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Carne frangos estresse antioxidante

Qualidade sensorial da carne de frangos de corte submetidos a estresse por calor e suplementados com antioxidante

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: CP Zeferino1*, ASAMT Moura1, CM Komiyama1, VC Pelícia2, VB Fascina2, MM Aoyagi2, JR Sartori2 1*Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ)- UNESP (Univ. Estadual Paulista) – Campus de
Sumário

O objetivo foi submeter frangos de corte ao estresse por calor no período de 28 a 42 dias de idade, de forma a induzir alterações nas características sensoriais da carne. Paralelamente, pretendeu-se investigar se a suplementação da dieta com antioxidante (vitaminas C e E acima dos níveis recomendados) reduziria, ou neutralizaria, estes efeitos. Foram utilizados 144 frangos machos da linhagem Cobb distribuídos num delineamento inteiramente casualizado, com arranjo fatorial 2 x 3 (suplementação da dieta com vitamina C e E acima dos níveis recomendados e temperaturas ambientais associadas ao pair-feeding) e 24 repetições. As aves receberam rações à base de milho e soja balanceadas de acordo com a fase e foram alojadas, aos 28 dias, em três grupos: estresse por calor (32°C), termoneutralidade (23oC) e termoneutralidade com pair feeding (23oC, com quantidade de alimento limitada à média consumida pelas aves sob estresse por calor). As características de qualidade sensorial da carne foram avaliadas em amostras do músculo pectoralis major coletadas ao abate com 43 dias. A carne das aves mantidas sob estresse por calor apresentaram maior valor de pH 24 horas pós-abate, índice de perda de peso por cozimento, força de cisalhamento e teor de luminosidade, mas menor índice de vermelho, caracterizando queda na qualidade sensorial da carne. A suplementação da dieta com vitaminas C e E acima dos níveis recomendados não foi capaz de minimizar os efeitos negativos do estresse pelo calor sobre a qualidade da carne. É preciso investigar os efeitos dos níveis de suplementação destas vitaminas sobre a qualidade da carne nas condições de clima tropical.
Palavras Chave: Frango de corte, Músculo esquelético, Temperatura, Vitamina C, Vitamina E.

Introdução
A produção brasileira de carne de frango se expande a cada ano de forma consistente configurando uma cadeia produtiva bem sucedida, não só no mercado brasileiro, mas também no cenário mundial (Avisite, 2009). A competitividade do setor exige constante aprimoramento tecnológico, padronização e principalmente rígido controle de qualidade dos produtos.
O efeito da suplementação da dieta de frangos com a vitamina C, acima dos níveis de exigência, é controverso (Grau et al., 2001), entretanto, a adição de vitamina E reduz a oxidação lipídica da carne, aumentando seu tempo de prateleira (Villaverde et al., 2004; Grau et al., 2001).
A manutenção do conforto térmico nos aviários é um dos problemas enfrentados pelos produtores, assim o microambiente nem sempre é compatível com as necessidades fisiológicas das aves. O ambiente confortável para frangos de corte apresenta temperatura de 15ºC a 25ºC e umidade relativa do ar de 50% a 70% (Tinôco, 2001). Interações entre fatores genéticos e condições de estresse ambientais podem favorecer o desenvolvimento de carnes PSE (pálida, flácida e exudativa). Essas particularidades se refletem em produtos de pouco rendimento na produção industrial e baixa aceitação pelos consumidores. Os motivos para esta ocorrência em aves ainda não estão bem esclarecidos, como em suínos, mas, sabe-se que altas temperaturas ambientais e péssimas condições de manejo contribuem com o desenvolvimento da anomalia (Lara et al., 2008).
O objetivo foi submeter frangos de corte ao estresse por calor no período de 28 a 42 dias de idade, de forma a induzir alterações nas características sensoriais da carne. Paralelamente, pretendeu-se verificar se a suplementação da dieta com antioxidante (vitaminas C e E acima dos níveis recomendados) seria capaz de reduzir, ou neutralizar, estes efeitos.
Materiais & Métodos
Foram utilizados 144 frangos de corte machos da linhagem Cobb de 28 dias de idade, alojados em três salas climatizadas, de 5,00 x 3,00 x 2,65 m. Cada sala abrigou 32 gaiolas de dimensões 0,60 x 0,50 x 0,45 m. Duas salas termoneutras foram mantidas a 23°C e a terceira, a 32°C, foi classificada como de estresse por calor. Os animais foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, num arranjo fatorial 2 x 3 (suplementação da dieta com antioxidante e temperaturas ambientais associadas ao pair-feeding) e 24 repetições.
As dietas basais foram formuladas para frangos de corte machos, de desempenho médio (Rostagno et al., 2005). Metade das gaiolas recebeu suplementação das dietas com vitaminas C (250 mg/kg ração) e E (225 mg/kg ração). As aves tiveram livre acesso à água de bebida. Na sala de estresse por calor a ração foi oferecida à vontade. Nas duas salas termoneutras, metade das gaiolas recebeu ração à vontade e a outra metade recebeu quantidade limitada de ração, no sistema pair-feeding. Estas gaiolas foram aleatoriamente distribuídas em cada sala termoneutra.
As médias diárias de temperatura ambiente e umidade relativa do ar foram obtidas com base nos valores registrados às 9:00h, 14:00h e 21:00h para o cálculo do índice de temperatura e umidade (THI). O programa de luz foi contínuo (24 horas de luz artificial).
Aos 42 dias de idade, as aves foram abatidas por insensibilização elétrica seguida de sangria. As análises da qualidade de carne foram conduzidas no músculo pectoralis major dissecado, conservado a 4°C por 24 horas. O pH muscular foi registrado 24 h pós-abate. A cor objetiva foi tomada em duas porções, utilizando o colorímetro Minolta (CR-400) através do sistema CIELab (Van Laack et al., 2000). Em seguida, foram avaliadas as medidas de capacidade de retenção de água (Hamm,1960), perda de peso por cozimento (Honikel, 1987) e força de cisalhamento na carne cozida (AMSA,1995).
Análises de variância foram conduzidas por meio do procedimento GLM do SAS (2003). Os efeitos fixos de suplementação da dieta, temperatura ambiental associada ao pair-feeding e sua interação foram consideradas no modelo, além do erro aleatório.
Resultados e Discussão
A temperatura, a umidade relativa do ar e o THI (médias diárias) foram 22,6°C, 78,5% e 71 na sala termoneutra 1; 22,5°C, 71,3% e 70,3 na sala termoneutra 2 e 31,7°C, 59,1% e 82 na sala de estresse por calor (Figura 1). Observa-se que a temperatura média foi mantida dentro da faixa desejada para um ambiente confortável, entretanto, a umidade relativa do ar oscilou em função da ausência de recursos para seu controle nas câmaras. O índice de temperatura e umidade (THI) sob as condições de termoneutralidade é considerado normal e sob a condição de estresse por calor é elevado, denotando ambiente de desconforto térmico para as aves, como planejado.
Figura 1. Valores médios de temperatura (painel esquerdo) e índice de temperatura e umidade (THI; painel direito) nas salas termoneutras 1 e 2 e de estresse por calor, no período de 16 a 31 de agosto de 2010.
Qualidade sensorial da carne de frangos de corte submetidos a estresse por calor e suplementados com antioxidante - Image 1
Qualidade sensorial da carne de frangos de corte submetidos a estresse por calor e suplementados com antioxidante - Image 2
 
Não houve efeito da interação suplementação da dieta com vitaminas x condição térmica, nem da suplementação isoladamente, sobre as características de qualidade de carne (P>0,05).
O pH do músculo pectoralis major, 24 horas após o abate, foi mais elevado na condição de estresse por calor (Tabela 1). Este resultado difere de Debut et al. (2003) que, ao submeterem frangos ao estresse térmico agudo pré-abate (35°C, durante duas horas), verificaram menor valor de pH após o abate, na carne de peito de frangos French Label. É importante ressaltar que a duração do estresse pode ter influenciado este resultado.
Houve efeito de condição térmica sobre a cor da carne. As aves mantidas na condição de termoneutralidade associada ao pair feeding e estresse pelo calor apresentaram maior teor de luminosidade e menor índice de vermelho.
Houve maiores índice de perda de peso por cozimento e força de cisalhamento na carne dos animais mantidos sob estresse pelo calor. Espera-se que a maior perda de peso por cozimento resulte em carne menos suculenta e, portanto mais rígida, revelando assim maior força de cisalhamento. Os resultados do presente estudo confirmam esta hipótese. Deve-se ressaltar que os valores de resistência ao corte obtidos nas três condições térmicas situaram-se na faixa de variação que considera a carne macia, de acordo com os padrões de Simpson & Goodwin (1974) eLiu et al. (2004) que utilizaram os valores de 8 kgf.g-1 e de 7,5 kgf.g-1, respectivamente, como referência de limite de resistência ao corte para considerar a carne de peito de frangos macia.
Nota-se que, além do efeito de temperatura, houve também efeito de restrição alimentar sobre a maciez da carne, pois, as condições de termoneutralidade e estresse pelo calor apresentaram maior força de cisalhamento em relação à termoneutralidade associada ao pair-feeding.
Tabela 1. Médias de quadrados-mínimos (erros-padrão) das características de qualidade de carne de acordo com a suplementação da dieta e a condição térmica
Caract1
Dieta 2
Condição térmica 3
Controle
Suplem.
Prob.4
TN
TNP
EC
Prob. 4
pH 24 h
5,81 (0,02)
5,83 (0,02)
0,4684
5,78 (0,02)a
5,77 (0,02)a
5,92 (0,02)b
<0,0001
L*
44,17 (0,32)
43,60 (0,32)
0,2082
42,76 (0,39)a
44,67 (0,39)b
44,22 (0,39)b
0,0021
a
4,43 (0,11)
4,68 (0,11)
0,1206
5,12 (0,14)b
4,29 (0,14)a
4,25 (0,14)a
<0,0001
b
1,40 (0,14)
1,30 (0,15)
0,6590
1,17 (0,18)
1,37 (0,17)
1,50 (0,18)
0,4254
CRA (%)
58,12 (0,66)
58,17 (0,68)
0,9606
58,04 (0,83)
58,05 (0,81)
58,34 (0,83)
0,9569
PPC (%)
27,73 (0,27)
27,47 (0,28)
0,4953
26,70 (0,34)a
27,35 (0,33)a
28,74 (0,34)b
0,0001
FC (kgf/cm2)
3,70 (0,11)
3,80 (0,12)
0,5490
3,91 (0,14)b
3,44 (0,14)a
3,89 (0,14)b
0,0288
1 pH 24 h = pH do músculo pectoralis major,24 h após o abate; L* = luminosidade; a* = teor de vermelho; b* = teor de amarelo; CRA = capacidade de retenção de água, em %; PPC = perda de peso por cozimento, em %; FC = força de cisalhamento, em kgf/cm2. 2 Controle= ração sem suplementação de vitamina; Suplem. = ração com suplementação de vitamina. 3 TN = termoneutra; TNP = termoneutra com pair feeding; EC = estresse pelo calor. 4 Prob = probabilidade de erro do tipo I. a, b, c: Médias seguidas de diferentes letras diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
Conclusões
A suplementação da dieta dos frangos com vitaminas C e E acima dos níveis recomendados não foi capaz de minimizar os efeitos negativos do estresse pelo calor sobre a qualidade da carne. É preciso conduzir mais estudos envolvendo os níveis de suplementação destas vitaminas, principalmente nos países de clima tropical.
Agradecimentos
Este projeto recebeu apoio financeiro da FAPESP, Brasil (Processo no. 2009/15624-4). CP Zeferino recebe bolsa de estudos da CAPES, Brasil, ASAMT Moura e JR Sartori recebem bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq, Brasil. CM Komiyama é bolsista de pós-doutorado e MM Aoyagi recebe bolsa de Iniciação Científica da FAPESP, Brasil.
Bibliografia
AMSA (American Meat Science Association). 1995. Research guidelines for cookery, sensory evaluation, and instrumental tenderness measurements of fresh meat. Chicago, 47 p.
Avisite. 2009. Perspectivas: a carne de frango e o potencial de evolução da agropecuária brasileira. Produção Animal: Avicultura. A revista do Avisite, Campinas, ano III 24(abril):28.
Debut M, Berri C, Baeza E, Sellier N, Arnould C, Guemene D, Jehl N, Boutten B, Jego Y, Beaumont C, Le Bihan-Duval E. 2003. Variation of chicken technological meat quality in relation to genotype and pre-slaughter stress conditions. Poultry Science 82:1829-1838.
Grau A, Codony R, Grimpa S, Baucells MD, Guardiola F. 2001. Cholesterol oxidation in frozen dark chicken meat: influence of dietary fat source, and α- tocopherol and ascorbic acid supplementation. Meat Science 57:197-208.
Hamm R. 1960. Biochemistry of meat hydratation. Advances in Food Research, 10(2):435-443.
Honikel KO. 1987. The water binding of meat. Fleischwirtschaft 67:1098-1102.
Lara JAF, Ninov K, Bonassi CA, Ledur MC, Nepomuceno AL, Shimokomaki M. 2008. Estresse térmico e incidência de carne PSE em frangos. Disponível em: . Acesso: 1 set. 2009.
Liu Y, Lyon BG, Windham WR, Lyon CE, Savage EM. 2004. Prediction of physical, color and sensory characteristics of broiler breasts by visible/near infrared reflectance spectroscopy. Poultry Science 83(8):1467-1474.
Rostagno HS, Albino LFT, Donzele JL et al. 2005. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa: UFV, 186 p.
SAS/STAT. 2003. User''''s Guide (Release 9.1.3 Service Pack 2). SAS Inst. Inc., Cary, NC.
Simpson MD & Goodwin TL. 1974. Comparison between shear values and taste panel scores for predicting tenderness of broilers. Poultry Science 53:2042-2046.
Tinôco IFF. 2001. Avicultura industrial: Novos conceitos de materiais, concepções e técnicas construtivas disponíveis para galpões avícolas brasileiros. Revista Brasileira de Ciência Avícola 3(1):01-26.
Van Laack RLJM, Liu CH, Smith MO, Loveday HD. 2000. Characteristics of pale, soft, exudative broiler breast meat. Poultry Science 79:1057-1061.
Villaverde C, Cortinas L, Barroeta AC, Martín-Orúe SM, Baucells MD. 2004. Relationship between dietary unsaturation and vitamin E in poultry. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition 88:143-149.
 
 
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