Introdução
Tradicionalmente, as criações domésticas de galinha caipira, praticadas nas unidades agrícolas familiares, se caracterizam pela sua forma de exploração extensiva, onde as práticas de manejo não envolvem eficientemente os aspectos reprodutivos, nutricionais e sanitários. Tal fato resulta em índices de fertilidade e natalidade reduzidos (Sagrilo et al., 2003). Essa ave, conhecida por caipira (região Sudeste), colonial (região Sul) ou capoeira (região Nordeste), tem características sensoriais diferenciadas das aves criadas em confinamento comercial, com carne mais escura e firme, sabor acentuado e menor teor de gordura na carcaça (Takahashi et al., 2006).
A literatura tem mostrado que o desempenho das aves tem relação direta com o nível de energia da ração. Entretanto, poucas pesquisas para estudar exigências de energia para aves de crescimento lento foram realizadas até o momento. Nesse contexto, o embasamento teórico é fundamentado nos trabalhos para estudar as exigências de energia metabolizável (EM). De acordo com Zanusso & Dionello (2003), seria impossível criar até 12 semanas de idade uma linhagem com crescimento rápido, pois seu peso seria demasiadamente elevado, sua taxa de engorda excessiva, piorando a conversão alimentar, além de apresentar mortalidade elevada e possíveis problemas locomotores. Por isso, foram estudados genes específicos para o crescimento mais lento e adaptadas para estas características. O presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito dos níveis de energia metabolizável da ração sobre o desempenho de frangos da linhagem Caipira Francês Barre, na fase de engorda.
Materiais & Métodos
O experimento foi conduzido em um galpão experimental cedido para a Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA, localizado em Parauapebas - PA. Foram utilizados 192 pintos da linhagem Caipira Francês Barré, mistos, com 1 dia criados em sistema intensivo. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com 3 tratamentos de 4 repetições, sendo a unidade experimental 1 box com 16 aves.
Os tratamentos adotados foram definidos pelos níveis de energia das rações na fase de engorda (29 a 90 dias) sendo: T1 - 3.100 kcal de EM/kg; T2 - 3.200 kcal de EM/kg e T3 - 3.300 kcal de EM/kg. Para composição das rações foram utilizados componentes convencionais como milho, farelo de soja, óleo de soja, farinha de carne, calcário, fostato bicálcico, cloreto de sódio e premix mineral e vitamínico (Tabela 1).
Tabela 1. Composição percentual e análise calculada das dietas na fase de engorda.
(*) Composição por kg do produto: Vit. A - 1.335,000 UI; Vit. D3 - 300.000 UI; Vit. E - 2.000 mg; Vit. B1 - 167 mg; Vit. B2 - 670 mg; Vit. B6 - 170 mg; Vit. K3 - 335 mg; Vit. B12 - 1.670μg; Biotina - 7 mg; Ácido fólico - 67 mg; Niacina - 4.670 mg; Selênio - 35 mg; Antioxidante - 2.000 mg; Pantontenato de Cálcio - 1.870 mg; Cobre - 1.000 mg; Cobalto 17 mg; Iodo - 170 mg; Ferro 8.335 mg; Manganês - 10.835 mg; Zinco - 7.500mg; Cloreto de colina 50% - 83.340; Metionina - 235.000 mg; Coccdiostático - 10.000 mg; Promotor de crescimento - 10.000.
Logo após a chegada dos pintos no galpão experimental, realizou-se o manejo de seleção e pesagem. Lotes homogêneos de 16 pintos foram pesados e distribuídos aleatoriamente nos boxes, de acordo com a identificação dos tratamentos e repetições. A água foi fornecida à vontade. Os bebedouros foram lavados e cheios duas vezes por dias para evitar a redução do consumo de água e conseqüentemente de ração.
A ração foi pesada uma vez por semana e fornecida á vontade, evitando a falta nos comedouros. Duas vezes por dia a ração dos comedouros foi mexida para estimular o consumo e as raspas de maravalha foram retiradas.
As variáveis estudadas foram peso inicial, peso final, consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar, consumo de proteína bruta, consumo de energia metabolizada, eficiência energética e eficiência protéica. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o procedimento ANOVA, para um modelo inteiramente casualizado, com o programa "Sistema para análise estatística e genética" (SAEG, 2007). As diferenças entre as médias das variáveis estudadas foram realizadas pelo Teste de Tukey a um nível de 5%.
Resultados & Discussão
A análise dos dados coletados revelou que o peso inicial, o peso final, o ganho de peso acumulado e a conversão alimentar não foram influenciados pelos níveis de energia metabolizável das dietas. Aves alimentadas com dietas contendo 3.200 e 3.300 kcal de EM/kg obtiveram um maior consumo de ração e diferiram significativamente (p<0,05) da dieta com 3.100 kcal de EM/kg (Tabela 1).
Tabela 2. Desempenho zootécnico de frangos da linhagem Caipira Francês Barré alimentados com rações contendo diferentes níveis de energia metabolizável na fase de engorda (29 a 91 dias de idade).
Médias seguidas de diferentes letras minúsculas nas colunas diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Tukey (p<0,05).
Resultados semelhantes foram encontrados por Mendes et al. (2006) que alimentando frangos de corte da linhagem Coob, com uma dieta com níveis de energia entre 3.020 e 3.140 kcal de EM/kg não observaram efeito significativo (P>0,05) para o peso médio e ganho de peso. Por outro lado, Gomes et al. (2002), trabalhando com a mesma linhagem, observaram diferença significativa (P<0,05) no ganho de peso das aves que consumiram ração com 2.800 e 3.000 kcal de EM/kg,
Segundo Noy & Sklan (2002), algumas pesquisas comprovaram que o aumento nos níveis energéticos das dietas promove incremento no ganho de peso de frangos de corte. Todavia, outros estudos indicam que esta variável atinge um platô e depois de determinado nível as aves não respondem mais ao aumento de energia das rações.
A proteína bruta e a energia metabolizada consumida foram influenciadas pelos níveis de energia nas dietas, sendo que as aves que consumiram 3.100 kcal de EM/kg apresentaram uma redução significativa no consumo em relação às outras dietas (Tabela 3).
Tabela 3. Eficiência energética e protéica de frangos da linhagem Caipira francês Barré na fase de engorda (29 a 91 dias de idade).
Médias seguidas de diferentes letras minúsculas nas colunas diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Tukey (p<0,05).
A eficiência protéica não foi influenciada pelos níveis de energia nas dietas. Já a eficiência energética foi reduzida com o aumento dos níveis de energia. O nível de 3.100 kcal de EM/kg nas dietas contribuiu significativamente para melhorar eficiência energética das aves.
Estudando os efeitos da relação energia: proteína sobre o desempenho de frangos de corte na fase de engorda, Reginatto et al. (2000) concluíram que não há vantagens em diminuir a energia da ração no período de 22 a 40 dias de idade, pois ocorre menor ganho de peso e pior conversão alimentar. Por outro lado, dietas iniciais de baixa energia promovem, na fase subsequente, um período de crescimento acelerado, onde as aves apresentam melhor conversão calórica.
Conclusões
Os níveis de energia da ração não influenciaram no desempenho zootécnico dos frangos da linhagem Caipira Francês Barré, na fase de engorda. A eficiência energética foi reduzida com o aumento dos níveis de energia nas dietas, entretanto não houve alteração da eficiência proteíca.
Bibliografia
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Mendes MV, Sousa JR, Gomes AP, Almeida LN. 2006. Desempenho de Frangos de Corte, Sexados, Submetidos a Dietas Formuladas com Níveis Crescentes de Energia. Ciência Rural 52(6):121-130.
Noy Y & Sklan D. 2002. Nutrient use in chicks during the first week posthatch. Poultry Science 81:391-399.
Reginatto MF, Ribeiro AM, Penz Jr AM, Kessles AM, Krabbe EL. 2000. Efeito da Energia, Relação Energia: Proteína e Fase de Crescimento sobre o desempenho e composição de carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira de Ciência Avícola 2(3):229-237.
SAEG - Sistema para Análise Estatística. 2007. Versão 9.1: Fundação Arthur Bernardes - UFV - Viçosa.
Sagrilo E, Girão ES, Barbosa FJV et al. 2003. Validação do Sistema Alternativo de Criação de Galinha Caipira. Embrapa Meio Norte. Sistema de produção 1:1.
Takahashi AA, Mendes ESPB, Saldanha CC, Pizzolante K, Pelícia RG, Garcia ICLA, Paz RR. 2006. Efeito do sistema de criação sobre o desempenho e rendimento de carcaça de frangos de corte tipo colonial. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 58(4):624-632.
Zanusso JT & Dionello NJL. 2003. Produção avícola alternativa: análise dos fatores qualitativos da carne de frangos de corte tipo caipira. Revista Brasileira de Agrociência, 9:191-194.