Como veremos adiante, ao longo da história da civilização vivenciamos diversas alterações na relação entre o homem e a sua alimentação.
Há cerca de 2,5 milhões de anos, os primeiros homens, homo habilis, andavam sobre a Terra. Com a sua evolução, passando pelo homo erectus, chegamos ao homo neanderthalensis, considerado o primeiro ser humano como o que nós conhecemos e precursor do homem que temos hoje, o homo sapiens.
Acredita-se que o homo erectus tenha sido responsável pela dizimação de populações de animais de grande porte, como os elefantes, e pesquisas recentes mostram que tanto os neandertais quanto os humanos modernos primitivos comiam uma dieta carnívora de veados, rinocerontes e mamutes.
Do homo habilis, homo erectus, homo neanderthalensis, ao homo sapiens, a carne foi o principal alimento dos humanos. Evidências arqueológicas e paleontológicas indicam que o aumento do consumo de carne sustentou nossa impressionante divergência de nossos ancestrais primatas. A gordura animal, com sua fonte pronta de ácidos graxos de cadeia longa, estimulou o cérebro humano a se expandir 4 vezes o tamanho de nossos ancestrais hominídeos.
Os fósseis mais antigos de homo sapiens datam de 195 mil anos e já eram anatomicamente idênticos a nós. Nossos genes ainda são os mesmos do período paleolítico e é evidente que estamos geneticamente adaptados a dieta praticada naquele período.
Na etapa mais antiga da pré-história, a era Paleolítica, ocorreu uma grande transformação do homem, levando ao aperfeiçoamento dos utensílios domésticos, de
trabalho e de suas armas, feitas de madeira, ossos ou pedra e com isso obteve-se um grande desenvolvimento dos meios de subsistência.
Por conta do avanço dos instrumentos e técnicas, ocorreu um melhor aproveitamento da carne obtida por meio da caça e de carcaças abandonadas por animais carnívoros, ou seja, os animais passaram a ser cortados em pedaços menores, podendo ser transportados do local do abate.
Nesse período, os homens não criavam animais para sustento, não plantavam e a sobrevivência era garantida por meio dos alimentos encontrados na natureza, com boa parte advinda da caça e da pesca, além da coleta de alguns frutos, grãos e raízes silvestres, de acordo com a disponibilidade da região e sazonalidade.
Uma das mais importantes descobertas foi o fogo, no período Mesolítico. Com esse poderoso instrumento, os homens alcançaram melhores condições de sobrevivência e também tiveram modificados os seus hábitos alimentares, passando a assar as carnes, facilitando o seu consumo e inclusive a conservação das mesmas.
A partir das evidências que temos a respeito da existência dos nossos antepassados, podemos ver que os seres humanos evoluíram para comer carnes. Elas remodelaram nossos corpos e construíram nossos cérebros. Para atender nossas necessidades de energia na natureza, nos tornamos comedores de carne e predadores de animais, o que podemos ver a partir do registro fóssil e da extinção de animais da megafauna.
Este foi o estado da dieta humana até a Revolução Agrícola, que ocorreu 10 mil anos a.C., no período neolítico. Nessa época da história, os homens migraram do sistema de caça e coleta para a agricultura, bem como passaram a viver em pequenos grupos e a domesticar animais, passando a ter um maior controle sobre as fases de escassez e abundância.
Hoje, 90% de nossas calorias vêm do que nossos ancestrais domesticaram há menos de 10 mil anos. Trigo, milho, soja e arroz agora compõem mais de 50% de todas as calorias da dieta humana. Por conta disso, não apenas nossos corpos se tornaram fracos e doentes desde a revolução agrícola, mas nossos cérebros encolheram quase 10%.
Por milhões de anos, a prioridade de sobrevivência dos humanos era obter carnes. Um olhar sobre a evolução humana revela um corpo humano que se transformou de acordo com a obtenção de carne para abastecer nossos cérebros.
A carne nos permitiu escapar da restrição energética que limita o número de neurônios corticais que podem ser fornecidos por uma dieta baseada em vegetais crus na natureza. Para esse fim, nossos corpos evoluíram e nossos cérebros cresceram. Então, num piscar de olhos, recentemente evitamos de forma equivocada o que a natureza selecionou como sendo o melhor alimento para a nossa espécie.
Avançando na linha do tempo, temos o aparecimento de maquinários modernos na época da Revolução Industrial; o desenvolvimento da tecnologia voltada para o campo, indústria, família e casas pós Segunda Guerra Mundial, sendo que o surgimento das geladeiras, congeladores, fornos elétricos e utensílios menores surgiram nessa época.
Já no século XVIII e XIX temos o surgimento das indústrias alimentícias, com a promessa de diminuir o custo da alimentação e oferecer uma comercialização mais eficaz dos alimentos.
Somente cerca de 150 anos atrás, os carboidratos refinados entraram em cena e alimentos como açúcar branco e farinhas refinadas se tornaram amplamente disponíveis pela primeira vez.
Há apenas 70 anos, a produção de alimentos tornou-se industrializada, acrescentando sabores, cores e conservantes artificiais ao nosso suprimento de alimentos, agravando ainda mais a saúde da população mundial. Entre 1937-1960 surgiram os primeiros restaurantes e redes de fast-food. Na década de 80 surgiram os primeiros alimentos enriquecidos com vitaminas e minerais e nos anos 90 apareceram produtos diet e light.
Além da vasta disponibilidade de comida, agora temos uma variedade enorme de produtos cujo principal objetivo é o de aumentar a sensação de prazer na alimentação, com a adoção de temperos, condimentos, açúcares e mudanças de textura para aumentar a palatabilidade e por consequência as vendas.
Quando se analisa a história da humanidade, foi em curto e recente espaço de tempo que os homens passaram a se alimentar de uma infinidade de produtos industrializados e de fácil armazenamento sem refrigeração, como pães, biscoitos, salgadinhos, enlatados, alimentos em conserva, alimentos embalados e etc. Surgiu também uma gama de alimentos com denominações como light, diet, zero, sem açúcar, integrais.
Em seu caminho, a partir do período paleolítico até as condições atuais de alta tecnologia, os humanos perderam seu comportamento primitivo de busca por recursos e alimentos e nos dias de hoje não é mais necessário gastar energia para caçar ou coletar alimentos, porém lidamos com doenças epidêmicas, que são resultados da mudança do estilo de vida original para nosso estilo de vida moderno.
É dito que os seres humanos são onívoros com a capacidade de comer uma grande variedade de animais e plantas, sendo que por quase 2 milhões de anos, nossos ancestrais comeram uma dieta de alimentos animais e algumas plantas, em diferentes proporções e combinações, dependendo da época e localização geográfica.
A evidência antropológica diz que nossos ancestrais eram mais saudáveis antes da agricultura do que depois da revolução agrícola e que na verdade nossos ancestrais eram basicamente carnívoros oportunistas, ou seja, priorizavam o consumo de alimentos de origem animal sempre que possível, consumindo plantas na ausência de carnes e quando o faziam era respeitando a sazonalidade e a disponibilidade delas.
Portanto, evolutivamente, nossos corpos estão bem adaptados a uma dieta que deveria consistir na ingestão de carnes, aves, ovos, frutos do mar, com o acréscimo ou não de frutas e vegetais.
Mas seria possível consumir apenas alimentos de origem animal, excluindo-se por completo vegetais, frutas, grãos, raízes?
Se ampliarmos as lentes da dieta ancestral humana um pouco mais para os tempos modernos, descobrimos que algumas sociedades foram capazes de se defender dos impactos degradantes da agricultura na saúde. Essas sociedades modernas que se alimentam de carne apresentam evidências de uma dieta à base de carne.
Há numerosos exemplos de histórias de pessoas de diversas origens culturais, étnicas e geográficas, que viveram com dietas de carnes por gerações. O que exatamente essas culturas carnívoras comeram e quão saudáveis será que elas eram?
Exemplos de pessoas reais comendo principalmente dietas de carne por longos períodos de tempo nos dão informações poderosas sobre carne e saúde. Alguns exemplos de “comedores de carnes”:
Os inuítes do Ártico canadense prosperaram com carne de peixe, foca, morsa e baleia. O povo Chukotka do Ártico russo vivia de carne de caribus, animais marinhos e peixes. Os guerreiros Massai, Samburu e Rendille da África Oriental sobreviveram com dietas que consistiam principalmente de leite e carne. Os nômades das estepes da Mongólia comiam principalmente carne e laticínios. Os Sioux da Dakota do Sul desfrutavam de uma dieta de carne de búfalo.
Não são apenas as pessoas presas no clima frio, forçadas a comer animais devido à falta de frutas e vegetais, que optaram por uma dieta à base de carne. Outras populações que tinham acesso a alimentos à base de plantas, antes da revolução agrícola, também os rejeitaram em favor da carne como base da dieta.
Esses grupos únicos de pessoas foram objeto de intensa investigação médica há várias décadas e existem numerosos artigos científicos escritos sobre sua dieta e excelente saúde.
A dieta que eles seguem, carnívora, é uma estratégia alimentar que se baseia no consumo exclusivo de alimentos de origem animal.
Hoje, um número expressivo de pessoas ao redor de todo o mundo está mantendo a mesma dieta carnívora, focando nos alimentos que fizeram parte de praticamente todas as populações ancestrais do planeta terra, ou seja: ovos, peixes, aves, carnes, frutos do mar.
Quando estudamos populações que adotaram ou adotam dietas tradicionais à base de carne, vemos excelente saúde, com baixos índices de doenças crônicas, mas quando olhamos para o que acontece quando a comida ocidental se instala (grãos, açúcar,
alimentos processados e ultraprocessados), vemos os problemas que assolam as sociedades industrializadas modernas dispararem. Obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer se tornam comuns.
Como já dito acima, os seres humanos são onívoros — isto é, capazes de comer tanto produtos de origem animal (bichos) quanto de origem vegetal (plantas), mas é importante pontuar que os seres humanos eram comedores oportunistas, ou seja, quando existiam frutas e vegetais à disposição, dependendo da região do globo terrestre e respeitando a sazonalidade, provavelmente não faziam desfeita e comiam o que havia à disposição.
No entanto, durante boa parte do tempo, a subsistência era fornecida pela carne, e obtê-la obviamente era a prioridade seletiva. Em alguns locais e épocas da história, como durante os períodos glaciais, é previsível que os seres humanos subsistissem exclusivamente de carne.
Essas sociedades que basearam sua dieta nas carnes não sofreram com a epidemia de doenças modernas. O câncer era ausente, assim como a doença cardíaca, diabetes, obesidade e pressão alta. Todas estas doenças eram desconhecidas enquanto os alimentos agrícolas modernos estavam ausentes.
Ao analisarmos a história da humanidade, fica evidente que a dieta carnívora não é invenção moderna. Por outro lado, a dieta vegana é uma invenção totalmente contemporânea, já que jamais existiu qualquer registro de alguma civilização humana que tenha sobrevivido em uma dieta isenta de alimentos de origem animal.
Sendo assim, a dieta carnívora nada mais é do que um retorno a um estilo alimentar que moldou boa parte da nossa evolução e que pode trazer incríveis benefícios de saúde, já que a carne fornece nutrição completa e as plantas não; e isso é crítico quando se trata de abastecer o cérebro e todo o corpo humano.
Apesar do lapso de tempo que nos distancia dos nossos antepassados, a verdade é que estamos presos em corpos da idade das pedras em um mundo de fast-food e de grande disponibilidade de comida pré-fabricada, totalmente pobre em alimentos de origem animal.
Nossos corpos são projetados para comer carnes em abundância e como base da nossa dieta, mas o mundo atual infelizmente é dominado por alimentos vegetais processados e baratos, como grãos, açúcar e óleos vegetais, além de carboidratos refinados altamente viciantes e de péssimo valor nutricional.
O carnivorismo não é uma dieta, mas sim uma forma de possibilitar o alinhamento alimentar entre as nossas necessidade biológicas e o nosso passado evolutivo, criando assim uma vantagem metabólica para que tenhamos corpos fortes, esbeltos, saúde mental e para que haja prevenção de doenças.
Nosso corpo e nosso cérebro carecem de uma nutrição essencial que deve ser fornecida a partir de alimentos de origem animal e quando essa nutrição é negligenciada, há consequências deletérias para a saúde.
Os humanos evoluíram e são projetados para comer carne como base da dieta, mas o advento da agricultura trouxe um experimento que teve resultados trágicos, ao termos, enquanto espécie, mudado de uma dieta baseada na carne para uma dieta baseada em vegetais, grãos e posteriormente para uma dieta rica em alimentos processados e ultraprocessados, sem valor nutritivo.
Retomar os hábitos de nossos antepassados, consumindo muita proteína/gordura animal de qualidade, é sem dúvidas a resposta para reconquistarmos nossa saúde e possibilitarmos a continuidade da nossa espécie como homens e mulheres sadios.