Uma retrospectiva a partir dos dados da APINCO que mostram os percentuais de utilização do potencial instalado pela atividade indica que o setor corre o risco de, em 2009, enfrentar o menor nível de utilização dos últimos 10 anos. Ou, dito de outra forma, a maior ociosidade do período.
Ao mostrar o índice de pintos efetivamente produzidos em relação à capacidade de produção das matrizes alojadas, esse indicador corresponde, na prática, a uma radiografia da indústria do frango, mostrando os bons e maus momentos experimentados pelo segmento como um todo.
O pior momento, por exemplo, ocorreu (no período analisado, ressalte-se) em 2000, ano em que a utilização das matrizes alojadas chegou a ficar abaixo de 80% e o melhor índice alcançado no ano não chegou a 90%. Em oposição, o melhor momento ocorreu em 2005, quando a menor utilização ficou em 102,24% e a máxima utilização aproximou-se dos 110%.
O primeiro caso resultou do alojamento, no ano anterior (1999), de um volume de matrizes de corte 16% maior que o de 1998, que por sua vez já havia aumentado quase 8,5%. Era óbvio, então, que o mercado não conseguiria absorver esse adicional de 26% em apenas um biênio, o que de fato aconteceu: naquele ano a produção de pintos de corte correspondeu a 83,79% do potencial instalado (perto de 3,9 bilhões), o que significou que deixaram de ser produzidos no período cerca de 600 milhões de pintos de corte.
O bom momento de 2005 começou, na realidade, em 2004 e teve como ponto de partida o oposto do ocorrido em 2000: um baixíssimo aumento (apenas 1,76% a mais) no alojamento de matrizes de corte do ano anterior. Some-se a isso um excepcional desempenho das exportações (26% de aumento em 2004; quase 14% em 2005) e fica fácil entender porque nesses dois anos e pela primeira vez na história do setor a produção efetiva ultrapassou a capacidade de produção instalada - "milagre" alcançado graças ao prolongamento da vida útil das reprodutoras e à adoção em larga escala da muda forçada.
Não havia como isso não se repetir em 2006, pois, a despeito do alojamento anterior de matrizes de corte ter aumentado 10% (2005), o mercado externo permanecia ativo. Foi então que veio a crise da Influenza Aviária e novamente a atividade voltou a conviver com uma alta ociosidade. Assim, enquanto em janeiro de 2005 a produção efetiva superou em quase 10% a produção prevista, três meses depois correspondia a menos de 85% do potencial instalado, o que correspondeu a uma redução de quase 20% na produção de pintos de corte.
O ano seguinte, 2007, foi novamente um período de recuperação. Que, entretanto, já assinalava novo risco à frente, pois naquele ano o alojamento de matrizes aumentou 12,57%, prometendo problemas para o ano seguinte. Foi o que aconteceu no começo de 2008, ocasião em que uma alta oferta de frango obrigou o setor a reduzir o ritmo produtivo. Foi quando a utilização do potencial recuou para 93,70%. Mesmo assim 2008 acabou dando certo - apesar do desastre no trimestre final do período - pois a produção alcançada foi superior a 95% do potencial instalado.
O que vai acontecer em 2009 ainda não se sabe e continua sendo difícil projetar. O certo é que, já no primeiro mês do ano aproveitou-se apenas 79% do potencial instalado, apenas meio ponto percentual a menos que a pior utilização registrada desde 2000 (78,53% em maio de 2000). Como o potencial segue crescente e para fevereiro se prevê produção não muito superior a 400 milhões de pintos de corte, o índice de ociosidade deve crescer.