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Ambiência avícola: construindo soluções com novas tecnologias

Publicado: 8 de setembro de 2009
Por: Irenilza de Alencar Nääs
Introdução
Mudanças significativas ocorreram na avicultura nas últimas três décadas. Enquanto em 1980, um frango levava cerca de 70 dias para atingir 2 kg de peso corporal, a partir de 2002 isto é alcançado em cerca de 40 dias. Esse desenvolvimento excepcional tem duas faces: a primeira está relacionada com o desempenho do excelente produto “frango de corte”, possibilitando retorno econômico rápido; já a segunda, diz respeito ao fato das técnicas de produção, utilizadas nos anos oitenta, não terem sido acompanhadas proporcionalmente, com o mesmo desenvolvimento que foi o do produto frango. Por exemplo, considerando-se a produção a partir da incubação de ovos férteis, o frango com 40 dias na verdade teria 58 dias de vida no total. Ora, a evolução entre os anos 80 e hoje, de menos 30 dias, não foi acompanhada por mudanças no tempo de incubação dos ovos, que se manteve em 18 dias. Assim, o processo de incubação atual, que pode ser considerado como parte do processo de produção, representa aproximadamente 45% do tempo total de produção dos frangos, enquanto que na década de 1980, essa proporção era de aproximadamente 25%.
Outro ponto importante está relacionado ao desenvolvimento da ave dentro das instalações, que oferecem uma ambiência baseada nos dados de trocas térmicas dos anos 80. Sendo hoje alojado um frango com características genéticas de rápido crescimento, será que se está oferecendo ambiente adequado para que ele possa expressar seu potencial genético? Como se trata de uma atividade em que os lucros estão localizados nos centavos de dólares será que se está dando a devida importância ao ambiente de alojamento, desde o alojamento de matrizes, a incubação, o nascedouro, a vacinação, o transporte e o galpão de produção nas suas duas fases? E como vencer os novos desafios? Este texto procura comentar, sem esgotar o assunto, sobre o cenário atual e as novas tecnologias disponíveis, para se avaliar a ambiência dentro de instalações avícolas.
Cenários da ambiência avícola nas diversas fases
Uma definição de zona de conforto térmico pode ser indicada como sendo a faixa de temperatura ambiente onde a taxa metabólica é mínima e a homeotermia é mantida com menor gasto energético. Na zona de conforto térmico, a fração de energia metabolizável utilizada para termogênese é mínima e a energia líquida de produção é máxima. No frio, as aves procuram manter a homeotermia através de aumento na produção de calor e na redução de perdas, enquanto no calor o processo é invertido.
Reprodução e incubação
As matrizes de frango de corte apresentam grandes quantidades de músculo branco com poucas mitocôndrias, pequena vascularização e baixa capacidade calirogênica e, portanto, vulneráveis à grande variação de temperatura. No verão as aves de maneira geral, procuram dissipar calor através de mecanismos evaporativos (cutâneos e respiratórios). Respostas comportamentais são também evidenciadas como a queda da asa, o aumento de área superficial (crista e barbela), a ereção das penas (arrepiar) e outras.
A capacidade das aves adultas de dissipar calor diminui drasticamente, na medida em que a temperatura ambiente, e a umidade relativa, se elevam acima da zona termoneutra. A redução de consumo alimentar, como alternativa escapatista de sobrevivência, diminui os substratos metabólicos ou combustíveis disponíveis para o metabolismo, desta forma reduzindo a produção de calor Nesta ocasião geralmente há recusa natural à alimentação e a prostração é evidenciada. As conseqüências mais importantes do excesso de calor são: queda do consumo de alimentos, menor taxa de crescimento, queda na produção de ovos, maior incidência de ovos com casca mole, e de menor densidade, diminuição da eclodibilidade, e, aumento da mortalidade. Na Figura 1 pode-se notar que, à medida que a temperatura ambiente aumenta, o uso do bebedouro cresce proporcionalmente ao decréscimo do uso do comedouro. De acordo com resultados de pesquisa com matrizes pesadas, o limite de temperatura crítica superior destas aves adultas está em torno de 30-32°C (Hocking et al., 1994; Pereira & Nääs, 2005).
Ambiência avícola: construindo soluções com novas tecnologias - Image 1
Figura 1. Frequência de uso de comedouro e bebedouro, por matrizes pesadas, em função da temperatura ambiente. (Adaptada de Pereira & Nääs, 2005)
A variação excessiva ou o decréscimo de temperatura dentro dos estágios do incubatório podem prejudicar o embrião e comprometer o bom desempenho do pinto, posteriormente. Vários autores indicam que, no início da incubação os embriões são particularmente sensíveis às baixas temperaturas ambientes (TA), entretanto, apresentam algum crescimento compensatório quando a temperatura se estabiliza em torno de 35,0 a 40,5 ºC. Em pesquisa relatada por Gigli et al. (2009), em equipamentos de estágio múltiplo, foi encontrado que 17% de TA estava abaixo do admissível, indicando perda de qualidade de embriões, ou mesmo mortalidade. TA na sala de vacinação apresentava valor médio de 25,30±0,46°C e, embora apresentasse alta variação na distribuição dentro da sala, seus limites estiveram dentro da faixa de 28-22°C. A umidade relativa variou de 40- 70%, enquanto a literatura recomenda o valor ideal de 50%.
Os parâmetros físicos necessários para incubação ideal permanecem os mesmos desde o inicio da incubação industrial. Porém, houve evolução no conhecimento de como gerenciar os aspectos físicos mais importantes, tais como viragem dos ovos, ventilação, umidade, temperatura e as concentrações gasosas. Assim, o sucesso da incubação envolve condições adequadas de manejo, considerando as pressões impostas às aves pelo ambiente e a somatório dos fatores biológicos e físicos.
Produção
Quando se busca um sistema de climatização adequado deve-se levar em conta aspectos como biológico, técnico, climático e econômico. Os limites estabelecidos serão as respostas e limites críticos das aves nas várias fases de produção, expostas a diferentes graus de ventilação e nebulização, ou diferentes temperaturas, inclusive a remoção de gases em situações de extremos calor e frio, sempre levando em conta a sensação de conforto térmico da ave. As considerações técnicas relacionadas ao clima, que vão potencializar, mas não limitar, o dimensionamento de um sistema de climatização, são: os valores críticos de temperatura e umidade relativa do ar, não somente num período de vinte e quatro horas, mas também durante todo o ano. As limitações econômicas são função do custo - beneficio da implantação do sistema para determinada densidade. Frangos de corte respondem negativamente às variações bruscas de temperatura ambiente, principalmente quando associadas ao acréscimo de umidade relativa do ar. Estas respostas podem ser de vários aspectos, sendo principalmente seu nível de atividade. Dentre as conseqüências de exposição ao calor dentro das instalações, a mais importante é o estresse por calor (Yahav et al., 2004). Em geral, vários elementos do ambiente físico (temperatura, umidade relativa, intensidade de luz, velocidade do ar, etc) têm sido demonstrados como provocando efeitos negativos na fisiologia dos frangos de corte, quando associados a padrões excessivamente estressantes. Em períodos mais quentes são observados comportamentos específicos, como prostração e ofego. Embora muitos estudos de comportamento estejam relacionados a pequenos grupos, diversos autores relataram em seus trabalhos de pesquisas, que o tamanho do grupo é um fator que interfere no comportamento agressivo de aves alojadas. As aves, no seu ambiente natural, convivem em pequenos grupos e a dominância pela hierarquia é baseada em lutas para este estabelecimento.
Quando se varia a densidade de aves, existe uma tendência inicial de aumento do comportamento agressivo, principalmente nos grupos de tamanhos menores, prevalecendo a estratégia para grupos maiores. Muitas vezes as temperaturas baixas em alojamento de grupos de aves adultas levam ao comportamento agressivo, o que pode ser resultado apenas da disputa pelo alimento. A velocidade de perda de calor das aves é influenciada pela temperatura ambiental. Quando a mesma estiver em níveis próximos a 21��C, as aves perdem até 75% de calor através dos meios sensíveis: radiação, condução e convecção. Porém, quando a temperatura ambiental aproxima-se de sua temperatura corporal, em média 41��C, seu meio principal de perda de calor passa a ser a liberação de calor latente, através da evaporação: a respiração ofegante. Uma instalação avícola ideal em termos de conforto térmico proporcionado às aves prevê uma circulação de ar adequada com a finalidade de remover o excesso de umidade e calor concentrado no interior dos galpões. Em casos de meses mais frios, é desejável manter a temperatura interna do aviário em níveis adequados à sobrevivência e produtividade do lote. Neste caso, a função da ventilação seria apenas renovar o ar interno (ambiência aérea), controlando a concentração de gases, a poeira e o vapor d’água, produzidos no interior dos galpões. Aumentando a movimentação do ar sobre a superfície corporal das aves, é facilitada a perda de calor da ave para o ambiente, por processos convectivos.
A ventilação do ar reduz a temperatura corporal e a taxa respiratória das aves, amenizando o estresse térmico a qual estão sendo submetidas, sob condições de altas temperaturas. Quando estas estão associadas às altas umidades relativas, o aumento na velocidade do ar de um aviário via ventilação forçada, é o único método de amenizar o estresse térmico sofrido pelas aves.
Novas tecnologias
Ambiência avícola: construindo soluções com novas tecnologias - Image 2
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A perda de calor total sensível (Qst) foi considerada como sendo a somatória das perdas de calor por radiação (Qr) e convecção (Qc), segundo Yahav et al. (2004), que não consideram significante a perda de calor por condução. Qr e Qc foram calculadas usando as equações 1 e 2: Qr �� ����A(Ts4 �� Ta4 ) Eq e Qc �� hA(Ts �� Ta) Eq. 2 onde: Qr = perda de calor por radiação (W), Qc= perda de calor por convecção (W), ��=emissividade de tecido biológico, ��=constante de Stefan Boltzmann (5,67 10-8 W/m2K4), h=coeficiente convectivo (15W/m2 ��C), A= área superficial da ave (m), Ts=temperatura superficial as ave (��C) e Ta=temperatura do ar (��C).
Foram calculadas as perdas de calor separadamente, da cabeça, do corpo e das pernas obtendo-se os valores separadamente para os dois ambientes. A perda de calor total no nascedouro foi equivalente a 0,70 k cal/h, enquanto que na sala de vacinação, foi 1,0 kcal/h. O efeito desses valores em um tempo de traslado muito longo, desde o nascedouro até a granja, pode ser prejudicial à ave. A estimativa de perda de calor mais precisa, durante o traslado de pintinhos após o nascimento, possibilita dimensionar com maior precisão, o valor de energia metabolizável que é requerida pela ave, nos primeiros dias de vida. A ambiência correta durante o processo de traslado pode reduzir perdas térmicas e permitir homogeneidade no arraçoamento das primeiras horas. Embora se saiba que o calor latente é prevalente quando as aves estão sob estresse térmico, a quantificação do calor sensível e trocas térmicas pelas áreas expostas, como áreas sem penas, cristas e barbela e pernas, podem determinar a variação da temperatura superficial de frangos de corte, em diversas partes do corpo, bem como encontrar a relação entre estas e as variáveis internas do ambiente de alojamento. Utilizando esta tecnologia, Romanini et al. (2009) estudaram a variação das temperaturas superficiais de frangos na última semana, sob estresse térmico. Foram captadas imagens termográficas das aves e o processamento destas consistiu em extrair os valores de temperaturas superficiais das aves, nas seguintes partes do corpo, com as seguintes freqüências, proporcionais à área: crista (1), orelha (1), barbela (1), perna (1), pé (1), dorso (3), asa (4), cauda (3) e coxa (3) (Figura 3).
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A partir da observação das imagens, verificou-se que as regiões que, não são cobertas pela plumagem (dorso, asa, cauda e coxa), apresentaram temperaturas superficiais superiores àquelas descobertas (perna, pé, crista, orelha e barbela). A vascularização superficial, diretamente relacionada ao acréscimo da temperatura superficial em clima quente, se mostra mais difícil de detectar em aves, especialmente nas áreas cobertas por penas. Houve um aumento do valor absoluto das médias das temperaturas superficiais das partes das aves, no período da tarde, resultado do acréscimo da temperatura do ambiente do alojamento (Figura 4). A análise estatística descritiva indicou que na parte da manhã, com as temperaturas mais amenas houve a prevalência da homogeneidade das temperaturas superficiais das áreas sem cobertura de penas.
Já não período da tarde houve maior dispersão dos valores de temperaturas superficiais, sendo isto um indicativo da prevalência da perda de calor latente. O uso da tecnologia de processamento de imagens termográficas infravermelho permitiu conhecer, de maneira acurada, a distribuição da temperatura superficial nas diversas partes do corpo das aves alojadas. As imagens processadas indicaram que, as partes descobertas apresentaram maior temperatura, devido a maior vascularização na presença de ambiente quente e que representam maior potencial de perda de calor sensível.
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Já elementos construtivos podem interferir significativamente no ambiente interno de um aviário. Para determinar este efeito, imagens termográficas foram captadas para extrair os valores de temperaturas superficiais das cortinas de diferentes cores e densidade (azul e branca). As características técnicas de ambas as cortinas se encontram na Tabela 1.
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Em cada cortina foram coletados 120 pontos de registro de temperatura superficial, conforme mostra a Figura 5.
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Pelos resultados (Tabela 5), pode-se ver que a temperatura superficial da cortina 1 foi significativamente (p-valor=0,001) maior do que a temperatura superficial da cortina 2, contribuindo, portanto, para o acréscimo da temperatura interna do aviário. A superfície externa (solo) também representa importante fonte de calor radiante.
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Considerações finais
Como o mercado avícola se segmentou em função dos mercados compradores e das exigências de produção no Brasil (encontram-se atualmente, vários segmentos produtivos que fazem parte desta cadeia do agronegócio da avicultura de corte), a exigência da qualidade e da otimização das etapas de produção, além da observância dos ditames internacionais, se torna complexa. Conferir ambiente térmico ideal, além do ambiente acústico e aéreo, às aves alojadas, faz parte de atender aos princípios de bem estar animal. Entretanto, verifica-se que há grande carência de entendimentos e formas de compreender e medir tais conceitos, que se revelam muito ligados ao cunho da interpretação individual, ou na utilização de padrões de produtividade. O uso de novas tecnologias aplicadas às medidas em tempo real é a saída estratégica para uma resposta fácil e direta. Existem as respostas, falta-nos, em alguns casos, a adoção no campo das técnicas desenvolvidas.
Bibliografia consultada
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Romanini, C.E.B. et al. Visualização da distribuição de temperatura superficial de frangos de corte utilizando termografia infravermelho. Congresso Brasileira de Engenharia Agrícola, Petrolina. 2009.CDRom.
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Yahav, S. et al. Ventilation, sensible heat loss, broiler energy, and water balance under harsh environmental conditions. 2004 Poultry Science, v. 83, p.253–258, 2004.
Yahav, S. et al. Thermoregulation in “naked neck” chickens subjected to different ambient temperatures. Poultry Science, v. 39, p.133-128, 1998.
Yalçin, S.; Siegel, P.B. Exposure to cold or heat during incubation on developmental stability of broiler embryos. Poultry Science, v. 82, p.1388–1392, 2003.
 
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Autores:
Irenilza Alencar Naas
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