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Redução proteica na nutrição de aves

Publicado: 6 de janeiro de 2020
Por: Livya Stefane Borges de Queiroz, nutricionista de aves de corte na Agroceres Multimix
As formulações comerciais de aves são desenhadas com o objetivo de atender as necessidades nutricionais previamente estabelecidas, de acordo com as matrizes nutricionais das matérias-primas utilizadas, buscando o menor custo possível. Quando o assunto é custo de formulação, um dos grandes impactos se deve às suplementações, referentes aos aminoácidos e aos níveis mínimos de proteína bruta. Dessa forma, muito se discute sobre a possibilidade de redução de proteína nas rações e a suplementação de aminoácidos industriais para maximização de desempenho e redução dos custos.

A utilização do conceito de proteína bruta nas formulações tem sido substituída pelo conceito de proteína ideal, ambos com o objetivo de suprir os aminoácidos essenciais na dieta; e do nitrogênio (N) para a síntese dos aminoácidos não essenciais. Porém, a utilização do conceito de proteína bruta demanda formulações com margens de segurança que podem refletir em frequentes excessos. Além disso, esses excessos poderiam resultar em maior gasto metabólico para a excreção de N pelos rins, assim como o elevado custo alimentar e o aumento de excreção de nitrogênio no ambiente.

O conceito de proteína ideal foi primeiro definido por Mitchell (1964), como sendo uma mistura de aminoácidos ou proteína cuja composição atende às exigências dos animais para os processos de mantença e crescimento. A exigência dos aminoácidos pelas aves segue a “Lei dos Mínimos”, exemplificada pela Teoria do Barril de Liebig (Figura 1), que demonstra que a produtividade é limitada pelo nutriente em menor quantidade na ração.
Redução proteica na nutrição de aves - Image 1
Figura 1. Representação esquemática da Lei do Mínimo (Liebig)

Formular, tendo como referência o conceito de proteína ideal, significa utilizar aminoácidos sintéticos e reduzir a proteína bruta da ração, levando em consideração a ordem de limitação dos aminoácidos e as exigências nutricionais de cada um deles. Para isso, utiliza-se a lisina como aminoácido-referência (valor 100%) e uma relação de exigência entre os outros aminoácidos e a lisina.

O sucesso de uso da proteína ideal está diretamente relacionado com o uso de níveis atualizados e confiáveis de exigência de lisina e da relação deste com todos os outros aminoácidos nutricionalmente essenciais, devendo sempre levar em consideração o avanço genético das linhagens e as condições a campo. O uso deste conceito se traduz em uma relação ideal entre os aminoácidos, favorecendo a absorção e a digestibilidade de cada um deles.

Para formular com o perfil de proteína ideal é imprescindível a inclusão de aminoácidos industriais e, à medida que esses aminoácidos se tornarem disponíveis e a um custo competitivo, maior será a possibilidade de redução da proteína bruta e redução dos custos de fórmula.

A possibilidade de redução dos níveis mínimos de proteína bruta tem como benefício o menor gasto metabólico para o processo de digestão e a menor excreção de nitrogênio, oferecendo condições ambientais mais favoráveis, através da redução na produção de amônia, o que significa melhores condições de trabalho para o homem e melhor condição de saúde para os animais. Estima-se que a redução de 1% na proteína bruta dietética, com a suplementação de aminoácidos, pode diminuir em até 12% do nitrogênio excretado no ambiente.

Diversos fatores afetam a exigência proteica, como: a idade, sexo e linhagem, sendo que aves mais jovens possuem uma necessidade dietética maior de aminoácidos e os machos, um requerimento superior de nutrientes, devido ao peso corporal elevado e ao metabolismo mais acelerado. As linhagens modernas foram selecionadas para que tenham um ganho de peso acelerado, o que se traduz em maior demanda por nutrientes e dietas com uma quantidade maior de aminoácidos, a fim de que possam expressar todo o seu potencial genético.

O estado sanitário do animal também afeta a exigência nutricional, havendo maior demanda proteica em situações de desafio, devido a ativação do sistema imune (produção de anticorpos) e a menor absorção de nutrientes. Outra condição que influencia a nutrição proteica é a temperatura ambiente. A criação das aves em situações de desafio térmico é uma realidade em muitas granjas, sendo esse um fator prejudicial à conversão alimentar. Quando estressadas termicamente, as aves reduzem o consumo de ração, comprometendo o desempenho e sendo necessário adensar os níveis nutricionais, inclusive aminoácidos, para minimizar os efeitos dessa queda de consumo.

Outro ponto que fortalece as discussões sobre a redução de proteína nas rações está relacionado com a qualidade das fontes proteicas utilizadas. Em uma ração de frango de corte na fase de crescimento, por exemplo, cerca de 40% da proteína total é suprida pela inclusão do farelo de soja, tornando muito grande a responsabilidade desse ingrediente como fonte segura de aminoácidos.

Por ser um ingrediente de alta inclusão, a soja, seja oferecida como farelo ou na forma integral, deve passar por um processamento térmico adequado para que ocorra inativação de fatores antinutricionais ou parte deles. Porém, o processamento térmico, quando em excesso, pode prejudicar a qualidade da proteína dessa fonte, reduzindo a digestibilidade dos aminoácidos através da exposição ao calor. Para monitorar o processamento da soja, análises como urease e a solubilidade proteica são frequentemente utilizadas. Dessa forma, quanto maior o nível de proteína na ração, maior poderá ser a inclusão de soja nas formulações de aves, o que aumenta também a preocupação sobre a qualidade da fonte utilizada.

Além disso, formulações com excesso de proteína estão sendo relacionadas com o aumento do crescimento microbiano no intestino, o que levaria a uma disbiose local, prejudicando o desempenho das aves.

Algumas enzimas denominadas proteases têm sido utilizadas com a finalidade de melhorar a digestibilidade de aminoácidos e reduzir os efeitos de fatores antinutricionais da soja, o que possibilita menor inclusão dessa matéria-prima através da utilização de uma matriz nutricional vinculada à enzima, assim como o abrandamento dos efeitos prejudiciais de fatores como antitripsinas.

Levando-se em consideração esses aspectos, a viabilidade da redução proteica é dependente da disponibilidade dos aminoácidos industriais, devendo ser respeitada a relação ideal de aminoácidos e as condições de campo. O que observamos, na prática, é uma otimização dos níveis nutricionais nas formulações de aves, com o objetivo principal de redução de custo e aumento de competitividade, assim como uma discussão cada vez mais forte e um olhar mais atento sobre a nutrição direcionada também à saúde intestinal e à minimização dos efeitos prejudiciais ao meio ambiente.

Publicado originalmente no Blog da Agroceres Multimix
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Autores:
Livya Stefane Borges De Queiroz
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Patrícia Tomazini Medeiros
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Juarez Donzele
Universidade Federal de Viçosa - UFV
11 de abril de 2020
Livya Stefane, parabenizo-a pela forma com que você abordou um assunto tão controverso na produção avícola.Aproveito o assunto para fazer algumas considerações que julgo pertinentes; - Penso ser tecnicamente equivocada a sua afirmativa que o custo dos aminoácidos industriais é que define o quanto será a redução da proteína bruta(PB) da ração.Acredito que você se esqueceu de considerar, que tem uma relação minima entre os aminoácidos essenciais com os não essenciais que tem que ser levado em conta . E que, é essa relação , que a principio, define o nível de redução da PB.; - Quando você afirma que em situação de desafio a demanda de PB aumenta, da a falsa ideia que o da lisina esta aumentada, o que não é correto.Isto porque uma das consequências do desafio imune, é a redução da deposição de carne na carcaça, e é justamente a lisina o aminoácido que esta diretamente relacionado a essa deposição, se ela diminui a demanda de lisina também diminui, em gramas por dia. Por sua vez, aminoácidos como metionina, treonina , triptofano , tem as suas demandas aumentadas proporcionalmente a da lisina. Finalmente deve ser considerado que sob desafio imunológico, as aves reduzem o consumo de ração, levando a necessidade de aumentar o nível de lisina da ração,mesmo que a sua demanda em gramas por dia tenha diminuído -Quanto ao estresse térmico por calor., não só a conversão piora ,como também a taxa de crescimento das aves. Pela escrita da entender que a redução do consumo é que é a responsável pelo comprometimento do desempenho, com o problema sendo minimizado com o adensamento da ração. O que não me parece correto, uma vez que no calor, a capacidade de deposição de proteína esta comprometida e o adensamento da ração não minimiza,o efeito da alta temperatura,no máximo pode amenizar, o que é diferente.; Com base nessas considerações , pode-se deduzir que tanto o desafio sanitário quanto o estresse térmico, são fatores que interferem nas relações,tanto dos aminoácidos essenciais com a lisina, quanto na relação aminoácidos essenciais com os não essenciais.na proteina ideal, o que não deixa de ser um grande problema.a ser contornado.
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Luis Fernando Luna
Allegro LF Soluções Projetos e Representação Comercial
12 de mayo de 2020
Livya, parabéns pelo artigo! O tema é amplo, reduzir PB porque os aa sintéticos são competitivos e a principal fonte proteica, a soja tem fatores antinutricionais e alergênicos. Na aquicultura, essa máxima não funcionou e tiveram que retirar antinutricionais e alergênicos, produzindo o Concentrado Proteico de Soja, que hoje no Brasil tem produção de quase 1,5 milhões de toneladas ano. Seria essa uma possível contribuição para a nutrição direcionada à saúde intestinal ? Sem os alergênicos, alguns trabalhos demonstram o dobro em tamanho de villus, seria razoável incrementar relação de Treonina de 0,65 para 0,90, buscando construir mucina nesse villus maior?
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Fabio sampaio vianna ramos
26 de abril de 2020
Podemis supor e levantar a hipótese de que sistemas agroecologicos favorecem um equilíbrio na nutriçao baseado no baixo stress sanitario e climático com nutrição diversificada e suprimento de aminoacidos, mesmo que uma produtividade mais baixa do que sistemas convencionais?
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Paullo Ritzz
13 de enero de 2020
Boa noite !! Meu papagaio tá com secreção na via respiratória e garganta. O que seria bom para matar essa bactéria ??
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