A sustentabilidade é palavra de uso cotidiano pelos atores das diversas cadeias produtivas da pecuária. Na avicultura isso não é diferente, sendo a sustentabilidade sempre colocada como o referencial de produção. A base conceitual e os preceitos indispensáveis para se atingir a sustentabilidade, infelizmente, ainda são pouco conhecidos por grande parte desses atores. No entendimento de muitos, a sustentabilidade já foi ou será atingida em um curto prazo, mas analisando a realidade produtiva e considerando o conceito e os preceitos, a sustentabilidade é algo ainda muito distante.
Ser sustentável não se limita a cumprir a legislação ambiental, usar alguns recursos naturais renováveis e não-renováveis com eficiência e possuir alguma ação ou tecnologia para manejar os resíduos gerados. Ser sustentável é muito mais complexo e, obrigatoriamente, envolve a mudança dos modelos produtivos e, principalmente, a mudança das culturas produtivas. Envolve ações em três dimensões: ambiental, social e econômica e as decisões irão considerar essas três dimensões em igualdade e não como observasse hoje; a dimensão econômica tendo o maior peso em todas as decisões. Sabe-se também que dar sustentabilidade ao que se mostrou insustentável, não é possível!
Alguns exemplos podem ser utilizados para mostrar a condição de insustentabilidade de nossa agropecuária, de nossa avicultura e, também, de nossas pesquisas. Na agropecuária podemos citar o caso do Código Florestal Brasileiro, processo que se arrasta há anos por diversos motivos, sendo um dos de maior grandeza a polarização e radicalização entre setores, que achando deter a verdade absoluta não estão propensos a discussão civilizada e baseada no conhecimento.
Na avicultura cita-se o uso dos resíduos como fertilizante, tanto camas de aviário como estercos de postura são ótimos fertilizantes, devendo ser utilizados para este fim após o correto manejo. O que se vê é o uso errado, sem considerar o princípio do balanço de nutrientes, ou seja, compatibilizar o que o solo já disponibiliza com a exigência nutricional da cultura vegetal e a disponibilidade de nutrientes nos resíduos. Simplesmente, aplicar os resíduos no solo sem considerar esse princípio é um manejo potencialmente poluidor, o que tecnicamente classificamos como fonte de poluição difusa. A fonte de maior ocorrência no meio rural. Portanto, pode-se ter uma propriedade com licença ambiental e que esteja poluindo, pois tanto nossas legislações como nossos órgãos licenciadores são falhos em controlar esse tipo de poluição.
Nas pesquisas ainda carecemos de ações com visões sistêmicas-integradas. Nossas pesquisas em avicultura ainda possuem visões produtivistas-pontuais. Muito poucas são as pesquisas que tem como foco ou consideram as questões ambientais. Entender um sistema produtivo e visualizar as integrações externas e internas que existem é condição fundamental para se almejar a sustentabilidade. Anterior a mudança de visão de nossas pesquisas, necessitamos da mudança de visão de nossos pesquisadores e profissionais agropecuários. Também precisamos formar novos profissionais que tenham como meta melhorar o ganho de peso, a conversão alimentar, a mortalidade, etc., mas também a eficiência no uso da água, da energia, dos nutrientes e que entendam que maior eficiência ambiental significa menor custo de produção e melhor qualidade de vida para todos os atores da cadeia produtiva.
A sustentabilidade é possível, mas será atingida no longo prazo. Quanto mais demorada as mudanças de visão, culturas e modelos, mais longo o caminho a ser percorrido. Considerando as realidades das cadeias produtivas pecuárias brasileiras, a avicultura de corte possui vantagens perante as outras. Essas vantagens precisam ser trabalhadas para que a avicultura de corte caminhe em direção a sustentabilidade, bem como sirva de referencial para as outras cadeias.