A determinação da digestibilidade dos nutrientes de ingredientes para rações, é necessária para a correta formulação de dietas para aves e suínos. Entretanto, determinar a digestibilidade por meio de ensaios de metabolismo com animais (in vivo), é uma prática onerosa e morosa. Por isso, os métodos de análise de alimentos em laboratório (in vitro) precisam ser melhor avaliados e utilizados como uma alternativa aos métodos in vivo. Nessa perspectiva, foi desenvolvido, na Embrapa Suínos e Aves, um estudo com o objetivo de determinar relações entre variáveis de composição de ingredientes determinadas in vitro, com os valores de energia metabolizável e digestibilidade da lisina obtidos in vivo com aves. Foram conduzidos seis ensaios, sendo quatro in vitro (1; 2; 3 e 4) e dois in vivo (5 e 6), abrangendo 12 ingredientes de origem vegetal: farelo de glúten 1, farelo de glúten 2, farelo de glúten 3, farelo de soja 1, farelo de soja 2, farelo de germe de milho, polpa cítrica, farelo de algodão, farelo de trigo, casca de soja, milho e farelo de canola. Para os 12 ingredientes foram determinadas as seguintes variáveis para cada ensaio: Ensaio 1) composição química: matéria seca (MS), energia bruta (EB), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), cinzas (CZ), fibra bruta (FB), fibra detergente ácido (ADF) e fibra detergente neutro (NDF); Ensaio 2) solubilidade da proteína em alcali: solução de KOH 0,2% e NaOH 0,02%; Ensaio 3) solubilidade da proteína em pepsina: solução de pepsina nas concentrações de 0,02%, 0,002% e 0,0002%; Ensaio 4) fibra dietética total (FDT) enzimático-gravimétrico; Ensaio 5) energia metabolizável aparente corrigida (EMAn) in vivo com aves; Ensaio 6) digestibilidade da lisina in vivo com aves.
Os resultados obtidos para os seis ensaios são apresentados nas Tabelas de 1 a 3. Verifica-se pela análise da composição química (Tabela 1) que o teor de ADF variou entre os ingredientes de 5,26 a 50,69%. Por sua vez, o teor da FDT apresentou variações com amplitude ainda maior (6,06 a 77,65%), sendo observado também diferenças substanciais entre os ingredientes em relação as demais variáveis estudadas, inclusive para aquelas apresentadas nas Tabelas 2 e 3. A partir dos dados obtidos in vitro pode-se estabelecer as correlações e regressões com os valores das variáveis obtidos in vivo (Tabela 4).
As análises de regressão resultaram num valor médio de 97,45% para o coeficiente de correlação (R2) entre as equações que estimam a EMAn, indicando que as equações apresentam boas estimativas. Entretanto, a EMAn pode ser melhor estimada pela equação 4 que considera as variáveis: FDT, ADF, CZ e solubilidade em NaOH (Tabela 4). A ADF foi contemplada também na equação de predição da digestibilidade da lisina (Tabela 4) o que a credencia como variável essencial para estimativas in vitro da EMAn e do coeficiente de digestibilidade da lisina. Todavia, o coeficiente de digestibilidade da lisina pode ser estimado pela equação 5 que considera as variáveis: FB, ADF, PB e DPP02, apresentando R2 de 95,70% (Tabela 4).
Pondera-se que foram estabelecidas equações de predição, confirmando a hipótese de que é possível estimar os valores de energia metabolizável e digestibilidade da lisina de ingredientes vegetais para aves, a partir de valores de composição dos ingredientes determinados in vitro. Os resultados gerados neste trabalho também contribuem para a melhoria das tabelas de composição química e valores de digestibilidade de ingredientes de origem vegetal, o que tem grande valor no sistema produtivo de rações animais.
Tabela 1 - Resultados do ensaio 1 - Composição química (in vitro).
Tabela 2 - Resultados dos ensaios 2 e 3 (in vitro), coeficientes de solubilidade da proteína em função do álcali (KOH 0,2% e NaOH 0,02%) e da pepsina em diferentes concentrações (PEP 0,02%; PEP 0,002% e PEP 0,0002%), respectivamente.
Tabela 3 – Resultados dos ensaios 4; 5 e 6, valores de fibra dietética total (FDT) (in vitro), energia metabolizável aparente corrigida (EMAn) (in vivo) e coeficiente de digestibilidade da lisina (LISc) (in vivo), respectivamente.
Tabela 4 - Estimativas de equações preditoras para energia metabolizável aparente corrigida (EMAn) e coeficiente de digestibilidade da lisina (LISc), em função das variáveis candidatas
O trabalho foi originalmente publicado pela Embrapa Suínos e Aves / Dezembro, 2005.