Entrevista - Novos desafios na Medicina Veterinária, fala Romão Vidal (Empresa Cemaer)

O delineamento da minha vida profissional, iniciou no Colégio Agrícola Getúlio Vargas, na cidade de Palmeira, no Estado do Paraná, onde conclui o curso de Mestre Agrícola, na seqüência, no Colégio Agrícola Agusto Ribas, na cidade de Ponta Grossa, também no Estado do Paraná, onde concluí o curso de Técnico Agrícola.

Este embasamento técnico foi decisivo para a conclusão do curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal do Paraná (UFP).

A seqüência profissional deu-se de forma natural, primeiro Médico Veterinário a se estabelecer na cidade de Umuarama, na seqüência Santa Catarina como funcionáro da CAFASC e logo a seguir em São Paulo, na Purina do Brasil. A cidade grande não me atraiu e iniciamos nossas atividades no interior do Paraná, implantando complexos de integração avícola, como Avícola Pato Branco, na cidade do mesmo nome, Gralha Azul Avícola em Francisco Beltrão.

Mas nos apaixonamos pela pecuária bovina de corte. Planejamento de fazendas, re-estruturação de propriedades, implantação de novas técnicas em reprodução animal, formação do primeiro plantél Tabapuã P.O. e Nelore P.O. utilizando semem de Kavardi, Taj Mahak e Godhavari. No sudoeste do Paraná. Foram mais de 20 fazendas implantadas, todas com moldadas para a pecuária bovina de corte.

Mas vida nos levou para outras atividades e quando os demos conta estavamos ligados de forma quase que indissolúvel, com a Rastreabilidade aplicada na pecuária bovina de corte.

Discordando desde o primeiro dia, pela idiossincrasia e falta de honestidade nos seus propósitos  que apresentou ao ser lançada.

Praticamente introduziram no Brasil um serviço cartorial. Previlegiando poucos que se abotelavaram das informações previamente e lucraram muito. Nossa revolta e discórdia, não se atrelava a esta situação. Mas sim como era e como está sendo conduzida a Rastreabilidade no Brasil.

No momento estamos ligados a uma empresa -Cemaer - que opera no ramo de cursos e treinamento focados no Meio Ambiente.

Na realidade a Medicina Veterinária está sofrendo uma guinada muito grande, no que se diz respeito a uma das suas diretrizes básicas : Sanidade Animal, Produção de Proteína Animal, Reprodução Animal, Nutrição Animal, Segurança Alimentar, Inspeção de Produtos de Origem Animal, Pesquisas no ramo da Ciência Médica Veterinária. Atividades estas que em geral são desenvolvidas e aplicadas no interior do Brasil. Mas o que estamos assistindo é uma opção quase que generalizada de profissionais que se dedicam ao mercado Pet. Cresce de forma exponencial o número de cães e gatos nas grandes cidades o que proporciona uma oportunidade de mercado considerável. Resultado concentração considerável de profissionais da área de Medicina Veterinária nos grandes centros e ausência extraordinária destes profissionais no interior do Brasil.

Acredito que ainda existem várias lacunas a serem preenchidas na Grade Curricular do Curso de Medicina Veterinária, em relação ao atual momento que estamos vivendo. O recém-graduado, praticamente é jogado no mercado, sem ter uma noção mais abrangente do que o mercado está exigindo. Ignorância total a respeito de Normas Técnicas, de Protocolos Técnicos aplicáveis em Sistemas Produtivos Animal, Sociologia e Psicologia aplicada na Medicina Veterinária, Psicologia Animal, Relações Humanas aplicadas ao meio rural, Bem Estar Animal, Boas Práticas de Produção Animal, Planejamento de propriedades rurais, Meio Ambiente,sem noção alguma a respeito de Marketing e Endo-Marketing, desconhecimento total e absoluta do mercado futuro de trabalho.

Será necessária uma reformulação no sistema de ensino, com a obrigatoriedade de um sistema de Residência Médica Veterinária, com duração mínima de 3 anos, para depois obter o devido registro nos CRMV's.

Sempre operamos em sistemas produtivos de protéinas de origem animal - aves, suínos e bovinos - o uso racional de medicamentos alopáticos, tendo como raciocínio básico que ao se iniciar os procedimentos de anammense e exames clínicos de um animal acometido de uma patologia ou infecção, estaremos administrando uma forma de prejuízo, daí a necessidade do(a) profissional atuar na área de Medicina Veterinária Preventiva, que não quer dizer na sua totalidade o atendimento aos preceitos de coberturas vacinais.

Acredito que a Medicina Veterinária, irá contribuir para que em um tempo muito curto, estejamos fazendo uso de vacinas transgênicas a partir da alfafa, contra Febre Aftosa, que a Genética Molecular terá uma participação cada vez maior de Médico(as) Veterinário(as), no intuíto de aumentar a oferta de alimentos de origem animal. Que a Segurança Alimentar terá na Medicina Veterinária um dos maiores suportes.

Uma das maiores complicações vividas na vida profissional, foi a falta de suporte técnico em relação aos exames laboratoriais, em especial na avicultura, a ponto de convencer o Bioquímico responsável pelo laboratório de um grande hospital de Pato Branco a proceder os exames bacteriológicos. Algo totalmente inusitado no momento vivido então. A demora dos resultados anatomo-patológicos complicava em muito as tomadas de decisões. Outro fator que chamava a atenção era a presença dos "vitirinários" verdadeiros charlatães, que vendiam medicamentos a esmo, para todas e quaisquer doenças. Afora o exercício ilegal da profissão, por outros profissionais que por força de uma Grade Curricular mal formatada, se diziam protegidos legalmente para exercer atividades de competência única e exclusiva dos graduados em Medicina Veterinária.

Acredito que as últimas inovações estão sendo colocadas a disposição do mercado, temos casos pontuais como os trabalhos desenvolvidos pela ANCP-Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores - de Ribeirão Preto, que na pessoa do Dr. Raysildo Barbosa Lôbo e seus colegas tem colaborado para que a pecuária bovina de corte, venha se destacando nacional e internacionalmente.

Infelizmente a Rastreabilidade não conseguiu ainda ser vista por um ângulo mais técnico e sério. Pessoas como Dr. Antonio Lirani que entende de Rastreabilidade de forma séria e pontual. Assim como as Dra. Marisete Cerutti, Dra. Irenilza de Alencar Nääs, referências da Rastreabilidade Avícola no Brasil. Citamos ainda a Dra. Alda Lerayer, Diretora-Executiva e Porta-Voz do CIB - Conselho de Informações sobre Biotecnologia -.

Para não cometer injustiças, gostaria que ao citar os nomes desses profissionais, se estendam a muitos outros colegas que na discrição, anonimato e humildade, tem colaborado com seus estudos e pesquisas para que a Medicina Veterinária alcance patamares nunca antes imaginado, nestes últimos anos.

Vamos dividir este tema.

O planejamento de fazendas, não só na parte geográfica e uso do solo, dos recursos naturais renováveis, proteção ao Meio Ambiente, a adoção de uma política de Relações Humanas com os funcionários e seus familiares, a adoção de recursos técnicos como aerofotogrametria e estereoscopia, nos levaram a envidar esforços para que houvesse uma gestão mais aprimorada nos sistemas produtivos de pecuária bovina de corte.

Na avicultura de corte, a inovação na implantação de sistema integrado, despertou uma nova forma de se buscar uma melhoria nas condições de vida dos avicultores, não só na parte financeira, como contribuiu para que o uso das camas de frango, na adubação orgânica na plantação de milho, promovesse ganhos adicionais. Ao iniciarmos a implantação da avicultura de corte no sudoeste do Paraná, praticamente éramos o único profissional que atuava no segmento. Patologia avícola, Nutrição, Sanidade, Manejo, testes de medicamentos, divulgação de novas técnica, prestigiamento de novas raças de frango de corte, era uma constante.

Na pecuária bovina de corte, foi em decorrência da situação que se apresentava, como clínica, cirúrgias, partos, cesarianas e que foi aos poucos ganhando corpo a ponto de ter que deixar a avicultura e optar pelas fazendas. Neste novo segmento, que não era totalmente desconhecido, deu-se início a formação de plantéis de Nelore e Tabapuã. A introdução de touros Hereford no sentido de obtermos uma heterose, resultou em novos avanços de modo a atingir pesos ao desmame nunca antes imaginado. A Inseminação Artificial era algo visto como "coisa de doido". Poucos os pecuaristas que acreditavam em resultados positivos. Aos poucos, como uma atividade messiânica, foi sendo aceita a ponto de se buscar material genético, de touros com DEP's positivas.

E então surge a Rastreabilidade, com a qual não concordamos até os momentos atuais.

E tal ficou comprovada quando em São Paulo, participamos de um seminário promovido pelo Jornal Valor Econômico e fizemos a leitura de uma manchete " A Rastreabilidade não é Crível" resultante de uma entrevista do então ministro Roberto Rodrigues, o que causou um mal estar tremendo aos responsáveis pelo SISBOV, presentes no seminário.

Na minha modesta opinião, o Brasil necessita urgentemente da criação de um novo modelo para a pecuária bovina de corte.

Os nossos estudos no momento estão sendo direcionados para a -ZONA DE EXCELÊNCIA EM PECUÁRIA DE CORTE - onde os profissionais de Medicina Veterinária, terão que estudar, compreender e aplicar as Normas Ténicas da família ISO 9000, ISO 14000 e ISO 26000, afora das demais que correm de lado, como Bem Estar Animal, Genética Molecular, Agrossilvicultura e Pecuária Bovina de Corte, Integração Lavoura-Pecuária e assim por diante. 

Uma das maiores e mais bem sucedidas experiência profissional, se deu quando fomos convidados a desenvolver um processo de recuperação de uma planta de processamento de leite, pertencente a uma cooperativa - CAPEG- de Pato Branco.

Potencial instalado para processar 100.000 litros/dia, não conseguia algo além de 20.000 litros/dia.

Buscamos uma forma inédita no Brasil. O governo federal, através da extinta LBA - Legião Brasileira de Assistência - dou 360 para 120 cooperados 3 novilhas da raça holandesa preto e branco, registrada e com prenhez positiva. Com o compromisso de em um prazo de 24 a 36 meses, repassarem as crias fêmeas para outros 120 cooperados e assim por diante. Na seqüência foi a vez de um banco estatal, doar 660 novilhas para 220 cooperados, nas mesmas condições. E logo a seguir após a liberação de um financiamento, por parte de um banco oficial, fomos ao Uruguai para importarmos 2890 holando-uruguaias. Totalizando 3910 matrizes bovinas para a produção de leite.

Este modelo de processo "responsabilidade compartilhada" chegou a ser apresentado á Presidência da República para sua aplicação em vários estados brasileiros.

A produção de leite em um período de 3 anos atingiu um patamar médio de 200.000 litros dia. Outro fator que nos deu um sentimento de realização, foi que ao saber que o soro de leite, advindo do fabrico de leite, era jogado nas lagoas de tratamento, partimos imediatamente para o fabrico de ricota, o que resultou em um ganho considerável para a cooperativa, uma vez que fabricavamos 6.000 quilos de queijo por dia, com uso de 60.000 litros de leite.

Como Médico Veterinário generalista, entendo que estamos vivendo uma situação nunca antes experimentada, ou seja, não é uma situação cíclica. Estamos nos deparando com uma necessidade de quebra de paradigmas.

A Médica Veterinária ou o Médico Veterinário, tem que atuar de forma pontual em áreas que jamais foram pensadas, como a Biodiversidade, a Biotecnologia, Transgênia Animal, Biotecnologia Ambiental, Adminsitração de águas pluviais, Transgenia aplicada a produção de vacinas e medicamentos, Marcadores Genéticos aplicados de forma comercial, Transgênia aplicada na produção de leite, com finalidades terapêuticas, Medicina Veterinária Ambiental, Medicina Veterinária aplicada na área de Seguro Animal, Peritagem Ambiental, Psicologia Animal, Acupuntura Veterinária.

O rumo que a Medicina Veterinária está tomando no momento é bem fácil de se constatar. O elevadíssimo nivel profissional e técnico que os Médicos(as) Veterinárias estão disponibilizando aos seus pacientes - cães e gatos - por exemplo "Cirúrgias descomprensivas da medula espinhal". Cardiologia com dopler colorida para cães e gatos.

No meio produtivo. Os resultados advindos das exportações de carne de frangos, bovinos e suínos, onde a presença preponderante e muito bem aceita dos profissionais de Medicina Veterinária, que atuam de forma precisa e ética, nestas cadeias produtivas.

O consumidor ao tomar o seu café da manhã, acompanhado de leite, queijos, manteiga, frios e ovos, sequer se lembra que estes alimentos estão presentes nas suas mesas, com toda a Segurança Alimentar, graças aos profissionais da area de Medicina Veterinária.

Da mesma forma, ao fazer sua refeição - almoço ou jantar - que ovos, carnes, embutidos, conservas também contaram com a participação responsável destes profissionais.

Existe um ditado " Médico Veterinário só é lembrado em época de cachorro louco".

Não existe por parte do Conselho Federal de Medicina Veterinária, uma campanha continuada de marketing sobre a profissão. A perpetuação na presidência do órgão maior, acomodou o seu ocupante. A sua visão ficou míope ante os acontecimentos que oneram e atingem a classe como um todo.

A valorização dos préstimos da nossa profissão, se dá mais em função de ações diretas em clínicas veterinárias, em haras, hipicas do que na sociedade em geral.

A citação na mídia, no Dia do Médico Veterinário, sempre é feita graças ao patrocínio de um laboratório de medicamentos de uso veterinário ou de uma marca de ração animal.

Outro ponto negativo.

A não participação junto a organismos vivos da comunidade: Rotary Club, Lyons, Câmara Júnior, Maçonaria, Conselho de Desenvolvimento Municipal, Câmara de Vereadores, Entidades Religiosas, Associação Comercial, Grupos de Estudos da Saúde Humana e Animal, Diretoria de Clubes Sociais, Participação de Atividades de Voluntariado, falta de endo-marketing. A não presença junto a formadores de opinião.

A existência da Medicina Veterinária como um todo. O aperfeiçoamento e aplicação da prática de xenotransplante.
O número de jóvens acadêmicas que concluem suas graduações. O sexo femenino em muitas I.E.S. já é maioria.
O elevado profissionalismo que se faz presente em todas as areas de atuação.
O despreendimento dos profissionais que atuam em regiões muito distantes, dos centros urbanos, em condições precárias em relação ao suporte técnico laboratorial, hospitalar e clínico.
A participação em empresas Certificadoras de Orgânicos.
Participação direta no PIB brasileiro, ante os recordes de exportação de carnes.
Os avanços nas areas de Reprodução Animal, Nutrição Animal, Cirúrgias de Grandes Animais, Genética Molecular, Ensino da Medicina Veterinária.

Seria muita pretensão nossa em deixar algum recado aos colegas.
Mas humildemente os faços de uma forma convicta, no sentido de buscarmos elevados níveis de Qualidade profissional. Se possível buscar uma especialização - residência - na área que mais lhe é simpática e atraente.
Afora a graduação em Medicina Veterinária, duas outras graduações serão de importância transcendental, na carreira a ser palmilhada: Administração e Marketing. Quando não for possível uma destas graduações, a mais indicada é a de Administração.

Não se recolha ao seu lar, ao seu apartamento após o expediente de trabalho, dedique-se ao voluntariado, a participação de eventos da municipalidade.
Se doe como Médico(a) Veterinário(a).
Lembre-se que nós Médicos(as) Veterinários(as)  não devemos ser mais um na multidão, ao contrário deveremos ser profissionais formadores de opinião. Recicle-se ao máximo possível. Forme Grupos de Estudos com a participação de Médicos, para discutir ações de Saúde Pública e Saúde Animal, de forma a colaborar com melhora da Qualidade de vida da sua comunidade.Não participe de eventos que cause sofrimento, dor e estresse  aos animais.
Sempre que possível busque participar com as APAE's, (Associação de Pais e Amgios dos Excepcionais) para prestar serviços voluntários no tocante a Equoterapia, por favor consultar o site. E finalmente, tenha em mente que o seu "paciente" é muito mais importante que o seu cliente.