Introdução
A temperatura ambiente é considerada o fator físico que exerce maior efeito sobre as aves, por comprometer a manutenção da homeotermia. As aves possuem um sistema termorregulador, localizado no hipotálamo, responsável por mecanismos fisiológicos e reações comportamentais que controlam e mantém a temperatura corporal através da produção e liberação de calor. Quando a temperatura se eleva acima da zona de conforto térmico, o animal é submetido a uma condição de estresse fazendo com que seu organismo reaja de maneira compensatória na tentativa de aumentar a dissipação de calor e manter o equilíbrio térmico corporal. Tal compensação envolve gasto de energia resultando na redução da eficiência produtiva da ave.
Em situações de estresse térmico, os principais mecanismos ativados pelo animal são a radiação, a convecção e a evaporação, uma vez que esses animais não possuem glândulas sudoríparas (Brossi et al., 2009). Além do aumento da freqüência respiratória das aves ocorre também um aumento significativo da temperatura retal e variações nos valores do hematócrito, sendo a elevação da taxa respiratória o mecanismo termorregulatório mais eficiente para dissipar calor.
O sistema sanguíneo é sensível às variações de temperatura e representa um importante indicador de respostas fisiológicas do animal a agentes estressores (Borges et al., 2003). O hematócrito (porcentagem de células sanguíneas) pode ser considerado um parâmetro apropriado para se fazer a monitoria da ascite, sendo seu valor mais elevado em aves com a síndrome (Rosário et al., 2000).
O objetivo deste trabalho foi estudar a influência de picos elevados de temperatura sobre a freqüência respiratória, temperatura retal e hematócrito em frangos de corte aos 21 e 35 dias de idade.
Materiais & Métodos
O presente estudo foi desenvolvido no Setor de Avicultura da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - FCAV da Universidade Estadual Paulista - UNESP, Câmpus de Jaboticabal, São Paulo, Brasil. Foram utilizados 500 pintinhos de corte machos, de um dia de idade, da linhagem comercial Cobb®. No primeiro dia de criação, as aves foram alojadas em duas câmaras climáticas, com temperatura de 33°C ± 2°C. Com o passar dos dias a temperatura ambiente foi ajustada de acordo com a necessidade de conforto térmico dos animais. Uma das câmaras alojou 400 pintinhos em 16 boxes, com 10 aves/m², separados entre si por tela de arame galvanizado, em piso coberto com maravalha, com água e ração à vontade, constituindo o grupo de animais que recebeu estresse térmico. A outra câmara alojou 100 animais, divididos em quatro boxes, nas mesmas condições que os demais, constituindo o grupo controle deste trabalho e que não recebeu estresse térmico durante toda a execução do experimento. As aves foram submetidas a fases de estresse térmico com períodos de 24, 48 e 72 horas, sendo que a primeira fase teve início com o ajuste da temperatura interna da câmara para 32°C ± 2°C no 21° dia de criação, enquanto o grupo controle permaneceu em termoneutralidade (27°C ± 2°C). Para se obter a temperatura desejada foram utilizadas lâmpadas de infravermelho e refrigeradores controlados por termostatos.
Ao final de cada período foram amostrados 12 animais expostos às condições de estresse e 12 do grupo controle, nos quais foram mensurados hematócrito, temperatura retal e freqüência respiratória. A temperatura retal foi determinada introduzindo-se um termômetro clínico veterinário na cloaca das aves, a freqüência respiratória, por avaliação visual considerando o número de vezes por minuto que as aves inspiraram ar e o hematócrito, em porcentagem, pela técnica do micro-hematócrito, descrita por Rosário et al. (2000), a partir da coleta de amostras de sangue em micro tubos capilares heparinizados, submetidos a centrifugação a 11.500 rpm por cinco minutos e a leitura realizada com auxílio de cartões de leitura (FANEM Ltda) com escalas padronizadas.
Passadas 72 horas, a temperatura interna da câmara foi novamente ajustada para termoneutra, permanecendo até o 35º dia de criação, no qual os animais foram submetidos a uma nova fase de calor. O procedimento de amostragem dos animais e coleta de dados foi realizado da mesma forma que durante a primeira fase de estresse, com o objetivo de avaliar o efeito acumulativo da alta temperatura de criação sobre os parâmetros avaliados.
O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado (DIC), com quatro tratamentos (tempo de estresse por calor) mais um grupo controle (câmara termoneutra), com doze repetições cada.
Resultados & Discussão
Verificou-se, aos 21 dias, que todos os animais envolvidos neste estudo encontravam-se em condição fisiológica semelhante até o início do primeiro período de estresse (tabela 1).
O aumento significativo da freqüência respiratória das aves foi verificado após as primeiras 24 horas de exposição ao calor, entretanto, este parâmetro não foi influenciado pela duração dos períodos de estresse. A freqüência respiratória das aves se manteve elevada até o final da primeira fase de calor.
Tabela 1. Valores médios obtidos para freqüência respiratória (FR), temperatura retal (TR) e hematócrito (H) das aves submetidas e não aos tratamentos (horas de estresse) aos 21 dias de idade.
Médias seguidas de letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%). CV = Coeficiente de variação; NS = Não significativo; **P<0,01.
Medeiros et al. (2005) ao estudar a influência do ambiente de criação sobre a produtividade de frangos de corte Avian Farm, relatam que aves criadas em conforto térmico apresentam, em média, freqüência respiratória igual a 47 resp.min-1, resultados que são semelhantes aos encontrados neste trabalho. De acordo com Macari et al. (2004) este aumento da freqüência respiratória é uma resposta do organismo, com efeito no metabolismo, a fim de estimular a perda de calor por ofegação e manter o equilíbrio térmico corporal.
A temperatura retal das aves mostrou-se elevada após 24 horas de exposição à alta temperatura ambiente, porém, após 72 horas, tal parâmetro atingiu novamente a normalidade, não diferindo (P>0,05) do grupo controle (sem estresse). Considerando que para Macari & Furlan (2001) valores acima de 41,1ºC de temperatura retal caracterizam frangos de corte em estresse térmico, podemos afirmar que as aves assumiram esta condição logo após as primeiras 24 horas de estresse.
O valor do hematócrito não apresentou diferença significativa entre os tratamentos (P>0,05) testados, não sendo possível detectar relação entre o estresse térmico e a variação na porcentagem de células vermelhas do sangue das aves, corroborando com Silva et al. (2007) que também não encontraram um padrão para os valores de hematócrito em frangos de corte submetidos a estresse térmico durante uma simulação de transporte até o abatedouro.
Na tabela 2 estão descritos os resultados da avaliação fisiológica realizada na segunda fase de estresse térmico à qual as aves foram expostas, com início aos 35 dias de idade, a fim de avaliar se houve efeito acumulativo do estresse imposto aos animais aos 21 dias.
Tabela 2. Valores médios obtidos para freqüência respiratória (FR), temperatura retal (TR) e hematócrito (H) das aves submetidas e não aos tratamentos (horas de estresse) aos 35 dias de idade.
Médias seguidas de letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey (5%). CV = Coeficiente de variação; NS = Não significativo; **P<0,01.
Durante a segunda fase de estresse, assim como na primeira, todas as aves encontravam-se em condição fisiológica semelhante, embora os animais pertencentes ao tratamento 0 fizessem parte do grupo que recebeu 72 horas de estresse durante a primeira fase. Estas aves participaram da coleta de dados antes que a segunda fase fosse iniciada e apresentaram resultados semelhantes estatisticamente (P>0,05) às do grupo controle, que não receberam estresse térmico em nenhum momento, apontando a ausência de efeito acumulativo do calor intenso no organismo das aves.
As aves apresentaram elevação da freqüência respiratória após as primeiras 24 horas, que se manteve até 72 horas de exposição ao calor. A temperatura retal também se mostrou acima da normalidade após as primeiras 24 horas e se manteve em elevação até o final da segunda fase de calor. Novamente o parâmetro hematócrito não apresentou comportamento definido que permitisse associação com a condição de estresse térmico das aves.
Conclusões
Com base nos resultados obtidos e nas condições em que o experimento foi realizado, pode-se concluir que frangos de corte submetidos a estresse térmico aos 21 dias de idade possivelmente desenvolvem mecanismos de adaptação corporal ao calor e que o efeito acumulativo do estresse térmico não foi verificado nas aves avaliadas aos 35 dias de idade.
Bibliografia
Borges AS, Maiorka A, Silva AVF. 2003. Fisiologia do estresse calórico e a utilização de eletrólitos em frangos de corte. Ciência Rural 33:975-981.
Brossi C, Contreras-Castillo CJ, Amazonas EA, Menten JFM. 2009. Estresse térmico durante o pré-abate em frangos de corte. Ciência Rural 39:1296-1305.
Macari M & Furlan RL. 2001. Ambiência na produção de aves de corte pp.31-87.In: Ambiência na produção de aves em clima tropical. FUNEP. Silva, IJO. Piracicaba.
Macari M, Furlan RL, Maiorka A. 2004. Aspectos fisiológicos e de manejo para manutenção da homeostase térmica e controle de síndromes metabólicas, pp.137-155. In: Produção de frangos de corte. FACTA - Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas. Mendes AA, Nääs IA, Macari M. Campinas.
Medeiros CM, Baêta FC, Oliveira RFM, Tinôco IFF, Albino LFT, Cecon PR. 2005. Índice térmico ambiental de produtividade para frangos de corte. Rev. bras. eng. agríc. ambient. 9(4):660-665.
Rosário MF, Silva MAN, Martins E, Savino VJM, Coelho AAD. 2000. Influência do Genótipo e do Sexo Sobre o Valor Hematócrito em Galinhas Reprodutoras Pesadas. Rev. Bras. Cienc. Avic. 2(3):281-286.
Silva MAN, Barbosa-Filho JAD, Silva CJM, Rosário MF, Silva IJO, Coelho AAD, Savino VJM. 2007. Avaliação do estresse térmico em condição simulada de transporte de frangos de corte. R. Bras. Zootec. 36:1126-1130.