A pandemia do novo Coronavírus terá profundas consequências para o mundo globalizado com impactos econômicos, sociais e geopolíticos para todos os lados e para todos. Isso já está meio que unânime em todo o mundo e grande parte desse alarde é porque o primeiro epicentro da epidemia foi a China, que representa 17% da economia mundial, além de maior importador e exportador do planeta. O segundo epicentro foi o coração da União Europeia, que no seu conjunto soma 22% do PIB mundial. E agora o vírus tomou de assalto os Estados Unidos, maior economia do mundo, 25% da riqueza produzida no planeta. Na soma dos três epicentros, temos 64% da PIB mundial. Impossível não assustar e disseminar incerteza pelos mercados.
As projeções internacionais – ainda incertas, porque foram feitas no meio do furacão Covid-19 – reportam queda na economia norte-americana ao redor de 4% em 2020 e crescimento chinês de 3,5% – o que para eles é “pibinho”, já que previam crescer perto do dobro e, nesta década, conviveram com um avanço médio de 7,6% ao ano no PIB. Quedas acentuadas assim no ritmo desses dois países, somadas a desarranjo na economia europeia, podem significar recessão mundial logo adiante. O efeito da pandemia na saúde econômica global entrou no horizonte. E aí já se coloca uma questão estratégica para um Brasil que está entre as dez maiores economias do mundo, país emergente, mas a bordo de uma economia em reforma e que não deslancha.
Na era pós-Coronavírus pode ser que a Ásia melhore a sua posição no tabuleiro geopolítico e econômico internacional. Ótimo para quem tem na China o seu melhor parceiro comercial (como o Brasil). Mas talvez um momento para também fazer exercícios estratégicos: que caminhos construir para reduzir gradualmente a dependência do mercado chinês? Em que outros mercados entrar ou aumentar penetração? E aos acordos comerciais? Tem mais: com a pandemia, já se fala na hipótese de derrota do presidente Trump para um candidato do centro moderado do Partido Democrata. E, se mudar a orientação de Washington em relação ao mundo, os efeitos políticos serão relevantes e, talvez, picantes em alguns quadrantes do planeta.
Como fica o agro nisso tudo? Continuará com seu protagonismo na economia brasileira, mais forte e evidente até, pois o setor de serviços, que representa mais de 65% do PIB, está sendo um dos mais afetados pela pandemia. Contudo, poderá enfrentar as repercussões de uma economia com crescimento praticamente zerado, senão negativo. Choque de oferta e choque de demanda ao mesmo tempo, desenhando um mercado interno sem energia, com fendas sociais e risco de impactos no consumo de alimentos. De outro lado, o agro poderá ser demandado a coliderar a retomada econômica e social pós-pandemia – com espaço para se projetar, perante a sociedade, como elo de modernidade e confiança para a reconstrução do país. Teria que abandonar alguns paradigmas, talvez, mas que bom se não perdesse a oportunidade.