Com a crise internacional, houve uma grande redução da demanda internacional que fez com que diminuísse a intensidade do comércio tanto nos países desenvolvidos quanto nos emergentes. No agregado de 2008, o agronegócio brasileiro conseguiu aumentar o faturamento das suas exportações em relação a 2007, mas no primeiro trimestre de 2009, houve queda de 9% (em dólar) em comparação com o mesmo período de 2008. De aproximadamente 13 bilhões de dólares, o faturamento passou para 12 bilhões. Essa perda é conseqüência dos menores preços internacionais.
Em moeda nacional, ainda não é possível calcular o faturamento do trimestre porque o índice cambial está apresentado somente até janeiro de 2009 devido à defasagem na publicação de informações de agências internacionais.
Apresenta-se a seguir uma análise do comportamento dos preços (em dólares e em reais), do câmbio e do volume exportado. Analisa-se também o comportamento das exportações do agronegócio por grupos de produtos e por regiões brasileiras.
Os anos 2000
De 2000 a 2008, os preços dos produtos exportados pelo agronegócio brasileiro em dólares (IPE-Agro/Cepea) cresceram 64%; esse crescimento foi praticamente contínuo, com uma pequena queda em torno de 2002 (Figura 1 - dados anualizados). Porém, os preços em reais (IAT-Agro/Cepea) aumentaram 21,6%, tendo em vista a valorização da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea) de 25%. Por sua vez, o volume exportado do agronegócio (medido pelo IVE-Agro/Cepea) apresentou crescimento de 120% entre 2000 e 2008.
A 1
Figura 1 - Índice de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/Cepea) em dólar, Índice de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro/Cepea) de janeiro a dezembro de 2008, Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio/IAT - preços em reais das exportações taxa efetiva de câmbio do agronegócio (IC-Agro/Cepea) e o Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio (IC-Agro/Cepea) de janeiro de 2000 a dezembro de 2008 (dados anualizados). Fonte: Cepea/Esalq-USP
2008 e 2009
Em 2008 e primeiro trimestre de 2009, praticamente não houve crescimento do volume exportado (IVE-Agro). No mês de fevereiro de 2009 chegou a haver uma queda 7% em relação a fevereiro de 2008. Porém, em março houve recuperação de 14% na comparação com março de 2008. Os preços em dólares dos produtos exportados do agronegócio (IPE-Agro) vêm caindo desde setembro de 2008 (figura 2). No primeiro trimestre, acumularam queda de 9%, pressionando também o faturamento em dólar, que recuou 9% em comparação com o mesmo período de 2008.
Quando se verifica o comportamento dos preços em reais (IAT-Agro), percebe-se que há um aumento da atratividade durante todo o período, de forma mais acentuada a partir do segundo semestre de 2008. Isto ocorreu em conseqüência da desvalorização cambial (IC-Agro) que chegou a 26% no intervalo entre setembro e dezembro de 2008. Cabe lembrar que, neste relatório, o índice cambial está apresentado até janeiro de 2009 devido à defasagem na publicação de informações de agências internacionais.
Figura 2 - Índice de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/Cepea) em dólar, Índice de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro/Cepea) de janeiro de 2008 a março de 2009, Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio/IAT - preços em reais das exportações taxa efetiva de câmbio do agronegócio (IC-Agro/Cepea), e o Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio (IC-Agro/Cepea) de janeiro de 2008 a janeiro de 2009 (dados mensais). Para Preço e Volume: Jan/2000 a Mar/2009; Câmbio e Atratividade: Jan/2000 a Jan/2009. Fonte: Cepea/Esalq-USP
2009
Os dados do primeiro trimestre de 2009 em comparação com o primeiro trimestre de 2008 (figura 3) indicam uma queda dos preços em dólares de exportação dos produtos do agronegócio de 9%. O volume exportado no período ficou praticamente igual a primeiro trimestre de 2008 com um aumento de apenas 3,8%. Este comportamento de preços e volume exportado explica a queda do faturamento em dólar no começo deste ano.
A taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro) apresentou aumento de 12,5% (desvalorização cambial), mas a elevada queda dos preços em dólares fez com que não houvesse crescimento acentuado da atratividade, que se limitou a 6,6%.
Figura 3 - Variação percentual do: Índice de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro) em dólar e Índice de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro) do primeiro trimestre de 2009 em comparação o primeiro trimestre de 2008; para o período de dezembro/08-janeiro/09 em comparação com dezembro/2007-janeiro/2008: Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio/IAT (preços em reais) e Índice de Câmbio do Agronegócio (IC-Agro). Fonte: Cepea/Esalq/USP
Exportações por setores
Na Figura 4, nota-se que os preços já internalizados em reais (ou seja, o IAT) tiveram, no bimestre dez/08-jan/09, comportamento diferente do que vinha ocorrendo até 2008, quando os produtos do complexo soja e carnes tinham os maiores aumentos de atratividade. Os produtos com maior atratividade no bimestre dez/08-jan/09 em comparação com dez/07-jan/08 foram Frutas (41%), Álcool (33,7%), Madeira e Mobiliário (30%), Açúcar (29%), soja em grão (24%) e farelo de soja (14%). Há ainda produtos com pequeno aumento de atratividade como suco de laranja (8%), carne suína e carne de frango (5,8%) e café (4,9%). Entre os produtos com queda de atratividade, estão papel e celulose (-2%), carne bovina (-5%) e óleo de soja (-7%). Constata-se, portanto, que os principais produtos da pauta de exportação brasileira - soja e carnes, em 2008, representaram 36% do valor exportado - tiveram redução de atratividade.
Figura 4 - Índices de Atratividade das Exportações para Produtos Específicos (IAT/Cepea) - variações referem-se a comparações entre dezembro/janeiro de 2008/2009 e dezembro/janeiro de 2007/2008. Fonte: Cepea/Esalq/USP
Porém, o volume exportado de soja cresceu apesar dos baixos preços internacionais (crescimento de 81% para farelo de soja e 72% para soja em grãos na comparação entre dezembro/janeiro de 2008/2009 e dezembro/janeiro de 2007/2008). Já o volume exportado de carnes, também produtos importantes na pauta de exportação, apresentaram queda neste período (-4% para carne de frango, -29% para carne bovina e suína). Em situação distinta, salienta-se o desempenho positivo do setor sucroalcooleiro, com crescimento de 71% e 56% do volume exportado de açúcar e álcool respectivamente (ver figura 5).
Figura 5 - Variação do Volume das Exportações para Produtos Específicos (IVE/Cepea) - variações referem-se a comparações entre dezembro/janeiro de 2008/2009 e dezembro/janeiro de 2007/2008.
Fonte: Cepea/Esalq/USP Exportações Regionais
Os índices regionais de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/Cepea/Região), apresentados na figura 6, indicam, para os anos 2000, em todas as regiões, uma tendência de aumento dos preços em dólares. Como mencionado, esses preços em dólares tiveram um aumento médio - para o Brasil como um todo - de 64% de 2000 a 2008. Novamente, lembra-se que no segundo semestre de 2008 essa tendência se inverte.
A Figura 6
mostra que as regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste e Sul tiveram aumentos de preços acima da média nacional (158%, 98%, 83% e 75% respectivamente), enquanto que a Sudeste teve aumento de preços menor que a nacional (31%). Vale ressaltar que na região Norte predominam as exportações de produtos da madeira, carnes e animais vivos e oleaginosas; no Nordeste, destacam-se papel e celulose, açúcar e frutas; no Centro-Oeste, grãos e farelos e carnes; no Sul, carnes e grãos; e no Sudeste, açúcar, café, papel e celulose, carnes e sucos de frutas (principalmente de laranja). Nota-se, assim, que entre os produtos do Sudeste estão vários dos que tiveram pior resultado no tocante à atratividade das exportações.
Figura 6 - Índices de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/CEPEA) segundo as regiões (2000-2008). Fonte: Cepea/Esalq/USP
Quanto ao Índice de Volume Exportado pelo Agronegócio, verifica-se que a região Centro-Oeste apresentou um crescimento de 314% de 2000 a 2008, bem acima da média nacional. O Nordeste também apresentou evolução acima da nacional, com 153%. Já as regiões Norte, Sul e Sudeste apresentaram variações de 78%, 68% e 79%, respectivamente - portanto, abaixo da nacional (Figura 7).
Figura 7 - Índices de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro/CEPEA) segundo as regiões (2000-2008).
Fonte: Cepea/Esalq/USPQuando se compara o primeiro trimestre de 2009 ao mesmo período de 2008, verifica-se que quase todas as regiões apresentaram redução de preços dos produtos de exportação. A exceção foi o Sudeste, devido ao bom desempenho do setor sucroalcooleiro. As regiões Sul e Norte foram as que mais sofreram o efeito negativo da crise (quedas de preços superiores a 15%), seguidas pelo Centro-Oeste (-8%) e Nordeste (-2%) (Figura 8).
Figura 8 - Variação dos Índices de Preços do Agronegócio (IPE-Agro) regionais (primeiro) trimestre de 2009 em relação ao primeiro trimestre de 2008). Fonte: Cepea/Esalq/USP
Quanto ao volume exportado, as regiões Norte e Sul também foram as que tiveram os piores desempenhos, com reduções de 68% e 34%, respectivamente. A queda no volume de exportação de carnes foi a responsável pelo resultado negativo do Sul. A região Centro-Oeste, apesar de ter desempenho desfavorável nos preços, aumentou o volume exportado. Isso ocorreu devido ao crescimento dos embarques de soja (Figura 9).
Figura 9 - Variação dos Índices de Volume do Agronegócio (IVE-Agro) regionais (primeiro trimestre de 2009 em relação ao primeiro trimestre de 2008) Fonte: Cepea/Esalq/USP
3. Conclusões
As exportações brasileiras do agronegócio tiveram desempenho bastante favorável durante os anos de 2000, com expansão dos volumes comercializados bem acima dos preços. Porém, este cenário começou a modificar-se no segundo semestre de 2008, resultado da crise internacional. Mesmo assim, o Brasil ainda conseguiu fechar o ano com faturamento cerca de 24% maior que o de 2007, graças ao forte aumento dos preços internacionais na média do ano. No primeiro trimestre de 2009, entretanto, houve queda de aproximadamente 10% no faturamento das exportações brasileiras, desta vez devido à queda de preços em dólar.
Soja (grão, farelo e óleo) e carnes, que anteriormente tinham desempenho bastante favoráveis e que lideram a pauta de exportação, foram bastante afetadas. Em relação ao comportamento regional, não houve grandes mudanças no Sudeste, que vinha tendo baixo desempenho exportador. Porém, as regiões Sul e Centro-Oeste foram desfavorecidas devido à queda de preços dos produtos que exportam. O Sul foi ainda mais afetado devido à queda do volume exportado de carnes.
PRINCIPAIS PARCEIROS INTERNACIONAIS DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
•1. Introdução
Considerando o comércio externo no período de 1996-2008, os principais parceiros do Brasil foram Estados Unidos, Zona do Euro e Argentina, que juntos compram 50% do total (em faturamento) do produto brasileiro. Entre outros mercados consumidores dos produtos brasileiros que merecem ser citados estão China, Japão, México, Chile e Reino Unido. Grande parte das importações brasileiras (gerais)é proveniente destes mesmos países, com praticamente 50% dos produtos vindos dos Estados Unidos, Zona do Euro e Argentina. Porém, no decorrer do tempo, verifica-se um ligeiro aumento da diversificação dos países tanto em relação à exportação quanto à importação (Tabela 1).
Entre os maiores parceiros comerciais do Brasil, levando em consideração somente o agronegócio, a União Européia é a maior importadora, com 48% das exportações
[1] . Em seguida vêm Estados Unidos, China e Japão, com 16,4%, 11,71% e 7,5% respectivamente. No agronegócio também se verifica a tendência de redução da participação dos parceiros mais tradicionais, principalmente dos EUA (Tabela 2), e o aumento da participação de Rússia e China.
•2. Pauta de exportação do agronegócio brasileiro
União Européia
A União Européia é o principal comprador de produtos brasileiros em geral e também o maior comprador de produtos do agronegócio especificamente. Em relação a este último, os principais produtos importados entre 2000 e 2008 foram Sementes e Frutos Oleaginosos, na qual se destaca a soja com 18%, Resíduos e desperdícios (farelo de soja) com 15%, Chá, Mate e especiarias (café) com 10%, carnes também com 10% e papel e celulose com 8% - os percentuais se referem à participação de cada grupo de produto no total adquirido por esta região junto ao agronegócio brasileiro.
Gráfico 1 - Exportações em valor (dólar) do Brasil para a União Européia - participação dos principais produtos da pauta (média de 2000 a 2008).
Fonte: Secex/MDIC, elab. Cepea/Esalq-USP Estados Unidos
Os Estados Unidos, segundo maior comprador de produtos brasileiros, importaram do agronegócio principalmente Madeira e Mobiliário (24%), Calçados (20%), Papel e Celulose (13%) e Chá, Mate e especiarias (9%) no período de 2000 a 2008.
Gráfico 2 - Exportações em valor (dólar) do Brasil para os Estados Unidos - participação dos principais produtos da pauta (média de 2000 a 2008).
Fonte: Secex/MDIC, elab. Cepea/Esalq-USP
Gráfico 3 - Exportações em valor (dólar) do Brasil para a China - participação dos principais produtos da pauta (média de 2000 a 2008).
Fonte: Secex/MDIC, elab. Cepea/Esalq-USP
Rússia
A Rússia, que compra 7,5% dos produtos brasileiros do agronegócio, importa predominantemente Carnes (52%) e açúcar (37%).
Gráfico 4 - Exportações em valor (dólar) do Brasil para Rússia - participação dos principais produtos da pauta (média de 2000 a 2008).
Fonte: Secex/MDIC, elab. Cepea/Esalq-USP Demais parceiros
Outros seis parceiros comerciais juntos compram 16,6% das exportações brasileiras do agronegócio. A Argentina importa do Brasil principalmente Papel e celulose (24%), produtos da indústria têxtil (19%) e Máquinas e implementos (18%). O Japão compra Carnes (36%), Chá, Mate e Especiarias (14%), Sementes e frutos oleaginosos (10%) e papel e celulose (10%). O México importa Madeira e Mobiliário (15%), Máquinas e implementos e calçados (14%) e sementes e frutos oleaginosos (10%). O Chile importa Carnes (24%), Papel e celulose (23%) e têxtil (9%). O Reino Unido adquire do Brasil Madeira e Mobiliário e Carnes (15% cada), preparados de carne (12%) e sementes e frutos oleaginosos (11%); a Coréia compra Resíduos e desperdícios (farelo de soja, 24%), Sementes e frutos oleaginosos (17%), Cereais (15%) e Papel e Celulose (10%).
Quadro 1 - Exportações em valor (dólar) do Brasil para Argentina, Japão, México, Chile, Reino Unido e Coréia - participação dos principais produtos da pauta (média de 2000 a 2008).
Fonte: Secex/MDIC, elab. Cepea/Esalq-USP
3. Índices de exportação do Agronegócio
Devido às diferentes composições das exportações para cada um dos parceiros comerciais, há diferentes evoluções de preços dos produtos exportados de acordo com o destino.
No Gráfico 5 verifica-se que há um grupo de parceiros comerciais cujos preços em dólares dos produtos do agronegócio exportadosaumentaram menos que 50% entre 2000 e 2008. Para outros importadores, os preços ficaram em uma posição intermediária; por fim, há a China , caso em que os preços aumentarammais que 100%. México, Estados Unidos, Argentina e Chile foram os países com baixa evolução dos preços de exportação (33,7%, 36%, 43,3% e 47,4% respectivamente).
Gráfico 5 - Índice de preço de Exportação do Agronegócio IPE-Agro segundo principais países de destino (2000-2008).
Fonte: Cepea/Esalq-USP Dentre os países de destino das exportações brasileiras, a China é um mercado comprador bastante importante, seja pela sua dimensão, ou pelo tipo de produto comprado.