A pecuária nacional começa a dar sinais de um amadurecimento há muito esperado.
O Brasil apresenta condições inauditas nunca antes projetadas e imaginadas. Estamos passando por um período de transição, onde a quantidade passa dar destaque a Qualidade.
A primeira cadeia produtiva que se destacou nesta longa jornada, foi a Avicultura, tanto de corte como de postura. Técnicas aprimoradas foram desenvolvidas a tal ponto que o Brasil passou em menos de 25 anos a produzir um frango de corte com peso médio/vivo de aproximadamente 1.500 gramas para 2.100 gramas. Aritmeticamente pode ser considerado como 0,024 gramas/ave/ano. Mas se formos analisar a evolução do quantitativo alojado por metro quadrado, qual seja, a evolução do volume de aves alojadas nestes 40 anos, veremos que 0,024 gramas/ave/ano resultou em milhões de toneladas de carne de frango colocada no mercado nacional e internacional. Destaca-se nesta linha de raciocínio o fator tempo que pulou de praticamente oito semanas para seis semanas. A técnica aliada à genética deu a avicultura brasileira, uma nova opção "linhagens de conformação". Que resultou em maior produção de carne por ave alojada.
A genética avícola mudou ante a necessidade de ofertar um produto final mais competitivo. Fechando ao ano de 1990 existiam 15 empresas especializadas em genética avícola. Hoje restam três. Sinal de que o ditado está certo " quem não competência não se estabelece....."
Aliado a esta política de linhagens de conformação, a Nutrição avançou de com a adoção de novos componentes na dieta de modo a repercutir positivamente na conversão alimentar.
Ocorreram fatos, digamos isolados, onde a busca pela preciosidade, conformação, resistência, precocidade, baixa mortalidade, obtidos pela genética, deixou a descoberto o fator sanidade. A Leucose aviária obrigou a uma reflexão mais profunda, quando não da ausência por um breve período de tempo de linhagens susceptíveis, em especial as mais pesadas.
Se, de um lado tínhamos a genética e a nutrição como fatores indispensáveis para um êxito programado, havia um elemento no meio do caminho, que ainda necessitava ser melhor aprimorado. Instalações adequadas. E ai então surgem novos componentes obrigatórios. Sistemas de alimentação automatizados, com softwares específicos, a dessedentação se apresenta como um fator decisivo no tocante a economia e evita o desperdício, assim como as camas deixam de apresentar os inconvenientes que antes apresentavam. Novos projetos resultaram no Bem Estar Animal, onde parâmetros técnicos da moderna engenharia e arquitetura se fizeram presentes, a tal modo que se pode adotar o controle ambiental em termos de umidade ao ar, temperatura, luminosidade e adequação do ar com a eliminação de carbono e da amônia. Os equipamentos modernos utilizados na cadeia produtiva - avos, matrizes e frangos para o corte- permitiram, quando não exigiram novos estudos que resultaram no melhor desempenho da atividade, com uma margem de lucro compensatória.
Atrelado a estes avanços, a comunidade internacional passa a fazer uso de uma prerrogativa digamos protecionista, que resultou em um verdadeiro tiro no pé.
Falamos de Rastreabilidade.
Pouco Médico (as) Veterinário (as) e outros Profissionais ligados ao ramo da Avicultura detinham e detém conhecimentos suficientes para aplicar todos os preceitos e ditames práticos da Rastreabilidade Avícola. Mas o número reduzido até então destes profissionais, dava a nítida impressão que haveria um enorme fracasso, como o que se estava verificando com o SISBOVI.
A Rastreabilidade Avícola pode ser considerada como uma das mais perfeita em todas as Cadeias Produtivas de Proteínas de Origem Animal. Graças aos esforços abnegados de poucos profissionais que adotaram a QUALIDADE como seu Vade-Mecum.
Laboratórios nacionais e internacionais se viram ante um dos grandes desafios. A pesquisa suplantando a adoção de alopáticos ultrapassados e tóxicos para a aves alojadas deram lugar a medicamentos inteligentes, seguros e econômicos. A Sanidade Avícola avançou de tal forma que praticamente eliminou Brasil da relação dos países com incidências de doenças virais e bacterianas, nocivas a saúde avícola e humana.
Mas neste caminhar em busca da QUALIDADE e também da QUANTIDADE, ficou pelo meio do caminho, o que se pode chamar de "avicultura romântica".
Um risco calculado, quando se fala de "frango caipira".
Primeiro que frango caipira, só existe no interior do Brasil, e nos confins mais remotos. Estas aves rotuladas de caipira são originárias dos seguintes troncos: americano, mediterrâneo, inglês e asiático.
O que hoje vemos por ai, inclusive nas gôndolas dos supermercados são produtos obtidos pelo cruzamento dos troncos acima citados com Andalusian, Buff Plymouth Rock, Silver-Spangled Hamburgs, Australorp, Columbian Wyandottes, Assel, Partridge Plymouth Rock e Brown Leghor.Quanto ao risco calculado é a disseminação de doenças virais que coloca todo o sistema em cheque. Não de pode confundir frango caipira com frango orgânico. Chega de romantismo.
A pecuária de corte bovina alcança patamares invejáveis.
As Associações de Criadores de Bovinos de Raças de Corte e agora com o surgimento da Associação de Produtores de Bovinos de Corte, muito contribuiu para que o segmento como um todo se fortalecesse.
Não temos mais presente aquela máxima que a pecuária de corte bovina, era utilizada para abrir novas fronteiras, ou seja, derrubavam as árvores, queimavam-nas e nas cinzas se lançavam as sementes de capim colonião e coloninha. Era o Brasil abrindo novas fronteiras, era o Brasil se consolidando no centro-oeste, no oeste e na Amazônia.
Atualmente o complexo Pecuário Bovina de Corte responde por uma parcela significativa de investimentos, pesquisas, estudos, adoção de Normas Técnicas, estudos aprofundados em Genética Animal, Reprodução Animal, Nutrição, Sanidade, Administração, Meio Ambiente, Segurança Alimentar e, sobretudo se preocupa com a parte Social.
Cabe ressaltar que os investimentos havidos de parte dos pecuaristas, representam algo nunca antes praticado no Brasil. O governo federal desde a época em que o Sr. Delfim Neto foi ministro da agricultura, que taxava o chuchu como responsável pela inflação e nesta mesma tônica, quando o funesto Funaro, mandou aprender gado bovino de corte, com auxílio de helicópteros, nunca prestigiou a pecuária bovina de corte, com financiamentos expressivos, como o faz e sempre o fez para a agricultura, silvicultura, avicultura. O que representa dize e afirmar que a pecuária bovina de corte, nunca esteve pendurada nas benesses governamentais.
Houve sim uma resposta constante e precisa do segmento que não se deixou abater por este tipo de descaso. A resposta surgiu tipo "efeito cascata ao inverso". Quem mais recebeu financiamento do governo federal, por certo não foi a pecuária bovina de corte. Quem deve ao governo federal R$ 70 bilhões, não é o setor pecuário bovino de corte, que no ano de 2009 atingiu cifras aproximadas de US$ 5 bilhões em exportações, podendo neste ano se a tonelada atingir US$ 8 mil dólares via exportações.
Provavelmente se alcance algo como US$ 83 bilhões o volume de endividamento da agricultura brasileira.
E quanto a pecuária bovina de corte deve ao governo federal?
O Brasil no momento atual se apresenta em uma situação muito favorável, em relação aos principais países produtores de carne bovina. Não vamos citar as condições naturais de clima, solo, topografia e etc.
Vamos nos ater a um simples fato. No Brasil não existe subsídios para a pecuária bovina de corte, a exemplo do que ocorre na Europa, onde a pratica de pagamentos voltados a produção, média histórica de rendimentos, proteção tarifárias que bloqueiam e impedem a presença de commodities na U.E.
Esta simples situação: ausência de subsídios, evita uma situação futura muito prejudicial, não só para todo o setor envolvido, que passa a se servir de um tipo de "apoio institucional", mas com gravames consideráveis a toda a sociedade brasileira. Um só exemplo: Cadeia Automobilística do Brasil. No momento que o governo federal retirar as vantagens fiscais e subsídios, haverá uma desmobilização total deste setor, com desempregos sem precedentes. Na pecuária bovina de corte, quem subsidia o pecuarista é o seu próprio suor, coragem, determinação, empreendedorismo e amor pelo que faz. Romântico.Não?
Mas esta é a pura verdade.
No atual momento estamos assim posicionados:
Países com maior produção: Estados Unidos, Brasil, China, Argentina e Austrália.
Países com maior exportação: Brasil, Austrália e Canadá.
A vantagem que a pecuária de corte bovina apresenta em relação aos demais países está na outra ponta do sistema produtivo. Todos os grandes frigoríficos autorizados a exportarem carne bovina, são brasileiros e operam de forma unida e objetiva. Uma citação: US$ 28,7 bilhões é o faturamento do maior complexo frigorífico, do ramo carne bovina. Isto lhe garante ser o maior produtor (fornecedor de carne) do mundo.
Mas vamos ainda caminhar por outros aspectos da pecuária bovina de corte.
- No ano de 1974 surge o Colégio Brasileiro de Reprodução Animal, que desde então vem se destacando na condução científica, educacional e orientadora no tocante a Reprodução Animal. Sem esta instituição e lógico sem os seus associados, pelos inúmeros serviços e publicações, ainda estaríamos na era do "boi barroso..."
- No mesmo ano, nasce a ASBIA - Associação Brasileira de Inseminação Artificial - que veio congregar todos os interesses comuns e direcioná-los de forma responsável e profissional, em favor da pecuária bovina de corte.
- Na cidade de Ribeirão Preto, no ano de 1996 nasce a ANCP - Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores - que hoje apresenta um índice de 4.000 touros avaliados.
- No ano de 1977 oficialmente é inaugurada o que hoje é chamada de Embrapa Gado de Corte, que é referência nacional em pesquisas voltadas exclusivamente para o setor pecuário bovino de corte.
- No ano de 1985 o Brasil é contemplado com a criação do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, que vem pautando a sua existência no direcionamento de melhor no fomento científico.
- E no ano de 1920 é criada a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, que vem pautando nestes 90 anos de existência pela união profissional da Classe Médica Veterinária.
- Na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, no ano de 1972, nasce o Colégio Brasileiro de Cirurgiões Veterinários, atualmente com a denominação de Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária.
- A Sociedade Rural Brasileira (SRB), entidade de caráter associativista representativa da classe rural, fundada no dia 19 de maio de 1919, em São Paulo, capital, completou em 2009, 90 anos.
- Confederação Nacional da Agricultura -CNA- órgão que representa, organiza e por certo busca fortalecer todo o sistema produtivo agropecuária brasileiro, representado pelos seus associados, via Federações Estaduais e Sindicatos Rurais.
- CFMV.- Conselho Federal de Medicina Veterinária - Em 23 de outubro de 1968 foi criado o Conselho Federal de Medicina Veterinária e os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária, por força da Lei 5.517 de autoria do Deputado Federal Sadi Coube Bogado.
- ABIEC - Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, fundada em 1971.
- ASSOCON- Associação de Confinadores do Brasil - criada nos anos de 1980, fortalece a cada ano que passa todo o sistema criatório, agregando valor ao produto e acelerando de forma sustentada a produção de proteína animal.
- Universidades Federais, Estaduais e Particulares com seus cursos de Medicina Veterinária, cuja origem se dá com a criação da Escola de Veterinária do Exército, que entra em funcionamento em 17 de junho de 1914 e da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária cuja instalação se deu no dia 04 de abril de 1913.
- Sindicatos de Médicos Veterinários, que tem por escopo a proteção de todos os profissionais graduados em Medicina Veterinária.
De posse de todos estes arsenais supracitados, e pecuária brasileira tem um enorme suporte técnico, científico, político, representativo que lhe garante um processo de produção sustentada crescente.
A contribuição até então realizada em prol da pecuária brasileira, tende a se manter e fortalecer, uma vez que não se pode deixar de lado um patrimônio histórico de tamanha envergadura, que sempre lutou para que o Brasil atingisse o lugar de importância e destaque como o atual.
O caminho que se apresenta os desafios, os objetivos, as missões, os sacrifícios, as lutas contra políticas totalitárias, os estudos e pesquisas, o anonimato heróico das esposas dos pecuaristas e das pecuaristas, por certo darão ao Brasil o destaque que busca e merecidamente irá conquistar ocupar assento no Conselho das Nações como o maior produtor de carne bovina de Qualidade e Segurança Alimentar, e não se preocupará e tomar assento na ONU, no Conselho de Segurança que decide quando e aonde a próxima guerra irá acontecer.
E por uma razão toda especial cabe aos profissionais graduados em Medicina Veterinária o sacro dever de sustentar uma produção bovina de corte, dentro dos mais rígidos padrões de Sanidade Animal e Segurança Alimentar, afora todas as demais funções e obrigações que lhes são atribuídas.
Outra Cadeia Alimentar que tem colocado o Brasil em posição de destaque mundial, sem sombra de dúvida é a Suinocultura.
E, menos de 40 anos a suinocultura deixou de ser uma atividade meramente de safras, para se posicionar de forma empreendedora e econômica, a ponto de hoje as estatísticas apresentarem cifras de 40 milhões de cabeças alojadas em várias regiões do Brasil, com destaque para a modalidade "integração" que se uma forma engessou os produtores, da outra organizou o sistema. Infelizmente o que se tem como certo é que existe um tipo de "cartel" ou monopsônio combinado.
Novas tecnologias foram desenvolvidas, as Associações Estaduais de Suinocultores, passam por uma dinâmica de modernização e efetivação no seu modo de agir, deixando de lado as já conhecidas "chorumelas pelo baixo preço". Estão se organizando na busca de melhor defender os interesses da classe, no que se dizem respeito a capacitação, treinamentos, estudos de viabilidade de mercado, transferência de conhecimentos, informatização das propriedades e mostrando que a suinocultura quando bem administrada, fazendo parte de um mix de produtos de uma propriedade rural, tende a ser muito competitiva e com excelente custo/benefício.
As empresas de grande porte que operam sistemas especializados de integração dominam o mercado.
Afirmar que o suinocultor independente sobreviva ainda, é afirmar que é um herói.
O Brasil se posiciona como um dos grandes players da suinocultura internacional, com presença marcante na Comunidade Européia, na Rússia e nos países asiáticos.
Um dos entraves positivos para o Brasil se diz respeito ao item poluição.
A Holanda diminuiu a sua produção de suínos em função da poluição - dejetos - produzidos pelos sistemas criatórios, ou seja, motivos ambientais que por sua vez toma conta de parte da Europa. Menos mal, pois, não sabem administrar corretamente este problema. No Brasil a "pegada GEE", tem na suinocultura um dos grandes pilares de sustentação ambiental. A Legislação é rigorosa e os efeitos positivos, ante a construção de biodigestores, que tendem a produzir um tipo de matriz energética limpa, e contribui para o meio ambiente com o uso dos resíduos fermentados, na sua aplicação na agricultura.
Afirmar que a matriz energética - biodigestores - poderá um dia contribuir com o ONS, pode ser um sonho, mas tudo é questão de acreditar no sonho...
Muito e quase tudo que hoje se tem em termos de suinocultura no Brasil, deve-se aos abnegados e competentes Profissionais da EMBRAPA SUINOS E AVES de Concórdia. Recinto sagrado de estudos, pesquisas, avanços e dedicação em prol da suinocultura que beneficia o Brasil.
A entrada de novas raças sintéticas, marcadores genéticos, inseminação artificial, ultrassonografia, segurança alimentar, gestão ambiental, Medicina Veterinária alternativa, adoção de Bem Estar Animal, informatização de todo o sistema produtivo, especialização por segmento da Cadeia Produtiva, aditivos alimentares que permitem uma conversão alimentar melhor, seleção genética que permite acentuada precocidade, melhor área de lombo, menor cobertura de gordura, vacinas autógenas, o controle da Circovirose Suína via vacinação, são alguns ferramentais disponibilizados aos suinocultores.
Recentemente o Brasil iniciou ou re-iniciou suas exportações para a Rússia, que desponta como maior importador, um total de 32.700 toneladas. Nos primeiros meses de 2010 o acumulado atinge a cifra de 75.300 toneladas ou algo como US$ 175.000.000,00.
Mas ainda existem gargalos a serem resolvidos na suinocultura. A concentração do sistema criatório em grandes conglomerados empresariais e cooperativistas, aliado ao baixo consumo de carne suína, a falta de um marketing mais agressivo e pontual e a desmistificação a respeito da carne suína.
Atualmente encontram-se nas gôndolas frigoríficas de alguns supermercados, cortes de carne suína condimentada ou não, embalada à vácuo. Mas o preço é impraticável. O que impede a sua aquisição. Já os cortes verdes, podem ser considerados viáveis. Outro gargalo são os componentes para feijoada. As peças salgadas são um tanto salgadas para o bolso do consumidor, o que também impede um maior consumo.
Finalizando.
As três Cadeias Produtivas: Bovinos de Corte, Avicultura de Corte e Suinocultura, vêm de há muito contribuindo com a entrada de divisas, via exportações. A geração de impostos em todas as demais cadeias satélites, de empregos diretos e indiretos. A fixação das famílias no campo. A obediência as leis ambientais. A adoção de critérios técnicos, econômicos, sociais e administrativos, aliados as pesquisas via Embrapa Gado de Corte, Aves e Suínos. As ações das entidades representativas ligadas às três cadeias produtivas. Aos profissionais de Medicina Veterinária, Engenheira Agronômica, Administradores, Jornalistas, Publicidade, Marketing, Técnicos Agrícolas. As Universidades e Faculdades de Ciências Agrárias. Colégios Agrícolas. Cooperativas e Sistemas Integrados específicos para aves e suínos.
São os maiores valores agregados responsáveis pela Evolução da Pecuária Brasileira.