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A umidade relativa do ar e seus efeitos sob o conforto térmico de frangos de corte

Publicado: 18 de dezembro de 2013
Por: Marília Lessa de V. Queiroz e José Antonio Delfino Barbosa Filho, Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal (NEAMBE), Universidade Federal do Ceará –UFC-, CE.
O estado do Ceará ocupa uma posição de destaque na produção de aves no Nordeste do Brasil. Porém, devido ao clima quente da região, na maior parte do ano, os produtores necessitam de cuidados maiores com fatores relacionados à homeostase das aves, uma vez que o desconforto térmico dentro dos galpões pode reduzir o desempenho dos animais e prejudicar o bem-estar dos mesmos.
Na avicultura diversos fatores podem afetar de forma negativa o ambiente de produção e as variáveis ambientais temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento são as que mais exercem influência no sucesso da produção avícola. O setor produtivo de frangos de corte sempre investiu mais em melhorias na área de nutrição, manejo e sanidade. Porém, diversas pesquisas comprovam que o aumento da temperatura corporal das aves está relacionado à elevação da temperatura ambiente, então, somente há pouco tempo os fatores ambientais vêm ganhando importância na criação de aves, sobretudo por auxiliarem na redução de perdas. Dentre os fatores ambientais, a temperatura é um dos fatores que mais pode afetar o bem-estar das aves e se tornar um fator limitante para a produção. Isto ocorre porque as aves mantêm a temperatura corporal ideal quando a temperatura ambiente está dentro de uma zona termoneutra de conforto, e caso o ambiente esteja muito quente há redução no consumo de alimento, o animal passa a ingerir mais água e tende a alterar seu comportamento.  Quando as aves são inseridas em um ambiente adverso, de calor excessivo, caso mais comum no nordeste brasileiro, tendem a reduzir o consumo de alimentos, passam a ingerir mais água e alteram seus comportamentos. Por vezes podem chegar a morrer. Se essas condições se mantêm por longos períodos, a produção tende a ser afetada.
A grande dificuldade dos frangos de corte, em manter o controle da temperatura corporal, pode ser explicada pelo fato de esses animais serem selecionados para ter rápido crescimento e acumulo de peso em um curto espaço de tempo. Esse melhoramento intenso deixou as aves deficientes principalmente no sistema respiratório. Desta maneira, tão importante quanto à temperatura é o controle da umidade relativa do ar, devido a esta ser uma variável de difícil controle e de extrema importância para as aves. Segundo Oliveira et al. (2006) quanto maior a umidade relativa do ar, mais dificuldade a ave tem de remover calor interno pelas vias aéreas, o que leva ao aumento da frequência respiratória e pode prejudicar o seu desempenho. O controle da umidade dentro dos galpões é dificultado pelo uso de nebulização nos galpões. Segundo Tinôco (1998), um ambiente é considerado confortável para aves adultas quando apresenta temperaturas de 16 a 23ºC e umidade relativa do ar de 50 a 70%. Entretanto, dificilmente estes valores são encontrados em condições comerciais de produção no Nordeste. Assim, a nebulização é utilizada para ajudar a amenizar a temperatura do ar dentro dos galpões e ajudar no conforto térmico das aves, que são animais que exigem temperaturas mais amenas na fase final de sua criação. Porém, o excesso de nebulização pode causar estresse por frio, pode molhar demasiadamente a cama das aves, gerando desconforto aos animais, atrapalhar a respiração e causar doenças. Desta maneira, o monitoramento das variáveis temperatura e umidade relativa do ar, é fundamental para o controle do ambiente de criação, a fim de se manter uma condição ambiental de produção satisfatória.
Neste contexto, conhecer mais sobre o ambiente interno dos galpões é de extrema importância para os produtores, pois sua compreensão ajuda a evitar perdas, relacionadas ao estresse térmico, durante o período de criação das aves. Porém, para conhecer o complexo ambiente de criação de frangos de corte, é necessária a coleta de diversas variáveis ambientais e variáveis fisiológicas dos animais. Todos estes dados auxiliarão numa análise mais confiável e bem fundamentada.
Em pesquisas que estão sendo conduzidas pelo NEAMBE na região Nordeste, os resultados da análise do ambiente têm demonstrado que a temperatura dentro dos galpões de criação quase sempre está acima da recomendada para as aves. A umidade do ar é maior no interior dos galpões, sendo que no turno da tarde esta diferença é sempre mais acentuada, provavelmente, por neste turno haver maior uso da nebulização. Com os dados de temperatura e umidade relativa do ar, foi feita a classificação da condição térmica, através do Índice Entalpia de Conforto (IEC) para a sexta semana de vida de frangos de corte. O IEC compreende quatro faixas relativas ao conforto e estresse térmico das aves (zona de conforto, alerta, crítica e letal). De acordo com os resultados os valores de entalpia dentro e fora do galpão estavam situados na faixa considerada como crítica para frangos de corte na sexta semana de vida, porém a entalpia no turno da tarde, na parte externa, teve melhor resultado que a entalpia dentro do galpão, no mesmo turno. Este fato indicou uma condição ruim no interior do galpão, e demonstrou que é importante que o ambiente do galpão seja constantemente monitorado e climatizado, pois a combinação de elevados valores de temperatura e umidade relativa do ar pode levar as aves à morte. Quando as aves são submetidas a estresse térmico, quanto mais tempo este estresse durar, mais nocivos serão seus efeitos sobre os animais, o que pode culminar na morte dos mesmos. Isso evidencia o efeito negativo que elevadas umidades relativas do ar podem causar nas aves.
O excesso de umidade relativa no interior dos galpões de criação faz com que as aves tenham dificuldade em trocar calor através da respiração, que é a principal forma de perda de calor das aves. A situação de estresse térmico sofrido pelas aves foi comprovada através da frequência respiratória, que foi maior no turno da tarde, que teve maior Índice Entalpia de Conforto que o turno da manhã. A análise da temperatura retal também confirmou o quadro de estresse sofrido pelas aves. Durante a tarde a temperatura retal foi superior a da manhã, enquadrando-se numa situação de estresse térmico para frangos de corte. Isto demonstra que as aves sofrem incremento de temperatura corporal quando expostas a ambientes com temperaturas mais elevadas.
De maneira geral, o que se tem observado nos galpões avaliados é que os valores de temperatura e umidade relativa do ar são elevados e tem impacto direto no conforto térmico dos animais inseridos neste ambiente, que costumam apresentar elevação da temperatura retal e da frequência respiratória. Esses resultados demonstram de forma clara a influência que as condições ambientais podem ter sobre os animais criados em confinamento e em altas densidades.
 
Referências
OLIVEIRA, R. F. M.; DONZELE, J. L.; ABREU, L. T.; FERREIRA, R. A.; VAZ, R. G. M. V.; CELLA, P. S. Efeitos da temperatura e da umidade relativa sobre o desempenho e o rendimento de cortes nobres de frangos de corte de 1 a 49 dias de idade. R. Bras. Zootec., v.35, n.3, p.797-803, 2006.
TINÔCO, I.F.F. Ambiência e instalações para a avicultura industrial. In: ENCONTRO NACIONAL DE TÉCNICOS, PESQUISADORES E EDUCADORES DE CONSTRUÇÕES RURAIS, 3., 1998, Poços de Caldas, MG. Anais... Poços de Caldas: Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola, 1998. p. 1-86.
 
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Autores:
José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
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ROMÃO MIRANDA VIDAL
11 de abril de 2022
Esse assunto, na realidade implica em várias consequências, com impacto direto no desenvolvimento do frango. A diversidade climática brasileira implica diretamente no custo final do frango, por metro quadrado. Essa interferência climática é visível nessa diversidade climática. No Sul do Brasil, mas especificadamente, abaixo do Paralelo 24, temos uma situação que varia de clima temperado frio moderado até frio severo, com temperaturas abaixo de 5 graus, no período que vai do Outono ao Inverno. Em compensação na Primavera e Verão pode-se notar temperaturas na faixa dos 28º graus em média. Some-se a isso, a umidade presente no "meio ambiente" , representada pela excreções naturais das aves - fezes e urina -que de certa forma contribuem para tal. Existe no momento a prática de adensamento de aves por metro quadrado. Explica-se. Quanto mais quilos de peso vivo se obtiver por metro quadrado, maior ser a lucratividade e a rentabilidade. Em estudos promovidos pelo Dr. Joji Ariki, ficou demonstrado que: " Na experiência com 22 frangos por metro quadrado, por exemplo, o peso médio caiu de 2,2 quilos para 2,1 quilos. Mesmo assim, observa o pesquisador, “o que se obtém, no caso das 22 cabeças, é um peso total de 46,2 quilos por metro quadrado, contra a média de 22 quilos por metro quadrado, quando nesse espaço estão 10 aves. O resultado econômico é, em princípio, muito bom”. Outro detalhe: “Com um maior número de animais eliminando as fezes num mesmo espaço, temos mais umidade, mais fermentação, mais amônia concentrada ali, facilitando o surgimento da coccidiose, por exemplo, uma doença protozoária, ou problemas com doenças respiratórias provocadas por micoplasma”. E tem o fator Oxigenção, que poderemos comentar futuramente. Médico Veterinário Romão Miranda Vidal
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Marcelo de Souza Lima
19 de enero de 2014

Bom dia Cláudia Lana,
A posição em que você se encontra é exatamente a posição que se encontram os frangos dentro de um galpão no dia de intenso calor, extremamente desconfortável. Afirmo isso por ser criadora, granjeira e outras funções correlatas.
Mas vejo que está muito próxima de encontrar o equilíbrio necessário para obtenção do sucesso. Busco nas palavras do professor a minha convicção: " ...Neste contexto, conhecer mais sobre o ambiente interno dos galpões é de extrema importância para os produtores, pois sua compreensão ajuda a evitar perdas, relacionadas ao estresse térmico, durante o período de criação das aves."
Afirmo com toda convicção que não chega a 1% do volume de pessoas que estão dentro de um aviário que estão dentro do contexto acima.
Quer ver outra questão? Leia o enunciado: "...O excesso de umidade relativa no interior dos galpões de criação faz com que as aves tenham dificuldade em trocar calor através da respiração, que é a principal forma de perda de calor das aves. A situação de estresse térmico sofrido pelas aves foi comprovada através da frequência respiratória, que foi maior no turno da tarde, que teve maior Índice Entalpia de Conforto que o turno da manhã." Com esses dois enunciados, somados a sua pergunta, deixam claro a minha convicção.
Digo isso porque convivo diariamente dentro de aviários na minha região aqui em Goiás, onde técnicos de campo recomendam o uso de nebulizadores ao ponto de molharem a cama. Molhar é pouco, encharcarem a cama em detrimento do bem estar animal, com alta produção de amônia e temperatura com a fermentação dessa cama.
Em relação a nebulização, gostaria de comentar que a mesma depende do bico e da pressão, sendo o mais indicado os bicos de alta pressão, por causa do tamanho da gota. Quanto mais pequena, mais evaporação, quanto mais evaporação, mais temperatura é roubada do ambiente. Lembre-se, o sensor termo-hipotalâmico da ave está localizado atrás da crista, cerca de 30 cm do piso, o nosso cerca de 1,70 m do piso e, ao entrarmos no aviário, temos o mal hábito de avaliar a temperatura para nós e não para as aves.
Em relação a partir de quando utilizar o sistema de refrigeração do aviário, afirmo para você que a partir do momento que acontece o alojamento. A duração vai variar de acordo com a idade. Houve a necessidade, aciona o equipamento. Já alojei pintinhos com câmpanula ligada e nebulizando o interior do galpão, sem problemas. Se a umidade relativa está baixa, somente com placas ou nebulizadores vão aumentar essa variável. Não existe você ter o equipamento e não usar. Mas para isso, o professor foi categórico, tem que ter o conhecimento, sem ele, o resultado é catastrófico.
Gosto muito de comparar a criação de frangos de corte com a Fórmula 1 e, hoje pela manhã em entrevista ao programa Auto Esporte, veiculado pela Rede globo, meu programa predileto do domingo, Felipe Massa foi entrevistado por um outro piloto brasileiro já aposentado, onde ele respondeu uma pergunta do entrevistador da seguinte forma, que encaixa perfeitamente para você: "... a máquina tem que ser competitiva, senão você não ganha nada, mas o homem tem que estar preparado para operá-la..."
Tá aí, do que adianta a tecnologia que você já me questionou, sem pessoas preparadas para operá-la.
Espero ter conseguido expressar o meu pensamento utilizando o brilhante texto do professor, dentro da minha vivência do dia a dia.
Um grande abraço e boas experiências, os frangos agradeceram e seus rendimentos também.

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Thales baierle
10 de junio de 2023
Qual a umidade excelente dentro do aviário e quando o período é chuvoso como falso para baixar
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alexandre de souza
18 de marzo de 2022
tenho uma pergunta a umidade do ar do meu galpão está alta sem eu usar a nebulização. oq pode ter causado essa umidade alta e o que fazer para baixa-la???
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Fátima Maria Tóth de Sena
3 de febrero de 2019
Bom dia Sou granjeira tô com frango de 43 dias estou usando a nebulização e a placa evaporativa minha região está fazendo uma calor com sensão térmica de 48 ,mesmo assim a minha mortalidade aumentou observo que mesmo fazendo a esses procedimentos aumentou minha mortalidade mas do esperado
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Eduardo Mariano da Silva
29 de agosto de 2016
Boa noite caro Josemar Nunes, concordo plenamente com Walterley Neves para mortalidade nesta idade a temperatura muito além da zona de conforto causada por falta, quantidade reduzida ou mau posicionamento dos ventiladores, aliada a pouca importância dada ao alimento chamado água primordial a sobrevivência das aves, além de muitas vezes sendo as aves agredidas pelo fator ração que deveria ser fator positivo primordial na sobrevivência das aves, se torna negativo e agressivo com o grande volume de micotoxinas e clostridios encontrados na mesma, pra agravar tudo as grandes impresas integradoras por questões de custo deliberam cada dia um maior volume de aves para técnicos e veterinários assistirem, causando assim uma maior demora nos diagnósticos e possíveis correções dos problemas encontrados.
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Walterley Neves
4 de julio de 2016
Na verdade, não há necessidade de existir água em forma liquida nos galpões ou na cama de frango para desenvolver bactérias e fungos... A ventilação adequada do ar mantém a umidade (e o ponto de condensação) dentro de limites toleráveis. Os fungos são muito ativos acima de 67% de UR. Muitas bactérias e vírus se desenvolvem com muito menos. Talvez o primeiro passo seja controlar a temperatura, a disponibilidade de água limpa e fresca, a quantidade e qualidade da ração e chamar um veterinário para identificar a causa.
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Josemar Nunes
4 de julio de 2016
Eu sou técnico agrícola e trabalho em uma granja como granjeiro os frangos quando está com a idade de 40 dias começam a morre acima do esperado p cara que trabalha como técnico pela empresa que coloca os frangos dos que os frangos está morrendo por causa da umidade e criou uma bactéria nos galpões mas eu acho que não é porque a cama não esta empachada o que vocês acham.
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Gilberto Batista Mendes
5 de mayo de 2016
Claudia ... gostaria de mais informações sobre o seu aviário , pois estou querendo entrar no ramo, mas vejo pelo seus comentários que o mesmo não esta muito promissor.
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Walterley Neves
28 de julio de 2014
Claudia Lana. Com as modernas tecnologias de controle computadorizados de motores, sistema de evaporação, desumidificadores e sistemas de aquecimento eletrônicos, pode-se controlar a temperatura de um criatório com precisão de 0,2 ºC e umidade relativa com variação máxima em torno de 5%. Claro que o custo inicial é a parte mais sensível, mas a melhoria da ambiência e os resultados econômicos são muito compensadores. Estes novos motores, consomem até 40% menos energia e raramente apresentam defeitos. Os sensores podem ser instalados facilmente e tomam pouco tempo, com apenas dois fios muito finos. O produtor poderá ver o mapa térmico de seus galpões até pela internet. Precisamos agora encontrar um produtor que queira instalar em seus galpões para medir na prática os efeitos...
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