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Insensibilização elétrica em cuba de imersão: abate humanitário de frango de corte

Publicado: 19 de setembro de 2019
Por: Leonardo Thielo de La Vega é médico-veterinário e empresário, fundador da F&S Consulting, cofundador da brstart, criador do selo Produtor do Bem, professor de pós-graduação na PUCPR, membro da Comissão Nacional de Bem-Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária, membro do Corpo Técnico da Facta, articulista da CarneTec, AviSite e Epvet.
A ciência do bem-estar animal evolui constantemente com o desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar as condições de abate dos animais sem diminuir os índices produtivos.

Considerando a insensibilização elétrica, os abatedouros ao redor do mundo utilizam diferentes equipamentos e combinações de parâmetros elétricos que, mesmo que tenham sido baseados em estudos laboratoriais, representam um desafio em relação à comprovação da eficácia da insensibilização em condições reais na indústria.

Atualmente, boa parte da indústria não utiliza parâmetros elétricos validados cientificamente em seus sistemas de insensibilização. Além disso, para avaliar o bem-estar animal no abate, têm-se realizado verificações e monitoramentos baseados em medidas indiretas, como a checagem dos ajustes do sistema de insensibilização, e medidas subjetivas diretas, como a análise de sinais clínicos que, na grande maioria das vezes, é realizada por funcionários sem formação médico-veterinária. Ou seja, por si só, a definição empírica dos itens de controle, bem como o caráter indireto, subjetivo, pouco especializado e, portanto, possivelmente impreciso da avaliação do bem-estar animal no momento do abate, normalmente não produzem as evidências de que a indústria necessita para implementar bons ajustes e parâmetros elétricos de insensibilização em seus processos de abate.
Insensibilização elétrica em cuba de imersão

O método elétrico mais comumente empregado para insensibilização de aves nas indústrias é a cuba de imersão, cuja aplicação da corrente se dá em todo o corpo da ave. O princípio básico do atordoamento elétrico é a indução de uma epilepsia generalizada por meio da estimulação elétrica do cérebro. Neste sistema, a corrente elétrica flui pelo corpo das aves e, se aplicada na intensidade apropriada, as tornará insensíveis e inconscientes.

Um módulo eletrônico é responsável por gerar e controlar os sinais elétricos de diversos tipos para serem aplicados na cuba de imersão. Em equipamentos convencionais, pode-se escolher a frequência desejada, a forma de controle da corrente, a forma da onda, que pode ser corrente contínua pulsante (CC) ou corrente alternada (CA), podendo ser ajustada para diversas formas que se desejar, e ainda definir o percentual de duty-cycle [nota do editor: razão cíclica ou ciclo de trabalho]. Entretanto, em decorrência dos diversos avanços recentes no desenvolvimento de novas tecnologias, já é possível adotar sistemas mais sofisticados de modulação elétrica. Essa nova geração de insensibilizadores possibilita melhorar a insensibilização, com até 40% de corrente a mais medida no cérebro das aves, além de reduzir danos à qualidade dos cortes. Outro avanço recente foi a incorporação de programações digitais capazes de gerar modelos elétricos que previnem paradas cardíacas na cuba. Com esse conjunto de avanços, tem-se conseguido atender os mais diversos mercados sem abrir mão da rentabilidade, dos requisitos religiosos de abate e do bem-estar dos animais.

Ainda, é sabido que a frequência e a quantidade de corrente são parâmetros fundamentais para a eficiência do atordoamento. Contudo, a definição de parâmetros elétricos necessários para promover uma insensibilização adequada nas aves envolve vários outros fatores que devem ser considerados.

Além da amplitude e da frequência do sinal de uma corrente elétrica, é importante considerar a forma de onda empregada, o tempo de exposição à corrente e as características dos próprios animais. Como a impedância de cada indivíduo é variável em decorrência do sexo, idade ou peso vivo, o comprimento da cuba e, consequentemente, o número de animais expostos à mesma corrente podem também influenciar no total de corrente que é recebida por cada indivíduo ao longo do mergulho. A tensão deve então ser ajustada para que a corrente total seja a corrente requerida por ave, multiplicada pelo número de aves na cuba ao mesmo tempo. A corrente recebida pelo animal deve ser de tal magnitude que assegure que a inconsciência ocorra imediatamente e que dure até a morte do animal.

Em linhas gerais, sabe-se que correntes elétricas em faixas abaixo de 100mA-RMS/ave não são suficientes para insensibilizar os animais, enquanto correntes muito altas tendem a gerar fraturas, principalmente na fúrcula, hematomas e, portanto, prejudicar a qualidade das carcaças. De toda forma, o efeito da corrente será sempre dependente da frequência, já que esta tem papel fundamental na duração do estado de inconsciência e até mesmo na ocorrência de hematomas e na parada cardíaca.

Para a implantação definitiva de um parâmetro elétrico em uma planta de abate, os efeitos da insensibilização devem ser avaliados e julgados tanto por meio da análise dos sinais clínicos quanto por meio da leitura dos sinais eletroencefalográficos (EEG).

Os sinais captados pelo EEG representam a expressão gráfica da movimentação dos íons através da membrana, potencial de membrana e células do córtex cerebral.

Os íons sódio (Na+), potássio (K+), cálcio (Ca++), cloro (Cl-) e orgânicos são essenciais na atividade elétrica dos neurônios. As células em repouso apresentam polarização da membrana celular devido à diferença de potencial, predominando cargas positivas fora da célula e negativas dentro. A alteração do potencial da membrana que ocorre ao longo dos axônios gera o potencial de ação até atingir o limiar para a despolarização, com abertura súbita dos canais de sódio, acarretando diminuição negativa do potencial de membrana. A chegada dos potenciais de ação na terminação pré-sináptica causa a liberação de neurotransmissores nas fendas que se ligam a receptores específicos na célula e geram alterações em seu potencial de membrana. Tais neurotransmissores podem ser excitatórios ou inibitórios e geram, respectivamente, os potenciais excitatórios e inibitórios pós-sinápticos.

Quando dois neurotransmissores excitatórios rápidos (aspartato e glutamato) são excessivamente liberados no espaço extracelular, contribuem para o desencadeamento, propagação e manutenção da atividade epilética no cérebro. Assim, quando a eletroencefalografia apresenta uma leitura compatível com epilepsia ou isoelétrica de baixa amplitude, menor ou igual a 10% da atividade normal, considera-se que a atividade cognitiva está ausente e, portanto, atestam-se as condições ideais de abate.

Em síntese, independentemente da tecnologia adotada ou do parâmetro elétrico implementado, a indústria avícola moderna terá de garantir os aspectos humanitários do abate, imputando qualidade ética às suas marcas e agregando valor aos seus produtos.
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Autores:
Leonardo Thielo de La Vega
F&S Consulting
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Juanfra DeVillena
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20 de septiembre de 2019
Muito interessante artigo. Eu acho que o principal problema e o mal-entendido sobre como o atordoamento elétrico funciona (O mesmo se aplica ao atordoamento de gas). A compreensao de qualquer um dos sistemas permite garantir que voce posse valida-los e depois verifica-los cientificamente.
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Arnaldo Nobrega
20 de septiembre de 2019
O maior problema é que estas tecnologias não se miniminizam ou seja os fabricantes não conseguem disponibilizar equipamentos de pequeno ou micro porte para atender pequenos produtores rurais.
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