cripta do íleo foi observada nos tratamentos Gln+Glu e Gln+Glu+Afs em relação aos demais tratamentos que não diferiram entre si.
Tabela 1. Altura de vilosidade e profundidade de cripta do duodeno, jejuno e íleo de frangos de corte aos sete dias de idade segundo os tratamentos
a,bMédias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem pelo teste de Tukey (P<0,05).
A glutamina e ácido glutâmico, além de contribuírem com o fornecimento de energia necessário para as atividades metabólicas de células que proliferam rapidamente, como as células do sistema imune e intestino (Newsholme, 2003a; 2003b), também são considerados precursores para síntese de purinas e pirimidinas (constituintes básicos dos nucleotídeos, componentes das moléculas de DNA e RNA) e de outros aminoácidos, suportando a divisão (turnover) das células da cripta, conduzindo ao aumento do número e altura dos vilos e auxiliando no reparo das injúrias no epitélio intestinal (Piva et al., 2001). Neste estudo foi possível verificar a ação destes aminoácidos nos segmentos do duodeno e íleo com aumento significativo na altura das vilosidades e profundidade das criptas. Os resultados deste trabalho corroboram com os de outros autores que também verificaram aumentos na altura das vilosidades intestinais de aves alimentadas com dieta suplementada com glutamina (Bartell & Batal, 2007). Aditivos fitogênicos vêm sendo estudados como suplementos eficazes na redução da infecção por bactérias e Eimerias sp. (Jamroz et al., 2005; Vasconcelos et al., 2010). Porém, devido as aves não terem sofrido desafio nesta fase de criação, não foi possível verificar os prováveis efeitos benéficos dos aditivos fitogênicos sobre as estruturas dos intestinos. Quanto à maior profundidade de criptas na região do duodeno para o tratamento DC+Vacina, isto pode ter ocorrido em função da vacina contra coccidiose ter estimulado a proliferação das células da cripta na tentativa de reparar os possíveis danos nas vilosidades.
Conclusões
Glutamina e ácido glutâmico, associados ou não a aditivos fitogênicos, podem oferecer melhorias à estrutura e, consequentemente, à função do intestino, principalmente em criações onde é proibida a utilização de antibióticos melhoradores de desempenho.
Bibliografia
Bartell SM & Batal AB. 2007. The Effect of Supplemental Glutamine on Growth Performance, Development of the Gastrointestinal Tract, and Humoral Immune Response of Broilers. Poultry Science. 86:1940-1947.
Christaki E et al. 2004. Effect of a mixture of herbal extracts on broiler chickens infected with Eimeria tenella. Animal Research. 53:137-144.
Jamroz D et al. 2005. Use of active substances of plant origin in chicken diets based on maize and domestic grains. British Poultry Science. 46:485-493.
Newsholme P et al. 2003a. Glutamine and glutamate-their central role in cell metabolism and function. Cell Biochem Funct, 21:1-9.
Newsholme P et al. 2003b. Glutamine and glutamate as vital metabolites. Brazilian Journal of Medical and Biological Research. 36:(2)153-163.(Review).
SPSS 13.0 for Windows. Release 13.0 (1 Sep. 2004). SPSS Inc.
Vasconcelos SP et al. 2010. Uso de óleo essencial de orégano, alecrim, canela e extrato de pimenta no controle de clostridioses em frangos de corte. In: Conferencia APINCO de Ciência e Tecnologia Avícola, Santos, SP. Em CDRom.
Yi G et al. 2005. Impact of glutamine and Oasis hatchling supplement on growth performance, small intestinal morphology, and immune response of broilers vaccinated and challenged with Eimeria maxima. Poultry Science. 84:283-293.
Yoo SS et al. 1997. Glutamine supplementation maintains intramuscular glutamine concentration and normalizes lymphocyte function in infected early-weaned pigs. Journal of Nutrition. 127:2253-2259.