•1. INTRODUÇÃO
O selênio (Se) é um microelemento essencial na dieta de animais e está envolvido no sistema antioxidante do organismo através da enzima glutationa peroxidase (Gierus, 2007). Participante de várias enzimas (EDENS, 2004), o Se está envolvido nos mais diversos processos metabólicos e bioquímicos no organismo animal (Dalhke et al., 2005).
As plantas são as maiores fontes dietéticas de Se. O conteúdo de selênio no alimento depende da sua presença no solo aonde estas plantas se desenvolveram. Focos de deficiência de Se têm sido identificados em várias regiões do mundo, assim como no Brasil, tornando indispensável a suplementação aos animais (Gierus, 2007).
•2. FUNÇÃO DO SELÊNIO NA NUTRIÇÃO ANIMAL
2.1. ANTIOXIDANTE
A importância do selênio no organismo se dá por ele ser um componente das selênioproteínas, as quais apresentam importantes funções enzimáticas. As principais selenoproteínas são: as enzimas glutationa peroxidase (GPx1ou clássica presente no citosol, GPx2 ou gastrointestinal, GPx3 ou extracelular, GPx4 ou fosfolipídeo hidroperóxido expressas nos testículos) iodotironina deiodinase (TI, TII, TIII), tireodoxina redutase, selenofosfato sintetase, selenoproteína P, selenoproteína W, selenoproteína epitelial prostática, selenoproteína espermática ligada ao DNA, 18 KDa selenoproteína T. Desta forma, o selênio acaba funcionando como um importante centro redutor, principalmente na neutralização dos radicais livres (Sarmento, 2006).
O termo radical livre refere-se a átomo ou molécula altamente reativo, que contêm número ímpar de elétrons em sua última camada eletrônica. É este não emparelhamento de elétrons da última camada que confere alta reatividade a esses átomos ou moléculas. Todos os componentes celulares são suscetíveis à ação dos radicais, porém a membrana é um dos mais atingidos em decorrência da peroxidação lipídica, que acarreta alterações na estrutura e na permeabilidade das membranas celulares. Conseqüentemente, há perda da seletividade na troca iônica e liberação do conteúdo de organela e formação de produtos citotóxicos, culminando com a morte celular (Ferreira e Matsubara, 1997).
Segundo Rocha (2008), o animal possui um sistema elaborado e complexo de defesa antioxidante para tratar ataques violentos dos radicais livres. Entretanto, cada vez mais há evidências sobre os benefícios de adicionar antioxidantes, como o Selênio e vitamina E, em dietas para dar suporte ao sistema de produção própria do organismo.
Quadro 1. Funções das selênioproteínas:
FONTE:Sarmento, 2006.
2.2. IMUNOESTIMULANTE
Além da função antioxidante, o selênio é importante como imunoestimulante. Animais com deficiência de selênio podem ter suprimida a capacidade de defesa contra doenças infecciosas.
2.3. FERTILIDADE
O selênio é fundamental para a fertilidade masculina, sendo necessário para a biosíntese de testosterona e para a formação e desenvolvimento normais do espermatozóide. A enzima selênio dependente glutationa peroxidase (GPx4) formaria um escudo protegendo os espermatozóides maduros dos danos oxidativos (Sarmento, 2006).
A participação do selênio na fisiologia do útero é vital, pois a função antioxidante mantem sadio o ambiente uterino, para a passagem dos espermatozóides,
na época do cio, e para receber o embrião e protegê-lo durante toda a gestação. Dessa forma, acredita-se que o selênio atua na melhora da sobrevivência do embrião (Nascimento, 2008).
2.4. ANTICARCINOGÊNICO
Animais recebendo uma dieta suplementada com selênio mostram uma redução na incidência de tumores ou no tamanho do tumor. Contudo, o mecanismo responsável por este fenômeno ainda não é esclarecido, mas acredita-se que a ação do selênio em inibir o crescimento tumoral possa incluir os seguintes processos: atividade antioxidante sobre as selenoproteínas, efeito antiinflamatório derivado de interações com o sistema imune e a via de cicloxigenase-lipoxigenase, e também mudanças na expressão global de gene, que pode bloquear a progressão do ciclo celular ou induzir a apoptose em ambos precursores tumorais ou células estromais (Assis, 2007 citando Felix et al., 2004).
•1. SELÊNIO NOS ALIMENTOS E SUPLEMENTAÇÃO
A concentração de Se nas plantas forrageiras e concentrados é baixa (Gierus, 2007), por isso uma suplementação com misturas minerais contendo Se mostra-se indispensável.
Os suplementos minerais também possuem Se tanto na forma inorgânica como orgânica. As principais fontes de selênio inorgânico são selenato de sódio (Na2SeO4) e o selenito de sódio (Na2SeO3). As formas orgânicas, por sua vez, estão disponíveis como leveduras enriquecidas, que crescem sobre um substrato contendo pouco enxofre e muito Se. Dessa forma, o Se encontrado é basicamente a selêniometionina, porém com diversas outras formas ainda desconhecidas (Gierus, 2007). Para aves e suínos a utilização do selênio orgânico, em substituição ao selênio inorgânico, tem-se mostrado mais eficiente, pois melhora o desempenho dos animais e permite o aumento da concentração do micronutriente na musculatura, beneficiando o consumidor final (Pietras et al. 2005).
Tabela 1. Variação no conteúdo de selênio (mg/kg de matéria natural) de alguns alimentos usuais utilizados na alimentação animal:
•1. REQUERIMENTO DE SELÊNIO NA DIETA DE ANIMAIS
Baseado no National Resarch Council (NRC) publicado em 1983 o requerimento de selênio para a maioria dos animais fica em torno de 0,05 a 0,3 ppm da matérica seca ingerida pelo animal.
•2. DEFICIÊNCIA
A deficiência de selênio pode resultar na redução de crescimento, fertilidade e produção de anticorpos. Além disso, a deficiência de selênio pode levar a acúmulo de peróxidos nas membranas celulares causando necrose, com posterior fibrose e calcificação, principalmente nos músculos esquelético e cardíaco. Tal distúrbio é conhecido por Distrofia muscular enzoótica ou Doença do músculo branco.
•3. TOXICIDADE
Rosenfeld e Beath (1964) classificaram três distintas formas de intoxicação por selênio em animais (a) aguda, (b) Crônica do tipo causador de incoordenação motora e cegueira (blind-stagger type), (c) crônica do tipo causador da doença alcalina (alkali disease type). No campo, o envenenamento agudo por selênio é causada por ingestão de grande quantidade de plantas seleniferosas num curto período de tempo. Sinais de severa aflição abrangem respiração forçada, movimentação e postura anormal, prostração e diarréia, seguido de morte em poucas horas. Selenose aguda é geralmente não é um problema na prática veterinária porque o gado usualmente evita as plantas acumuladoras de selênio exceto quando não há outra pastagem disponível.
De acordo com Rosenfeld e Beath (1964) a cegueira e incoodenação (blind staggers) ocorrem em animais que consumiram uma quantidade limitada de plantas acumuladoras de selênio por um período de semanas a meses.
Animais que consomem gramíneas contendo 5 a 40 mg de selênio/ kg por um período de várias semanas ou meses sofrem de uma crônica selenose, conhecido como doença alcalina. Sinais característicos incluem cirrose hepática, laminite, malformação dos cascos, queda de pêlo e emagrecimento.
Não há um método efetivo para evitar toxicidade do selênio em animais de produção, exceto remover esses animais de áreas com solos muito ricos em selênio. Os grãos e gramíneas cultivadas nessas áreas podem ser usados se forem misturados com culturas produzidas em áreas de solo mais pobre em selênio.
•4. CONCLUSÃO
O selênio, micronutriente essencial presente nos tecidos do corpo, constitui parte integrante da enzima glutationa peroxidase, que atua como antioxidante. O selênio é considerado mineral essencial ao bom desempenho dos animais e, como nutriente, é necessário na dieta dos mesmos, sendo que as concentrações recomendadas variam de 0,05 a 0,3 ppm.
O fornecimento de selênio através de dietas artificiais para animais é resultado da inclusão de selenito de sódio ou selênio orgânico (selêniometionina).
•5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Assis, F.A. Efeito do selênio orgânico e da vitamina E no crescimento tumoral e na resposta imunológica ao tumor experimental de Ehrlich. Tese de Mestrado em Patologia, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
Dahlke, F.; Gonzales, E.; Furlan, R.L.; Gadelha, A.C.; Maiorka, A.; Almeida, J.G. Avaliação de diferentes fontes e níveis de selênio para frangos de corte em diferentes temperaturas. Archives of Veterinary Science. v.10, p. 21-26, 2005.
Felix, K et al. Selenium deficiency abrogates inflammation-dependent plasma cell tumors in mice. Cancer Res., 64: 2910-2917, 2004.
Ferreira, A.L.A.; Matsubara, L.S. Radicais livres: conceitos, doenças relacionadas, sistema de defesa e estresse oxidativo. Rev. Assoc. Med. Bras., v..43, n.1, 1997.
Nascimento, E.E. Suplementação de selênio na dieta de caprinos sobre a produção e qualidade do embrião.Tese de Mestrado em Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá, 2008.
NRC (National Research Council), Selenium in Nutrition, Revised Edition. Washington: National Academy of Sciences. 1983.
Santos, C.D.; Abreu, C.M.P.; Oliveira, D.F.; Cardoso, M.G. Efeito de fonte e níveis de selênio na atividade enzimática da glutationa peroxidase e no desempenho de frangos de corte. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.25, n.3. p.661-666, 2001.
Gierus, M. Fontes orgânicas e inorgânicas de selênio na nutrição de vacas leiteiras: digestão, absorção, metabolismo e exigências. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, p.1212-1220, 2007.
Piedras, S.R.N.; Morae, R.R.; Isoldi, L.A.; Pouey, J.L.O.F.; Rutz, F. Comparação entre selênio orgânico e o inorgânico empregados na dieta de alevinos de judiá (Rhamdia quelen) B. Inst. Pesca, São Paulo, v.31, n.2, p.171 - 174, 2005.
Rocha, M.A. Biotecnologia na nutrição de cães e gatos, Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.42-48, 2008.
Rosenfeld, I. e Beath, O. A. Selenium- Geobotany,Biochemistry, Toxicity and Nutrition. New York: Academic Press, 411 p., 1964.
Rostagno, H.S. et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos - Composição dos Alimentos e Exigências Nutricionais, Segunda Edição, Viçosa: UFV, 2005.
Sarmento, R.F.O.Revisões Sistemáticas em Terapia Intensiva - Suplementação de Selênio, Medicina Perioperatória, p.903-912, 2006.