Representantes de produtores e da indústria de carnes disseram apoiar o esforço da Food and Drug Administration (FDA), agência que regulamenta medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, para limitar o uso de antibióticos em animais de corte, mesmo não prevendo muitas mudanças sobre os processos de criação de rebanhos nos Estados Unidos.
A orientação da FDA, divulgada na quarta-feira, busca eliminar progressivamente o uso de antibióticos para promover o crescimento de frangos, bovinos e suínos. Acredita-se que a utilização há décadas desses medicamentos em fazendas tenha contribuído para a proliferação de bactérias resistentes a remédios, que põem em perigo a saúde humana.
As regras obrigariam a indústria a apelar para antibióticos somente quando clinicamente necessário, tornando ilegal usá-los para aumentar o tamanho dos animais. Muitos membros da indústria dizem ser cautelosos, aplicando os medicamentos apenas como uma medida para prevenir ou tratar doenças e por isso não enxergam muito impacto na mudança.
Já os críticos dizem que as regras não vão longe o suficiente, porque deixariam os criadores de animais usar as drogas na ração e água como medida preventiva. Uma política mais eficaz, argumentam, seria barrar o uso dessas substâncias exceto durante o tratamento de animais doentes. As novas regras exigem que veterinários licenciados supervisionem o uso de antibióticos por agricultores.
Em um sinal de que pouco pode mudar, a Eli Lilly e a Zoetis, duas das maiores fabricantes de antibióticos para animais, disseram esperar pouco impacto sobre as vendas da decisão da FDA. 'Nós não vemos esse anúncio como um fato relevante', disse Jeff Simmons, presidente da Elanco, divisão de saúde animal da Eli Lilly.
O FDA estima que animais de fazenda nos EUA consumiram 29,9 milhões de libras-peso de antibióticos em 2011, o ano mais recente para o qual existem dados disponíveis, o que representa aumento de 2% em relação ao ano anterior. Cerca de 7,3 milhões de libras-peso de antibióticos foram vendidos para o tratamento de seres humanos no mesmo ano.
O American Meat Institute, grupo comercial que representa frigoríficos como Cargill e Tyson Foods, saudou a orientação da FDA e disse que 'apoia o uso prudente e criterioso de antibióticos na produção de alimentos de origem animal sob os cuidados de um veterinário'.
Vários produtores disseram já ser seletivos sobre o uso de antibióticos. 'Essas diretrizes não vão mudar a forma como eu faço qualquer coisa com os bovinos de corte em minha fazenda, a não ser criar uma trilha de papel que não existia antes', disse Anne Burkholder, que alimenta cerca de 3 mil cabeças de gado em Cozad, no Estado norte-americano de Nebraska. Muito antes de a FDA propor a orientação, Anne disse ter trabalhado com um veterinário para desenvolver planos de saúde para seus animais a fim de evitar usos não terapêuticos de antibióticos.
Alguns produtores disseram ter reduzido o uso de antibióticos na década passada porque redes de restaurantes como McDonald's e outros compradores de carne criaram regras exigindo que os antibióticos sejam usados só quando clinicamente necessário.
Mike Cockrell, diretor financeiro da Sanderson Farms, um dos principais processadores de frango dos EUA, disse que o movimento da FDA teria pouco impacto em sua empresa porque os produtores de frango parceiros usam somente antibióticos de forma terapêutica. Ele também afirmou que os antibióticos usados em granjas 'são em geral' distintos daqueles usados por seres humanos.
Fabricantes de medicamentos, incluindo Elanco e Zoetis, disseram ter a intenção de cumprir com a nova política do FDA, que é voluntária para empresas farmacêuticas. As diretrizes pedem às empresas que mudem seus rótulos para eliminar qualquer indicação de que os antibióticos podem promover o crescimento dos animais, concentrando-se apenas nos usos veterinários.
Alguns profissionais da saúde disseram temer que a medida faria pouco para reduzir a quantidade de antibióticos usados na produção de carne. 'Ainda vai ocorrer uso excessivo de antibióticos disfarçado em fins de prevenção, que deveriam ser casos extremos', disse Laura Rogers, diretora da iniciativa de saúde humana e agricultura industrial liderada pela consultoria Pew Charitable Trusts. 'Os antibióticos devem ser sempre a última opção na produção de alimentos.'