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Parâmetros hematológicos frangos

Parâmetros hematológicos de frangos de corte submetidos à temperatura ambiente cíclica elevada

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: CFP Marchini 1*, MRBM Nascimento2, PL Silva2, EC Guimarães3 1Universidade de Franca, Franca, Brasil; 2Faculdade de Medicina Veterinária, UFU, Brasil; 3Faculdade de Matemática, UFU, Brasil.
Sumário

Objetivou-se verificar os efeitos do estresse por calor sobre os parâmetros hematológicos de frangos de corte. Setenta pintos da linhagem Avian, machos foram alojados em gaiolas e divididos em dois grupos, um submetido ao estresse por calor diariamente, durante uma hora (ST) e outro mantido em ambiente termoneutro (TN). Coletou-se sangue e analisaram-se, semanalmente, hemácias, hemoglobina, hematócrito, volume celular médio (VCM), hemoglobina celular média (HCM), concentração de hemoglobina celular média (CHCM), leucócitos (LE), heterófilos (HT), eosinófilos (EO), basófilos (BA), linfócitos (LI), monócitos (MO) e a relação heterófilo/linfócitos (H/L) de cinco aves de cada grupo. Utilizou-se um delineamento inteiramente ao acaso em esquema fatorial 7x2, com os fatores idade (um, sete, 14, 21, 28, 35 e 42 dias) e ambientes (ST e TN). Aplicou-se o de teste de Kolmogorov-Smirmov para verificar o comportamento de distribuição destes dados. Para os parâmetros com distribuição normal de dados, as médias foram avaliadas pelo teste t, a 5%; e para os de distribuição não-normal, as médias foram avaliadas pelo teste de Wilcoxon, a 5%. O número de hemácias das aves ST foi menor que TN no 42º dia de idade. A CHCM diminuiu até o 28 dias de idade. As aves ST tiveram menor número de LE aos 7, 14, e 21 dias que TN, menores médias de LI e da H/L no 28° dia de idade. As médias de EO e MO foram menores nas aves ST. Assim, frangos de corte submetidos ao estresse por calor apresentam pior estado imunológico quanto às variáveis leucócitos e linfócitos.
Palavras Chave: Contagem de células sangüíneas, Estresse térmico, Ave, Ambiência.

Introdução
O frango de corte é altamente suscetível aos fatores ambientais, principalmente às altas temperaturas, que apresentam efeito estressante sobre essas aves (Dionello et al., 2002) e prejudica sua fisiologia e seu desempenho (Furlan & Macari, 2002).
Nas aves, o estresse crônico por calor induz a um aumento na liberação de adrenocorticóides na corrente sangüínea o que altera o número de leucócitos (Sturkie, 1998). Isto se dá porque corticóides em altas concentrações podem ocasionar involução do timo e da bolsa cloacal através de mecanismos de apoptose levando a uma diminuição da proliferação de linfócitos (Morgulis, 2002), além de provocar o seqüestro das células linfóides recirculantes para os tecidos linfóides (Winkelstein, 2000). Os corticóides também provocam alterações nas funções dos monócitos in vitro, suprimindo as atividades bactericidas destas células fagocíticas, reduzindo assim a resistência do hospedeiro à infecção além de aumentar o número de neutrófilos circulantes (Winkelstein, 2000). Também há relatos de aumento na porcentagem de heterófilos e de diminuição nos basófilos devido ao estresse por calor (McFarlane et al., 1989). A relação heterófilo/linfócito, indicador primário de estresse em aves aumenta em aves estressadas (Gross & Siegel, 1983). Mudanças ocorridas no sangue em aves submetidas ao estresse como menor número de hemácias, maior concentração de hemoglobina, aumento no hematócrito, aumento na CHCM e diminuição no VCM (Furlan et al., 1999) são parte das respostas termorregulatórias adquiridas pelos frangos de corte expostos à temperatura ambiente elevada (Yahav et al., 1997).
A maioria dos estudos sobre os efeitos do estresse por calor na fisiologia das aves tem sido conduzida em temperaturas ambientes elevadas constantes, embora sob condições naturais não o seja. Assim, objetivou-se verificar o efeito do estresse cíclico por calor sobre os parâmetros hematológicos de frangos de corte machos.
Materiais & Métodos
Foram alojados 70 pintos de corte, da linhagem Avian, machos, em quatro gaiolas, medindo 160x50x60 cm cada. No primeiro dia de idade as aves foram divididas aleatoriamente em dois grupos com 35 aves cada. Em um, as aves foram mantidas em ambiente termoneutro (TN) e no outro (ST), foram submetidas à temperatura ambiente de 38ºC, de 12 às 13 horas, do primeiro ao 27º dia de idade e à 40ºC durante uma hora do 28º ao 42º dia de idade. Para aquecer o ambiente foram utilizadas quatro lâmpadas incandescentes de 200 watts em cada gaiola. Durante a exposição das aves ao estresse crônico por calor (ECC) água e ração foram suprimidas. Terminada a exposição ao ECC, as aves ST recebiam água e ração à vontade e eram mantidas em temperatura de conforto térmico durante 23 horas. Ração comercial e água foram fornecidas à vontade e as aves foram submetidas a 24 horas de luz natural e artificial durante todo o período experimental. O delineamento foi inteiramente casualizado em esquema fatorial 7x2, com os fatores idade (um, sete, 14, 21, 28, 35 e 42 dias de idades) e ambiente (ST e TN).
Coletaram-se, semanalmente, do primeiro ao 42° dia de idade, amostras de 2 mL de sangue das aves por punção da veia ulnar que foram colocadas em tubos contendo anticoagulante EDTA em solução a 10% para a realização do eritrograma (número de hemácias, hemoglobina, hematócrito, volume celular médio (VCM), hemoglobina celular média (HCM) e concentração de hemoglobina celular média (CHCM)) e do leucograma (método do hematocitômetro e contagem diferencial de leucócitos com esfregaços sangüíneos corados pelo método de Leishman considerando-se heterófilos (HT), eosinófilos (EO), basófilos (BA), linfócitos (LI), monócitos (MO) e relação heterófilo/linfócito - H/L)).
Aplicou-se o de teste de Kolmogorov-Smirmov para verificar o comportamento de distribuição dos dados dos parâmetros hematimétricos. As médias dos parâmetros com distribuição normal de dados foram avaliadas pelo teste t, a 5%; e as de distribuição não-normal foram avaliadas pelo teste de Wilcoxon, a 5%.
Resultados e discussão

Eritrogama
Houve efeito da interação entre idade e ambiente sobre o número de hemácias. Aos 42 dias de idade (p<0,05) o ST apresentou maior média do que o TN (Tabela 1). Estes achados contradizem os dados da literatura (Furlan et al., 1999) de diminuição no número de hemácias em aves submetidas ao estresse calórico agudo.
As médias de hemoglobina, hematócrito, VCM e HCM não foram influenciadas pelo ECC e nem pela idade das aves (p>0,05). Estes resultados discordam dos resultados da literatura (Furlan et al., 1999) nos quais a hemoglobina aumentou independente das aves estarem estressadas ou não, o VCM foi alterado pela idade, diminuindo os valores com o crescimento das aves, o HCM não foi alterado e o hematócrito aumentou (McFarlane et al., 1989) devido ao estresse calórico agudo.
A CHCM aumentou com a idade das aves, estressadas ou não e atingiu as maiores médias aos 28 dias (p<0,05) o que concorda com a literatura (Furlan et al., 1999) que relatou aumento na CHCM na sétima semana de idade, independente das aves estarem estressadas ou não, e que o efeito do estresse causou aumento na CHCM na sétima semana de idade.
Tabela 1. Médias das variáveis do eritrograma de frangos de corte machos, da linhagem Avian, nas diferentes idades (dias), submetidos (ST) ou não (TN) ao estresse cíclico por calor por uma hora, de 38ºC e 40ºC.
Variável
Ambiente
Idade (dias)
7
14
21
28
35
42
Média
Hemácias
ST
2,81abA
3,25abA
2,71bA
2,79bA
2,84abA
3,61aA
3,00
(hem/mL)
TN
3,15aA
2,90aA
3,22aA
3,04aA
3,00aA
2,54aB
2,97
Média
 
2,98
3,07
2,96
2,92
2,92
3,08
 
Hemoglob
ST
8,6
10,4
9,4
9,2
11,0
10,6
9,86
(g%)
TN
8,8
10,2
10,0
10,2
9,8
9,8
9,80
Média
 
8,7
10,3
9,7
9,7
10,4
10,2
 
Hematócrito
ST
27,4
29,8
27,0
24,0
27,0
27,6
27,1
(%)
TN
26,2
30,2
26,0
26,2
26,4
26,2
26,8
Média
 
26,8
30,0
26,5
25,1
26,7
26,9
 
VCM (fL)
ST
99,4
91,6
102,2
87,2
95,8
75,6
91,9
 
TN
85,0
106,0
81,8
87,4
88,2
98,0A
91,0
Média
 
92,2
98,8
92,0
87,3
92,0
86,8
 
HCM (pg)
ST
30,4
32,6
34,2
33,6
38,6
30,2
33,2
 
TN
27,6
36,0
31,4
34,0
32,4
36,4
32,9
Média
 
29,0
34,3
32,8
33,8
35,5
33,3
 
CHCM (%)
ST
31,6
34,8
33,8
38,8
40,0
38,2
36,2
 
TN
32,2
34,0
39,6
38,8
36,6
36,6
36,3
Média
 
31,9a
34,4ab
36,7ab
38,8b
38,3b
37,4b
 
Médias com letras maiúsculas diferentes na mesma coluna e minúsculas na mesma linha indicam diferenças estatísticas (P<0,05) pelo teste de t ou Wicoxon.
Leucograma
Houve efeito da interação idade e ambiente sobre o número de leucócitos, linfócitos e relação heterófilo/linfócito (H/L). No sétimo, 14º e 21º dia de idade as aves ST apresentaram uma diminuição (p<0,05) nos leucócitos comparados às TN (Tabela 2). No ST, o número de leucócitos aumentou até o 35º dia de idade. No TN houve um aumento até o 14 dia e as médias se mantiveram até o 35º dia. Os linfócitos e a H/L do ST apresentaram menores médias do que TN no 28º dia e maiores médias de H/L no 28º dia. No ST, as menores médias de linfócitos foram observadas no 28º dia e no TN aos 21 dias. A H/L do ST apresentou maiores médias no 28º dia de idade, entretanto, no TN esta relação manteve-se constante em todas as idades. Estes dados corroboram a literatura (McFarlane & Curtis, 1989) que relatou aumento na relação H/L em aves submetidas a estresse calórico.
Não houve efeito da idade, do ambiente e da interação idade ambiente sobre o número de BA (p>0,05) (dados não mostrados em tabela), o que não concorda com os dados obtidos na literatura (McFarlane et al., 1989). As divergências de resultados obtidos neste trabalho com a literatura publicada pode ser, em parte, devido às diferenças de metodologias. Portanto, além da temperatura ambiente elevada, as diferenças na magnitude, duração e tipo de estresse a que as aves são submetidas são importantes características a serem consideradas.
Não houve efeito da interação idade e ambiente sobre a porcentagem de HT, EO e MO (p>0,05). Entretanto, a idade influenciou a porcentagem de HT e EO que aumentou até o 21º dia (p<0,05), independentemente das aves estarem estressadas ou não. O ambiente em que as aves foram criadas influenciou a porcentagem de EO e MO, sendo que as aves ST tiveram maiores médias comparadas às TN (p<0,05).
Os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2 mostram que o estresse influenciou a hematopoiese dos frangos de corte comprometendo o sistema imune pelo aumento de eosinófilos e monócitos e pela diminuição do número de leucócitos e de linfócitos, assim as aves tornam-se mais suscetíveis às doenças do que as aves mantidas em termoneutralidade.
Aves estressadas pelo calor despenderem mais energia para a manutenção da homeotermia e ingerirem menor quantidade de alimento na tentativa de diminuir a produção de calor endógeno. Por conseqüência, ingerem menos de nutrientes, muitos deles que participam diretamente na hematopoiese.
Tabela 2. Médias e desvios padrão das variáveis do leucograma de frangos de corte machos, da linhagem Avian, nas diferentes idades (dias), submetidos (ST) ou não (TN) à temperatura ambiente cíclica elevada por uma hora, de 38ºC e 40ºC.
 
Ambiente
Idade (dias)
 
 
7
14
21
28
35
42
Média
LE
ST
4700,0cB
5700,0bcB
6120,0abcB
7520,0abA
7820,0aA
5340,0cA
6200,0
(cél/mL)
TN
6366,0bA
8860,0aA
7920,0abA
8060,0abA
6740,0bA
6220,0bA
7361,1
Média
 
5533,4
7280,0
7020,0
7790,0
7280,0
5780,0
 
HT
ST
17,8
26,0
36,6
49,8
34,8
29,6
32,4
(%)
TN
16,4
21,0
36,8
31,0
35,2
32,6
28,8
Média
 
c
23,5bc
36,7a
40,4a
35,0a
31,1ab
 
EO
ST
0,4
0,2
1,6
1,6
1,0
1,0
0,9A
(%)
TN
0,4
0,2
1,4
0,8
0,4
1,0
0,7B
Média
 
0,4cd
0,2d
1,5a
1,2ab
0,7bcd
1,0abc
 
LI
ST
78,8aA
73,0abA
59,6bcA
46,8cB
63,0abA
68,6abA
64,9
(%)
TN
82,2aA
78,4abA
60,8cA
68,0abcA
63,2bcA
65,2bcA
69,6
Média
 
80,5
75,7
60,2
57,4
63,1
66,9
 
MO
ST
1,0
0,8
2,0
1,4
1,0
0,8
1,1A
(%)
TN
1,0
0,4
0,8
0,2
1,0
1,2
0,7B
Média
 
1,0
0,6
1,4
0,8
1,0
1,0
 
H/L
ST
0,22aA
0,36aA
0,63abA
1,23bB
0,57aA
0,43aA
0,58
 
TN
0,19aA
0,27aA
0,68aA
0,46aA
0,60aA
0,54aA
0,45
Média
 
0,20
0,31
0,65
0,83
0,58
0,48
 
Médias com letras maiúsculas (minúsculas) diferentes na mesma coluna (linha) indicam diferenças estatísticas (P<0,05) pelo teste de t ou Wilcoxon.
Conclusões
O estresse por calor causa pior estado imunológico quanto às variáveis leucócitos, eosinófilos, linfócitos, monócitos e relação heterófilo/ linfócito. Quanto à variável eritrograma, o estresse por calor causa alterações no número de hemácias ao final do ciclo produtivo.
Bibliografia
Dionello NJL, Macari M, Ferro JA, Rutz F, Ferro MIT, Furlan LR. 2002. Respostas fisiológicas associadas à termortolerância em pintos de corte de duas linhagens por exposição a altas temperaturas. R. Bras. Zootec. 31:79-85.
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Sturkie PD. 1998. Fisiologia Aviar. Tradução: Calderón FC, Editorial Acribia, Zaragoza, Espanha.
Winkelstein A. 2000. Terapia imunossupressora. In: Stites DP, Terr AI, Parslow TG. Imunologia médica. Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro, Brasil.
Yahav S, Straschnow A, Plavnik I, Hurwitz S. 1997. Blood system response of chickens to changes in environmental temperature. Poult Sci. 76:627-633.
 
 
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