A dieta de aves e suínos pode ficar sem vitaminas essenciais nos primeiros meses de 2018. Devido a um incêndio que paralisou uma unidade da multinacional alemã Basf, responsável por mais de 40% das vitaminas A e E produzidas no mundo, os preços desses nutrientes dispararam, evidenciando um risco concreto de escassez, especialmente para os clientes que compram vitaminas no mercado spot.
Desde o acidente, em 31 de outubro, o preço médio da vitamina A saltou de US$ 72,11 por quilo para US$ 433 por quilo, revelou uma fonte do segmento que acompanha diariamente os preços dos nutrientes. No caso da vitamina E, o preço médio subiu de US$ 4,56 por quilo em outubro para US$ 24,48 por quilo no início de dezembro.
"Estamos passando por uma situação de desabastecimento", afirmou ao Valor Rodrigo Silva Miguel, executivo que lidera as operações de premix (pré-mistura de vitaminas e minerais) da francesa Neovia no Brasil. Controlado pela central de cooperativas francesas InVivo, a Neovia é uma das maiores empresas de nutrição animal no planeta.
De acordo com Miguel, a indústria trabalha com estoques, mas dificilmente eles serão suficientes para resistir ao período de paralisação da fábrica da Basf em Ludwigshafen, na Alemanha. Por ora, a sinalização da multinacional é que a fábrica voltará a funcionar no fim de março, afirmou o vice-presidente da executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), Ariovaldo Zani.
Procurada, a Basf informou que só poderá reiniciar a produção das vitaminas quando o abastecimento de citral, composto químico orgânico utilizado na fabricação das duas vitaminas, for restabelecido. Foi o incêndio na fábrica que produzia citral, aliás, que inviabilizou a produção de vitaminas da Basf.
Devido ao incidente, a multinacional alemã acionou a cláusula de força maior para não cumprir os contratos de fornecimento. "O impacto da situação de Força Maior e seus efeitos para os clientes estão sendo avaliados no momento. Enquanto isso, a Basf está implementando medidas para restringir as consequências da situação", informou a empresa, em comunicado.
As vitaminas A e E são relevantes na dieta de aves e suínos. De acordo com o professor titular do departamento de zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), José Fernando Menten, aves e suínos precisam das vitaminas porque a dieta básica deles não supre a necessidade desses nutrientes. "Embora o milho e o farelo de soja, ou outros alimentos alternativos, tenham um ótimo valor nutricional, são relativamente pobres em vitaminas", explicou, por e-mail, ao Valor.
Conforme o zootecnista, o crescimento rápido de aves e suínos também faz com que os animais tenham necessidade de vitaminas. Segundo Menten, a ausência da vitamina A reduz o apetite dos animais, o que pode afetar a taxa de crescimento. No Brasil, os frangos são engordados em pouco mais de 40 dias. Além disso, a escassez de vitamina A também pode levar à cegueira, ao ressecamento da córnea, à redução da resistência a infecções e problemas reprodutivos.
No caso da vitamina E, a perda de apetite também é um das possíveis consequências da escassez, de acordo com o professor da USP. Além disso, a função primordial dessa vitamina é antioxidante, contribuindo também para a "vida de prateleira" dos produtos, afirmou Menten.
Para grandes consumidores de ração - empresas como BRF e Seara, da JBS -, o impacto econômico da escassez de vitaminas não é relevante. Segundo estimativas do presidente de um dos maiores grupos de nutrição animal em atividade no Brasil, as vitaminas representam de 1% a 2% dos custo da ração - os grãos respondem pela maior parte. Com o aumento de preços, porém, o peso das vitaminas na ração pode ultrapassar 3,5%, disse essa fonte.
No setor, a avaliação é que consumidores que têm contratos de longo prazo com as chamadas premixeiras - companhias que misturam vitaminas e minerais - devem ser preservados da escassez. No entanto, aqueles que compram premix esporadicamente podem ser afetados. Segundo uma fonte, esse é o caso dos criadores de aves poedeiras. A maior parte deles compra os insumos no mercado spot. No caso dos criadores de aves e suínos, a taxa é menor - 20% e 35% adquirem no spot, respectivamente.