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Ferro sérico ferritina frangos

Desempenho e parâmetros sanguíneos, ferro sérico e ferritina em frangos de corte submetidos ao estresse cíclico por calor e suplementados com selênio e zinco orgânicos

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: MP Betini, RR Machado, Cristiane Prazeres; MRBM Nascimento; GCS Borges; EC Guimarães
Sumário

Com o objetivo de verificar os efeitos da suplementação de zinco e de selênio orgânico no desempenho e nos níveis de ferro sérico e ferritina, foram distribuídos 720 frangos de corte machos Avian 48 em delineamento inteiramente ao acaso e em esquema fatorial 2 (ambiente: ST, submetido ao estresse cíclico por calor e o TN, criados em termoneutralidade) x 2 (suplementação: um suplementado com 40 ppm de zinco e 0,2 ppm de selênio orgânicos e outro sem suplementação) com seis repetições. No 42º dia de idade foram calculados ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e viabilidade (VI) e coletadas amostras de sangue sem anticoagulante de seis aves de cada tratamento. A suplementação com 40 mg/kg de zinco orgânico e 0,2 mg/kg de selênio orgânico não influenciou o desempenho das aves, entretanto, as aves estressadas pelo calor tiveram um desempenho pior, devido ao menor consumo de ração e ganho de peso. O estresse cíclico por calor promoveu diminuição nos níveis de ferritina. Não houve efeito da interação suplementação e ambiente sobre o desempenho e os níveis séricos de ferro e ferritina. A suplementação de 40 mg/kg de zinco e 0,2 mg/kg de selênio na ração não foi suficiente para amenizar os efeitos do estresse por calor.
Palavras Chave: Suplementação, Radicais livres, Estresse oxidativo, Ave, Sangue.

Introdução
A avicultura moderna considera o ambiente em que as aves são criadas fator relevante para que possam expressar seu maior potencial genético de desempenho, pois, as altas temperaturas e intensidade de radiação solar podem causar estresse pelo calor nas aves (Tinôco, 1996). Em temperaturas elevadas, os frangos de corte diminuem o consumo alimentar e o ganho de peso, o que piora a conversão alimentar, além de haver alta mortalidade (Hellmeister Filho, 2002). O desconforto causado pelo calor nas aves provoca estresse oxidativo e eleva as concentrações séricas de produtos da peroxidação lipídica e de metabólitos reativos do oxigênio (ROM), que por sua vez são responsáveis pelo decréscimo nos índices zootécnicos dos animais (Nichi, 2003).
O selênio (Se) suplementado na alimentação das aves estimula a ação das enzimas antioxidantes contra a atividade dos radicais livres (Alves, 2006) e diminui a suscetibilidade das células à oxidação (Spallholz, 1994). Além disso, o Se participa na síntese e atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) (Roch et al., 2000) que atua sobre substâncias tóxicas, convertendo-as em não tóxicas (Spallholz, 1994) e é responsável pela eliminação de ROMs (Ortolani, 2002). Também influencia a regulação da temperatura corporal, a resistência ao estresse oxidativo e o crescimento (Edens & Gowdy, 2004).
O zinco (Zn) participa também do processo de secreção hormonal, especialmente daqueles relacionados ao crescimento e estresse (Wedekind et al., 1992). Os requerimentos de Zn provavelmente aumentam durante a exposição ao estresse pelo calor (Laganá et al., 2007), pois, induz a síntese de uma proteína, a metalotioneína, que liga e armazena Zn nos tecidos (Bales et al., 1994). Essa proteína libera-o sob estresse oxidativo e disponibiliza grupamentos sulfidrilas reduzidos, potentes agentes antioxidantes naturais (Person & Féres, 2005).
Grande parte do ferro (Fe) corporal é oriunda da dieta e é ingerido no estado férrico. Uma vez absorvido, o Fe se liga à transferrina plasmática circulante que é captada pelos precursores eritróides na medula óssea para compor a hemoglobina. Esta utiliza 80% do Fe corporal e o restante é armazenado no interior das células da medula óssea, baço e fígado sob a forma de ferritina e hemossiderina (Campos, 2005). A ligação do Fe na ferritina previne a participação dos íons de Fe na conversão do superóxido e do peróxido de hidrogênio (H2O2) no prejudicial radical hidroxila. O radical superóxido pode ainda reagir com o H2O2 na presença de Fe e cobre e produzir oxigênio, íon hidroxila e radical hidroxila. A ferritina é a molécula de armazenamento e detoxificação do ferro intracelular (Godoy et al., 2007).
Objetivou-se avaliar os efeitos da utilização de zinco e selênio orgânico no desempenho e nos níveis séricos de ferro e ferritina em frangos de corte estressados pelo calor.
Materiais & Métodos
Foram alojados no aviário experimental do Setor de Avicultura Universidade Federal de Uberlândia, Brasil, 720 pintos de corte de um dia, machos, da linhagem Avian 48 durante 42 dias e distribuídos em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2 X 2 composto de dois ambientes (ST, submetido ao estresse cíclico por calor e TN, criados em termoneutralidade) e duas suplementações (S1, ração experimental a base de sorgo e farelo de trigo sem suplementação e S2, ração experimental suplementada com 40 mg/kg de zinco e 0,2 mg/kg de selênio orgânicos) e seis repetições de 30 aves, totalizando 24 unidades experimentais. O aviário foi dividido transversalmente por cortinas plásticas para equalização de dois ambientes: 1) controle (TN) com temperatura natural controlada por ventiladores e aspersores para garantir conforto térmico às aves em função da idade, 2) estressado por calor diariamente (ST) com temperatura natural até o 14º dia de idade e aquecidos (38°C do 14° ao 28º dia e 40ºC do 29º ao 42º dia) por meio de campânulas a gás durante 12 horas (de 7 às 19 h) de forma cíclica(1h30m de calor e 1h30m sem aquecimento) a partir do 14º dia. Ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA) e viabilidade (VI) foram calculadas de acordo com o peso das aves e da ração consumida descontando-se o número e o peso das aves mortas registrados diariamente. No 42º dia de idade, coletaram-se, por punção da veia ulnar, amostras de sangue de 24 aves (seis de cada tratamento) escolhidas aleatoriamente, e colocadas em tubos sem anticoagulante para as análises de ferro sérico (FeS) e ferritina (FT). Os dados foram submetidos à análise de variância através de sistema SISVAR (Ferreira, 2000) e médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%.
Resultados & Discussão
Desempenho
A suplementação de Zn e Se orgânicos não influenciou o CR, o GP, a CA e a VI das aves (Tabela 1). Entretanto, houve uma redução de 11.31% no CR e de 4.62% no GP quando as aves foram expostas ao estresse cíclico por calor, sem que houvesse piora na CA. A redução no consumo de ração é a primeira resposta da ave sob estresse pelo calor (Laganá et al., 2007) para diminuir a produção metabólica de calor e manter a homeostase corporal (Bonnet et al., 1997). A menor ingestão de ração resulta em ganho de peso reduzido. Aves expostas a 35 °C de 21 a 42 dias apresentaram queda de 22% no consumo (Temin et al., 2000) e de 33% quando expostas durante três semanas a 32 °C (Bonnet et al., 1997). Quanto ao ganho de peso, aves submetidas ao estresse cíclico pelo calor do 21º ao 42º dia de idade tiveram redução de 6% (Laganá et al., 2007) e de 15% quando estressadas pelo calor (31 °C) em relação àquelas mantidas em conforto térmico (23°C) (Lana et al., 2000). Portanto, não somente a temperatura ambiente elevada, mas também as diferenças na magnitude, duração e tipo de estresse a que as aves são submetidas são importantes características a serem consideradas. Falhas na CA devido ao efeito direto da temperatura poderia ser resultante de redução da digestibilidade do alimento (Bonnet et al., 1997) e do aumento dos requerimentos de energia para manutenção (Sakomura et al., 2005).
Tabela 1. Médias e desvios padrão de desempenho, níveis de ferro sérico (FeS) e ferritina (FT) em frangos de corte suplementados (S2) ou não (S1) com zinco e selênio orgânico sob condições de estresse cíclico pelo calor (ST) e termoneutralidade (TN).
 
Suplementação (S)*
Ambiente (A)
Significância p
S1
S2
TN
ST
S
A
S X A
CR (kg)
4.52±0.42
4.64±0.61
4.86±0.6a
4.31±0.30b
0.495
0.006
0.460
GP (kg)
2.95±0.12
2.96±0.18
3.03±0.1a
2.89±0.10b
0.847
0.045
0.893
CA (kg/kg)
1.40±0.06
1.41±0.08
1.41±0.01
1.39±0.01
0.944
0.132
0.736
VI (%)
83.44±8.00
82.49±11.56
78.00±10.9
86.73±8.09
0.790
0.090
0.335
FeS (μg/dL)
83.0±19.62
91.0±24.40
86.75±26.2
87.25±16.29
0.396
0.957
0.299
FT (ng/mL)
2.16±0.54
2.31±0.78
2.60±0.74a
1.87±0.25b
0.532
0.005
0.676
*Suplementos nutricionais: S1 - Ração controle sem suplementação, S2 - ração controle com adição de 40mg/Kg de zinco orgânico e 0.2 mg/Kg de selênio orgânico. Médias comparadas pelo teste de Tukey com letras minúsculas diferentes na linha indicam diferenças estatísticas (p<0,05).
Ferro sérico e ferritina
Não houve efeito do ambiente, dos suplementos nutricionais e nem da interação entre esses fatores sobre a concentração de FeS nas aves consideradas (Tabela 1). Entretanto, os níveis de séricos de FT foram menores nas aves expostas ao estresse cíclico pelo calor comparadas às mantidas em termoneutralidade. O estresse oxidativo é considerado como parte das respostas ao estresse de frangos de corte expostos ao calor (Lin et al., 2006). No estresse oxidativo, os radicais livres podem atacar e lesar proteínas e lipídios das estruturas celulares desencadeando a destruição celular (Alves, 2006). Quando os eritrócitos são expostos ao estresse oxidativo, o Fe é liberado destas células (Comporti et al.; 2002). O Fe livre circulante, quando em excesso, é armazenado em uma proteína chamada ferritina (Ponka et al., 1998). O Zn e Se orgânicos suplementados na dieta das aves atuam como antioxidantes protegendo as paredes celulares que não sofreram a ação de radicais livres produzidos pelo estresse por calor. Neste experimento, a suplementação com 0.2 mg/Kg de Se e 40 mg/Kg de Zn orgânicos na dieta não foi suficiente para amenizar seus efeitos, visto que as concentrações de FeS foram semelhantes nas aves criadas em termoneutralidade e em estresse por calor e, os níveis de FT foram menores nas aves estressadas pelo calor. Resultados semelhantes foram obtidos com a suplementação de 30 mg/Kg de zinco em codornas submetidas a estresse por calor (34ºC, 42% UR) durante três semanas, que não foi suficiente para amenizar os efeitos do estresse por calor (Sahin & Kucuk, 2003). Porém, ao serem suplementadas com 60 mg/Kg de zinco houve uma resposta protetiva de tais efeitos negativos. Assim, estudos posteriores são necessários para testar níveis de inclusão de selênio e zinco orgânicos em associação que sejam eficientes para amenizar os efeitos do estresse por calor em frangos de corte.
Conclusões
Sob condições de estresse por calor, o desempenho das aves aos 42 dias de idade é prejudicado. A suplementação com 40 mg/kg de zinco e 0,2 mg/kg de selênio orgânicos na ração não foi suficiente para amenizar os efeitos do estresse por calor.
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