INTRODUÇÃO
Ovos férteis provenientes de matrizes pesadas apresentam variação de peso, tamanho, qualidade de casca e relação entre o peso da gema e o peso do ovo durante o ciclo produtivo, alterando o rendimento na incubação (VIEIRA & MORAN, 2001; ROSA et al., 2002; ROCHA, et al., 2008). Matrizes jovens têm ovos menores, apresentando menor quantidade de poros na casca, membrana e cutícula mais espessas, albúmen mais viscoso e menor fonte de nutrientes, além da redução da perda de umidade e das trocas gasosas o que contribui para a eclosão de pintos menores (BRAKE et al., 1997; SANTOS et al., 2009).
Tais fatores em associação à menor disponibilidade de nutrientes para o embrião, devido à baixa capacidade das aves jovens de transferir lipídios para a gema do ovo, podem comprometer a viabilidade embrionária nos estádios iniciais de desenvolvimento e reduzir a taxa de eclosão (BENTON & BRAKE, 1996; ROCHA et al., 2008). A qualidade da casca é um importante fator para o bom rendimento na incubação e a qualidade do pinto, apesar do período de armazenamento e as condições também influenciarem na mortalidade dos embriões (ROCHA et al., 2008; SANTOS et al., 2009).
O presente estudo teve por objetivo avaliar o efeito da idade da matriz pesada e do tempo de estocagem dos ovos férteis sobre as características de incubação e o desenvolvimento embrionário.
METODOLOGIA
O experimento foi conduzido em um incubatório experimental, localizado no município de Dourados – MS. Foram utilizados 900 ovos incubáveis de matrizes pesadas da linhagem Cobb® 500. Os ovos foram armazenados a 15 °C com 70% de umidade relativa nos períodos de 24, 72 e 120 horas. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado distribuído em arranjo fatorial 3x3 sendo ovos provenientes de três idades de matrizes pesadas (33, 43, 61 semanas) e três períodos de armazenamento (24, 72 e 120 horas).
Foi utilizada incubadora de múltiplo estágio, de marca CASP®, com capacidade de 1.400 ovos, regulada com termômetro de bulbo seco para 38 °C e umidade relativa de 65%. Todos os ovos foram pesados e identificados no início da incubação e distribuídos de forma aleatória nas bandejas dentro da incubadora. A viragem dos ovos foi realizada de forma automática no ângulo de 45º para ambos os lados a cada hora.
Aos 10 dias de incubação, utilizando o método de ovoscopia, foram removidos os ovos inférteis ou com embrião morto. Aos 18 dias de incubação, momento da transferência da incubadora para o nascedouro, os ovos foram novamente pesados, dispostos em bandejas, onde permaneceram por três dias.
As avaliações foram realizadas aos 6, 13, 17 e 21 dias de incubação. Foram coletados 10 ovos por tratamento sendo estes identificados, pesados e abertos. Os embriões foram sacrificados por deslocamento cervical e pesados em balança com precisão de 0,001g. Após a retirada dos pintos do nascedouro, os ovos remanescentes foram avaliados para a determinação da mortalidade embrionária.
A classificação utilizada para a mortalidade embrionária (ME) foi: ME(1): 0 a 7 dias; ME(2): 8 a 14 dias; ME(3): 15 a 18 dias e ME(4): 19 a 21 dias. O Total de Mortalidade Embrionária (TME) foi a soma das três mortalidades embrionárias para cada idade de matriz nos períodos de armazenamento. A eclodibilidade foi avaliada pela determinação do percentual de pintos viáveis nascidos.
Foi realizada a análise de variância com o auxílio do pacote estatístico GLM do programa SAS (1996). Quando identificadas diferenças estatísticas pela ANOVA entre os parâmetros avaliados (pesos dos ovos e dos embriões), as médias foram comparadas pelo teste de Tukey adotando-se significância para p ≤ 0,05. A mortalidade embrionária foi comparada pelo teste Qui Quadrado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito da idade da matriz e do tempo de estocagem dos ovos sobre mortalidade inicial ME(1), mortalidade final ME(4), TME e eclodibilidade (%) (p ≤ 0,05; Tabela 1). Analisando os resultados de ME(1) verificou-se que, em todas as idades das matrizes avaliadas (33, 43 e 61) o índice de mortalidade dos embriões no primeiro período de estocagem foi menor (p ≤ 0,05), e houve aumento da mortalidade proporcionalmente ao aumento do período de estocagem (p ≤ 0,05). Valores altos de mortalidade precoce (1 a 4 dias), quando o tempo de armazenamento de ovos foi prolongado, também foram encontrados por PEDROSO et al., (2006).
Não houve diferença entre as mortalidades intermediárias ME(2) e ME(3) (p > 0,05). Estes resultados indicam que a mortalidade embrionária entre o oitavo e o décimo oitavo dias de incubação podem não estar relacionados à idade da matriz e nem ao tempo de estocagem dos ovos férteis. Desta forma, alguns fatores conhecidos são levantados como hipóteses na tentativa de justificar estes efeitos, como, por exemplo, a umidade no interior da incubadora, a eventual contaminação e ainda, a nutrição das matrizes (PEDROSO et al., 2006).
O período de estocagem (24 h) não influenciou a mortalidade embrionária final ME(4) nas idades das matrizes (p > 0,05). No entanto, no segundo período de estocagem (72 h) observou-se que houve maior mortalidade embrionária (p ≤ 0,05) dos ovos provenientes de matrizes mais velhas (61 semanas). Este fato sugere que o aumento no período de estocagem pode influenciar os índices de mortalidade embrionária, em ovos de matrizes com idade igual ou superior a 61 semanas. A mortalidade embrionária em ovos provenientes de matrizes com idades de 33 e 43 semanas foi menor no segundo período de estocagem (p > 0,05). No terceiro período de estocagem observou-se maior mortalidade embrionária (p ≤ 0,05) nos ovos provenientes de matrizes mais velhas (61 semanas). A mortalidade embrionária nos segundo e o terceiro período de estocagem (72 e 120 h) não diferiram entre si (p > 0,05) em todas as idades das matrizes. Porém, foram maiores que os valores observados no primeiro período de estocagem, confirmando que o tempo de armazenamento influencia a mortalidade dos embriões (LARA et al., 2005; ALMEIDA et al., 2006). Segundo SILVA (2003); ROCHA et al. (2008) as principais causas de mortalidade final, principalmente entre o 18° ao 21 ° dia, estão relacionadas às condições do interior da máquina de incubação, como oscilações de temperatura de umidade na incubadora ou no nascedouro, manejo inadequado da transferência.
TABELA 1- Idade da matriz pesada e período de estocagem dos ovos férteis sobre a mortalidade embrionária e a eclodibilidade.
Houve efeito dos períodos de estocagem e das idades das matrizes na mortalidade embrionária total (TME; p ≤ 0,05). No primeiro período de armazenamento (24 h) foi possível observar que as matrizes mais velhas (61 semanas) apresentaram maior mortalidade embrionária total (p ≤ 0,05). No segundo e terceiro períodos de armazenamento (72 e 120 h) observou-se que ovos provenientes de matrizes com 61 semanas de idade apresentaram maior mortalidade embrionária total quando comparado com as matrizes de 33 e 43 semanas (p ≤ 0,05). Quando associado ao tempo de armazenamento dos ovos, a mortalidade embrionária total aumentou gradativamente com o aumento da idade das matrizes (p ≤ 0,05). A menor mortalidade embrionária foi observada para os ovos de matrizes com 33 semanas e com 24h de armazenamento, o que concorda com SCHMIDT et al., (2009).
A eclodibilidade (%) de ovos de matrizes com 33 semanas de idade foi semelhante (p > 0,05) no primeiro e no segundo período de armazenamento (24 e 72 h). A baixa eclodibilidade (%) está associada à qualidade inferior da casca dos ovos das matrizes mais velhas, fato já descrito na literatura (McDANIEL et al., 1979; CAMPOS, 2000; TONA et al., 2001; NAKAGE et al., 2002; ROSA et al., 2002; LOURENS et al., 2006; ROCHA et al., 2008).
Em todos os tempos de incubação avaliados (Tabela 2) houve efeito do período de estocagem sobre a variável peso do ovo. O peso do ovo diminuiu (p ≤ 0,05) com o aumento do período de estocagem para todos os tempos de incubação.
TABELA 2- Período de estocagem e tempo de incubação (dias) dos ovos férteis e o peso do ovo do embrião
O peso do embrião proveniente de ovos estocados 120 h, nos tempos de incubação de 6 e 21 dias foi diferente (p ≤ 0,05). Desta forma, é possível compreender que o peso dos embriões de 0 a 6 dias e de 17 a 21 dias sofre maior influência do maior período de estocagem (120 horas). Autores diversos (VIEIRA & MORAN, 2001; SANTOS, 2003; JOSEPH & MORAN Jr., 2005; TANURE et al., 2009) estudando este tema, encontraram que, perda de peso na incubação em ovos produzidos por matrizes velhas, pode ser justificada pela maior porosidade e menor espessura da casca. Com relação ao peso dos embriões, SANTOS et al., (2009) verificaram aumento no peso médio em função da idade da matriz durante o período de incubação. Segundo LARA et al., (2005); ALMEIDA et al., (2006) a idade da galinha é o principal fator que influencia o peso dos pintos.
Referente ao período de estocagem (24, 72 e 120 h) sobre o peso dos embriões nos diferentes tempos de incubação, observa-se que os embriões provenientes de ovos estocados por 72 horas apresentaram aumento de peso a partir do terceiro tempo de incubação (17 dias). Estes resultados estão associados a uma aceleração no desenvolvimento embrionário nos ovos férteis durante a fase de estocagem (FASENKO et al., 2001; CHRISTENSEN et al., 2003; PEDROSO et al., 2006).
CONCLUSÕES
O aumento da idade da matriz e do tempo de estocagem dos ovos férteis prejudicou os parâmetros de incubação.
REFERÊNCIAS
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Esse artigo técnico foi publicado originalmente em ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 1655.