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A Biossegurança como oportunidade histórica para o Brasil – Parte 1

Publicado: 24 de dezembro de 2019
Por: Alessandro Crivellaro, Consultor de Serviços Técnicos para Saúde Animal
Introdução

O Brasil, sobretudo o agronegócio brasileiro, tem uma grande oportunidade, o que poderá ser seu maior momento na história, em função das consequências da ocorrência da Peste Suína Africana – PSA, na Ásia, Europa, e, principalmente, na China.

Para isso, no entanto, será necessário fazer o “dever de casa”, no que se refere à biossegurança.

Nos últimos anos, houveram evoluções no Brasil quanto a biossegurança, o que é muito positivo, e nos  auxilia a evitar a entrada das doenças com maior impacto econômico.

O maior avanço, no entanto, cabe aos produtores em cada granja, com a adoção das medidas de biossegurança na base da produção.

Fenômeno chinês

A economia chinesa cresceu 6,6% em 2018 (site G1 – Economia), enquanto o Brasil cresceu 1,1% (IBGE), no mesmo ano.

O fenômeno chinês se deve à migração das pessoas do meio rural para o meio urbano, mas, sobretudo, à mudança dos hábitos alimentares dos consumidores, com o aumento expressivo do consumo das proteínas animais (suína, aves e bovina).

Segundo o consultor Alexandre Mendonça de Barros – MBAgro, a estratégia chinesa era a autossuficiência na produção de milho, o que é um fato, visto que são o segundo produtor mundial, somente atrás dos Estados Unidos. Além disso, são autossuficientes na produção de suínos, o que já era um fato consumado (principal produtor mundial). Outro ponto que também faz parte da estratégia chinesa, é a compra, praticamente, 100% de sua demanda de soja, sobretudo das Américas (Brasil e Estados Unidos).

O que os chineses não planejaram, no entanto, foi a prevenção e a consequente ocorrência de uma grave doença, a Peste Suína Africana – PSA, a qual mudou toda a estratégia e influenciará a produção de suínos na China, e no mundo, para sempre.

Ainda, o que também influencia no mercado chinês, é a guerra comercial com os Estados Unidos, a qual chegou a paralisar os negócios de grãos e carnes, reestabelecidos recentemente pela atual necessidade. Em 2018, não houve carregamento de soja dos Estados Unidos para a China.

O porco, na China, é considerado um talismã, um chamariz de sorte. Esse ano de 2019 é o ano do porco chinês. “Um ano de sorte”?

Há vinte e seis milhões de produtores de suínos na China, a maioria em criações de subsistência.

Recentemente, o governo chinês lançou projetos para grandes criações industriais de suínos, o que deve mudar radicalmente a maneira de criar os suínos na China.
Perspectiva de produção de suínos e exportação de carne suína para 2019
A Biossegurança como oportunidade histórica para o Brasil – Parte 1 - Image 1

As perspectivas para esse ano de 2019 é de equilíbrio de produção na Europa, e aumento das exportações em 11%. Nos Estados Unidos, aumento na produção em 4% e na exportação em 5%. Já no Brasil, em destaque, aumento na produção em 6% e na exportação e carne suína em 23%.

A Peste Suína Africana – PSA

Peste Suína Africana – PSA – Mapa da distribuição dos focos de PSA, no período de janeiro de 2012 a maio de 2019, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE):
A Biossegurança como oportunidade histórica para o Brasil – Parte 1 - Image 2
Imagem: OIE

A PSA teve início no continente africano e se disseminou pela Europa e Ásia.

Os pontos azuis (mapa acima) significam os focos controlados da doença. Em vermelho, os focos ativos até maio/2019. Atualmente, existem mais focos ativos na Europa e Ásia, do que demonstra o mapa.

FAO (Food and Agriculture Organization) – UN (United Nations)

Segundo a FAO*, até a data de 24/10/19 haviam sido eliminados pela PSA: 6.954.399 suínos, sendo no Vietnã, 5.600.000. Na China, foram 1.170.000 suínos eliminados. Outros países também foram afetados pela doença, como: Camboja, Mongólia, Coreia do Norte, Laos, Mianmar, Filipinas, Coreia do Sul, Timor – Leste (30/09/19).

Há uma busca pela vacina para PSA, pelo Instituto de Investigação Harbin, controlado pelo governo chinês.

*Observação: Os dados da FAO diferem dos dados do mercado, já que os governos de cada país é que repassam as informações oficiais.

O rebanho suíno mundial
Havia no mundo, antes da PSA, cerca de um bilhão de suínos. Desses suínos, 49% estão na China, 22% na União Europeia, 7% nos Estados Unidos da América, e 4% no Brasil (cerca de 40 milhões de suínos).

Segundo o Rabobank (banco holandês com escritórios em todo o mundo, inclusive na China), houve um grande abate sanitário de suínos na China, com armazenamento de grandes quantidades de carne. Esse fato está atrasando um maior volume de compra de carne suína pela país.

Em 2018, antes da PSA, a China produziu 54 milhões de toneladas de carne suína. A projeção para 2019 é de 41 milhões; para 2020, apenas 33 milhões; e, subindo um pouco, em 2021, para 37 milhões de toneladas. Pela dificuldade de encontrar uma medida efetiva para o controle da PSA, a produção poderá cair mais ainda.

 A Biossegurança como oportunidade histórica para o Brasil

Definição de biossegurança

A biossegurança é um conjunto de procedimentos técnicos que, de forma direta ou indireta, previnem, diminuem e controlam os desafios gerados na produção de suínos, frente aos agentes patogênicos.

É importante compreendermos que a biossegurança não é somente para impedir a entrada de doenças exóticas, é também para reduzir as doenças já existentes na granja, o que viabiliza os custos de implantação.

Biossegurança – principais ameaças

PRRS: Síndrome Respiratória e Reprodutiva dos Suínos

    Atualmente, é uma das mais importantes enfermidades infecciosas dos suínos;
    Nove, entre dez dos maiores produtores de suínos, reportaram a presença do vírus. Falta somente o Brasil;
    O custo anual com a enfermidade é de 664 milhões de dólares* pelas perdas anuais de produtividade;
    O equivalente a 9.930.000 suínos vendidos, ou 1.090.000 toneladas de carne suína comercializada.

*Fonte: Prof. Fernando Osório – Virologia- Nebraska (XI SBSS – Chapecó – SC – Brasil – agosto/2018).

 Peste Suína Africana – PSA

    Foi registrado, no Brasil, um surto de Peste Suína Africana no ano de 1978. O surto aconteceu em Paracambi – RJ, transmitido aos suínos através de restos alimentares de aeronaves oriundas de Portugal e Espanha;
    Anos mais tarde (1984), o Brasil conseguiu erradicar a doença;
    Sem dúvida, a transmissão via restos alimentares é uma das maneiras mais efetivas e preocupantes da transmissão da doença;
    Na Austrália, recentemente, 15% das amostras apreendidas foram positivas ao vírus da PSA. A preocupação é grande, pelos 27.000 produtores e pelos 36.000 trabalhadores que dependem da atividade (fonte: Redação SI, 16/09/19).

Peste Suína Clássica – PSC

Recentemente, foram registrados focos da doença na região brasileira considerada não livre de PSC, nos estados do Ceará e do Piauí. Em outubro de 2019, foi notificado um foco da doença no estado de Alagoas, limite das zonas livre e não livre da doença.

Embora haja vacina eficaz para prevenir a doença, nada foi feito na região. Barreiras foram instaladas nas divisas para evitar a propagação da PSC. O surto de PSC ocorreu em regiões brasileiras com criações de suínos de subsistência, com baixa tecnificação, o que lembra a situação relatada na China.

O maior risco para a região livre do Brasil, região produtora e exportadora de carne suína, é o trânsito de veículos entre as regiões, que transportam os animais para o abate.

Javalis

Considerado uma das maiores pragas atuais, os javalis estão distribuídos em todo o Brasil. Como são parentes muito próximos dos suínos, são portadores de todas as suas doenças, no entanto, não ficam enfermos, devido a maior resistência, e são potenciais transmissores, já que não há nenhum controle, pois vivem livres na natureza.

O Uruguai registrou granjas positivas para a PRRS (Síndrome Reprodutiva e Respiratória do Suíno). Os javalis, comuns aos dois países, constituem um potencial risco de transmissão da doença ao Brasil, com entrada no estado do Rio Grande do Sul.

Não há recursos na suinocultura brasileira para pagar os prejuízos com a entrada de enfermidades com alto impacto econômico, como a PRRS, PSA, e disseminação da PSC nas áreas livres. Por outro lado, os USA e a Europa têm recursos para combater as doenças, com programas de controle e erradicação.

A única alternativa viável é promover as práticas ideais de biossegurança, para prevenir e ou minimizar os possíveis prejuízos com essas doenças.

A biossegurança no Brasil

A maior evolução brasileira em biossegurança foi a quarentena de suínos importados, na ilha de Cananeia – litoral do estado de São Paulo. Através de um acordo entre o MAPA e as empresas brasileiras de genética de suínos, foi organizado e financiado a quarentena aos suínos importados pelo Brasil.

A ilha de Cananeia proporciona o isolamento ideal para impedir quaisquer riscos de transmissão de doenças exógenas, o que pode ser responsável, até o momento, pela não entrada das principais doenças de alto valor econômico no Brasil.

Publicado originalmente no Blog Agroceres Multimix

Site G1 – caderno de economia.

Agência IBGE (Instituto Brasilerio de Geografia e Estatísitica).

Alexandre Mendonça de Barros – MBAgro.

USA – DA – Foreing Agriculture Service.

OIE (Organização Internacional de Epizootias).

GEO – Base de dados mundial.

China Statistics Bureau, Rabobank 2019.

Professor Fernando Osório – Virologia- Nebraska – USA (XI SBSS – Chapecó – SC – Brasil – agosto/2018).

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